Coven escrita por Artur Mota


Capítulo 6
Capítulo 05




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— ... E é por isso, Vossa excelência, que eu não aconselho a sua presença na cidade de Lenda hoje! Há rumores que Assassinos foram vistos perto da saída Oriental... – O Mestre Espião do Conselho olhou para a desatenta Ártemis. – Vossa excelência, está ouvindo?

A bruxa bocejou.

— Sim, Arthur, eu ouvi nessa e em todas as outras dez vezes que já me alertou sobre o iminente perigo que me aguarda em Lenda.

— ... E me ignorou em cada uma delas, pelo que vejo.

— Não lhe ignorei, apenas não posso seguir seu conselho.

— E há algum motivo especial para isso?

Se havia? Havia muitos. Ártemis precisava estar em Lenda naquele dia e , o mais importante, precisava estar sozinha. O que ela iria fazer, ninguém do Conselho poderia ficar sabendo e a mulher não confiava nada no atarracado homem com cara de roedor que estava em sua frente.

Então, ela apenas assumiu uma tática mais agressiva.

— Apenas o motivo de que meus motivos só interessam a mim, fui clara?

— Desculpe, excelência. – Ártemis notou o veneno e a raiva que continham aquelas palavras.

“ Que se engasgue com ele, víbora.” Pensou a Líder do Conselho, enquanto o Mestre Espião sumia dali, deixando-a sozinha em sua carruagem.

O seu transporte parou quando chegaram a movimentada avenida Alvorada, e a bruxa desceu da carruagem, deixando que os  vários aromas que vinham do Grande Mercado logo adiante, e do barulho das dezenas de carruagens e portais que ali apareciam.

— O adorável caos da cidade. – Murmurou enquanto inspirava o ar pesado de especiarias, extasiada. Ela adorava as cidades, toda aquela vida, toda aquela confusão e cada esquina repleta de possibilidades. Coisas das quais o Castelo Ametista era irritantemente escasso.

Mas Ártemis não estava ali a passeio.

Sem a característica máscara que sua posição pedia e com roupas um pouco menos suntuosas, ela poderia se passar por uma Mercadora ou outro membro das classes mais elevadas.

Ela precisava encontrar Vicent Aldara em sua loja.

“Espero que tenha conseguido o maldito amuleto. Do contrário, tudo será irritantemente mais complicado.”

E a líder do Conselho desapareceu na multidão.

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Lancel mais uma vez se assegurou de que o capuz de seu manto cobria o seu rosto enquanto ele e Elendria andavam entre os vários humanos que apinhavam a cidade de Lenda.

O que eles estavam fazendo ia contra todas as regras de seu clã. Jamais um Edin al’Natur do clã Andalar poderia entrar em uma cidade humana, mas o contratante deixou bem claro que eles deveriam entregar o amuleto em sua loja ou não haveria acordo; parece que era o único canto onde não haveriam espiões, segundo ele.

— Olhe toda essa confusão, toda essa poluição e gritaria. – Resmungou Elendria. – Não sabia que um punhado de Anedins conseguiria ser tão irritante.

— Relaxe, Elendria. – sussurrou Lancel com uma pontada de divertimento. – logo, logo teremos o dinheiro necessário para comprar mantimentos para o clã que durará o Inverno inteiro. Depois, poderemos voltar para os rios e montanhas que tanto a agradam.

A Elfa disse alguma coisa, mas Lancel não estava mais prestando atenção, pois ele olhava mais uma vez para o pequeno saco de veludo em suas mãos. O calafrio que ele sentia diante da magia Antiga o estava acompanhando desde que encontrou o amuleto, como uma silenciosa lembrança do que ele estava prestes a fazer.

Com Inverno ou sem Inverno ele tinha certeza que a Senhora dos Caminhos e todo o resto do Clã iriam preferir ter aquele amuleto sob sua supervisão a toda comida do mundo. Quando tanto de sua cultura e de seu povo é massacrado, qualquer sussurro de uma história é tão valioso quanto diamante, e aquele amuleto estava embebido em tradições místicas antigas; disso ele tinha certeza.

— Eu não gosto disso tanto quanto você, litah. –  Falou gentilmente, Elendria, adivinhando os pensamentos do amigo. – Se eu pudesse, levaria esse amuleto para Elin Avel. Mas do que nos valeria o conhecimento, se todos morrermos congelados e famintos?

— Você tem razão. –  Respondeu Lancel depois de um tempo. – Eu entendo a dificuldade, giltah, mas...

Lancel foi interrompido por um borrão de cabelos vermelhos que se chocou contra ele, desorientando-o. O jovem Elfo ouviu o barulho de vários pequenos objetos se chocando contra o chão.

— Sinto muito, senhor! – Respondeu uma voz que seria considerada límpida e suave, se não estivesse tomada pela angústia. – Eu estava tão apressada, que acabei não o vendo e...

— Tudo bem. – Respondeu Lancel na língua comum, na qual ele tinha certa fluência. O Edin agora conseguiu distinguir o rosto da apressada jovem. Possuía cabelos levemente cacheados da cor do pelo de uma raposa, lábios cheios , olhos  azuis escuro e um nariz levemente arrebitado. Uma humana atraente, para quem se interessasse por humanos.

—... Sei que não tenho esse direito, mas poderia me ajudar a recolher meus amuletos? – Lancel estava tão concentrado no rosto da jovem bruxa, que nem percebeu que ela estava falando.

— Claro. – Os dois se agacharam e começaram a recolher os pequenos amuletos, Elendria se certificava que nenhum transeunte iria acabar pisoteando a garota ou os amuletos. Quando acabaram seu trabalho, ambos se levantaram e Lancel, ao depositar parte dos objetos nas mãos da bruxa, tocou levemente em sua pele.

A jovem o agradeceu, mas ele não ouviu, pois estava abismado.

Ao tocar na pele da garota, sentiu como se todo o seu corpo fosse mergulhado em um lago em pleno inverno.  Ele nunca havia sentido aquilo. O amuleto estava embebido em magia Antiga e, mesmo assim, não representava um milionésimo do que existia naquela jovem. Nem mesmo as runas do cajado das Senhora dos Caminhos possuíam tamanha reserva de magia antiga.

— ... Muito obrigada! – Continuou a garota, saindo em disparada, antes que Lancel pudesse falar qualquer coisa.

— O que houve? Parece que viu o próprio Oblin Veral diante de você. – Disse Elendria rispidamente.

— Uma Sinah. – Elendria pareceu perder toda a cor de seu delicado e belo rosto.

—  Se fosse qualquer outro me falando isso, teria dado um soco para parar de brincar com as Lendas... mas você é um Aderan Sindah, entende dessas coisas. – Ela colocou a mão no braço do amigo e seu rosto assumiu uma expressão sombria. – Sempre pensei que seria alguém do Povo. Isso muda tudo.

Lancel suspirou

— Eu sei.

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— Deixe-me ver, deixe me ver... – Arthur Miantra, o criador de catalisadores mágicos, mediu Celta com o olhar; seus olhos pareciam enxergar coisas demais, e a jovem não pôde deixar de cruzar seus braços à frente do corpo. – Um metro e setenta e dois, constituição atlética, porém com braços não muito fortes... sim, sim... sinto uma grande capacidade  mágica dentro de você, assim como senti em seu irmão.

Celta franziu o cenho, insatisfeita.

— Então terei que usar um cajado? –  Arthur riu e Celta o acompanhou. Até ela achava o tom de sua voz um tanto cômico.

— Não,não. Cajados são ótimos para quem possui magia em abundância mas, apesar de ter reservas superiores eu diria,  suas habilidades são límpidas e precisas, calmas como um lago no inverno.  – Ele a mediu mais uma vez. – De fato, não sinto a magia que senti nos dois há muito, muito tempo. Mesmo assim, são diferentes como  fogo e água...

—Então...?

— Perdoe as divagações de um velho, minha jovem. – Celta sorriu,indicando que estava tudo bem. – Será um Amuleto Primal.

Celta soltou um suspiro, aliviada. Ela torcia por aquilo, seu braço doía só em pensar nos movimentos necessários para realizar magia com um cajado.

O velho criador ergueu uma sobrancelha inquiridoramente.

— Trouxe os materiais?

Celta lhe entregou o pedaço de Carvalho Ancião de um metro, um cristal de Angrilon e um frasco com um líquido azul espesso e viscoso. O criador sorriu.

— Sangue de  Gigante de Gelo. – Disse, pegando o frasco. – Uma entendedora do assunto, finalmente. Seu irmão disse que foi ideia sua usarem isso como núcleo. E aqueles dois jovens também... E então, em que forma quer seu Amuleto?

A jovem bruxa retirou um pedaço de pergaminho dobrado do bolso de seu vestido e entregou-o para Arthur.  Nele estava desenhado um intrincado bracelete que tinha a forma de uma raposa; Helena que havia desenhado era claro.

— Muito bonito, de fato. – Comentou o artesão. – Isso não demorará dois minutos. Por favor, fique parada.

Celta obedeceu o Bruxo mais velho enquanto ele fazia um complicado e hipnotizante gesto com as mãos e murmurava uma série de feitiços. Os objetos que ela havia dado a ele emitiram um leve brilho e começaram a se liquefazer.

— Agora, uma gota do seu sangue, por favor. – Celta retirou um pequeno alfinete esterilizado de seu bolso e espetou o dedo indicador, espremendo uma gota de seu sangue na massa disforme que havia sobre o balcão. Quando o líquido rubro atingiu a superfície, um intenso chiado foi escutado e do ponto de impacto, pequenos tentáculos negros se espalharam  rápido como fogo em capim seco.

Celta sentiu o olhar do artesão sobre si, mas o ignorou. O Bruxo voltou a realizar o encanto e rapidamente a massa disforme se contorceu em uma dança hipnotizante enquanto começava a tomar forma.

— Hum... há muito, muito tempo eu não vejo um amuleto assumir essa cor, senhorita. – Comentou o Artesão – E hoje, vi dois fazerem justamente isso.

Os olhos negros do homem a fitaram inquiridoramente.

— Pressuponho que eles terão muitas histórias para guardar daqui em diante.

Celta assentiu nervosamente , depositou a quantia certa no balcão e saiu rapidamente da loja Amuletos da Coruja Vermelha, apertando com uma mão o bracelete de raposa que agora estava seguro em seu braço. Ele era negro como piche. Sombrio como a noite.

Ela estava tão consternada com aquele fato, que nem percebeu quando esbarrou em um transeunte.

—Merda! – Xingou ao ver todos os seus amuletos lunares rolarem pelo calçamento. Desesperada, voltou-se para o homem com que se esbarrara. – Sei que não tenho esse direito, mas poderia ajudar a pegar meus amuletos?

O estranho tinha o rosto parcialmente coberto pelo capuz de sue manto, mas Celta percebeu que ele estava distraído quando começou a ajudá-la. Havia algo inquietante nele. Ela sentia ondas de frio emanando de seu corpo, que a atingiam como agulhas.

—Muito obrigada! – falou a jovem, se afastando sem esperar uma resposta.

O que acabara de sentir?

Celta não sabia. O que a garota também desconhecia, era que ela havia acabado de passar por um daqueles momentos em nossas vidas que parecem não ter muita importância no momento, mas que mudarão o resto de nosso destino.


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