O Que Fizeram com Nemo? escrita por Star


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

O tema desse capítulo foi o quadro The Parable of The Rich Fool, de Rembrandt
vai achando que UFC fanfics é molezinha, vai



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698753/chapter/3

A chave girou na fechadura e junto do ruído da porta ao abrir vieram os gritos do lado de dentro.

— Papai! Papai, olha! Olha!

O garotinho de cinco anos gritava incansavelmente, pulando ao redor do pai recém-chegado. “Agora não, Nemo” foi a resposta que recebeu enquanto Marlin corria para o telefone. Discou o número do chefe e perguntou como foi o jantar com o sócio. Ouviu que “foi um sucesso” e que “olha, pai, olha”. Também que “precisamos deixar tudo pronto pra segunda” e que “pai, você não tá olhando, olha aqui”. Por fim um “você acha que consegue?” e “pai, rápido, olha”.

Marlin tapou o bocal do telefone e bradou “Nemo, chega” com tanta rispidez que o menino emudeceu. Tão rápida quanto uma equipe de resgate Coral surgiu da cozinha, acariciando os cabelos do filho.

— Papai está ocupado. Termina de assistir seu desenho e falamos com ele depois, tudo bem? — ofereceu, e o garotinho concordou num muxoxo.

Marlin largou o telefone e foi para a mesa do escritório, onde deixava a papelada. Procurou a xerox dos documentos da companhia e pegou uma pá de papéis timbrados. Abriu a pasta com os registros novos, ligou a luminária e sacou a caneta do bolso da camisa.

— Muitas novidades hoje, querido? — Coral perguntou.

— Conseguimos um cliente novo — ele comentou, sorrindo sem levantar os olhos. — Peixe grande, muito grande!

Coral atravessou o escritório e se pôs às suas costas, massageando seus ombros tensos.

— Bem, eu tenho novidades também... — começou, porque ele não parecia disposto a retribuir a pergunta. — Sabe como tem acontecido todos esses cortes na verba da escola, fecharam a biblioteca, acabaram com a merenda, e, bem, as crianças estão zangadas com isso. Vai ter uma assembléia de estudantes amanhã para tentar resolver as coisas. Todos estão tão determinados. Até mesmo o Stu, que nunca se interessa com nada. Precisa ver! Me pediram para participar. Só que talvez acabe um pouco cheio e acho que seria melhor não levar o Nemo. Sabe como crianças detestam multidões. Será que você pode ficar um pouquinho em casa com ele amanhã? Querido?

Não houve resposta, então Coral se inclinou, deixando os cachos cor de caramelo caírem sobre os papéis, e murmurou ao pé da sua orelha:

— Está ouvindo?

— O quê?

— Preciso que fique com Nemo amanhã.

— Não pode estar falando sério — Marlin girou de súbito na cadeira, indignado. — Coral, acabei de conseguir um cliente enorme! Tô cheio de trabalho! Tenho que fazer o briefing, traçar estratégias... Não posso trabalhar tomando conta dele!

— Mas... É sábado...

— E é o meu trabalho. — Ele voltou a se debruçar sobre a mesa, bufando. — Você sabe como trabalho feito burro de carga pra cuidar de vocês dois enquanto você brinca de escolinha. Estou construindo nosso futuro aqui!

Se Marlin estivesse olhando veria a sombra de mágoa que apagou o brilho dos olhos da esposa. Porém, não estava, e restou a Coral respirar fundo, como sempre fazia.

— Talvez seja bom participar um pouco do nosso presente, também — ela disse e pousou a mão sobre a mesa, deixando ali uma pecinha branca. — Nemo perdeu o primeiro dente hoje. Foi muito corajoso.

Ela saiu da sala. Marlin a ouviu ao longe avisando Nemo que sairiam pra passear amanhã. Olhou de relance para o dente de leite minúsculo antes de voltar a se concentrar na papelada.

No dia seguinte a reunião estava mais cheia do que o esperado. De início, foi como um grande encontro familiar. Coral cumprimentou os alunos e conversou com pessoas de outras escolas que se juntaram à eles. Então, de repente, o caos aconteceu.

O estouro dos tiros cortou o ar, apesar de não ser para cima que atiravam. A multidão entrou em pânico. Milhares de pessoas desataram a correr para todos os lados, tentando fugir.

Em algum momento, em meio à confusão, a mão de Nemo escapou da de sua mãe. Ele olhou em volta, perdido, em meio ao mar de pernas desconhecidas que o empurravam de um lado para o outro. Um projétil rasgou o ar e encontrou destino no seu pequeno joelho. Nemo gritou de dor, chamando pela mãe, que não veio.

Naquele dia, Coral desapareceu. Meses depois, Nemo também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

novamente um capítulo que muito me doeu pois muito tive que cortar
quando acabar essa competição eu vou ser só uma cabeça de dedo sobrevivente de tanta mutilação



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Que Fizeram com Nemo?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.