—Você vai comigo, não é? _Era a milésima vez que Sam me perguntava aquilo. E mais uma vez eu neguei apenas com um balançar de cabeça. Não queria passar duas horas ouvindo um cara falar sobre entomologia. _Por favor Sara! Vai ser legar.

—Me diz o que tem de bom em uma palestra sobre insetos. _Dei um gole no meu suco. _E não tem nada a ver com psiquiatria.  

—Você não tem nenhuma palestra sobre psiquiatria. _Ela lembrou. Um sorriso travesso surgiu em seus lábios. _E é melhor do que ficar no quarto sem fazer nada. E nerd como você é, tenho certeza que você vai gostar.

Sara revirou os olhos. E se deu por vencida.

—Ok! Eu vou, mas será perda de tempo.

—Oba! _Ela gritou, chamando a atenção dos outros alunos. _Não vai ser perda de tempo.

Era difícil dizer não a minha amiga, ela sempre acabava me convencendo. Era o meu segundo ano na faculdade e ela é uma das poucas amigas que arrumei, Samantha Wilkinson foi à primeira com quem fiz uma amizade  verdadeira e além de ser sua colega de quarto, Sam se tornou sua melhor amiga e a única em que confiei em revelar o meu passado. E nós duas tínhamos muito em comum, e ambas também não tinham pais. Quando Sam chegou a Harvard, minha vida mudou, estava a cinco meses na cidade e até então meu foco era apenas para o estudo, tinha apenas os colegas de minha turma e quase nunca saia para as festas que ocorriam nas fraternidades.

Festas que não era do meu agrado.

Mas Samantha apareceu e me mostrou que eu poderia me dedicar ao meu sonho. E também “curtir” a vida.

Era impossível ficar triste ao lado dela. E agradecia por dê-la a meu lado.

Em outras ocasiões eu acreditei em Sam e o resultado foi bom. E eu esperava que essa palestra não fosse total perda de tempo.

—Eu espero que não seja _Alertei. _Se não você vai se arrepender.

*****

O resto do fim de semana foi como esperado, nós duas saímos juntas para ver um filme no sábado e no domingo, Sam passou o dia com seu namorado. E como sempre faço todos os domingos, liguei para Maya e Stuart e por horas conversei com eles, contei como tinha sido a semana, conversei com os pequenos, principalmente Dean, se não conseguisse falar com ele, Dean ficava chateado o resto da semana até o próximo telefonema. Mas eu conseguia faze-lo sorrir novamente, o que não era muito difícil.

Adoro o pequeno! 

—Sabe da novidade? _Maya quis saber. Seu tom de voz era alegre. Eu neguei. _Liam recebeu uma proposta para jogar no Boston.

—Que maravilha! _Sorri. Era bom saber que ele estava conseguindo o que tanto queria. _Ele aceitou?

—Sim, mas ele só ira mudar de time no fim do ano. Ele adorou, porque assim ficará mais perto de você.

—Que bom, nos veremos mais vezes.

Tentei soar animada com o comentário de Maya. Porém, esperava que o motivo da mudança dele não tenha sido por minha causa.  

—Quando você virá nos visitar?

—Infelizmente eu não sei!

Ouvi Maya e os demais lamentarem a noticia, também lamentava, mas infelizmente os estudos e o trabalho não permitam que viajasse sempre e estou tentando economizar para poder comprar meu apartamento, gostava do quarto no dormitório da faculdade, mas queria o meu próprio cantinho. E com ajuda de Sam, nós duas logo iríamos sair dali e moraríamos juntas em nosso lar.

O telefonema terminou com mais uma promessa de que eu arrumaria tempo para ir vê-los.

Estava sem sono e como Sam provavelmente passaria a noite com Will, resolvi dar uma olhada nos assuntos que seriam abordados pelo palestrante, no primeiro dia seria sobre larvas e o tempo que elas levavam para se transformarem em moscas e como isso poderia ajudar em uma cena de crime. Aquilo não tem nada a ver com a área que pretendo seguir, no entanto não me contive em aprender mais sobre a aula do dia seguinte e as das próximas também.  

*****

—Vamos lá, bela adormecida! _Sam gritou, pulando em cima de mim. _Temos uma palestra para assistir.

—Droga, por que cedi ao seu pedido? _Reclamei um pouco irritada, tinha perdido a hora estudando e acabei indo dormir tarde. Sem contar que odeio acordar cedo!

—Nossa, andou estudando sobre insetos! _Sam olhava os papeis em cima da mesa. E parecia convencida. _Você é mesmo uma nerd. Ou foi só para me irritar, está querendo debater com o Sr. Grissom?

—Eu não faço isso! _Joguei o travesseiro nela. Que passou direto, batendo em um quadro do Jon Bon Jovi . _Mas é uma ótima ideia!

—Você sempre faz isso, sua chata. Mas vamos que eu não quero me atrasar.

—Ainda temos duas horas! _Olhei o relógio. Era 7:00. 

—Mas eu quero pegar um bom lugar. 

Bufei, e ainda mal humorada, eu peguei meus produtos de higiene e fui para o banheiro, antes de sair, parei na porta e me virei para Sam.

—Por que tanto interesse nessa palestra? Você quer ser cirurgiã.

Ela sorriu maliciosa. E de um modo inexplicável, eu sentia que estava me metendo em um território perigoso. Um leve frio percorreu minha espinha. Esse mesmo palestrante esteve em outro evento em Harvard no começo do ano, porém, como eu estava de férias, escapei, pois havia ido para Nova Iorque.

O tom que Sam usou, evidenciou o que meu cérebro havia me alertado anteriormente.

—Minha queria amiga, você verá com seus próprios olhos.