Senti meu corpo inflamar, o calor me consumia. Carlisle estava examinando Charlie quando acordei, e pelo que percebi na expressão de meu pai, não eram noticias animadoras. Eu temia a vida de Charlie, temia perder meu avô, porem era algo que eu não podia evitar.

 Sentei-me na bancada da cozinha, observando Esme preparar meu café da manhã. Minha avó cantarolava alguma musica dos anos 80 enquanto cozinhava. Acho que ela percebeu meu desconforto, pois afagou meu braço com a mão livre.

— Não se preocupe com Charlie, querida. — ela disse, voltando a mexer os ovos no fogo — Carlisle cuidará de seu avô.

— Sei disso — respondi —, mas não consigo me acalmar.

Esme sorriu para mim, afagando novamente meu braço. Era reconfortante o modo como Esme me tratava com carinho. Eu sabia que ela dava todo seu amor materno para nós, mesmo eu, apenas filha de seu filho adotivo. Esme tinha um amor muito grande por mim e por todos, e eu amo da mesma forma, como a única avó que terei, afinal, Renée nem imagina que eu existo.

  Lembro quando a mãe de minha mãe veio de surpresa visitar e todos falaram que eu era apenas prima de Edward, por conta da nossa grande semelhança. Ela me tratou bem, admito, mas deixou explicito o quanto queria que Bella lhe desse uma neta. Vi o rosto de minha mãe o quanto ela queria contra que eu era a neta que ela tanto queria, mas não pode. Como ela explicaria que eu era filha de Bella? Sendo que eu aparentava ter 12 anos e minha mãe só estava casada a 2 anos?

 Senti meu coração palpitar mais ainda quando ouvi a porta do escritório de Carlisle abrir, saltei da bancada e corri para a sala. Edward me lançou um olhar repreensivo quando cheguei.

Jacob estava sentado ao lado de Seth no sofá, e eu me acomodei em seus braços.

 Eu tinha contado a família que estava quase namorando Jacob, o que fez o Sr. Cullen ficar furioso, e minha mãe feliz da vida.  Emmett apenas gargalhava da cara do meu pai, enquanto Rosalie apoiava meu pai. Era engraçado o modo como alguns ficaram felizes e outros não. Jacob beijou o topo da minha cabeça enquanto Seth apertava minha mão. Eu tinha plena consciência do meu coração batendo compulsivamente e da minha tremedeira.    

Carlisle foi o primeiro a aparecer na escada, sendo seguido por Charlie, que vinha carrancudo. Meu pai obviamente já sabia o estado de Charlie, o que me deixava mais nervosa, pois a expressão dele era de dor.

— Então? — minha mãe parecia estar tão nervosa quanto eu, se não mais. Jasper, disfarçadamente, aproximou-se de minha mãe, mantendo-a calma. — Por favor, Carlisle, não me deixe mais nervosa.

— Bom, eu tenho que fazer mais alguns exames — disse meu avô. Charlie revirava os olhos atrás dele. —, Mas, ao que tudo indica, Charlie está com pneumonia.

  Minha mãe se deixou cair no sofá, exaltada, eu diria. Encolhi-me mais nos braços de Jacob, deixando uma lagrima cair, seguida de outra e outra, até se transformar em um choro forte e intenso.  Jacob me apertava contra seu corpo, porém era como se piorasse.

  Pelo que Jacob me disse, essa ligação que tínhamos me faria amá-lo, me sentir segura com ele, bem. Mas era como se não existisse ligação, e eu ficasse ainda pior. Mas eu amava Jacob, sim. Ele foi o único amigo que tive por anos, mas agora eu não conseguia decifrar o que sentia.

  Sai dos braços de Jacob e caminhei até Jasper, abraçando-o. Jasper passou seus braços em torno de mim e beijou minha testa. De todos os meus tios, sempre preferi Jasper a qualquer outro. Não sei bem porque, já que eu tinha todos os motivos para preferir Rosalie ou Emmett, mas não, Jasper era o que me fazia melhor. Não por causa de seu dom, mas  por me entender.

   Ele afagava meus cabelos, usando seu dom em mim.

— Renesmee... — começou Charlie, afagando meus cabelos acobreados — Não fique assim, querida, sabe que eu sou...

  Ele não conseguiu terminar a frase, pois uma crise de tosse começou, fazendo meu choro aumentar.

                 ***

— When tomorrow comes I'll be on my own
Feeling frightened of the things that I don't know — cantava, enquanto meus dedos dedilhavam a musica perfeitamente no piano — When tomorrow comes, tomorrow comes, tomorrow comes  

 Edward estava sentado ao meu lado, me vendo tocar. Minha mãe estava sentada no sofá, Esme e Carlisle conversavam na janela e eu fingia não escutar. Alice e Jaspe estavam em pé, perto da janela do lado do piano. Rosalie e Emmett estavam na soleira da porta. Jacob, Seth e Charlie estavam junto com a minha mãe. Todos me ouvindo cantar.

            Papai, toca comigo?

Perguntei em pensamento para meu pai, que me ajudou com o refrão da musica, que sempre tive um pouco de dificuldade. Meu pai era o melhor pianista que já ouvi, e olha que eu já ouvi vários pianistas.

I got all I need when I got you and I, I look around me, I see a sweet life — catava o refrão com força — I'm stuck in the dark but you're my flashlight, you're getting me, getting me through the night

Quando terminei, recebi palmas e alguns parabéns. Vi Carlisle olhar o relógio e depois sair da sala. Olhei para meu pai confusa, mas ele só fez balançar a cabeça.

Suspirei.

— Parabéns, Renesmee — disse meu avô, Charlie, me abraçando — Você canta muito bem, e toca também. Edward lhe ensinou bem.

Carlisle voltou para a sala com um envelope branco em mãos; o resultado do exame de Charlie. Meu coração voltou a palpitar, minha respiração acelerou. Jasper logo se colocou ao meu lado.

— Charlie — começou Carlisle —, seu resultado ficou pronto.

Minha mãe apertou a mão de meu pai, enquanto me encolhia contra o peito gélido de meu pai. Carlisle abriu o envelope e leu, atentamente, o que estava escrito ali.

Ele suspirou alto, voltando-se para meu avô e minha mãe, dizendo:

— Sinto muito, Charlie. Mas a pneumonia não é nosso único problema.