San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 3
Primeiro Dia




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Dei um pulo na cama com o despertador tocando. Estiquei o braço para desligá-lo, sem coragem de abrir os olhos ainda. Eu já sentia a ardência de quem dormiu pouco demais.

Cinco minutos depois, após acordar do cochilo e me forçar a levantar, fui ao banheiro e me olhei no espelho, vendo a mesma cara de sempre. Eu seria muito boba se esperasse alguma mudança? Afinal, eu meio que me mudei pra um lugar estranho, sem os meus pais, sem os meus amigos... Tudo bem, tô sendo boba.

Assim que terminei o serviço por ali, saí para a sacada, admirando a vista do campus. Cedo daquele jeito e já haviam algumas pessoas caminhando, outras nos bancos e até um casal sentado ao pé de uma árvore.

Ergui o olhar, me deparando com o menino de cabelo preto, sentado de costas para a grade, tomando o pouco de sol que entrava pela sacada dele.

 Voltei para dentro, arrumei a cama e abri as portas do guarda-roupa, decidindo qual das peças do uniforme eu usaria.

Haviam cinco camisas sociais brancas com o brasão da escola, três saias plissadas com short integrado azul marinho, três coletes e quatro blazers — dois de verão, mais leves, e dois de inverno, mais grossos, também azuis e com o brasão da escola —. Gravatas azuis com pequenas listras douradas, meia-calças grossas de inverno, meias 3/4 pretas, sapatos Oxford pretos e conjuntos de uniformes de ginástica também azul marinho escuro, com calça, short, camisetas e regatas brancas, agasalhos, meias soquete e um par de tênis.

Com certeza a escola amava aquele tipo de uniforme, afinal era o mesmo desde a época do meu pai, e se bobear muito antes dele. Ele sempre mostrava algumas fotos de quando ele estudava, todo orgulhoso.

Vesti a saia, camisa, blazer de verão e as meias 3/4. Eu não tinha a mínima ideia de como dava um nó na gravata.

Arrumei meu cabelo e calcei meus sapatos.

Alguém bateu na porta. — Tá pronta? — A voz de Lili soou abafada.

— Tô indo. — Peguei a mochila e sai.

— Bom dia. — Lili sorriu assim que apareci.

— Bom dia. — Sorri, trancando a porta. — Será que você pode me ajudar com isso? — Apontei para a gravata.

Ela afirmou e se aproximou, começando a mexer as duas fitas de um lado para o outro enquanto eu mantinha o olhar baixo. Finalizado o belo nó, descemos. Os meninos já estavam nos esperando.

James abriu um sorriso quando me viu, e Júlio revirou os olhos.

— Bom dia pra todo mundo, vamos comer que eu estou com um buraco negro no estômago.

— Que dia você não tá? — Lili riu, começando a caminhar em direção ao refeitório.

James andou do meu lado. — Dormiu bem?

— Não muito, eu demoro pra me acostumar em ambientes estranhos. E você?

— Eu dormi bem, tô acostumado. Logo você acostuma também.

Seguimos para o refeitório já cheio. Pegamos o café e procuramos uma mesa. Achamos uma no fundo e sentamos.

— James? — chamei antes de tomar um gole de achocolatado.

Ele estava conversando com Júlio, e se virou para mim. — Oi.

— Qual sua classe? Esqueci de perguntar.

— Primeiro A, e a sua?

— Também tô nessa. Ele e a Lili também?

— Sim.

— Ufa, ainda bem. — Seria ruim ter que me enturmar de novo.

— Pronta pra primeira aula? — indagou ele com uma falsa animação.

— Claro. — Baixei os ombros, fazendo uma careta de cansaço.

Ele riu. — Adorei seu entusiasmo. Vai se sentar com quem?

— Como assim?

— As carteiras são em dupla.

Hmm... Acho que ainda não tenho tanta intimidade com a Lili para sentar com ela. — Posso sentar com você?

— Pode, eu deixo — brincou, erguendo o queixo.

Não demorou para que o sinal batesse, então nós e uma renca de pessoas levamos as bandejas para a cantina e manamos para o prédio dois, indo para o primeiro andar. Fomos até o final do corredor e entramos na última sala, ainda vazia.

— Onde vamos sentar? — perguntei, deixando que eles fossem na frente.

— No fundo. — James indicou as últimas carteiras próximas às janelas.

Nos sentamos na penúltima carteira, e Júlio e Lili na última.

A sala encheu bem rápido e a professora chegou, começando a falar sobre o que teríamos ao longo do ano. Após responder algumas perguntas, ela passou um pequeno texto e algumas perguntas para serem respondidas até o fim da aula.

Quarenta e cinco minutos depois, o sinal bateu.

— Finalmente — Júlio resmungou. — Não gosto de português.

— Fala sério — Lili disse. — Você não gosta de nenhuma matéria.

Júlio olhou para cima, fingindo não ter ouvido. Arrumamos o material e saímos da sala.

— Agora é literatura, né? — perguntei a James.

— Sim. Sala quatro. Você gosta de literatura?

— Não é minha matéria preferida, mas sim, gosto. E você?

— Também. — Saímos da sala. — Por mais estranho que seja, eu gosto de fazer artigos de opinião sobre os livros.

— Que tipo de gênero você gosta?

— Eu gosto de todos, mas gosto mais de romance.

— Sério? Difícil ver um menino gostar desse tipo de história. — E chegamos na sala quatro, entrando enquanto os últimos alunos da outra turma saiam.

— Ou é difícil um que admita que gosta... Tem algumas histórias que são familiares. Eu gosto de ler algo que seja parecido com a minha vida. Mas eu não sou gay só porque gosto de romance.

Acabei rindo. Isso eu já percebi. — Eu sei, não tem nada a ver isso.

Já tinha lição no quadro. Uma lista imensa de livros, seus autores e editoras. Depois que todo mundo se acomodou, a professora explicou enquanto copiávamos nos nossos cadernos.

— Eu me chamo Beatriz, mas acho que a maioria já me conhece. — Deu uma risadinha, sendo acompanhada pela maioria. — Bom, vou fazer um sorteio com todos esses livros. — Apontou para a lousa. — Pra não ter risco de pegarem livros iguais. Todos os nomes estão aqui dentro. — Balançou o saquinho de pano que estava em mãos. — Vou passar de mesa em mesa e vocês vão tirar um papel e anotar o livro no caderno pra não esquecer. — E ela começou a passar nas mesas.

— Espero tirar um legal — Júlio disse, juntando as mãos em frente ao queixo. — A pior coisa é ter que ler um livro chato.

— Isso é — James concordou.

— Vamos lá? — A professora estendeu o saquinho para mim.

Coloquei a mão e tirei um papel. Ela passou para James.

O meu era “Jardim de Rosas Mortas”. Parecia interessante.

James deu uma espiada no meu papel. — Uau. Parece ser bom. Melhor que o meu, pelo menos.

A professora voltou à frente da sala. — Vocês tratem de pegar logo esses livros na biblioteca, pois quero um resumo e um artigo de opinião pra semana que vem. — A sala fez um coro de “aaah não” — Não é difícil, gente. Esses livros são curtos e não precisa ser nada muito elaborado e cheio de detalhes... Ah, antes que eu esqueça, as inscrições pro clube de teatro estão abertas, a lista está com a professora Eduarda. Façam um esforço e se inscrevam!

— Bruna! — James me assustou, segurando meu braço e arregalando os olhos. — Entra também no clube de teatro!

A palavra “teatro” não combinava em nada comigo. — Você tá nele?

— Sim. É legal! Entra, vai!

— Ah, não sei... Eu sou muito tímida pra isso...

— Mas é pra isso que serve o teatro. Você aprende a se soltar e ser menos tímida. Você acostuma. Por favor. — Fez cara de cachorro abandonado.

— Eu vou pensar. — Cocei a bochecha, torcendo muito para que ele esquecesse ou deixasse pra lá.

— Tudo bem. — Sorriu, animado.

O restante da aula passou tranquilamente com a professora falando dos livros. O sinal bateu e saímos da sala. Ouvi Júlio sussurrando algo a James.

— Vai dar umas aulas particulares pra ela, né? — perguntou malicioso.

— Para de falar besteira — respondeu baixo, com tom de censura.

Vou fingir que não ouvi isso. Virei para Lili. — Matemática agora, né?

— Isso.

Andamos para a sala dois. Já havia lição na lousa e a professora Ingrid explicou. Eu achava que as primeiras aulas seriam como sempre: só falação. Entretanto, ali as coisas não funcionavam igual nas outras escolas que já estudei, e os professores já metiam atividade pro aluno ficar esperto.

Em quase todos os exercícios, ouvia Júlio pedindo ajuda para Lili.

James terminou primeiro e me olhou. — Quer ajuda? — cochichou.

— Não, tô acabando, brigada.

Ele foi até a professora, ganhou um visto e voltou. Debruçou na mesa com o rosto virado para mim.

Se concentrar com alguém te olhando é meio difícil, né

— Que foi? — perguntei sem o olhar.

Vi de canto que ele abriu a boca para falar, mas hesitou. — Nada não. — E virou o rosto para baixo.

Terminei a última conta e fui ganhar meu visto.

James ficou me observando guardar meu material, e aí decidiu fazer o mesmo.

— Quem terminou pode sair — A professora anunciou.

James e eu fomos os únicos a terminar, e teríamos que esperar uns quinze minutos até o fim da aula. Quinze minutos de um silêncio constrangedor, a menos que eu magicamente conseguisse pensar em assuntos aleatórios.

Saímos e James fechou a porta.


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