San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 4
Grupo de Teatro


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que esteja gostando da história! o/



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Comecei a sentir frio na barriga. Me sentei no banco ao lado da porta e apoiei a mochila nas coxas, a abraçando como um escudo. James sentou também, não muito perto.

— Fácil, né? — perguntou ele, descontraído.

O olhei, confusa. — O quê?

— A lição.

— Ah... Sim, estava sim. Essa professora sempre libera mais cedo assim?

— Às vezes. Depende do humor dela. E também se ela pega o Júlio copiando da Lili.

Dei risada. — Mas ela deixa, né.

— Sim, ela não consegue falar não... — comentou distraído, e fez uma cara de quem falou demais.

Continuei o encarando, incentivando que continuasse.

— Falei demais.

— A Lili gosta dele... — adivinhei com tom surpreso, e James arregalou os olhos. Dei de ombros para mostrar que não tinha nada demais. — Isso ficou na cara só com o jeito que você falou.

 Ele sorriu, sem graça. — É, acho que sim...

— Mas não parece que ela gosta dele.

— É por que ela esconde. Ela conhece o Júlio tanto quanto eu, e sabemos que ele não é do tipo que gosta de coisa séria.

Ah, ele é galinha.

— Mas — continuou —, não pense que ele pega várias meninas, não é assim também.

— Não pensei isso. — Neguei rapidamente com a cabeça.

James se recostou na parede, com o olhar longe. — Ele não sabe. Nem suspeita, provavelmente. Ela faz um bom trabalho em esconder. Acho que nem todo mundo ia conseguir... Não entendo como ela consegue fazer isso. — Me lançou um olhar, talvez meio confuso, talvez meio melancólico.

— Que foi?

Virou o rosto para frente. — Só não fala pra ninguém que eu te contei, por favor.

— Claro que não.

Ele sorriu. — Valeu. Se ela descobrir que eu te falei, vai me estrangular.

— Não se preocupe. — Sorri.

James olhou para o chão, parecendo incomodado com algo.

O que será que ele está pensando? Será que ele associa isso de não conseguir esconder o que sente com aquela menina? Ou ele fica chateado pela Lili?

Abri a boca para falar, mas parei quando ouvi a porta sendo aberta. Alguns alunos saíram, e um tempo depois, Lili e Júlio vieram.

Acho que vou tentar ficar de olho nela. Quero ver se ela tem algum comportamento diferente com ele, se demonstra algo ou sei lá. Afinal, sabemos que geralmente meninos demoram para perceber esse tipo de coisa.

— Ainda vou fingir um desmaio — reclamou Júlio, tombando os ombros para frente. — É muito difícil.

— Não é difícil. — James riu. — É você que não tem vontade de prestar atenção.

Júlio fez um bico.

— É verdade e você sabe. Se quiser, podemos estudar mais tarde. Se você não aprender, vai ficar o ano perdido e cheio de recuperação e ainda pode repetir de ano.

Ele ficou sem graça e endireitou a postura. — É, acho que você tem razão.

Ri internamente. Pelo menos alguém dava uma bronca nele.

— Vamos logo pra sala — falou Lili impaciente, indo na frente e sendo seguida por Júlio, quase correndo.

Cheguei perto de James quando começamos a andar. — Ele sempre foi assim?

— Assim? Preguiçoso? — Afirmei. — Mais ou menos. Ele nunca gostou de matemática. Ele só precisa de um empurrão às vezes.

Atravessamos o corredor e entramos na sala sete.

A professora Eduarda, de artes, falou sobre as aulas e um pouco do teatro, já que ela era a coordenadora do grupo, no tempo que ficamos ali. Foi a aula mais rápida até o momento, e o sinal soou, tão barulhento quanto das outras vezes.

— Ah, a lista do teatro está aqui. Quem quiser se inscrever, pode vir — anunciou ela, toda alegre.

James me olhou, animado, me incentivando. — Vai, Bru! Por favor, vai ser divertido.

Terminei de guardar o material, evitando o contato visual. — Não sei. Não posso pensar um pouco?

— Não — falou aflito, levantando com sua mochila. — Quanto mais se pensa, mais medo se tem.

Tudo bem, Bruna, você pode tentar, e quem sabe você não consegue um papel sem destaque? Tipo uma árvore, uma pedra, ou até mesmo cuida da cenografia, maquiagem e qualquer coisa que fique atrás das cortinas o tempo inteiro e que não precise dar as caras pra plateia.

Suspirei, tomando coragem, e segui James até a mesa da professora.

— Vai se inscrever, James? — A professora Eduarda indagou, abrindo um sorriso enorme.

— Claro, não podia deixar essa passar.

Ela entregou a lista junto de uma caneta. Já havia alguns nomes escritos no papel.

James começou a assinar seu nome e eu tentei respirar fundo.

É só uma lista. Você pode desistir depois, se quiser. Não é obrigada a aparecer no palco e sair cantando ou dançando balé.

— Bom dia, professora. — Ouvi alguém diferente perto da mesa, mas meu olhar estava preso na mão de James, terminando de escrever.

— Oi, Yan, bom dia! Já quer se inscrever? — perguntou animadamente a professora. O próximo que fosse participar faria ela ter um treco.

Me forcei a erguer o olhar, e no mesmo segundo encarei a mesa, sentindo meu rosto esquentar. É o menino-bonito-de-cabelo-preto!

Aproveitei a conversa dos dois e tentei observá-lo melhor, discretamente. Seus cabelos pretos eram cacheados e bagunçados — um tipo de bagunça que parecia ser milimetricamente arrumada —, olhos azuis claros, uma boca bem desenhada e de um rosa que qualquer menina ia adorar ter naturalmente. E parecia haver uma covinha em sua bochecha esquerda.

Quando James se ergueu, consegui reparar que ele era pouquíssima coisa menor que o menino.

— E aí, Yan. — Passou a folha e a caneta para ele, e me olhou, como se dissesse “você não vai escapar”.

— E aí. — Yan sorriu, deixando a covinha mais evidente. Eu pisquei para ter certeza que não estava vendo coisas, ou eu teria corado por nada.

Ele escreveu rapidamente seu nome na linha de baixo.

— Sua vez — disse James assim que Yan se ergueu.

— Vai se inscrever? — Yan perguntou diretamente a mim. Encarei a folha na mesa, porque se continuasse a encarar ele, eu entraria em combustão.

— Vai, Bru! — James me cutucou.

Estendi a mão, meio trêmula, e peguei a caneta. Sem pensar muito, escrevi meu nome aproveitando para dar uma espiada na letra do menino-bonito.

— Vejo vocês no ensaio, então — disse ele quando terminei. Trocamos um olhar rápido, e ele caminhou para o fundo da sala.

— Os ensaios já estão marcados? — James perguntou.

— Ainda não, mas logo vocês serão avisados — respondeu a professora, sem que eu prestasse atenção.

No que eu fui me meter? Estava sob pressão, isso não é justo!

Saímos e fomos para a sala oito, química. O professor Carlos fez a mesma coisa que os outros, passando uns textinhos, explicando e dando atividade.

— Não é legal? — sussurrou James, contente. — Vai ser demais.

Não, não é legal. Fui pressionada por aquele menino-bonito-de-cabelo-preto. Ainda não decidi se isso é bom ou ruim. E também talvez eu acabe desistindo, sendo a covarde que sempre fui.

— Ei, relaxa, não vai doer. — Ele tentou me confortar, o que não adiantou muito. Vai doer sim, vai doer na minha alma o tanto de vergonha que vou passar.

 — Eu sei... Eu meio que tenho medo de passar vergonha — admiti com cara de pavor.

— Olha, você não vai chegar e já ter que ir pro palco recitar um poema. É um processo lento. Você vai pegando o jeito aos poucos.  — Olhou em meus olhos. — Eu vou estar com você. Relaxa.

Forcei um sorriso. — Obrigada... Vou precisar.

O sinal bateu. Fomos para a última aula, biologia, e em um piscar de olhos o sinal do almoço tocou. Fomos para o refeitório e entramos na fila da cantina.

Meu estômago ainda estava agitado com todo aquele papo de teatro com o menino-bonito. Se eu pegasse muita comida era capaz botar tudo pra fora...

Peguei algumas variedades de salada e um pouco de água.

— Vai beber água? — Júlio estranhou, enquanto colocávamos as coisas na mesa.

— Qual o problema?

— Nenhum. — Riu, dando de ombros. — Só é estranho.

— Você acha tudo estranho — Lili resmungou.

— Claro que não — discordou ele, abrindo o saquinho do guardanapo. — Eu não te acho estranha.

Lili ficou levemente corada, mas perguntou, desconfiada. — Não sou estranha?

— Não... Você é totalmente esquisita — Desatou a rir.

— O QUÊ?!

Na mesma hora, James a segurou pelo braço, antes que ela pulasse em Júlio. Ele levantou, fugindo, sem conter a satisfação no rosto por ela ter caído na provocação.

James lançou um olhar de reprovação a ele e soltou Lili, e ela voltou a se sentar com uma carranca séria. Júlio voltou para seu lugar e voltou a comer, satisfeito.

— Vamos lá pegar os livros de literatura? — James sugeriu enquanto levávamos as bandejas para a cantina.

Voltamos para o prédio dois e fomos para o segundo andar. Entramos na biblioteca e nos separamos para procurar os livros. Fui para a sessão J e vasculhei todas as prateleiras, mas não achei o meu livro. Olhei mais duas vezes, mais devagar, e nada.

Estranho. A professora não daria um livro que não tem na escola.

Fui voltando entre as estantes, procurando James para perguntar o que eu podia fazer, quando escutei a voz de Júlio no corredor mais próximo. Parei atrás de uma estante e olhei de canto, vendo ele e Lili sozinhos. Lili estava levemente corada, quase encostada na estante, de braços cruzados. Júlio estava em sua frente com uma expressão de culpa.

— Me desculpa vai, você sabe que era brincadeira. Não quero que você fique brava comigo — sussurrou ele.

Ela suspirou. — Eu sou esquisita mesmo?

— Claro que não. Eu não falei sério, era brincadeira. Você não é nada esquisita. Me desculpa, vai?

Lili ergueu o queixo, parecendo mais confiante. — Com uma condição.

Ele engoliu seco e hesitou. — Qual?

— Quero que você se empenhe mais nas aulas. Principalmente na de matemática.

Júlio coçou a cabeça e fez uma careta.

— Eu vou te ajudar — reforçou ela.

— Bom, se é pra você me perdoar, eu faço. Promete que vai me ajudar?

Ela sorriu. — E alguma vez já te deixei na mão?

— É, nunca. — Sorriu.

Sai de fininho e resolvi ir até o balcão perto da entrada.

— Licença — pedi, sem graça de tirar a mulher do seu trabalho.

— Oi, querida. — A senhora se virou para mim com um sorriso simpático.

— É... Eu... preciso de um livro, mas não está na prateleira.

— Qual o nome?

— Jardim de Rosas Mortas.

Ela pesquisou o nome no computador e esperou dois segundos até a o comando carregar. — Ah, já pegaram.

— Só tem um? — perguntei com sobressalto.

— No momento sim. Fizemos os pedidos, mas até agora não chegaram. É pra trabalho?

— Sim... — Tô ferrada.

— Por que você não pede pra pessoa que pegou? — E ela apontou para o monitor. — Olha só, ela pegou o livro no sábado, então deve ter pego só pra ler mesmo. Já que é pra trabalho, ela vai entender e aí, vocês entram num acordo.

— É... pode ser... Quem pegou?

 Ela olhou no monitor de novo. — Yan Guterres, segundo A.

Minhas pernas amoleceram de repente. — Yan...?

— Sim, sabe quem é? É um garoto de cabelo preto enrolado, bem bonito e simpático...

— A-ah... sim... Eu acho que sei quem é...

— Ele vai te dar o livro sim, ele é um bom menino. — Sorriu, orgulhosa, como se ele fosse da família. — Já que você vai pegar, vou mudar os dados aqui. Preciso do seu nome, série, andar do dormitório e número do quarto, por favor.

Eu não vou ter coragem de pedir pra ele. Melhor pedir pra professora mudar o livro, vai ser mais fácil.  — Deixa...

— Bruna, primeiro A, segundo andar e quarto vinte e cinco. — Ouvi James falar ao meu lado, e eu o encarei com os olhos arregalados.

— Sobrenome? — continuou a senhora, já digitando.

Respirei fundo. — Machado Signori.

— Feito.

— Coloca esse no meu nome, por favor? — James estendeu o livro para ela. — James Gaspar Seger, primeiro A, segundo andar, quarto vinte e quatro.

— Ok... — disse, digitando. — Pronto. — E devolveu o livro para ele.

— Obrigado.

Ótimo, o que eu faço agora?

James se virou para mim, vendo que eu estava de mãos vazias.  — Ué, cadê seu livro?

— Tá com outra pessoa...

— Quem?

— Um tal de Yan do segundo ano. — Dei de ombros, tentando esconder meu nervosismo.

— Yan, aquele que estava lá na sala se inscrevendo no teatro com a gente?

— Talvez.

Lili e Júlio se juntaram a nós e informaram seus livros.

Júlio me olhou, estranhando. — Cadê teu livro?

— Tá com outra pessoa — repeti, impaciente.

Só me faltava essa. Eu mal consegui pensar em uma palavra quando estava na frente dele!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, volte sempre :p



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