San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 2
Conhecendo




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Deixei o celular na cama, fechei a porta e desci. Àquela hora, o dormitório estava cheio de meninas nos corredores correndo de um quarto para o outro, gritando, dançando, pulando em grupo e fazendo sei lá mais o que para matar as saudades das amigas.

Desci as escadas, vendo mais meninas no salão de lazer e fui direto para a porta da entrada, vendo James já parando ali.

Assim que ele abriu a boca para falar, escutamos alguém berrar. James virou com uma expressão de susto e humor ao mesmo tempo. Um garoto estava correndo em nossa direção igual a um louco.

James começou a rir e os dois se chocaram, quase indo direto para o chão.

— Meu amooor! — disse o menino louco, dramaticamente, agarrando James como um filhote agarra a mãe.

— Para de drama, seu idiota. — James riu, tentando se livrar dele.

— E aí, como você tá? Tá bem? Tava com saudade?

— Estaria melhor se não tivesse sido atropelado — James resmungou de bom-humor, e me olhou com uma expressão de “é assim sempre”.

Como se tivesse sido espetado por algo, o menino olhou para mim e sorriu cordialmente.

— Desculpe minha indelicadeza, me chamo Júlio — falou, fazendo uma reverência.

James revirou os olhos. — Tá, pode parar. — E empurrou a cabeça do amigo.

— Ow! — Devolveu o empurrão, franzindo o cenho. — Tô sendo educado!

— Nossa, muito. — Empurrou de novo.

Júlio devolveu, mas o puxou logo em seguida, bagunçando seu cabelo. — Ah, para vai. Fiquei com saudade, achei que ia ter um colapso sentimental. — O soltou e se virou para mim. — Você não me disse seu nome.

Olhando diretamente para ele pela primeira vez, percebi que seus olhos eram castanhos claros, tinha o maxilar levemente quadrado e seu cabelo era castanho claro também, não muito comprido, apenas meio bagunçado. Seus lábios eram um pouco finos, e o que mais chamava atenção era uma covinha que havia no meio de seu queixo.

— Bruna — Me apresentei, corando um pouco pela atenção dos dois sobre mim.

— E aí, Bruna, há quanto tempo vocês dois se conhecem? — perguntou, descontraído, apoiando o cotovelo no ombro de James.

— Hm... — Tentei fazer as contas desde a hora que caí. — Acho que umas três horas, talvez.

— Uau, quanto tempo.

— Chegou agora? — James perguntou, interrompendo a ironia do outro.

— Sim. Era pra eu ter chego mais cedo, mas meu pai ficou de graça e me enrolou.

James riu. — E cadê suas malas?

— AH! — Se assustou, olhando ao redor. — Onde eu deixei?!

— Não são aquelas ali? — James apontou para algumas malas jogadas no chão entre duas árvores.

— Vish! Esqueci! Te vi vindo pra cá e saí correndo. Eu vou levar isso tudo pro quarto. Nos vemos na janta.

— Beleza.

— Vou deixar vocês sozinhos — disse com um tom malicioso, dando uma risadinha e se virando.

Senti meu rosto esquentar assistindo Júlio correndo, pegando as malas e atravessando o bosque.

Antes do ano começar, prometi a mim mesma que tentaria ser mais sociável, então tomei coragem de resolvi quebrar o gelo.

— Você tem mais algum amigo que chega gritando?

Ele deu risada. — Não, só ele e a Lili mesmo. São meus melhores amigos, me conhecem tão bem quanto eu conheço eles... Apesar que não deve ser muito difícil saber o que eu tô pensando. — Deu de ombros, me observando.

Era em vezes como essa que eu esquecia de como ser sociável. Pra quê, né?

— Vamos sentar numa mesa? — E sai andando.

— Espera, temos uma mesa. Não é exatamente nossa, mas a gente sempre fica nela. — James passou na minha frente e eu o segui, entrando no bosque e caminhando até uma das mesas mais ou menos perto do caminho de concreto principal.

— Há quanto tempo você estuda aqui? — perguntei.

— Desde ano passado, oitava série... Bom, aqui só tem da oitava pra cima.

— Ah, é?

— Não sabia?

— Não. Meu pai não especificou quantas séries tinham aqui.

— Ah, sim... Eu amo essa escola — suspirou, olhando ao redor com um sorrisinho nostálgico na cara. — Acho que meus melhores momentos foram aqui.

— Sério? Tipo quais?

Ele pensou. — Onde conheci meus melhores amigos... Onde quebrei a perna correndo atrás do Júlio... — Riu, como se lembrasse. — Não que foi uma coisa boa, mas foi engraçado. — Pensou de novo. — Onde me apaixonei pela primeira vez... Onde dei meu primeiro beijo, e também tive a primeira decepção amorosa. — Sorriu, sem graça.

— E essa decepção foi com a mesma menina que você beijou? — Não pude evitar de perguntar. Eu adorava saber das aventuras românticas das pessoas.

— Sim... Eu gostava muito dela. Uma vez me disseram que ela queria falar comigo. Fiquei tão feliz... Conversamos bastante durante alguns dias, e uma vez ela me puxou e roubou um beijo... Eu realmente achava que ela gostava de mim. Mas aí, descobri que ela tinha feito aquilo porque tinha feito uma aposta com as amigas... Fiquei com tanta raiva. E fiz de tudo pra tentar esquecer. No final do ano fiquei tão aliviado que não ia mais ver ela, e o Júlio fez questão de sairmos bastante nas férias. No final tive certeza que tinha esquecido dela, mas ainda assim não sabia qual seria minha reação quando a visse.

— E já viu ela?

— Não. Até agora fiquei ocupado demais pra lembrar dela — respondeu, divertido.

— Ocupado com o quê?

— Assim que cheguei tive que ajudar uma mocinha que caiu.

Meu Deus, por que eu tive que cair?!

Escondi meu rosto com as mãos, sentindo o calor emanar até das minhas orelhas.

— Ei, ei! — James riu e pegou minhas mãos, tentando puxá-las para baixo. — Que foi? Ninguém viu aquilo.

— Mas eu fui ridícula. Patética.

— Não foi não. Mas foi engraçado... Relaxa vai, só eu vi... E olha, eu já sei que não vou ficar mal por causa daquela menina. — Tentou me distrair mudando de assunto.

— Por quê?

— Porque vou estar ocupado com você... Tipo, vou ter que ficar de olho pra você não cair de novo — acrescentou rapidamente.

— Eu não sou tão desastrosa quanto você tá pensando. Foi um acidente. — Baixei as mãos, ainda sem coragem de encará-lo.

— Acidente — falou com tom zombeteiro, brincando.

— E aí, vamos jantar? — Ouvi Júlio perguntando atrás de mim.

 

...

 

Já na mesa, todos haviam pego seus pratos cheios de comida. O refeitório estava cheio e barulhento.

— Meu-Deus — Júlio falou com a boca cheia e suja de molho de tomate nos cantos. — Como é que eu sobrevivi nas férias sem essa comida dos deuses?

— Você sobreviveu comendo a comida da sua mãe — Lili ironizou, pegando um dos seus guardanapos e jogando para perto dele.

— Minha mãe não cozinha tão bem. Sobrevivi porque meu pai cozinhou.

— Mas tá vivo e pronto.

Júlio mostrou a língua para ela assim que terminou de engolir a comida, e ela retribuiu.

— Liga não. — James virou para mim. — Esses aí são tudo criança.

Os dois mostraram a língua para James, que virou o rosto os ignorando.

Depois de quase uma hora, levamos as bandejas de volta à cantina e fomos para o jardim, assim como quase a escola inteira, aparentemente. Pegamos a mesma mesa que eu e James estávamos e sentamos, jogando conversa fora.

Fiquei distraída, rindo com o assunto, quando senti que estava sendo vigiada. Olhei pelo jardim, disfarçadamente, procurando alguém que poderia estar me vigiando. Então, o encontrei. O menino de cabelo preto, porém, ele estava conversando e rindo com seus amigos, e eu não pude deixar de notar, de novo, como ele era bonito.

E ele virou levemente o rosto, olhando diretamente para mim como se já soubesse onde eu estava. Virei o rosto no mesmo instante, corada e com o coração acelerado.

Coloquei uma mexa de cabelo atrás da orelha no modo automático e tentei voltar para a conversa do pessoal. Estavam falando de tombos.

— Eu já levei tantos. — Júlio riu. — Uma vez tive a ideia de descer uma ladeira de bicicleta, mas nem era tão inclinada. Fui lá, comecei de boa. Não sei no que diabo a roda se enroscou, só sei que foi tudo em câmera lenta. Pulei da bicicleta e terminei de descer rolando. — Começou a gargalhar, colocando as mãos na barriga. — Voltei pra casa todo ferrado, sangrando e com o guidão quebrado. Ai, vou vomitar.

— Quando foi isso? — Lili perguntou, rindo também. — Você nunca contou.

— Ah, faz muito tempo, eu era pequeno. Nem lembrava mais.

Mesmo rindo, comecei a bocejar.

— Já tá cansada? — James me perguntou, cochichando.

— Um pouco... Mas ainda tá cedo pra subir.

Entre um bocejo e outro, a conversa se estendeu quase até umas dez da noite. Quando todos estavam cansados o suficiente, levantamos e andamos até o dormitório feminino.

— Tenham uma boa noite, senhoritas — Júlio desejou, fazendo uma reverência exagerada.

— Igualmente — Lili respondeu, negando com a cabeça.

— Boa noite pra vocês. — James acenou.

— Boa noite.

Começamos a subir.

— Amanhã passo no seu quarto umas sete e quinze, tá? — Lili falou. — E você já leva a sua mochila.

— Tá bom.

Cada uma foi para seu quarto. Tomei banho, abri um pouco a porta da varanda e me deitei, estranhando o ambiente diferente, apesar de confortável. Raras eram as vezes que eu conseguia dormir rapidamente em um local que eu não conhecia, por mais que estivesse cansada.


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