San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 19
Bronze de Lagosta




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— Ei, acorda.

Resmunguei algo inteligível, grogue de sono. — Ah... Que horas são?

— Oito e meia.

— Nããooo. Quero dormir até mais tarde. — Puxei a coberta para cima da minha cabeça.

— Levanta, mulher! — Lili tentou puxar o edredom, mas eu o segurei até ela desistir. — Ninguém dorme até mais tarde nessa casa. Só o Alex tem passe livre porque é criança e nem assim ele acorda tarde.

— Então eu tenho cinco anos.

— Vai, vai, vai! — E ela puxou a coberta de vez, me deixando sem escapatória.

— Tá! — bufei, tentando me sentar, ainda de olhos fechados.

— O café tá na mesa. — Lili riu e desceu da cama, saindo do quarto.

Peguei minha bolsinha e fui ao banheiro, depois a guardei de volta na mochila e desci, sentindo o cheiro de café fresco e pão caseiro saindo do forno. Meu estômago roncou, e aquilo me despertou ainda mais do sono que ainda insistia em ficar ali.

Desci as escadas e entrei na sala de jantar, encontrando Lili sentada ao lado de Alex, na mesa, passando manteiga em algumas bolachas que ele comia com gosto. Sentei na frente dela e comecei a me servir do que estava disposto lá, como as xícaras, o bule de café, uma caixinha de leite, manteiga, requeijão, dois pães grandes e dourados e um pote com frios.

Alex era tão fofo que dava vontade de apertar e levar para casa. Suas bochechas eram bem rosadas e fofinhas, enquanto o cabelo era ruivo igual ao de sua mãe e irmã, só que tinham ainda mais cachinhos. Outro ponto diferente eram as sardas. Alex tinha poucas em comparação às da Lili.

— Cadê seus pais? — perguntei, percebendo que estávamos sozinhos por ali.

— Foram no mercado. Daqui a pouco eles voltam. Eles preferem ir cedo assim porque é mais vazio, então é sempre mais rápido.

Tomando o último gole do seu achocolatado, Alex enfiou mais uma bolacha na boca e desceu da mesa, saindo para a cozinha. Lili começou a se servir.

— Temos que ver alguma coisa pra fazer hoje. Não quero ficar dando sopa pro Viktor encher a nossa paciência. Quero te livrar disso.

— E o que tem pra fazer?

— Deixa eu ver... — Lili foi interrompida por um grito do Alex.

Corremos para a cozinha, encontrando Alex na frente da pia, com uma poça de suco em sua volta e a jarra caída no mármore, acima de sua cabeça. Seu cabelo pingava um líquido laranja e suas roupas estavam molhadas e manchadas.

— Lili. — Ele a olhou com os olhos cheio d’água. — Caiu.

— PFFFFF. — Lili soltou um barulho estranho, aparentemente querendo conter sua gargalhada, que acabou saindo de qualquer jeito.

A expressão triste de Alex se transformou em brava. — Lili! Não ria.

Ela soltou o ar pela boca e se controlou. — Tá, desculpa. Vamos arrumar isso antes que eles cheguem. Por que você não me pediu pra pegar? Seu cabeção — disse, carinhosamente.

Ele olhou para baixo, envergonhado, mexendo nos próprios dedinhos.

— Vem, vamos tomar banho. — Lili o pegou no colo, já saindo de lá.

— Quer que eu limpe isso? — perguntei, querendo ajudar em algo.

— Não, deixa que eu limpo. Vou colocar ele na banheira e já venho.

— Tá bom.

Lili subiu com Alex, e eu voltei para a mesa para terminar de comer. Pouco menos de um minuto depois, ouvi a porta da entrada abrir e fechar. Xíí... chegaram.

Segurei minha xícara e a observei, não totalmente à vontade de ficar sozinha com os pais da minha amiga.

— Ué, cadê todo mundo? — Olhei para cima, me deparando com Viktor entrando e indo para a cadeira onde Alex estava mais cedo. — Te deixaram sozinha?

— Não... A Lili foi dar banho no Alex — expliquei, sabendo que eu não deveria explicar nada para ele, mas ao mesmo tempo me sentindo uma péssima pessoa por querer ser mal-educada.

— Essa hora? — Estranhou, pegando uma das bolachas e passando manteiga.

— Ele derrubou suco nele mesmo.

Viktor deu risada e mordeu a bolacha. — É bem a cara dele... — Depois de mastigar, parou e começou a me observar. Epa.

Senti meu rosto esquentando. — Quê?

— Bem que você poderia me ajudar, né.

— Te ajudar no quê? — indaguei, desconfiada.

— A me aproximar da Lili...

— Depois de tudo o que você fez? Até parece.

— Como assim depois do que eu fiz? — Ele perguntou, confuso e ligeiramente afetado.

Opa. Esqueci desse detalhe. — Você... fez ela sofrer.

— Mas foi ela que terminou comigo...

— E foi você que traiu ela — exclamei, me arrependendo no mesmo segundo. Opa dois. Maldita cabeça quente.

Viktor me olhou sem acreditar no que eu tinha falado e parou de comer, se recostando na cadeira, ficando pálido e parecendo muito confuso.

Cruzei os braços, querendo ver a desculpa que ele daria. — Por que acha que ela te evita? Será que não ligou os pontinhos? — perguntei, sarcástica. O que é um peido pra quem tá cagado, né? — Depois do que você fez, ela quer toda distância possível de você.

Ele colocou os braços na mesa, apoiando a cabeça. — Eu me arrependo de não ter contato a verdade. Eu me arrependo muito disso...

— E do que adianta? Você fez. Ela tem razão de estar com raiva de você.

— Mas ela não me escuta. — Viktor voltou a me encarar, angustiado. — Sempre me evitou desde aquela época... Era por isso... Como ela descobriu?

— Eu não sei. Ela não me falou como.

— Não foi como você tá pensando... — cochichou, apreensivo.

— Não importa — interrompi, tendo que me lembrar que foi ele que fez a cagada. Eu não podia ter pena. — Não faz diferença. Você traiu a confiança dela.

— Então me ajuda...

— Por que eu te ajudaria?

— Tô falando como eu me arrependo de não ter contado. Eu sinto falta dela.

— Não tem como eu te ajudar. Você fez a besteira e ela não quer falar com você.

Viktor hesitou e afirmou com um aceno de cabeça, devagar, desanimado. Ele levantou.

— Espera — falei —, eu não te contei nada. Até acabei te ajudando sem querer. Ela não pode saber que eu contei.

— Tá. — Saiu andando para o hall, com os ombros caídos.

Uau. Como fui adulta agora, não é?

A Lili não pode nem desconfiar que eu falei. Não pode nem sonhar... Que saco, por que fui abrir a boca?

Terminei de comer e comecei a levar as louças para a cozinha, tentando ajudar. Lili passou por mim, indo para a lavanderia, e voltou com um balde e um pano. Começou a limpar o suco do chão e eu limpei o que tinha caído na pia. Logo estava tudo limpo de novo.

Subimos. Lili tirou Alex da banheira, o secou com a toalha, secou seu cabelo com um secador e colocou roupas limpas nele.

— Ufa. Conseguimos. Bate aqui. — Ela sorriu, erguendo a mão. Ele rapidamente deu um tapinha em sua mão, todo contente.

— Chegamos! — Alguém disse lá em baixo. Era Michele. — Vem ajudar, Lili.

— Fica de olho nele, já volto — pediu Lili, saindo do quarto.

Alex e eu nos olhamos. E agora?

— O que você quer fazer? — perguntei, meio sem jeito. Ele ficou olhando para as mãos. — Quer jogar?

E aí ele ergueu a cabeça, mostrando um sorrisão. — Quero!

Alex ligou a televisão, e eu videogame. Pegamos os controles e o jogo começou. Dava para ver que o videogame era simplificado, feito para crianças pequenas. Era simples e tinha jogos interativos e bem coloridos. Ficamos ali até Lili voltar, uns quinze minutos depois.

— Adivinhem! — anunciou ela, entrando. — Vamos pro clube depois do almoço!

— Êêêêê! — Alex berrou, todo contente, até esquecendo do joguinho.

 

Depois de ajudar com o almoço, comer e ajeitar as louças, Lili e eu subimos de volta para o quarto para nos arrumarmos.

— Lili, eu não tenho biquíni — falei, pensando que talvez pudesse usar shorts e regata no lugar, o que seria ótimo.

— Eu te empresto. — Ela foi até uma gaveta do guarda-roupa e puxou de lá pelo menos uns dez pares de biquínis e três maiôs, os deixando em cima da cama.

— Caramba. Vocês vão bastante pra lá, né?

Ela riu. — Sim, vamos quase toda semana. Pode escolher o que você quiser, eu vou pegar esses aqui. — Lili pegou o conjunto rosa.

Por mais que eu tivesse gostado dos biquinis, não teria coragem de usar nenhum deles. Eu sabia que eles não cobririam nada do que eu não gostava em mim, então optei pelo maiô preto e vesti um short que trouxera na mochila.

Fizemos uma lambança com o protetor solar e até passamos nas costas uma da outra, e um pouco depois descemos, ajudando a levar algumas coisas para o carro. Fiquei de boca aberta quando chegamos no clube. O lugar era imenso, todos os caminhos levavam para piscinas diferentes. Piscinas normais, aquecidas, com ondas artificiais, de surf, hidromassagens, adultas, infantis e tobogãs.

Os pais de Lili avisaram que estariam na piscina adulta, e nos separamos.

Claro que primeiro fomos para os tobogãs, e apesar de eu ter medo em alguns, Lili me empurrava e Alex ia na onda dela, literalmente. Nós até ficamos nas piscinas infantis com Alex, e mesmo ali foi divertido. O menino ficou doido com o tanto de brinquedo que tinha e não parava um segundo. Lili precisava segurar ele para o fazer beber um pouco de água. Enquanto ele brincava, nós duas ficamos sentadas na beira da piscina, torrando no sol.

Mais para o meio da tarde, trocamos de lugar com Anderson e Michele como babás de Alex, e seguimos para as piscinas com ondas artificiais. Eu quase me afoguei algumas vezes, mas até esquecia por causa do desespero de me manter viva nas próximas ondas que vinham.

Lá para as sete da noite, já sem o sol, nos secamos, trocamos de roupa e partimos para casa, completamente exaustos. Só depois de tomar banho comecei a sentir minha pele ardendo um pouco, e olhando no espelho, notei que estava com a testa, nariz e maçãs do rosto vermelhas.

Coisa de quem não passa protetor direito, né, Bruna? Vou ficar com uma cruz vermelha na cara.

De noite, ninguém estava afim de pensar ou fazer o jantar, então os pais da Lili pediram pizza. No domingo, todos concordaram que repetir a dose do clube seria legal, e logo após o café da manhã fomos novamente ao clube. Almoçamos por lá, ficamos escondidos do sol nas primeiras horas da tarde, pois já estávamos ardidos mesmo com os quilos de protetor solar, e só voltamos para casa depois das seis horas da tarde.

Lili e eu começamos a arrumar nossas malas, com Alex sentado na cama, nos observando, meio cabisbaixo.

— Que foi Alex? — Lili perguntou, parando de arrumar sua mala e se sentando ao lado do irmão, lhe fazendo um carinho no braço.

— Voxês vão imbora...

— Semana que vem a gente volta.

— Mas a Buna vem tamém?

Trocamos olhares, dando uma risadinha. — Você gostou dela?

Alex me olhou, e afirmou com a cabeça, dando um sorriso tímido.

Ele gostou de mim! Coisa mais linda!

Larguei as coisas e me joguei na cama, o agarrando e fazendo cosquinhas sem dó. Ele gargalhou e tentou devolver, e eu fingi que estava morrendo de rir.

Depois de terminar tudo, nos despedimos de Michele e Alex, depois de ficar dois minutos acenando para ele, e Anderson nos levou de volta à escola.

Chegando no portão principal, me deu uma saudade enorme da minha cama, e eu mal via a hora de entrar no meu quarto e me deitar. Não imaginei que fosse me sentir assim em um lugar que eu estava há tão pouco tempo.

Nos despedimos do pai da Lili e passamos pelos portões a pé, levando nossas mochilas nas costas. Outros alunos também estavam entrando.

— Achei estranho — Lili disse, de repente.

— O quê?

— O Viktor não veio me encher. Domingo passado fez questão de ficar lá até eu ir embora.

Engoli seco. Será que ele ficou pensando no que eu falei e desistiu de ficar em cima?

 — Vai ver ele saiu, sei lá.

Ela deu de ombros, tristonha. — Talvez.

Não faz essa cara de decepção, Lili. Cadê o Júlio pra você se animar e esquecer disso?

Já tinha bastante gente no campus quando chegamos, mas não vimos os meninos no refeitório e nem na nossa mesa, então fomos direto para o quarto.

Cheguei, suspirando e sentindo o cheirinho de limpeza, e a primeira coisa que fiz foi deixar a mochila na cadeira e deitar na cama, abraçando meu travesseiro e abrindo um sorriso contente, grata por ter voltado e por ter tido um fim de semana maravilhoso.

Quando me dei por satisfeita, levantei e desmanchei minha mala, deixando tudo em seus lugares.

Estava exausta, ainda sentindo a sensação da água no corpo, o que era bem engraçado.

Como não pude lavar o cabelo na casa da Lili, aproveitei que ainda estava cedo e lavei. Tentei secá-lo o máximo que pude com a toalha, e depois de pendurá-la no varal da sacada e ficar um tempinho observando o quarto de Yan, querendo que ele aparecesse ali, o que não aconteceu, mais ou menos onze horas da noite me deitei e apaguei sem nem perceber.


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