San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 20
Marquinhas E Surpresas




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O despertar tocou, e eu rapidamente o desliguei, sentindo uma estranha sensação de saudade dos meninos. E obviamente, do Yan também. Mesmo que tivesse se passado dois dias e meio, era como se eu os tivesse visto semanas atrás. O cansaço das atividades do fim de semana certamente ajuda na sensação, mas logo eu mataria a saudade.

Levantei, renovada para mais uma semana. Me arrumei e tomei o cuidado de passar um pouco de hidratante do rosto, que estava um pouco mais vermelho que no sábado. Qualquer um que olhasse para a minha cara poderia pensar que eu estive na praia. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo, que raramente eu usava porque não achava que combinava comigo, e esse era um daqueles dias em que eu me sentia bonita o suficiente para usar, e arrumei meu material na mochila, animada para descer.

Assim que sai do quarto, vi Lili fechando a porta de seu quarto.

— Bom dia, Bru! Ai, eu tô toda dolorida.

— Bom dia. Você parece mais bronzeada hoje — observei, vendo como suas sardas estavam realçadas e sua pele levemente avermelhada.

Ela riu. — É, e você também, só que tá mais vermelha que eu. Passou o creme que eu te dei?

— Arrã. Suas sardas ficaram mais escuras. — Começamos a andar para as escadas.

— Infelizmente.

— Por que infelizmente?

— Eu não gosto delas — resmungou, e deu de ombros, deixando claro que nada poderia fazê-la mudar de opinião. — Mas não tem o que fazer.

Fiquei sem saber o que dizer, por mais que não concordasse. Ela era muito bonita, e as sardas só destacavam sua beleza, mas provavelmente nada do que eu falasse ia mudar alguma coisa. Descemos em silêncio e encontramos os meninos nos esperando. Quando eles nos viram, nos encararam com os olhos arregalados.

— Que foi? — Lili perguntou, fazendo uma carinha de quem não estava entendendo aquela reação, mas eu sabia que ela só queria fazer graça.

— Vocês foram pra praia e nem chamou a gente — Júlio acusou, sem conseguir fechar a boca por completo, tamanho a surpresa.

— Fomos num clube. E nem vem, você mora do lado da praia.

— Não é do lado.

— Nossa, cinco minutos andando e chegou! É do lado sim.

— Vocês estão bem bronzeadas — James falou antes que Júlio retrucasse de novo.

— Você quis dizer vermelhas — Ele debochou.

— Tá incomodado? — Lili perguntou, o encarando.

Júlio franziu o cenho, provavelmente quebrando a cabeça tentando achar algo para falar e tirar Lili do sério, mas saiu marchando de cara fechada. Lili riu e foi atrás dele, lhe dando um empurrão.

— Ficou legal — James falou, andando ao meu lado.

— O quê?

— Essa marquinha no seu rosto.

— Ah. Valeu... — Dei uma risada sem graça, surpresa por ele ter percebido. — Nem falei oi para você.

Ele riu e acenou. — Oi.

— Oi!

Seguimos Júlio e Lili até o refeitório cheio, e eu fiquei pensando se Yan também iria perceber. Será que ele falaria alguma coisa?

Enquanto estávamos na fila, olhei pelo refeitório procurando por Yan, mas com aquele tanto de gente era difícil enxergar alguém em específico. Cheguei a encontrar pelo menos três meninos de cabelos pretos, mas nenhum era ele.

Pegamos nosso café e nos sentamos. Júlio estava empolgado conversando com Lili sobre alguma coisa, mal tirava os olhos dela. Será que o fato dela estar bronzeada, ou seja, mais bonita ainda, o incentivava de algum jeito?

— Seria legal — Júlio disse, e se virou para nós. — E se a gente pegar um fim de semana pra ficar na minha casa e ir pra praia?

— Seria legal — James concordou, prestes a morder seu sanduiche.

— Acho que sim, né — Lili desdenhou, bebendo seu suco.

— Como você acha? É lógico que seria legal — retrucou Júlio, a olhando de soslaio.

— Não sou vidente pra ter certeza que vai ser — provocou ela.

— Nossa senhora, que chata.

— Mimimi. — Lili fez uma careta e Júlio negou com a cabeça. Ela segurou o riso, e ele também, virando os rostos para lados opostos.

Acho que eles estão começando a criar a “bolha” pessoal deles.

 Os dois trocaram mais algumas farpas durante o café, e assim que terminamos de comer fomos para a primeira aula. Na troca de sala de literatura para matemática, vi Yan indo para a sala de química. Ele me viu antes de entrar e acenou rapidamente. Não tive tempo de acenar de volta, mas fiquei muito feliz por ele ter me visto.

Algumas horas depois, voltamos ao refeitório para almoçar.

— Não esqueçam da pesquisa de história — Lili lembrou, deixando seus talheres no prato assim que terminou de comer.

— Pesquisa? — Júlio perguntou, sobressaltado. — Droga, eu esqueci. Vamos pra biblioteca, rápido. — Levantou de supetão.

— Já fiz — Lili e eu falamos juntas.

— Quando? Por que ninguém me falou?

— Eu falei — respondeu Lili, se recostando na cadeira. — Quinta passada, na aula.

Júlio franziu os lábios, tentando lembrar. — Não lembro disso.

— Isso não é novidade — zombou.

— Qual é! — retrucou, voltando a se sentar. — Você poderia ter me lembrado.

— Eu não sou sua secretária. — Mostrou a língua para ele.

— Você tá me tirando demais. Pode parar.

— Ou o quê?

Ele hesitou, fazendo um bico. — Tá. Eu vou pra a biblioteca, então.

— Tá bom.

Júlio puxou sua mochila da cadeira e saiu andando para a saída do prédio dois. James começou a rir.

 — Tá se fazendo de difícil, é?

Lili gargalhou. — Tipo isso. Não vou mais ser boazinha com ele.

— Por que essa mudança? É por causa daquilo de você esperar?

— Ah... Acho que sim. — Ela ficou sem graça. — Ele te falou alguma coisa?

— Não. Mas bom, pelo jeito ele tá sério sobre o assunto. Normalmente ele demora pra me contar sobre alguma coisa importante assim.

— Eu nem sei o que esperar. Não queria ter esperança...

— Talvez seja melhor você não ter — disse ele, ressentido por ela.

— Sim, eu sei. — Lili forçou um sorriso.

— Tudo bem. Vou atrás do Júlio porque eu também esqueci dessa pesquisa.

Acenamos e James também se foi. Fizemos hora ali no refeitório e depois subimos após levar todas as bandejas. Ficamos no quarto de Lili, fazendo algumas atividades e jogando conversa fora. Antes de descer para o café, peguei meu roteiro e encontramos os meninos para comer. No tempo certo, James e eu tomamos rumo ao auditório.

Pegamos nossos lugares, e a professora Beatriz um dos roteiros reserva para James, já que ele esqueceu de pegar o dele. Enquanto o restante dos alunos não chegava, ficamos conversando sobre as cenas que faríamos.

Senti alguém se sentando do meu lado. — Oi, Bruna.

Olhei para o lado, sentindo as bochechas arderem. — Oi, Yan. Tudo bem?

— Sim, e você? Oi James.

— Olá — James respondeu, acenando.

— Tô bem. — Voltou a olhar para mim, sorrindo, e estava prestes a falar algo, mas foi interrompido por um pigarreio da professora Eduarda.

— Gente — chamou ela, no palco. — Vamos pegar do começo hoje, beleza? Era pra gente ter feito isso na sexta, mas não rolou. Então do começo até onde paramos na quarta-feira passada. Bruna, let’s go.

Me levantei e subi no palco, até que animada para começar.

— Cadê a Erica?

— Não sei.

Antes que ela falasse de novo, a porta de entrada abriu e Erica apareceu. Desceu rapidamente e eu fiz um sinal para que ela subisse também. Com um olhar de reprovação, a professora Beatriz deu um roteiro para ela, e começamos a ensaiar.

Eu ainda ficava nervosa, mas estava bem melhor. Não ficava mais intimidada por Yan, tudo bem, ainda ficava um pouco sim, e nem pelo resto dos alunos que ficavam ali, conversando e planejando as coisas da peça. Então acho que minha melhora era evidente, pelo menos para mim.

No meio do ensaio, James entrou em cena. Quer dizer, Gregório. E Ricardo, o garoto que interpretava o pai de Jasmim. Ele era do segundo ano e era dos meus, bem tímido, mas diferente de mim, ele resolveu entrar para o grupo de teatro com o objetivo de vencer a vergonha e ser mais confiante. Não fazia muito tempo que ele e mais alguns alunos com papeis secundários se juntaram ao nosso ensaio, mas como nós dois éramos tímidos, conseguíamos ver nossa evolução ali e tentávamos nos ajudar dando dicas um ao outro quando necessário.

 Quase no final, Yan, ou melhor, Heitor, entrou. Era a cena de quando Jasmim o via pela primeira vez. Eles se olham e é amor à primeira vista.

Todos bateram palmas quando acabou.

James levantou as mãos em minha direção. — Tá pegando o jeito, hein!

Sorri, feliz pelo treino do dia, e batemos nossas mãos no ar. — Tô mesmo!

Yan ficou ao meu lado. — Da próxima seremos nós.

Quer fazer eu ter um ataque antes da hora? — É. — Foi tudo o que eu consegui dizer.

Erica foi conversar com James enquanto íamos para fora, e Yan e eu caminhamos juntos em direção à saída.

— Você foi pra praia? — perguntou ele, observando meu rosto.

— Não, fui num clube.

— Você não ia pra casa da Lili?

— Eu fui, mas sábado e domingo fomos nesse clube com os pais dela.

 — Ah. Por isso você tá vermelhinha assim — comentou, sorrindo.

— É... — Você ajuda nisso, vou fazer o quê, né.

Yan olhou bem para o meu nariz, estreitando os olhos. — Você tem sardas. — Isso foi uma acusação? — Não tinha reparado antes.

— Quase não dá pra ver. — Dei de ombros, tocando meu nariz como se eu conseguisse sentir as manchinhas nos dedos. — Mas como tomei sol demais, elas ficaram um pouquinho mais escuras.

— É. É bonitinho — Yan soltou descontraidamente, abrindo a porta do teatro e fazendo um gesto para que eu fosse na frente, saindo logo depois de mim. — Até depois. — Abaixou-se e deu um beijo em minha bochecha.

— Até... — Sai andando, quase dando pulinhos. Ele reparou! Ele reparooooou.

Perdi James de vista, então andei até nossa mesa, encontrando Júlio e Lili sentados do mesmo lado, conversando próximos um do outro. Será que rolou algo?

Sentei no banco da frente. — Tá tudo bem? — perguntei, na esperança de uma notícia boa do tipo “estamos namorando”.

— Tá — Júlio disse, estranhando — Por que não estaria?

Lili revirou os olhos, certamente não entendendo o sentindo da minha pergunta, mas riu.

— Nada não. Só perguntando.

— E o James?

— Tava falando com a Erica e sumiu.

— Eita. Será que ele vai jantar com ela?

Naquele momento, James apareceu e perguntou se não íamos comer. Rumamos para o refeitório, jantamos e voltamos ao jardim. Sentei do lado de James, curiosa para saber se ele tinha avançado em alguma coisa com a Erica.

— Como estão as coisas com a Erica?

— Bem.

— Só bem?

— Sim. Por quê? — Ele perguntou, curioso.

— Vocês não estão... juntos?

James arregalou os olhos. — Não. Da onde tirou isso?

— Ah, sei lá... Vocês até que passam bastante tempo juntos.

— Por acaso você e o Yan estão juntos? Vocês também até que passam bastante tempo juntos — falou com um misto de acusação e brincadeira.

Senti o rosto esquentar e neguei, dando de ombros como se eu não tivesse me afetado. — N-não. Somos só amigos.

— Ela e eu também. — James também deu de ombros, com um sorrisinho de canto.

— Então tá.

Ele me deu um empurrão no ombro, de leve. Eu devolvi e sorrimos.

Depois de um pouco mais de conversa, subimos para nossos quartos

...

 

No outro dia, depois de almoçar e guardar nossas coisas, Lili e eu esperamos os meninos na frente do dormitório masculino pois combinamos de fazer algumas lições juntos, para facilitar a vida de todos. Fiquei distraída, imaginando o que aconteceria se Yan saísse bem naquele momento...

— O que você tá fazendo aqui?! — Tomei um susto quando Lili perguntou aquilo, de uma forma assustada, e me virei em sua direção, vendo uma pessoa que eu nunca imaginei que veria ali.

O que diacho ele tá fazendo aqui?

— Adivinha — Viktor falou, se aproximando e tentando colocar o braço ao redor dos ombros de Lili, o que não aconteceu já que ela se afastou.

— O que você tá fazendo aqui? — repetiu a pergunta, irritada.

— Eu vim estudar e...

— Você tá brincando, né?

— Não, eu me transferi pra cá. — Ele deu outro passo em direção a ela, e Lili deu outro para trás. — Precisamos conversar.

— Não temos nada pra conversar. — Lili cruzou os braços, virando o rosto.

— Eu sei que fui um idiota, mas eu preciso tentar consertar alguma coisa. Por favor?

— Por que justo agora? E por que eu iria te ouvir? Depois de tanto tempo?

— Se você me ouvir, eu te deixo em paz. Só preciso que ouça. Não precisa me perdoar e nem falar nada. Eu só preciso que escute o que eu tenho pra falar.

Lili me olhou rapidamente, indecisa. — Agora?

— Se puder, seria bom.

Incentivei quando ela me olhou novamente e peguei seu caderno e estojo. Suspirando, Lili saiu andando para o lado esquerdo do jardim. Viktor seguiu atrás.

— Ei.

Me assustei e me virei, vendo Júlio e James surgirem do nada. Júlio seguiu meu olhar e franziu o cenho, confuso com alguma coisa.

— Quem é aquele cara?

— Ele é... — Eu não sei o que ele é, tirando que é vizinho e ex-namorado dela. — É um colega... pelo que entendi ele acabou de ser transferido.

— E o que ele quer com ela?

— Aí eu já não sei...


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