Best Mistake escrita por SundaeCaramelo


Capítulo 3
Três - Vamos voltar ao começo




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"Vim pra lhe encontrar, dizer que sinto muito

Você não sabe o quão amável você é

Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você." - The Scientist (Coldplay)

               08:00 a.m. Londres, Reino Unido.

               Remus Lupin deslocava-se apressadamente numa calçada, os cabelos castanhos com alguns fios prematuramente grisalhos balançando ao vento frio da manhã. Esbarrou em uma ou duas pessoas e quase errou o caminho, tamanho o nervosismo que o consumia no momento.

               Tinha que chegar o mais rápido possível, tinha que vê-la, tinha que falar com ela e dizer tudo que finalmente havia conseguido ver tudo o que ela passara muito tempo tentando fazê-lo enxergar.

               O bruxo era uma grande mistura de emoções. Sentia-se orgulhoso de si mesmo por ter tomado coragem e decidido ir atrás dela, mas também sentia-se muito culpado por ter demorado tanto para tal. Além disso, estava com tanto medo quanto uma criança assustada. E se ela não o perdoasse? E se não o quisesse mais? E se ela tivesse desistido de esperar por ele ou de assumir o difícil (e ele era bem capaz de reconhecer isso) compromisso de amá-lo?

               Não poderia culpá-la se alguma dessas coisas tivesse de fato acontecido. Ele a magoara.  Prometera a ela e a Sirius inúmeras vezes que ele a protegeria sempre que pudesse e descumprira todas essas promessas numa tentativa falha e tola de cumpri-las. E agora ele precisava consertar o estrago que fizera. Pelo menos tentar, pelo menos dizer a ela o quanto a amava, pelo menos isso...

               Com as mãos tremendo, o coração pesado e toda a sua alma se revirando, seu dedo pálido tocou a campainha da casa dos Tonks.

***

               - Dora, passe as torradas?

               Nenhuma reação.

               - Dora, as torradas.

               Nenhuma reação.

               - Filha?

               O pai começou a preocupar-se.

               - NYMPHADORA! - Andromeda praticamente gritou, e só assim conseguiu atrair a atenção da jovem.

               Até então, a dita cuja não havia demonstrado o menor sinal de vida porque mal havia escutado o que o pai dissera. Seu olhar estava vidrado no pedaço de pão que segurava, mas é claro que não estava dando a mínima atenção para ele. Aliás, sua mente nem estava ocupada com grandes coisas. Sentia-se cansada, arrasada, tanto pela insônia da noite anterior quanto pelos fatores que a causaram.

               - Ahn? - foi o que ela resmungou em resposta, dando a si mesma tempo os suficiente para processar todas as informações ignoradas. - Ah, sim. Desculpe pai, eu ainda estou dormindo.

               - Insônia, Dora? – o homem perguntou, tirando os olhos do jornal por um instante para encará-la, preocupado.

Ela e Andromeda trocaram um olhar cúmplice. Sabiam que Ted ficaria irritado se ela lhe desse a resposta sincera, porque na opinião dele, a atitude de Remus fora um atentado a honra e ele não estava gostando nada de saber que sua garotinha estava sofrendo por causa de um homem que jurara amá-la, e na frente dele próprio tantas vezes.

               - Talvez, mas estou bem. – Dora respondeu, depois de alguns segundos de hesitação, que o pai fingiu não notar.

               A jovem aproveitou para dar uma olhada nas manchetes também. Mais 3 trouxas haviam sido assassinados. Quando aquela droga de matança iria acabar? Quantas vidas inocentes mais aquele psicopata iria querer tirar, só para se sentir superior? Aquilo era tão ridículo e doentio. Talvez o mundo inteiro estivesse doente.

               - Tome aí as torradas. – ela deixou de lado as reflexões para erguer a mão, pegar o pacote aberto de torradas que estava bem ao seu lado e entregá-lo ao pai, derrubando uma xícara de café no processo. A pobre xícara espatifou-se no chão, quebrando em vários pedacinhos e espalhando café pelo chão.

               - Dora! – Andromeda ralhou.

               - Oh, Merlin... – lamentou a garota. – Desculpe, mãe. Vou consertá-la. – e puxou a varinha.

               - Minha filha, quando você vai ser mais cuidadosa? Às vezes tenho medo de que você ponha essa casa abaixo sem querer. – Ted reclamou, em um tom mais amoroso do que repreensivo. Notara que ela não estava tão bem quanto tentava demonstrar, é claro. Sua fala a fez dar um sorriso fraco e isso deixou-o com uma sensação de dever cumprido.

               - Em minha defesa, a xícara estava bem no meio do caminho. E somos bruxos! - ela defendeu-se em um tom mais alegre, e no momento seguinte juntou todos os pedaços quebrados e secou rapidamente o chão, com um aceno da varinha.

               - Se não fossem os feitiços você teria sido responsável por destruir metade da Grã-Bretanha. - Andromeda provocou, com um sorriso.

               - Só metade?

               Quando Dora abriu a boca para responder, o som da campainha invadiu a casa. Por um segundo, encheu-se de uma esperança que foi abafada quase no mesmo momento em que surgiu. Ela não devia ser idiota a ponto de ficar esperando que qualquer pessoa que tocasse a campainha fosse a que ela mais desejava ver.

               Andromeda se levantou, dizendo que iria atender. Tonks logo decidiu segui-la. Era curiosa por natureza.

               - Ah, é você. - escutou a mãe resmungar em tom desdenhoso, pouco antes de chegar à sala. Andromeda nunca demonstrava ter o gênio frio e arrogante dos Black, isto era fato. Mas quando irritada, era possível notar que aquele sangue ainda corria em suas veias.

               Mal a moça começou a se perguntar quem seria o alvo daquele desprezo, a resposta chegou, simples e direta, embora em um tom perceptivelmente vacilante:

               - Eu... a Nymphadora... ela está?

               Pela primeira vez na vida, Tonks não se irritou ao ser chamada pelo primeiro nome, porque o efeito que apenas ouvir aquela voz novamente causou sobre ela foi superior a qualquer indício de raiva que pudesse ter surgido. O mundo pareceu ter congelado por um instante no momento em que aquelas palavras chegaram a seus ouvidos.

Era como se tivesse sentido um arrepio pelo corpo inteiro, mas por dentro. Uma espécie de força estranha invadiu seu peito, e ela sentiu-se como imaginava que uma planta devia se sentir quando regada, após um longo período de seca. Aquela força pareceu espalhar-se por toda a sua alma. O coração começou a bater mais forte, como se houvesse permanecido adormecido durante todo aquele tempo e só agora demonstrava que estava ali, que ainda estava funcionando a todo vigor. E as tais das borboletas no estômago? Havia centenas, milhares, centenas de milhares delas.

               Embriagada por aquela estranha e maravilhosa sensação, ela seguiu os impulsos e adentrou a sala, antes que Andromeda pudesse respondê-lo, para que ela própria o fizesse:

               - Sim, eu estou aqui.

               Os dois que estavam parados à porta voltaram o olhar para a jovem quase instantaneamente.

               - Dora! – ele repetiu, meio debilmente. Mas o que podia fazer? Revê-la o tornara débil, bobo. Era bobo por ela.

               - Remus Lupin. – ela disse, em uma voz tão baixa que se a sala não estivesse tão silenciosa devido ao clima pesado que se instalara ali com a entrada do Lupin, ninguém teria escutado.

               Neste momento, os olhos de ambos se encontraram. Castanho no âmbar, âmbar no castanho. Havia tantos sentimentos em cada um daqueles olhos, mas nenhum dos dois aguentou sustentar o olhar por muito tempo, para que estes pudessem ser notados e analisados.

               Diante daquilo, Andromeda decidiu que, por mais que sua vontade fosse expulsar, do modo mais grosseiro possível, o bruxo que tanto perturbara o coração da filha, precisava deixar que eles se resolvessem. Sabia que nenhum dos dois poderia voltar a ser plenamente feliz caso isso não acontecesse. Detestava admitir isso a si mesma, mas era verdade. Tinham sido feitos um para o outro.

               - Eu vou deixá-los a sós. – anunciou, sumindo no corredor no instante seguinte.

               Passaram um tempo calados depois disso. Ela olhava para a almofada, para as fotografias na parede, para a lareira apagada, para qualquer lugar, desde que o foco de seu olhar não estivesse nele. Já ficara balançada o suficiente, apenas ouvindo aquela voz.

 Ele encarava o chão, tentando concentrar sua atenção nas linhas do piso, nas cores do tapete...

               Esta situação deve ter durado um minuto, se foi muito, mas lhes pareceu um século. Havia tanto a ser dito, mas ninguém conseguia dar o primeiro passo. Eram sufocados pelo constrangedor silêncio.

               Finalmente, Tonks decidiu abrir a boca.

               - Então... pode ir entrando. – falou, parecendo só agora notar que ele ainda estava parado do lado de fora da sala.

               Aliás, nem ele próprio se lembrava disso. A tensão da situação os distraíra.

               - Bom... – continuou ela, depois que ele entrou. Esforçou-se para passar uma certa indiferença na voz; – Acho que você não viria aqui de repente se não tivesse algo importante a dizer. Portanto, diga.

               Por um momento, todo o medo da rejeição e de o perdão dela não lhe ser concedido invadiu-o de forma tão brutal que por uma fração de segundo, cogitou desistir. A voz dela lhe parecera mais fria. Mas não, ele não seria covarde a esse ponto. Iria falar, precisava falar.

               Respirou fundo antes de começar. Ele imaginava que quando o fizesse, o ato se daria de forma tão frenética e saturada de informações, que precisaria repetir algumas vezes para que fosse compreensível. Havia preparado mentalmente mil discursos. Eram tantas coisas que queria falar, que cada frase se confundia em sua cabeça. No entanto, todas elas pareceram fundir-se em uma só quando, de modo espontâneo, foram proferidas por seus lábios as palavras:

 –  Eu te amo.

Ignorando toda a reação indescritível de seu coração, primeira reação realmente racional de Tonks em resposta àquilo foi a confusão. Quer dizer , ela esperava ouvir algo um pouco mais... condizente? Ainda assim, nem seu lado racional conseguia negar o quão feliz ficara. Tão simples, mas tão obviamente sincero. Ele viera até ali para dizer que a amara.

Depois do choque inicial, pôs-se a pensar em uma resposta, mas nem precisou, pois Remus tornou a falar:

 – O  que eu tinha para dizer, na verdade era um pouco maior, mas acho que isso sintetiza tudo. Eu te amo, Tonks.

“Sintetiza tudo”. Ele tinha razão. Talvez, em três palavras ele conseguira expressar todas as coisas que ela mais queria ouvir. Que ele a amava e estava ali, para lutar por ela. Porque ele a amava.

 – Loucamente. – ele continuou – Ardentemente, desesperadamente, apaixonadamente, completamente, eternamente... Te amo e preciso de você. Como ousei um dia acreditar que sobreviveria longe de você? Na minha alma, tem o seu nome. Não existe mais Remus sem Dora. Amo você, amo nosso filho, amo a família que vamos construir e me martirizo por ter te deixado acreditar no contrário.

Ela começou a chorar. Um choro calmo, o rosto nem se contorcera. Mas seus olhos estavam molhados e lágrimas e mais lágrimas escorriam rápidas por suas bochechas rosadas, enquanto um sorriso tomava lugar em seu semblante.

 –  Dora, me perdoe. Por favor. Se vai desistir do imprestável que sou, pelo menos me permita ter o seu perdão. – foi a vez dele de desistir das defesas. As lágrimas começaram a cair de seus olhos, que fecharam-se. – Sua existência me faz feliz como eu nunca imaginei que um dia pudesse ser. É uma honra que eu tenha sido digno do seu amor.

Terminadas as declarações, Remus deu um suspiro profundo e ao perceber o silêncio dominando a sala logo depois, permaneceu de olhos fechados. Não tinha coragem de abri-los, mesmo sendo um grifinório. Queria fazer algo para acabar com o silêncio, por que cada segundo que se passava para ele era uma agonia e quanto mais segundos passavam, mais agoniado ele ficava. Mas preferiu nem tentar.

De repente, sentiu que ela se aproximava. Um certo pânico perpassou-o. Talvez ele levasse um tapa. Ou talvez...

Não. Não fora um tapa.

Primeiro, sentiu os braços finos envolvendo seu corpo, em um movimento delicado e carregado de ternura. Lentamente, todo o corpo dela foi colando-se ao dele, aquecendo-o de uma maneira que ele nunca conseguiria explicar. A cabeça dela afundou-se em seu ombro, levando assim às suas narinas o cheiro do cabelo dela. Como sentira falta...

Finalmente, ela apertou-se contra ele. E ele envolveu-a de volta, de um jeito intenso e ao mesmo tempo muito doce. Passou a mão por seus cabelos e manteve a outra em sua cintura, firme. Entregou-se àquele abraço com toda a sua alma. E a conexão foi tão inexplicável, que era como se almas tivessem se entrelaçado, à exemplo de seus corpos.

Só quando afastaram-se um pouco, Remus voltou a abrir os olhos. E deparou-se com o rosto mais lindo do mundo, molhado pelas lágrimas, ostentando o sorriso mais lindo do mundo, dirigido ao homem mais feliz do mundo.

Ele queria falar, mas não conhecia nenhuma maneira de expressar sequer metade do que sentia ali, com ela. Do que sentia por ela. Então, acabou ficando ali parado, com a boca entreaberta, como se tivesse sido interrompido.

Tonks deu um risinho. Parecia um peixe.

Ela lançou-lhe um olhar indicando que não havia mais nada a ser dito e ele pareceu entender o recado.

Isso permitiu-a fazer mais uma coisa:

Levou as mãos ao rosto dele e acariciou-o docemente, passando os dedos pela barba malfeita sobre a pele macia e quente, para, enfim, beijá-lo.

Aquele beijo poderia servir como definição para muitas palavras. Uma delas, era sintonia. Outra, poderia ser urgência.

Começou calmo, delicado e harmonioso. E aos poucos foi se tornando mais intenso e o amor entre os dois tornando-se quase palpável.

Beijá-lo novamente, depois de tanto tempo, era uma sensação inexplicável para Tonks. Ou melhor, estar com ele depois de tanto tempo era. Era bom, recompensador.

Sentir seu abraço quente e seu toque suave, seu cheiro reconfortante como nenhum outro. Seu beijo doce, carregado de uma magia desconhecida a qualquer outro bruxo, ela tinha certeza. Ali, naquele momento, sentia que, realmente, nunca se separariam de novo, porque pareciam ter finalmente descoberto que se amavam tanto, que eram um só.

Quando o beijo acabou, ambos sorriam. Ficaram encarando-se por uns segundos, ao passo que os sorrisos alargavam-se.

 –  Então, isso quer dizer que estou perdoado? – perguntou ele, brincalhão.

 –  Bom, por mim acho que está. – respondeu ela, no mesmo tom. – Mas vai ter que esperar alguns meses para saber a resposta do seu filho. Ou filhinha.

 –  Sendo assim, vou passar todo o tempo possível ao lado de vocês dois enquanto ele, ou ela, não dá as caras. Talvez assim veja que eu não sou lá essas coisas, mas serei um ótimo pai.

Tonks riu.

 – Que bom que percebeu, porque eu nunca tive dúvidas disso.

 –  De que eu não sou lá essas coisas ou de que serei um ótimo pai? – ele fingiu não entender.

 –  Deixa em aberto. – ela lhe deu um selinho, para depois sussurrar em seu ouvido: - Ah, e eu também amo você.

E eles se beijaram de novo. E de novo, de novo e de novo, em uma sequência de selinhos e risos adorável, trazendo um sorriso satisfeito ao semblante outrora preocupado de Andromeda, quando ela foi conferir como ia ocorrendo o desenrolar das coisas.

Havia dado tudo certo, afinal. Como ela sempre soube que daria.

Grandes amores não terminam por coisas pequenas. Nem grandes e nem gigantescas. Grandes amores nunca terminam.


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