Angel Melody escrita por Bruno hulliger


Capítulo 3
Ópera do preconceito




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  Décio, ao se certificar que a cadeirante já estava confortável na cama, apagou a luz e lhe desejou boa noite. Sophia não estava dormindo ainda, mas permanecia calada. No dia seguinte, ela iria voltar à escola... A morte da jovem Alice a fez se afastar dos estudos por um tempo, pois estava muito abalada; mas agora não havia escapatória. Como encarar a vida sem a ajuda da irmã, que já fez tanto pelo seu bem estar? A garota começou a trabalhar o dia inteiro, abandonou os estudos e o seu próprio lazer para cuidar de Sophia! Alice era um anjo que tinha como missão cuidar da irmã. E ela o fez com todas as suas forças... Mas... Sophia não podia lhe retribuir, e nem poderá. Afinal, ela é deficiente. E segundo suas crenças, um deficiente não ajuda as pessoas, é sempre ao contrário...

  Uma lágrima deslizou pelo rosto da garota, e esta foi seguida por várias outras. Ela era uma menina indefesa no mundo. Não lhe restava nada para fazer além de chorar... Tanto, que parecia uma criança aprisionada no corpo de uma adolescente. Sua vida sempre foi tão infeliz. Tão sofrida... Pensando nessas coisas, a garota acabou adormecendo.

  No dia seguinte, ela foi acordada bem cedo pelo primo. Ela se sentou na cadeira sem ajuda alguma, colocou o uniforme da escola (de forma um pouco desajeitada), desceu das escadas carregada por Décio e, já estando acomodada na cadeira de rodas, dirigiu-se ao banheiro, onde escovou seus dentes e penteou o cabelo.

  Não se passou muito tempo e ela já estava a caminho da escola, sendo levada por Décio, que por alguma razão parecia estar com um pouco de repulsa da menina naquele dia; mas, em contrapartida, adocicava sua voz de vez em quando.

  Enquanto andavam pelas ruas da cidade, Sophia atraía olhares por onde passava. Ela sempre pensou que o motivo de chamar tanta atenção era pela cadeira de rodas, mas em geral, estava enganada. O que realmente chamava atenção eram o seu rosto e o seu corpo maravilhoso. Sua face tinha cor clara, quase pálida, seus olhos eram azuis e tinham um tom bem forte. Seus cabelos eram loiros e longos, e possuíam um brilho natural muito bonito. As maçãs do rosto tinham um formato perfeito, assim como o resto da cara. Seu nariz e boca eram pequenos e bem agradáveis a quem os visse; seu corpo tinha curvas lindas e bem proporcionais; ela era magra, o que realçava ainda mais a sua aparência angelical. Aliás, esse era o apelido dela: “anjo”, um belo apelido para uma bela moça! Infelizmente a menina não se achava tão bela. “O que pode ter de bonito em uma deficiente como eu?” ela dizia. Mas, mal ela sabia que existem vários tipos de beleza. E ela era uma pessoa sortuda, pois possuía a beleza interiorexterior.

  Ao longe, o vulto do prédio da escola já estava à vista. Sophia estava ansiosa e receosa, pois ela não tinha ideia do que esperar quando chegasse. A garota mal tinha amigos — colegas, no máximo — e mesmo os professores lhe adorando, a menina achava que não valia a pena continuar estudando naquela escola. Por quê? Bom, ela sofria bullying entre os colegas. Principalmente por parte das garotas populares da escola, que sempre arrumavam um motivo para tirar sarro dela.

  Décio, por alguma razão, parecia impaciente, e às vezes parecia que ele iria correr para chegar mais rápido ao estabelecimento. Enfim, não demorou muito para chegarem à escola.Ele levou-a até a entrada e depois deixou-a sozinha. Ela tentou lhe dizer que precisava ser levada até dentro da escola, pois havia vários e enormes degraus na entrada, mas o rapaz não ouviu. Ele já estava bem longe dali... Claro, uma rampa seguia caminho nas laterais dos degraus, porém era uma subida que necessitava de muito esforço. Mal parecia que havia sido feita para deficientes.

  Lá estava ela, diante de uma escada de concreto enorme. A rampa? Seria uma opção “dolorosa" pela dificuldade em subí-la...

  “Ora, ora... Vejam quem está aqui! É Sophi, ‘a idiota que não aprendeu a andar’” disse Isabelle, uma das garotas populares que amavam atormentá-la. Ah! Inclusive, ela criou vários nomes e apelidos ofensivos para Melody. “O que foi? Não consegue subir nem mesmo a rampa? Coitadinha...”, as duas amigas de Isabelle que estavam ao seu lado começaram a rir.

  “Por favor...” falou Sophia “Me ajude a subir...”

  “Oh... Pobrezinha... Sua irmã esqueceu-se de te levar até a porta da escola, é isso?”

  “Minha irmã...” começou Melody, com os olhos lacrimejando “morreu...”

  “Oh! Desculpe, eu não sabia...” disse Isabelle em tom cômico “O enterro foi aqui mesmo ou na terra dos macacos?” e as amigas riram com mais intensidade.

  A cadeirante não aguentou mais, e começou a chorar. Ela se sentia incapaz por não poder se defender das zombarias.

  “Coitada!” prosseguiu Isabelle, se divertindo com o sofrimento da garota “Meninas, alguma de vocês quer ajudar ela a subir as escadas?”

  As outras duas disseram não. E a menina popular continuou:

  “Que pena. Ninguém quer te ajudar..." concluiu, demonstrando falsa preocupação pelo sofrimento da cadeirante "Será que é por que você é defeituosa...? Bom, esquece. Até mais, nós estamos atrasadas para a aula. E se você não aprender a andar logo, também vai se atrasar!”. As amigas soltavam enormes gargalhadas enquanto subiam as escadas de concreto. Enquanto isso, Sophia chorava, afinal, chorar era tudo o que poderia fazer naquele momento.


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