Talvez seja um sonho escrita por Lorde Saphe


Capítulo 7
Patience


Notas iniciais do capítulo

A música de hoje é Patience - Guns N' Roses



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No sonho eu estava em um parque. Todos os brinquedos estavam desligados, todas as barracas fechadas. Caminhei sem rumo na escuridão, quase esbarrei em um carrinho de pipoca abandonado. Estava ficando cansado de tanto andar, o parque parecia muito maior do que o verdadeiro. Pude distinguir o que seria uma montanha russa, uma roda gigante, e alguns cavalos de brinquedo. No fim do parque, pelo menos parecia ser o fim, uma única barraca estava aberta. A luz que vinha dela era tão brilhante que me cegou por alguns segundos. O nome piscava em rosa, o que tornava péssimo de se ler. Barraca do Amor. Havia uma mulher apoiada com os cotovelos no balcão, as mãos segurando o rosto. Por um momento pensei que fosse Annabeth, mas então vi que os olhos não eram cinza. Então percebi que era burrice pensar que ela fosse Annabeth. Seu cabelo era castanho escuro, ela era mais alta e seus olhos brilhavam de várias cores.

— Então, valente, por que me chamou aqui? — Sua voz era suave e cheia de magia. Era dificil me concentrar em suas palavras.

— É...Eu? Eu a chamei? — Era difícil pensar em alguma outra coisa que não fosse a beleza daquela mulher.

— Ah sim, estou vendo. Você está com dúvidas sobre o amor. Me diga, jovem herói, diga suas dúvidas. — Eu queria muito agradar ela. Todo meu corpo parecia querer fazer o que sua voz convidava.

— Mas...se eu tenho dúvidas sobre o...amor. Por quê eu chamei você? Eu não entendo.

— Eu sou a deusa do amor, querido. Afrodite.

— Ah...certo. Eu tenho essa...Ahn...amiga. Annabeth. O namorado dela a traiu, pelo visto várias vezes. Claramente ele não ama ela, mas ainda assim ela continua voltando para ele. Quer dizer, você é a deusa do amor, por que permite isso?

— Não posso dizer que não estava esperando por isso. É típico de vocês humanos fazerem isso. Bem, vou explicar pra você o que é o amor. Eu sei que vocês foram ensinados que o amor é esse lance mágico que vem dos céus e faz você ficar ligado com a pessoa amada para sempre, mas não é assim. Também não é uma flecha atirada pelo meu filho Cupido, aquilo causa desejo, paixão, mas amor não. E sabe por que não? Porque o amor é uma opção. Isso mesmo, é uma escolha. Você escolhe ficar com a pessoa, vocês escolhem tentar superar os problemas juntos, você escolhe aceitar os defeitos dela. Ninguém obriga você, além de você mesmo.

— Mas...eu não consigo entender como pode ser assim. Uma vez me falaram que o amor é exceção no mundo. Se é uma escolha, como alguém pode não fazê-la?

— O que você sabe do mundo, herói? Vocês, humanos, são tão pequenos, com mentes pequenas, vocês não conseguem ver a imagem maior. Vocês adoram não ter que escolher, adoram que digam para vocês o que fazer. Vocês não conseguem lidar com as suas próprias escolhas, então é mais fácil dizer que não teve uma. "A gente não escolhe quem ama", "Foi o acaso", "Foi o destino", pff. Vocês começam guerras e mais guerras para provar qual divindade controlam vocês. O universo é tão vasto, garoto, até mesmo para nós deuses. Você conseguiria imaginar um mundo onde todos os deuses coexistem? Provavelmente não, isso seria esperar demais da mente limitada de vocês. Mas ainda assim, vocês acreditam que algo pode durar para sempre. Deixa eu te contar um segredo, nada, nenhum monumento, nenhuma cidade, nenhum planeta, nem os deuses imortais, vão durar para sempre. Você pode jurar amor eterno para alguém, mas saiba que você estará mentindo. Nem mesmo a morte é eterna, vocês são como um fósforo aceso em meio a uma tempestade, sua chama não vai durar muito. A grande escolha, Percy, é: você vai tentar manter a chama acesa um segundo a mais ou vai faze-la queimar o máximo que puder? — Ela parecia irritada, como se não quisesse falar sobre aquele assunto.

— Sabe por que dizem que o amor é irracional? Pense em quantas escolhas fazemos na vida, em quantas decisões temos que tomar, consciente ou inconsciente. Agora imagine ter que tomar todas para manter alguém do seu lado? Algumas são fáceis de tomar, mas outras são tão difíceis que todo o seu ser entra em colisão. Não é qualquer pessoa que escolheria isso, garoto. — Meu cérebro parecia um prato gigante de macarronada. Eu não compreendia, parecia que ela, a própria deusa do amor, estava me fazendo desistir de amar e talvez até de viver. Pensar sobre aquilo fez eu me sentir menor, muito menor do que eu já era. Não parecia haver sentindo nenhum em viver. Como meus problemas poderiam parecer tão grandes, quando na verdade eles não são nada?

— Sabe, eu posso ver seu cérebro mortal trabalhando, eu posso sentir suas dúvidas. Me deixe tentar esclarecer. Todas essas pessoas que acreditam no amor, elas não precisam de alguém que não acredita. Elas não precisam de alguém que nem mesmo entende. Não quero fazer você desistir, querido, quero que você abandone essa ideia terrível do que você acha é o amor, do que você acha que é a vida. Você precisa olhar o amor nos olhos se quiser amar e enfrentar a vida do jeito que ela é. — Ela me encarava de uma forma apaixonada. Seus olhos mudavam sempre, mas a cor do mel parecia se destacar mais.

— Você disse que não acha que o garoto amava sua...amiga. Veja bem, eles se amaram durante anos. E foram felizes. Por três anos um escolheu o outro, mas então começaram a se perder. Nenhum dos dois terminou o relacionamento, acreditavam que se amavam, mas naquele ponto já eram estranhos. Por dois anos levaram um relacionamento onde as suas escolhas eram individuais. Você entende isso?

— Acho que sim. — Eu realmente estava começando a entender. Claro, não fiquei feliz em saber que Annabeth já amara aquele cara, e que talvez estivesse tentando amá-lo novamente. Nem que toda minha vida parecia ser sem sentido. Mas eu pensava em outro exemplo. Minha mãe e meu pai. Eles se amavam, e mesmo assim meu pai passava meses fora, mas quando ele voltava, eles escolhiam continuar se amando. Ou será que achavam, assim como Annabeth que ainda se amavam? Percebi o quão complicado era essa ideia de amor.

— Ah, que fofinho. Você realmente está começando a entender. Veja, algumas luzes estão se acendendo. — Agora a Barraca do Amor não era o único lugar no parque que estava acesso, algumas tendas próximas também brilhavam naquela escuridão.

— Bem, Percy, acho que iluminamos sua mente um pouco.

— Eu tenho é...essa outra amiga. Eu não sei o que aconteceu com ela, nem sei o que vai acontecer. Ela não me conta nada, mas acho que no passado ela magoou muito alguém, e talvez tenha se magoado também. Você saberia sobre isso?

— Veja, Percy. Eu posso te dar a ideia do que é o amor, posso te dar exemplos, mas você não saberia até ter de escolher. Sua amiga Thalia provou disso, sua amiga Annabeth também. Durante algum ponto da vida, todos vocês acabam experimentando. O amor é péssimo para as relações humanas. Vocês não entendem, vocês julgam, vocês condenam. Bem, talvez eu tenha um pouco de culpa. — Ela deu uma risadinha. — Eu dou a vocês opções tentadoras.

— Eu queria poder lhe ajudar mais querido, mas não quero acabar te dando spoilers. Só fique atento, desafios maravilhosos estão sendo postos no caminho que está traçando. — A luz de todo o parque me cegou e eu acordei.

Se você, assim como eu, já acordou se sentindo a pior pessoa do mundo, então você sabe o quanto é difícil se levantar da cama. O sonho estava vívido na minha mente, mas não era nele que pensava. A noite anterior tinha sido um fracasso total. Tudo estava correndo tão bem, as risadas, a conversa, o beijo. Como algo poderia arruinar aquele beijo? E ainda assim, alguém arruinou. Luke Castellan, o maior babaca da face da Terra. Foi uma situação estranha, os três estavam com o olhar cheio de significado, mas nenhum deles me contou nada. Annabeth estava com uma expressão de superioridade que nunca tinha visto antes. Luke assumiu uma risadinha debochada. E Thalia estava fragilizada como se a qualquer momento fosse chorar. Depois de uma apresentação estranha Luke abraçou Annabeth pelos ombros e ela colocou o braço em volta da cintura dele, e os dois ficaram lá como o casal maligno de algum filme da Disney. Ele teve a cara de pau de nos convidar para um encontro duplo, que supostamente deveria ser hoje. Supostamente, já que depois que eles saíram, Thalia desatou a chorar e eu não consegui dizer nada. Eu não entendia o que estava acontecendo, tentei abraçá-la, mas não deu certo, ela assumiu aquela postura de defesa impenetrável. Ela levantou uma muralha entre nós. Ela me dispensou e correu para casa sozinha.

O resto do dia passou como uma imagem refletida milhões de vezes, como se em algum ponto algo tivesse distorcido. Lembro da minha mãe sentando na cama e perguntando como tudo tinha ocorrido. Lembro da minha voz desesperada contando tudo para ela. Lembro do Grover chegando e escondendo um sorriso para me ajudar. Lembro de sentir um nó formar em meu coração. Mas não lembro de entender, não lembro de ter um motivo para tudo isso. Era confuso ver Annabeth com o namorado. Era confuso o passado desconhecido da Thalia. Era confuso como as coisas estavam acontecendo. Era confuso viver em uma montanha russa. Uma montanha russa que estava indo em direção ao solo. Eu queria que tudo aquilo fosse um pesadelo. Eu queria acordar.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que gostem, peço desculpas pela demora, mas meus vícios tão tomando conta de mim. Vejo vocês na próxima. Os comentários sempre me deixam feliz então, comentem



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