Agosto finalmente chegava ao fim e com isso os treinos exaustivos também.
            Belinda limpou a boca suja de sangue e encarou Bellatrix.
–Você deve estar ficando velha, seus ataques já começaram a enfraquecer. —Provocou e a mulher se enfureceu.
–Você quer testar minha paciência? Vamos fazer isso com a sua também!
             Belinda ergueu uma sobrancelha, a qual o supercílio quebrado reclamou.
–O que você vai fazer comigo, Bellatrix? —Perguntou, um sorriso brincando no canto de sua boca suja de sangue.
–Ainda é cedo. —Disse a mulher rindo escandalosamente. —Vamos ver quanto tempo você consegue manter esse humor sem comida e água. —Ela riu.
–Quer dizer que vai me fazer passar fome? —Bell fez um muxoxo, enquanto limpava despreocupadamente o canto da boca. —Mas estou em fase de crescimento, sabe? Isso não fará bem.
            Rabastan riu com a provocação da menina e os olhos arregalados em uma falsa inocência.
–É divertido vê-la treinar. —Comentou Rabastan. —Embora saiba que isso só faz Bella ficar irritada e a atacar mais, Belinda parece ter prazer em provocar. —Comentou com o irmão.
–Esse humor ácido realmente é intrigante. —Concordou Rodolphus. —Mas Bella está disposta a acabar com isso.
–Vamos, você passará o dia no porão, pensando sobre esse cinismo todo! —Bellatrix alertou, extremamente irritada.
            Belinda sorriu com desdém.
–Passar o dia sem treinar? —Ela fingiu diversão. —Que maravilha, irei dormir o dia inteiro.
           Bellatrix estremeceu de raiva e Belinda sorriu.
–Me dá a Varinha! —Ordenou e Belinda a encarou de sobrancelha arqueada.
–Como é? —A voz estava levemente irritada agora.
–Você ficará sem ela!
–E quem irá tira-la de mim? —Quis saber, a expressão tomada pela irritação.
–SUA...
–Tarantallegra! —Bellatrix fora atingida bem no meio do peito e começou a dançar imediatamente.
–INSOLENTE DESGRA...
–Rictumsempra! —Bellatrix começou a gargalhar descontroladamente, mas a raiva em seus olhos era uma chama obscura e cheia de avisos. Belinda a viu segura a Varinha, provavelmente para um contra-feitiço. —Expelliarmus! —A Varinha de Bellatrix voou de sua mão e ela soltou uma gargalhada furiosa, o que causou um sorriso de vitória em Belinda. —Travalingua. —O Feitiço soou quase musical na boca da menina, que trazia um sorriso satisfeito e debochado.
–E eu achando que ela era inútil. —Rabastan comentou alegremente.
            Draco notou Bellatrix dançando e gargalhando sem controle, assim como sem conseguir falar graças ao Travalingua, que secara sua garganta, que normalmente a proibiria de emitir qualquer som, mesmo sua risada parecia engasgada. Mas Draco sabia, assim como Belinda, que o uso de vários ataques de uma vez poderia deixar alguma espécie de sequela temporária e somente por isso ainda era possível, mesmo que falha, ouvir a gargalhada da mulher.
–E você achando que eu não conseguiria nem causar cócegas em você, Bella. —Belinda falou de modo zombeteiro, assim como o sorriso desenhado em seua lábios. —Acho que você estava errada. —Cantarolou rindo.
–Ela vai matar você quando voltar. —Rabastan comemorou, vindo para seu lado. —Mas parabéns, você foi muito bem. —Deu um tapinha no ombro da menina, que enrijeceu por um segundo, devido o contato, mas em seguida deu de ombros, como se não fosse nada.
–Achei que se ela ganhasse ficaria livre de castigos. —Narcisa comentou ao lado de Draco, atraindo a atenção de Rodolphus, que encarava Bella no centro do jardim de forma curiosa.
             Belinda era castigada sempre que perdia de forma muito humilhante, o que era praticamente toda noite. Nas últimas quatro noites foi obrigada a permanecer com todos os machucados causados durante o treino, só sendo curada na manhã seguinte por Rabastan, que dizia que ela ficava inútil daquela forma e isso o irritava.
–Ela ficará. —Rodolphus deu de ombros. —Mas sugiro que fique longe dos olhos de Bellatrix também. —Sorriu e encarou a menina ao lado de Rabastan. —Você foi bem, Belinda, agora vá e fique longe de Bella.
–E aconselho a estudar um pouco suas defesas. —Rabastan comentou baixinho, fazendo que somente ela escutasse, porém sempre com aquela diversão obscura. —Amanhã ela vai realmente querer matar você.
–Isso parece te alegrar. —Revidou Bell, como se falasse simplesmente sobre o tempo e não de sua vida.
–Depois de todo o trabalho que eu tive com você? —Ergueu uma sobrancelha, a encarando. —Na verdade ficaria bem irritado com a Bella, mas ela é... Incontrolável. —Ele sorriu. —Deve ser a marca das mulheres Lestrange.
–Que marca, em?! —Bufou ela.
–Cure esses ferimentos.
            Belinda não disse nada, somente correu para dentro da casa, ouvindo um urro irado de Bellatrix, assim que Rodoplhus fez os contra-feitiços.
–Corre. —Dranco mandou, vindo atrás dela.
–Merda! —Soltou ela e correu como nunca tinha feito em sua vida.
            Belinda se jogou dentro do quarto, com Draco atrás, assim que ambos estavam ali dentro, Malfoy trancou a porta e Belinda virou com a Varinha em punho.
–Colloportus. —Ouviu-se um clic vindo da porta, mas ela sabia que aquilo somente não manteria Bellatrix longe, somente Rodolphus conseguiria manter a mulher afastada.
             Draco a encarou surpreso e ela se sentou no chão, estava suja demais para sentar em sua cama.
–Caramba! —Disse ele de olhos arregalados. —Ela vai querer usar seu couro pra fazer um casaco. —Draco disso e ela soltou um risinho.
–Sinto que o castigo de hoje será adiado pra amanhã.
–Trancada no porão sem água e comida? —Ela assentiu.
–Não seria a primeira vez que ela faz isso.
             Draco assentiu pesaroso. Desde que Bellatrix voltara, já prendera Belinda mais de cinco vezes no porão, cheia de machucados, sem água, sem comida e sem direito a descanso, a libertando sempre no meio da madrugada e não alterando os horários normais de treinamento, o que fazia Belinda ficar extremamente cansada e fraca no outro dia, fazendo com que se tornasse mais lenta e por tanto um alvo mais fácil.
–Nessa parte o Rabastan está correto. —Soltou de supetão, pegando Draco de surpresa.
–Como assim?
–Lembra que ele disse pra gente sobre piedade e coragem? —Encarou o amigo.
–"Sem piedade você aprende a ter coragem que nem sabe existir dentro de você." —Ele recitou e ela assentiu, dando de ombros.
            Draco sabia que essa fora a única coisa que Rabastan dissera que fez ele e Belinda pensarem e concordarem com sua visão distorcida e louca de mundo.
–Ele está certo. —Falou ela. —Quer dizer, é horrível o jeito que eles me treinam, mas a cada dia eu fico melhor e me sinto menos frágil, ainda tenho medo deles, mas não quero mais sair correndo a cada vez que os encaro ou chorar quando Bellatrix me atinge. —Bufou, passando a mão no cabelo bagunçado. Os olhos escuros fixos no rosto do amigo, que acompanhava seu raciocínio. —Não é como se eu gostasse do treinamento, não mesmo. —Suspirou. —Mas apesar de tudo, eu me sinto mais forte e no controle das minhas emoções.
–Eu sei. —Ele suspirou e sentou ao seu lado, no chão, ombro a ombro.
             Draco estava tendo sua própria cota de treinamento, entretanto isso era com seus pais e as vezes junto com Belinda, mas jamais levado ao extremo como ela. Belinda era levada ao esgotamento físico e mental, quase que todos os dias.
–A única coisa que ainda me preocupa e intriga é o porquê de tanto treinamento. —Falou a menina, virando o rosto para encara-lo. —Eles não deviam estar, sei lá... Beijando os pés de Voldemort?
            Draco fez careta pela nomenclatura.
–Esse nome é tão...
–Não me diga que você tem medo do nome, que nem todo o resto dos bruxos?! —Ela o encarava de sobrancelha arqueada e um sorriso debochado.
–Não do nome exatamente, tenho medo do dono desse nome. —Ele fez careta novamente. —O Mestre das Trevas me assusta e ninguém chama o nome porque pode estar enfeitiçado. —Alertou pela milésima vez.
–Bem, não acho que esteja. —Ele rolou os olhos. —Quer dizer, se fosse verdade, eu provavelmente já teria tido o azar de ser morta por ele. —Deu de ombros levemente e mordeu o lábio inferior.
–Então é melhor começar a prevenir, não acha? —Eles se encararam firmemente e ela deu um sorriso pequeno e sem sentimentos.
            Draco passara a ver aqueles sorrisos frequentemente e mesmo as cartas que recebi antes, não pareciam alegra-la mais quando chegavam e eram destruídas assim que lidas.
–Talvez. —Disse ela, demonstrando cansaço.
–É melhor cuidarmos desses ferimentos. —Ele disse sacando a Varinha e virando de frente pra ela. —E você ir tomar um banho depois.
           Belinda fez um muxoxo e se virou de frente pra ele também, os olhos escuros frios focados no par de olhos cinza-azulados, sendo que raramente o azul parecia refletir naquele último mês.
–Na verdade eu estou faminta. —Informou e ele bufou.
–Grande novidade. —Deu um sorriso de canto, tão desprovido de sentimentos quanto o dela. —Mas é mlhor ficar faminta e viva do que aparecer em frente à tia Bellatrix agora.
           Belinda fez careta, parecendo pensar no assunto, até que assentiu.
–Pensando por esse lado.
             Draco a ajudou com os machucados e logo seguiu para o primeiro andar, onde encontrou Rabastan e Narcisa na sala, enquanto Belinda tomava banho.
–Draco, o que você tá fazendo aqui? —Narcisa exigiu saber, olhando para a porta da biblioteca, de onde se ouvia vozes alteradas.
–Eu e Belinda estamos com fome e eu vou até a cozinha. —Informou com simplicidade, focando o olhar somente na mãe e tentando ignorar ao máximo Rabastan ali perto.
–Não mesmo, você vai subir agora e ficará com a Belinda. —Narcisa mandou.
–Mas estamos...
–Eu vou mandar levar alguma coisa. —Interrompeu.
–Bellatrix está furiosa. —Rabastan comentou divertido, o encarando. —Não acho que você vá querer estar no campo de visão dela. —Sorria sombriamente. —Rodolphus está tentando acalma-la, mas isso não vai dar muito certo, então sugiro que você corra e se esconda de baixo da cama.
            Draco travou a mandíbula e voltou para o quarto de Belinda, sem dar nenhuma palavra. Rabastan era um homem extremamente irritante e debochado, o que tirava Malfoy do sério.
            O Elfo Doméstico deixou a comida no quarto poucos minutos depois que ele voltara e alguns minutos antes de Belinda sair do banheiro, com um shortinho de dormir e uma camisets grande e puída na barra, aquela roupa era tão Belinda que não surpreendia.
           Draco lhe informou tudo o que conseguiu saber no primeiro andar, enquanto comiam, horário que Rúnda apareceu também.
–Amanhã será um loooongo dia. —Disse ela, acariciando o pelo macio do mascote, que estava jogado em suas pernas.
–É bom você se preparar, isso sim. —Declarou ele friamente.