Pasárgada escrita por A Garden full of Stars


Capítulo 3
Capítulo lll


Notas iniciais do capítulo

Desculpem se houver algum erro



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Ália

Comecei a correr o mais rápido que podia novamente. Minhas pernas se moviam quase involuntariamente e eu não via nada, nem ouvia nada de tanta vergonha. Eu achei que não tinha ninguém que conhecia aquele bosque. Por que justo o Rei havia aparecido sem mais nem menos lá? O que ele fazia na floresta? Tinha acreditado que aquele lugar era só meu e de mais ninguém. 

Fiquei tão envolvida em meus pensamentos turbulentos que não percebi a queimação nas minhas pernas, nem as batidas frenéticas do meu coração. Foi apenas quando engasguei com a minha própria saliva e a comecei tossir por falta de ar que parei de correr. Me apoiei em uma árvore grande ao meu lado e voltei a respirar regularmente. Aos poucos, conforme eu respirava, o rubor causado tanto pela vergonha quanto pelo esforço, em minha face foi desaparecendo. O Rei deve ter pensado que eu sou louca. Nem acreditei em tudo que aconteceu. Eu encontrei o rei na floresta, neguei uma ordem dele, e ainda saí correndo de lá. 

Fique a cerca de sete metros do rei, nem pude ver seu rosto com clareza, mas pude notar que ele era muito belo. O maxilar firme, o olhar duro, apesar de os olhos serem caídos. Tinha braços fortes que podiam ser percebidos mesmo debaixo das vestes reais. Mas o que mais me chamou atenção certamente foram os cabelos. O rei tinha mechas loiras que batiam no comprimento dos seus ombros. Elas eram longas e bonitas. O brilho da coroa não era nada em comparação ao brilho dos cabelos dele. Em compensação seus olhos pareciam tão opacos. Profundos poços negros. 

Respirei fundo mais algumas vezes e retomei a caminhada, dessa vez respirando regularmente. Aos poucos a ruborização das minhas bochechas que se instauraram ali, tanto por causa da vergonha, tanto por causa da corrida, foi diminuindo e o suor secando. Caminhar me fazia muito bem, e a vergonha foi aos poucos passando. O rei nem havia me visto de perto. mesmo saindo da linha das sombras da floresta ficamos a cerca de trinta passos de distância um do outro. E mesmo assim eu saí muito rápido. Provavelmente no dia seguinte ele nem se lembraria mais de mim.

Cheguei no reino e o sol estava quase se pondo. Cheguei junto com os trabalhadores do campo que voltavam nesse mesmo horário para suas casas. Conforme me aproximei o barulho das construções aumentava. 

No mês anterior tivemos uma tempestade muito estranha para a estação de outono. Os ventos estavam fortes e a água caía pesada dos céus. A grande praça que fica deste lado da cidade foi destruída, assim como a capela e o armazém. Os homens e mulheres do nosso reino foram convocados para a reconstrução desse lado do reino. Sem remuneração, já que o benefício será para nós mesmos. Porém quando acordei nesse dia parecia ter mais homens trabalhando na praça e na capela, e a obra parecia estar andando mais rápido ainda.

Cheguei em minha casa, mas minha mãe ainda não havia chego. Lavei-me na bica e fiz o possível para salvar o vestido dos arranhões que os galhos causaram. Tratei os arranhões em meus braços e passei o resto do tempo desembaraçando meus cabelos. Sem forças nem para comer alguma coisa eu adormeci. Meu cansaço era tão grande que tive um sono sem sonhos.

                                                                     ***

O dia amanheceu nublado, meio cinza como se o mundo tivesse se escondido embaixo de uma árvore para relaxar. Abri a janela sem medo de molhar meu quarto, sabia de algum modo que não haveria chuva. Despi-me das camisolas e vesti um vestido simples, como estava com preguiça de escovar os cabelos enrolei-os no alto da cabeça e saí do quarto descalça mesmo. Minha mãe já havia saído para as lavouras, então tive que eu mesma preparar meu café da manhã. estava sem fome, então comi uma maçã apenas. Comecei a limpar a casa enquanto cantarolava uma canção antiga. 

A casa estava quase toda limpa quando fui interrompida por três batidas de sinos que eu não sabia o que significava. Soltei os cachos que caíram ao meu redor e alisei meu vestido para sair à porta e ver o que estava acontecendo. Os mais velhos pareciam muito surpresos e excitados para o que estava prestes a acontecer. Os mais jovens, assim como eu estavam confusos, apenas seguindo o fluxo de pessoas para a praça central. Apenas quando cheguei lá e vi o palanque preparado entendi que era um pronunciamento real. Fiquei sem reação no começo, pois o rei nunca aparecia para o reino, a única vez que o tinha o visto foi na cerimônia de ascensão ao trono. 

Ah! E no bosque.

Todos estavam se aproximando o máximo do palanque para ver o rei, nem todos lembram da aparência dele. Consegui me esgueirar para uma distância relativamente curta e aguardei. Então de repente ele estava lá. Não pude vê-lo direito na clareira, e não pude ver agora, mas mesmo assim foi impossível não notar sua majestade. 

—Bom Dia cidadãos de Pasárgada. Peço-lhes desculpas por atrapalhar as atividades de vocês.- ele começou a falar.- Mas receio que trago notícias... preocupantes... importantes. Como sabem faltam alguns poucos dias para a redistribuição, porém registramos desde algum tempo  uma produção decrescente, e a média das coletas dos últimos meses é menor que a metade da média dos cinco meses iniciais do nosso sistema. Peço-lhes que trabalhem com mais afinco e compromisso, lembrem-se que quanto mais trabalharem mais forte nosso reino será. Caso a coleta não melhore o reino terá que passar pelo seu primeiro racionamento. Obrigado pela atenção de vocês. 

Ele virou-se e partiu pela única porta que dá acesso ao palanque.A multidão começou a dispersar, ninguém parecia... intrigado como eu me sentia. Um possível racionamento? Isso não é bom é?

Precisava de respostas, sabia aonde era a saída traseira do Prédio principal, e provavelmente o rei sairia por lá. Comecei a abrir espaço entre a multidão pedindo licença e sendo delicada, mas as pessoas não davam atenção, então passei a me esgueirar e empurrar as pessoas. Se não me apressasse o rei já teria ido embora quando chegasse aos fundos do prédio. Comecei a correr e contornei o prédio. Quando finalmente vi a carruagem real eu estava ofegante e minhas pernas queimavam, mas o rei já estava entrando na carruagem, voltei a correr e achei que ia alcança-lo quando um dos servos dele me interrompeu. 

—Não pode se aproximar, mocinha.- o senhor falou da forma mais simpática que pôde. O rei entrou na carruagem alheio a mim. 

Alheio a tudo, na verdade. Parecia quase em transe, e tenho certeza que não foi apenas impressão, mas ele estava tremendo. A carruagem começou a entrar em movimento, mas um segundo antes da janela pequena da carruagem limitar a minha visão do rei, ele me viu. Pareceu surpreso e confuso, mas era tarde demais. A carruagem partiu.














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Notas finais do capítulo

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