You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 8
It seems like a thousand years.


Notas iniciais do capítulo

Eu gostei tanto de escrever esse capítulo. Espero que aproveitem a leitura tanto quanto aproveitei a escrita.



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O sonho de lobo ainda atormentava Jon. Havia visto uma garota que julgava ser Arya, mas questionava-se se tudo aquilo seria real. Era madrugada e não conseguia voltar a dormir, seus pensamentos não o deixavam relaxar. Então se levantou da cama de forma preguiçosa, não querendo deixar os cobertores quentes para trás, contudo ficar parado alimentando dúvidas não era produtivo. Vestiu um casaco pesado por cima de suas vestes, calçou suas botas, guardou sua espada na bainha e saiu pelos corredores vazios e escuros. O silêncio o perturbava de certa forma, quando nada se dizia a verdade parecia gritar cada vez mais alto. Sentia-se sozinho. Logo iria amanhecer então levantar-se um pouco cedo não seria de todo mal, poderia descobrir o que se passava. Caminhou em direção aos estábulos e não encontrou ninguém lá, talvez fosse melhor, evitaria perguntas que não saberia como responder. Selou um garanhão negro que já vinha o acompanhando há algum tempo e montou nele, seguindo para o grande portão de entrada de Winterfell. O homem que estava de vigia naquela noite era um dos soldados Mormont. Jon o cumprimentou com um aceno rígido, não dando margem para que a curiosidade do homem a respeito de sua saída fosse nutrida e ele lhe fizesse perguntas.

Os portões rangeram enquanto abriam-se, alastrando através da noite o barulho pesado de madeira sendo arrastada. Jon se viu diante de uma imensidão branca de neve em contraste com o céu negro quase sem estrelas. A lua de prata erguia-se no céu brilhante e iluminava seu caminho de forma precária. Tinha que servir. Guiou seu cavalo até a Mata de Lobos e trotou ligeiro por entre os obstáculos. Lembrava-se de ter ido àquela floresta tantas vezes antes, em seu passado agora tão distante. A memória de Robb ainda lhe era fresca na memória. Sentiu uma fisgada no peito que definiu como sendo saudade. Seu irmão havia sido seu melhor amigo, mesmo com os olhares perfurantes de Lady Catelyn sempre que via os dois conversando, ainda haviam conseguido forjar um laço forte. Lembrou-se então da dor de ouvir como havia morrido e como havia sido traído. Jon se via olhando desconfiado para muitos dos vassalos a espera de uma traição como a dos Bolton. Não podia confiar em ninguém, nem nele próprio. Havia traído a si mesmo quando começara a nutrir sentimentos por Sansa e tinha ido até o fim com aquela deslealdade ao beijá-la e desejá-la.

Os primeiros raios de sol começavam a dar sinal de vida quando Jon havia adentrado mais fundo na mata. Embora pouca era a luminosidade que atravessava as nuvens escuras e carregadas. Os carvalhos se alinhavam mais densos e a mistura de lama e neve dificultava seu percurso. Poderia estar indo rumo a um grande nada, a uma falsa esperança e talvez a visão de Arya tivesse sido apenas um sonho comum. Mas algo dentro de si não permitia que desistisse. Fantasma apareceu em sua frente, os pelos muito alvos sendo engolidos pela neve e seus olhos muito vermelhos o encarando. O lobo começou a caminhar e Jon percebeu que queria ser seguido. Sentia uma conexão forte entre eles, como se pudessem ler o que cada mente almejava. Então desceu do cavalo e seguiu por um tempo que lhe pareceu longo, interrompendo a caminhada algumas vezes para desatolar as patas do garanhão que se afundavam na grossa camada de neve. Parou um pouco distante quando a viu, sentindo seus pés congelando no chão frio. Como se a neve tivesse coberto seu corpo e agora fosse feito de gelo. Observou enquanto a garota dormia, não conseguia ver sua face, mas parecia serena e respirava de forma leve. A despreocupação era notável, uma loba gigante estava deitada próxima a ela e concluiu que a garota confiava no animal tanto quanto ele confiava em Fantasma. Reconheceu Nymeria depois de a observar por um tempo, a loba avançou contra ele, raivosa, mostrando seus dentes afiados. Jon deu um passo para trás, cauteloso, e observou Fantasma rosnar contra ela, que se acalmou. A garota havia despertado com o barulho, levantando-se em um salto, ligeira, com uma pequena e fina espada em punhos. Jon reconheceu a arma e a reconheceria mesmo que se passassem mil anos.

— Arya? — o nome cortou sua garganta e saiu de forma trêmula. A garota o encarou, os olhos muito cinzentos e selvagens o olhando de forma confusa.

— Jon? — então ela correu até ele e pulou em seus braços, envolvendo as pernas magras em sua cintura.

Jon a envolveu e a apertou com certa força contra si, mas ela não reclamou. O corpo magro da menina Stark era leve e ele não teve dificuldade alguma em se manter com ela erguida por longos minutos. Arya enterrou a cabeça nos ombros do irmão e chorou. Não era um habito comum, passara tanto tempo vagando e lutando para sua sobrevivência que havia esquecido que tinha sentimentos. Não tivera tempo para lamentar. Ela começou a soluçar e Jon a colocou no chão, se agachando e enterrando os joelhos na lama. Tomou a face dela em suas mãos e encarou sua imagem abatida. Tocou-lhe as bochechas e enxugou suas lágrimas.

— Não chore, estou aqui agora. — ele disse, abrindo um sorriso contagiante e ela o imitou.

— Você é real? — tocou a face dele e deixou que seus dedos finos passeassem pela pele quente de Jon.

— Sou muito real. Tinha certeza que estaria viva, mesmo quando minha esperança queria me abandonar eu sabia que não a matariam tão facilmente, sem que oferecesse certa resistência — ele olhou para Agulha que agora se encontrava descansando na bainha da irmã.

— Fiz coisas horríveis para sobreviver — lamentou, sentindo o peso de sua jornada sobre seus ombros.

— Todos nós fizemos — a consolou, sabendo que o que quer que Arya tenha feito, o fez por um motivo e ele não estava em posição de recriminá-la, tendo ele mesmo feito algumas coisas condenáveis.  

— O que faz aqui? Pensei que estivesse na Muralha. Ouvi alguns homens conversando enquanto os observava de longe e eles disseram que Winterfell está sob o comando de Ramsay Bolton. Pensei em matá-lo como fiz com Walder Frey. Matarei todos eles — Jon percebeu a fúria na voz de Arya e a olhou assustado.

— Matou Walder Frey? — ergueu as sobrancelhas, tentando imaginar a pequena Arya matando alguém, mas não conseguiu. O tempo a havia mudado, o tempo a havia forçado a mudar.

— Matei muitas pessoas, Jon. Não tive prazer nenhum em fazê-lo, mas com Lorde Frey foi diferente. — lembrava-se claramente dos horrores que acobertaram as Gêmeas no dia da morte de Robb e de sua mãe. — Eu estava lá no dia que Robb morreu.

Jon a olhou com choque, tomando a consciência de que talvez Arya tivesse chegado a limites extremos para manter-se viva. Sabia que ela tinha muito o que lhe dizer, mas levá-la para seu lar era a prioridade no momento. Ela não sabia de Sansa, não sabia de Bran e muito menos que haviam tomado Winterfell e que agora um estandarte Stark voltara a flutuar em suas Muralhas. Ele a abraçou mais uma vez e a ergueu, a montando no cavalo.

— Vou levá-la para casa agora — Arya o encarou com os olhos de loba muito confusos. — Winterfell é nossa.

— Vamos para casa — não se lembrava mais o que aquela palavra significava, mas lhe sorriu, um sorriso sincero. — Senti saudades. — sentiu seu peito se aquecer ao pensar que havia conseguido apesar de tudo.

***

Sansa havia despertado muito cedo naquela manhã. Não conseguira dormir mais uma vez. Lembrava-se da conversa com Jon e a única coisa que lhe acalmava era saber que tinha sido sincera sobre seus sentimentos. Queria que seu coração estivesse aberto para recebê-lo, queria sentir-se amada, mesmo sabendo que era errado, mesmo sabendo que se pudessem saber das fantasias que nutria pelo irmão a condenariam. Pensava também em todas as responsabilidades que tinha como Senhora de Winterfell, pensava na guerra que se aproximava, pensava na aliança com os Tyrell e no ressurgimento da proposta de se casar com Willas. Houve um tempo, quando ainda residia em Porto Real e nenhuma esperança lhe restava, que Margaery lhe sugeriu casar-se com seu irmão e ela sequer hesitou ao aceitar. Quando ainda era uma garota cheia de inocências que tinha a expectativa de ser feliz um dia, passava os dias a imaginar-se na Campina, morando em Jardim de Cima e desfrutando dos bosques, pátios, fontes e sentindo o sol morno em sua face. Agora não se interessava naquela vida. Winterfell era seu lar e o sangue que pulsava em suas veias era nortenho. Agora seu coração pertencia àquele lugar e não se via longe dali. Pensava em Bran e em como ele se sentiria com a partida de Meera tão próxima. E foi com a imagem de seu irmão na cabeça que rumou até o quarto dele. Brienne a acompanhava, gostava da presença da mulher ao seu lado, lhe passava segurança, quase como a que Jon lhe passava. Bateu de leve na porta de madeira e ouviu quando Bran lhe deu licença para entrar.

— Desculpe incomodar — ela lhe sorriu de forma terna enquanto adentrava no cômodo.

— Tudo bem, Sansa, estou apenas esperando Meera trazer alguma comida. Bom dia. Bom dia, Lady Brienne. — ele cumprimentou, educado. Sansa sentia que as palavras que saíam de sua boca eram apenas as necessárias, não falara muito desde que chegara a Winterfell.

— Bom dia, pequeno Lorde Stark — a mulher o cumprimentou com cortesia.

Bran assentiu e observou enquanto Sansa caminhava até ele e sentava-se ao seu lado. Remexeu-se na cama dando mais espaço para que ela se sentisse confortável. Percebia o olhar de pena da irmã sobre si, mas não podia julgá-la, Sansa sempre fora bastante sensível.

— Meera já lhe contou sobre a viagem? — perguntou com certa cautela enquanto Brienne fechava a porta e se postava num canto do quarto, tentando manter-se distante e dar-lhes tanta privacidade quanto era possível.

— Sim — a voz saiu seca, quase grossa, mas ele pareceu se arrepender de ter sido tão duro. — Ela me contou. Acredito que seja o melhor — tentou forçar um sorriso em seus lábios, mas todos podiam ver que não era honesto.

— Eu realmente gostaria que ela ficasse, mas Lorde Reed precisa saber sobre seu filho — ela estudou a expressão dele e esperou que dissesse algo, mas o irmão ficou em silêncio. — Há outro assunto que gostaria de tratar com você. — acrescentou com cuidado.

— O que é? — Bran a olhou interessado.

— Sei que sabe que agora sou Senhora de Winterfell e por algum motivo que não me parece sensato também me tomam como Rainha do Norte — Bran assentiu. — No entanto, o direito a Winterfell é seu. É o filho legitimo mais velho do pai agora. Não me sinto bem tomando um direito que não me pertence. — a verdade era que não gostava de ser Senhora, muito menos Rainha, embora não tivesse se oposto e soubesse que passar a responsabilidade para o irmão era egoísta, o peso daquele dever era maciço.

— Não tenho interesse em governar o Norte, Sansa — Bran lhe disse, negando seu direito. — Tenho outras obrigações e não acredito que seja mais capaz do que você para a tarefa — ele sorriu para ela, dessa vez de forma sincera, e tocou suas mãos. — É uma ótima governante, consigo ver. É amável, didática, sabe se impor e me parece ter ideias excelentes como abrigar os homens na Vila de Inverno até que marchemos para a guerra. — Sansa mordeu os lábios em dúvida, mas sabia que ele não mentiria. Bran entrelaçou seus dedos nos dela e ela sentiu seu apoio.

— Obrigada, Bran — foi tudo o que conseguiu dizer diante de tantos elogios.

Meera surgiu na porta tentando equilibrar uma bandeja repleta de comidas. Brienne logo se dispôs a ajudá-la, tirando o peso das mãos da garota e levando o alimento até Bran. Sansa levantou-se para dar-lhe mais espaço. Despediu-se do irmão e da amiga e saiu do quarto, um tanto aliviada por ter feito o que era certo ao ceder sua posição ao irmão e aceitá-la de volta quando ele lhe passou o título de Protetora. Ela e Brienne caminhavam pelo corredor dos quartos quando Podrick chegou para acompanhá-las.

— Pod, onde está Jon? — Sansa perguntou. Não tinha nada para tratar com ele, mas queria sempre ter noção do que fazia.

— Os murmúrios que correm pelo castelo são de que Jon saiu muito cedo, levando consigo um cavalo e sua espada — disse, contando os relatos que circulavam através das bocas dos curiosos.

Sansa sentiu-se confusa com a saída de Jon e ao mesmo tempo preocupada. Não sabia por que ele deixaria Winterfell naquele momento e temeu que tivesse ido embora por sua causa, por ter-lhe negado. Sentiu angustia se alastrando por seu peito e resolveu investigar o ocorrido. Caminhava para a Fortaleza principal para perguntar ao sentinela quando viu os portões se abrirem e Jon surgir em sua frente montado num cavalo. Não foi capaz de conter o sorriso que se estampou em sua face e se aproximou dele, notando uma garota que estava atrás de Jon com os braços finos o envolvendo. Jon lhe sorriu entusiasmado e saltou do garanhão. Fantasma e uma outra loba haviam chegado junto. 

— Corra aqui, Sansa, não irá acreditar quando vir... — ele lhe gritou, alegre.

Sansa observou curiosa enquanto a garota tirava o manto que lhe cobria quase toda a face para proteger-se do frio e não acreditou quando o rosto tão familiar se revelou.

— Ar-ya? — era tão estranho pronunciar o nome da irmã diante dela que sua voz falhou.

A caçula lhe sorriu. Não se lembrava da última vez em que Arya havia lhe sorrido, talvez nunca? Costumavam trocar farpas ao invés de palavras amigáveis. Mas, naquele momento, suas diferenças simplesmente não existiam. Eram tão parecidas agora que se um dia tivessem sido opostas já não se lembravam mais. Haviam perdido quase toda sua família. Haviam perdido amigos, a esperança por diversas vezes, haviam pensado em desistir e até em acabar com a própria vida. Tinham feridas não cicatrizadas, tinham matado, mesmo que no caso de Sansa não com as próprias mãos. Tinham sobrevivido. E então elas se abraçaram. Talvez o primeiro abraço que tinham trocado na vida, mas o contato era tão familiar que parecia que tinham sido melhores amigas durante a infância.

— Pensei que estivesse morta — Arya lhe disse quando se largaram. — Confesso que duvidei que conseguiria sobreviver, mas aqui está — ela sorriu debochada para a irmã, um sorriso que Sansa conhecia muito bem.

— Pensei o mesmo sobre você. Pensei que seu temperamento impulsivo a tivesse matado no primeiro dia. — sorriu divertida.

Jon observou as provocações de forma animada. Era bom vê-las juntas.

— Não dou um dia para que vocês mesmas se matem — comentou bem-humorado.

As duas o encararam e os três começaram a gargalhar. Tinham tanto para compartilhar um com o outro, porém, naquele momento, tudo o que Winterfell precisava era ver três Starks sorrindo juntos mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Espero muito que tenham gostado, comentem e me digam o que acharam desse reencontro, eu particularmente amei.