You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 4
Let me come home.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Jon fazia o caminho de Winterfell até a Muralha pela segunda vez em sua vida. As lembranças lhe voltavam de forma nostálgica e, por um ínfimo instante, pôde sentir a presença de seu pai. No último dia em que se viram, Ned Stark tinha lhe feito uma promessa.

— Na próxima vez em que nos vermos, falaremos sobre sua mãe — havia se comprometido de forma cortês.

Jon sonhara com aquilo por meses, mesmo após saber da morte de Eddard os pensamentos ainda o assombravam. Agora jamais saberia sua origem, jamais saberia quem lhe carregou no ventre e lhe deu a vida. Aquilo o perturbou por muito tempo depois, no entanto, em algum ponto que ele não era capaz de distinguir, a ferida havia se cicatrizado.

— Jon Snow — ouviu Tormund lhe chamar, o despertando de seus devaneios. Quando o bastardo lhe olhou, o homem livre olhou para frente, indicando algo.

Era Castelo Negro, a construção surgia no horizonte como uma mancha na neve. Olhou para cima e viu a Muralha erguer-se de forma majestosa. Sorriu agradecido por tê-la ali. Era a única coisa que os mantinha longe dos Caminhantes Brancos. A viagem se passara tão rápido que seu corpo sequer sentia o cansaço. Tentou evitar pensar em Bran, para a ansiedade não o consumir, mas de uma forma ou de outra a imagem do irmão lhe viajava pela mente. Pensava em como ele havia conseguido sobreviver mesmo com as adversidades que o assolavam após seu acidente. Acreditavam que o garoto fosse morrer. Talvez ele tivesse dado sorte e encontrado alguém em quem confiar, o que não era o caso da maioria de seus irmãos. Pensou em Arya por um instante, tentando ter esperança de que ela conseguira sobreviver de alguma forma.

O resto do percurso se arrastou lentamente, parecia que quanto mais próximos estavam, dez passos eram dados para trás. A carroça com mantimentos atolava a todo o momento na mistura escorregadia de lama e neve. Homens desceram de seus cavalos e preferiram completar o percurso a pé, puxando os animais na força. Tormund e Jon galopavam a frente, parecendo não se importar com a neve. Jon ia tão rápido que o vento em seus olhos os ressecava e seus cabelos negros voavam de um lado para o outro, por vezes o incomodando. O ar frio em seu rosto o fazia tremer por baixo das roupas, o toque da brisa o lembrava do toque gélido das pontas dos dedos de Sansa em sua face. E mais uma vez estremeceu, dessa vez não pelo frio, mas pela lembrança da garota. Seus sentimentos por Sansa haviam mudado da água para o vinho, de indiferença passou a sentir um carinho inefável, uma vontade de protegê-la do mundo que sequer conseguia explicar. Diferente do que sentira por Ygritte, embora fossem ambas beijadas pelo fogo, com cascatas em chamas ao invés de cabelos, a jovem selvagem era livre e ele não sentia a necessidade de cuidar dela.

Quando passou pelos grandes portões do Castelo e saltou de seu cavalo, o deixando para um patrulheiro cuidar, Jon avistou Edd vindo em sua direção. Abraçou o amigo com força, lhe sorrindo.

— Olá, Senhor Comandante — Jon fez uma reverencia bem humorada.

— Pare com isso, Jon Snow — o novo comandante da patrulha disse, fingindo estar bravo. — Seu irmão está lá dentro, em seu antigo quarto.

— Obrigado, Edd. Por recebê-lo. — Edd deu um aceno positivo.

Jon caminhou sozinho até seu antigo quarto. Tormund havia ficado com os outros homens e mulheres livres. Ele respirou fundo antes de entrar. A imagem de Bran deitado na cama se revelou acolhedora. Parecia que estava apenas descansando, ao invés de fadado a nunca mais andar. Uma garota estava sentada ao lado dele, mas não a reconheceu. O olhar dos irmãos se cruzou e os dois trocaram sorrisos. Jon se aproximou com cautela, curvando o corpo para abraçar o caçula.

— Nem acredito que está vivo — Jon não conseguia conter a felicidade que transbordava através de seu sorriso e de seus olhos.

— Nem eu acredito — ele olhou para a garota ao seu lado, admirado. — Mas devo tudo à Meera,

— Obrigado por cuidar de meu irmão — Jon a olhou agradecido, ela assentiu.

— Tivemos ajuda — Jon sentiu que ela ficou triste de repente, Bran lhe lançou um olhar compreensivo.

— Perdemos Hodor no caminho — Bran falou, fechando os olhos, tentando segurar as lágrimas. — E Jojen, o irmão de Meera.

— Sinto muito — foi tudo o que conseguiu dizer. Lembrava-se de Hodor, era grande e desengonçado, mas muito gentil.

— Eu vi tio Benjen — Jon voltou a prestar atenção no irmão.

— Desculpe, o quê? — custou a assimilar aquelas palavras. Achava que o tio estava morto. — Tio Benjen está morto.

— Mais ou menos — Bran sorriu. Continuou quando viu o olhar confuso do irmão. — Ele estava morrendo quando os filhos da floresta o salvaram. Mas agora está em um estado entre a vida e a morte.

— O que você quer dizer com isso? E filhos da floresta? Pensei que fossem histórias da velha Ama — Jon já tinha visto mortos levantarem, não gostaria que o tio tivesse o mesmo fim.

— Ele não é como os outros. De alguma forma tem a plena consciência. É o mesmo tio Benjen de sempre, só que mais gelado. E os filhos da floresta existem... Ou existiam, acho que agora estão todos mortos.

— E onde ele está? Por que não está com você?

— A Muralha tem feitiços, encantamentos, proteções que não o permitem passar.

— Eu posso vê-lo, então. Posso ir para o outro lado e vê-lo.

— Ele não está mais aqui.

— Mas...

— Jon, eu preciso conversar com você. Têm tantas coisas que precisa saber. — Jon o olhou confuso.

— Que coisas?

— Sente-se, é uma longa história.

***

A viagem de volta pareceu mais longa que a de ida. Bran tinha sido acomodado na carroça, com mantos e cobertores o protegendo do frio, Meera o acompanhava. Jon percebera que eram fieis um ao outro, com todas as histórias que ouvira, não estranhava a proximidade. Não conseguia parar de pensar em uma delas, no entanto. Sentia que Bran não havia lhe contado tudo, ele dava alguns deslizes, deixando escapar coisas que não devia, mas a história inteira ainda não estava formada. Sentia quando o irmão lhe olhava como se soubesse algo sobre ele que nem mesmo Jon sabia.

— Eu vi o pai e tia Lyanna. E ela tinha um bebê... — Bran se interrompeu antes de completar. Tinha dito aquilo no primeiro dia em que se viram, antes de prepararem tudo para a volta.

— Um bebê? — perguntou confuso.

— Não é nada. — e não havia mais tocado no assunto.

Falou-lhe também sobre a intenção do Rei da Noite em passar pela muralha e reinstaurar a Grande Noite, coisa que Melisandre já havia lhe contado, mas agora que Bran lhe dizia parecia mais certo. Ouviu sobre as visões e sobre como o irmão deslizara para a pele de outros animais, até mesmo de Hodor. Ouviu sobre Verão e seu pensamento se voltou automaticamente para Fantasma.

Os dias viraram noite e tornaram a virar dia. A neve se acumulava cada vez mais e aquela conversa ainda o perseguia. Mas que bebê era aquele? Os pensamentos se embaralhavam em sua mente, não conseguia raciocinar com lógica. Para completar, estava cada vez mais frio e tinham que parar sempre para esperar a neve parar de cair. Isso lhe dava mais tempo ocioso para devanear. Pensava em Sansa e em como Fantasma havia adquirido uma conexão com ela, talvez o lobo sentisse que estavam mais próximos e sentia também a necessidade que ele tinha de protegê-la. Pensou no Rei da Noite e na guerra iminente. Pensou em Tormund que ficara na Muralha com os outros homens livres. E pensava em Bran, em suas visões e tudo o que ele poderia ver do passado e do futuro. Talvez... Talvez ele pudesse desvendar o mistério de sua origem. Mas não iria pedir aquilo ao irmão. Deveria ser melhor se sequer soubesse, não queria sofrer, sua mãe estava morta de toda forma.

Chegaram a Winterfell num fim de tarde, sentiu-se aliviado quando cruzou o portão e viu Sansa correndo em sua direção, mas ela passou reto por ele. Viu quando ela abraçou Bran, subindo na carroça sem hesitar. A ouvia chorar, os soluços eram incessantes.

— Não acredito que está realmente aqui — ela disse em meio às lágrimas.

Fantasma se aproximou dele, que lhe afagou os pelos, agachando para fazer carinho em seu companheiro. Era bom estar em casa, sentia-se bem em poder trazer Bran a salvo para seu lar.

— Você precisa descansar, mandei preparar um dos cômodos para você e... — ela olhou para Meera.

— Eu sou Meera. Meera Reed — Sansa lhe sorriu.

— Providenciarei um quarto para você também. — a agitação em sua voz era notável. — Pod vai lhes mostrar o caminho — Podrick apareceu de prontidão. Alguns homens pegaram Bran no colo e eles partiram para dentro do Castelo. Foi então que seu olhar cruzou com o de Sansa.

Ela andou até ele, lhe abraçando em seguida. Jon a tomou em seus braços e a apertou contra si, sentindo o calor de seu corpo o aquecendo. Era um contraste estranho, ela sempre fora mais fria e ele sempre caloroso, agora Sansa parecia uma chama em seus braços, queimando cada parte de si como fogo puro, mas Jon não parecia se importar.

— Eu senti sua falta — ela falou, sem o largar.

— Também senti a sua.

— Obrigada por trazê-lo em segurança, não duvidei por um segundo que o traria para mim — ela afastou um pouco seu corpo do dele, mas não o largou, apenas para olhá-lo nos olhos. — Que voltaria para mim. — se referia agora a ele.

— Eu nunca vou deixá-la. — ele assegurou, e ela voltou a abraçá-lo.

As pessoas ao redor não pareciam se importar com o que acontecia. Eram apenas dois irmãos se reencontrando, mas eles sentiam que não era apenas isso. Sabiam a verdade que guardavam dentro de si e tentavam reprimir. Sabiam que precisavam um do outro naquele momento e por todos os outros que iriam se seguir. Mesmo que a consciência lhes gritasse o erro e que fosse impulsivo e recriminável, não podiam negar o que estava em seus corações.


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