You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 33
Epílogo - Winter is coming.


Notas iniciais do capítulo

Trouxe logo o epílogo pra vocês. Queria dizer que essa foi uma jornada muito gratificante para mim, não tinha muitas pretensões quando resolvi começar essa história, só um amor nutrido por esse casal. Mas a história foi crescendo e tomando forma, foi criando raízes dentro de mim e tornando-se maior do que eu jamais imaginei. Me vi entusiasmada, criando enredos, diálogos, plot twits, tudo porque me sentia cada vez mais conectada com tudo isso. E então tinha o incentivo de vocês, o apoio, os comentários, os acompanhamentos e as recomendações e tudo isso só me fez mais feliz. Claro que nem tudo foram flores, enfrentei algumas noites de insonia, algumas crises de ansiedade, teve uma época em que a depressão ficou mais intensa por aqui, mas a história me ajudou, devo dizer. Foi algo que me fez manter o foco e motivada, algo que restaurou meu amor pela escrita, que é algo que eu gosto tanto de fazer. Eu amo colocar meu sentimentos em palavras. A Sansa é uma personagem com a qual eu me identifico muito e acredito ter deixado um pouquinho de mim em tudo o que ela fez.
Então eu só tenho a agradecer a todo mundo que acompanhou ou irá acompanhar essa história. Vocês são parte fundamental de tudo isso. MUITO OBRIGADA!
Espero muito que gostem desse encerramento, fiz com muito carinho.



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OITO ANOS DEPOIS

O ar ali era sempre carregado. A atmosfera, sempre fria. Muito mais gélida do que os dias de verão que pairavam sobre Winterfell. O ambiente era denso e difícil de respirar. Mesmo assim, Sansa continuava a visitar as criptas para nunca se esquecer daqueles que havia perdido. Para mantê-los em suas lembranças, para se recordar de seus sacrifícios e que sua jornada até ali tinha sido marcada pela perda de cada um deles. Apenas havia se tornado quem era porque havia sido obrigada pelos danos. Construiu a si mesma sobre seus cadáveres, o que lhe resta é honrá-los em morte. Fazer valer seu martírio.

Havia mandado que construíssem uma estátua de pedras para cada um. A de Rickon mais envelhecida, por estar lá há mais tempo, mas igualmente dolorosa, igualmente fiel. E então havia a face lustrosa de Robb Stark com uma espada de ferro em seu colo. Haviam conseguido esculpir seus cachos nas pedras quase como se pudessem se mover graciosos como eram antes. Estava ao lado de Catelyn, a face elegante, dura e fria, como sempre havia sido. Encarava Sansa com olhos de rocha autoritários e protetores. E ao lado de sua esposa, altivo e imponente, havia Eddard Stark. Haviam conseguido representá-lo tão bem que Sansa quase podia senti-lo de verdade. Rígido e firme. Ao mesmo tempo em que seus olhos eram bons e confiáveis. Tinha colocado Lamento da Viúva em seu colo, não antes de arrancar o punho coberto por leões Lannister e mandar fazer um novo com os lobos Stark. Era o mínimo que podia oferecer. E, por fim, trazendo a dor mais recente, vinha Arya. Agulha brilhava sobre seu colo. Sansa havia mantido sua promessa de guardá-la em um lugar seguro. Não havia um lugar mais adequado do que aquele. Retornara para sua dona, afinal.

Sansa fechou os olhos. Orando uma prece silenciosa. Conversando com sua família, lhes pedindo conselhos, força e acolhimento. Eles nunca lhe respondiam, no entanto. Não mais. Pensou em Bran e na sua falta de notícias. O irmão sempre havia sido desleixado quanto aquilo, mandando poucas cartas durante todo o tempo que havia passado desbravando o Norte. Algo dentro de si lhe dizia que estava seguro, no entanto. Confiava em Meera para mantê-lo longe de perigos. Uma lufada correu fria, sempre que a brisa soprava ali, o sussurro do vento chocando contra as pedras a fazia tremer. Eram quase como fantasmas e agouros. Quando terminou, caminhou apressada para fora dali. Forçava-se a encará-los sempre que a vida começava a ficar boa. Porque parecia injusto que pudesse sorrir de verdade, que pudesse se sentir plena e feliz quando eles não podiam fazer o mesmo. Atravessou o Bosque Sagrado, mas não se demorou ali, havia se tornado cética quanto aos Deuses. Que bem eles haviam lhe feito? Tiraram-lhe tudo e riram dela. Entrou no castelo e caminhou até a sala do conselho. Sabia que encontraria Jon e precisava dele. Precisava se sentir acolhida naquele momento. Encontrou-o ali, no cômodo silencioso e solitário, enfurnado em uma montanha de pergaminhos. Ele sequer a notou chegando, quando deu conta de sua presença, ela já havia se enfiado em seu colo e o abraçado com força.

— Sansa... — ele largou os papéis e a olhou. — O que há? Preciso trabalhar. Somos um reino agora, esqueceu? — disse um pouco contrariado. Não havia esquecido, Daenerys havia feito questão de promover um grande evento para anunciar a emancipação do Norte e, juntamente, de todos os grandes reinos que um dia foram antes da Conquista. Seu marido havia se tornado um homem sério e centrado, mesmo que ainda fosse o mesmo Jon amoroso de sempre, quase nunca se deixava transparecer. A verdade era que ambos haviam encontrado um modo de se fechar. Ele usava os deveres, ela, o lembrete constante de suas perdas.

— Não há ninguém precisando que você esteja em lugar algum além de mim. Ouça. Pode ouvir o silêncio? Não há ninguém precisando ser salvo. Preciso de você, Jon. Preciso do meu marido.

Ela não podia lidar com aquela distancia tão fria. Mesmo que estivessem tão próximos que podia ver os fios prateados que começavam a saltar na barba de Jon, as rugas do tempo que acolhiam seus olhos cinzentos e opacos. Estavam tão distantes que quase não podia alcançá-lo. Mesmo que estivesse apenas a um toque de distância.

— Foi visitar as criptas novamente, não foi? — seus olhos a repreenderam. Mesmo assim, a acolheu em seus braços e a embalou, empático. — Não gosto que se torture desse modo.

— As coisas estavam começando a ficar boas demais. Pela manhã, quando vi seus rostos... Tão doces e inocentes... Tenho medo que um dia percam a leveza da vida — lamentou, baixando os olhos. — Não quero que eles cresçam e se tornem nós.

Era um medo consciente, um medo completamente entendível. Oito anos haviam se passado. Ela e Jon construíram uma família. O primeiro a chegar havia sido o pequeno Robb. Os cabelos eram negros e revoltosos, quase como os de Jon. O sorriso era doce em meio às suas bochechas cheias e os olhos tão azuis quanto os seus. Tinha completado sete voltas da lua recentemente e era aventureiro e gentil. Seria um bom homem um dia se a vida lhe desse a oportunidade e temia que não desse. E então havia Arya. Tentaram por longos anos até conseguirem mais um filho, mas agora ela já tinha completos quatro dias de seu nome. Ela chegou em meio à uma tempestade, uma chuva de verão morna e violenta. Tinha os cabelos acobreados como os da mãe. Os olhos eram cinzentos como os do pai. Era uma garotinha tímida e dócil, mas guardava em si uma força que Sansa sabia que vinha do nome que recebera. Eram tudo o que mais amava na vida. Eram o motivo de continuar seguindo todas as manhãs. E, por isso, quando se sentia plena e realizada, quando os tinha em seu colo, quando os ouvia sorrir, sentia-se culpada por estar tão feliz.

— Você tem que se permitir essa felicidade, Sansa. Nossos filhos merecem que sejamos felizes. Depois de tudo o que enfrentamos, merecemos. — ele ergueu seu queixo para que o olhasse.

— Não pense que não sei que faz o mesmo. Quando se isola nessa sala. Sei que sente a mesma dor que sinto, a mesma culpa. — ela o conhecia muito bem e por mais que tentasse esconder, ela podia vê-lo.

— Eu sei... — confessou, derrotado. — Deveríamos fazer um trato agora, o que acha? — ele lhe sorriu. Um sorriso que pouco via em sua face nos últimos tempos.

— Que trato? — indagou curiosa. Sentiu uma sensação divertida percorrer seu corpo.

— Vamos tentar abraçar a felicidade quando ela bater em nossa porta. O que me diz? — ele parecia entusiasmado com aquilo. Sansa quase conseguiu ver o relance do garoto que um dia havia sido.

— Acho que devemos, mas...

— Não questione, senhora Stark. Apenas faça! — parecia um garoto prestes a embarcar em uma aventura e aquilo a contagiou.

— Vamos fazer! — ela lhe sorriu. Pela primeira vez não sentindo culpa por sorrir um sorriso que não era uma cortesia falsa, não era um fingimento frio.

Ele se inclinou para beijá-la. Um beijo que há muito não trocavam. Com uma paixão que há muito não sentiam. Separaram-se apenas para recobrar o fôlego e encararam-se de perto enquanto tinham as testas coladas.

— Eu amo você — ele disse. Aquelas eram suas palavras preferidas.

— Eu também o amo, de todo meu coração.

Abraçaram-se por longos minutos. Como forma de selar aquele pacto. Foram interrompidos por Davos, no entanto, que entrou na sala de repente.

— Meus senhores, peço perdão. Não era minha intenção interrompe-los. Não esperava encontrá-la aqui, Vossa Graça. — o homem fez uma reverencia para Sansa, mesmo que estivesse tão cansado que seus ossos quase foram capazes de ranger quando dobrou os joelhos.

— Não há problema, sor Davos. — ela lhe sorriu de forma gentil. — O que traz para nós?

— Cartas. De toda a parte. — ele então as entregou para Jon. Mais papéis.

— Obrigado, sor Davos. Pode ir agora. — Jon dispensou a mão e voltou-se para os pergaminhos. Sansa conseguiu ver o selo negro da Patrulha, viu um que não conseguiu distinguir e tantos outros, em tantas cores.  Ela se levantou de seu colo em um salto e se sentou em uma cadeira à sua frente para lhe dar mais conforto.

— O que há? — perguntou atenta enquanto ele lia uma das cartas. Havia o selo Targaryen ali.

— Dany está grávida. — ele comentou. Sansa viu a confusão que sentia. Ela sentiu a mesma coisa.

— Pensei que não pudesse ter filhos. Ela e Willas são casados há tanto tempo e... Como isso aconteceu? — estava curiosa, mas ao mesmo tempo contente.

— Bom, eu não sei. Mas acredito que descobriremos. Diz que pretendo nos visitar antes que o bebê nasça. — ele sorriu. Talvez pensando o mesmo que Sansa. Daenerys era a única que montaria em um dragão mesmo estando grávida e enfrentaria uma viagem tão longa quanto a de Porto Real até Winterfell.

— O que diz nas outras? — ela lançou um relance no selo negro da Patrulha. A vida ali era controversa. Embora não tivessem mais perigos reais para enfrentar com os selvagens sendo agora aliados e não havendo uma Muralha, também não havia algo real para se fazer. Era apenas um lugar em que as pessoas iam para morrer em paz. Mesmo assim, não deixou de sentir medo.

— Não vamos pensar nisso agora — Sansa viu que ele temeu o mesmo que ela. — Sam logo irá retornar de sua visita e saberemos melhor o que quer que tenha acontecido para que Edd enviasse uma carta. Agora, vamos desviar nossas mentes de possíveis problemas — ele sugeriu.

— Talvez Sam consiga nos trazer Brienne de volta — ela desejou, pensando em sua protetora e em como havia partido para viver entre o povo livre por um tempo. Um tempo que já se estendia por um ano.

— Ela e Tormund se dão bem, fico feliz que tenha encontrado um lugar. — Sansa não deixava de concordar, mas sentia sua falta mesmo assim.

Observou curiosa quando ele se levantou e lhe estendeu a mão em um convite.

— Para onde vamos? — perguntou, mesmo assim agarrou sua mão.

Ele não respondeu. Mas, quando rumaram para o Bosque Sagrado, não para prestar preces a Deuses que não tinham devoção alguma, ela entendeu. Aquele era o local favorito de Robb e Arya, com certeza os em encontrariam ali. Conseguiram ouvir os sorrisos infantis e entusiasmados que vinham das árvores. Encontraram os dois brincando com Fantasma e Nymeria. Os lobos gigantes gostavam de brincar com as crianças e gostava que sempre estivessem ali, pois sentia que seus filhos estariam seguros o que quer que acontecesse. Sansa dispensou a ama de leite quando se sentaram na grama rasteira para observá-los.

Arya corria de um lado para o outro, provocando Nymeria como em uma brincadeira. A loba corria atrás dela e os gritinhos divertidos aqueciam o coração de Jon e Sansa. A garotinha tinha as pernas curtas e, por vez ou outra, topava nos próprios pés e caía. Levantava-se como se nada tivesse acontecido, no entanto. E no mesmo instante voltava a correr e sorrir.

— Ela é forte — Sansa comentou orgulhosa.

— Carrega o nome de uma das pessoas mais corajosas que conhecemos — ele lhe olhou. — E tem como mãe a mulher mais forte que eu já conheci. Não tinha como ser diferente.  — Sansa cessou a distancia entre seus corpos e envolveu seus braços em sua cintura, agradecida. A vida era boa, afinal. Mesmo que tivessem algumas cicatrizes incuráveis, algumas feridas expostas, a vida havia sido boa nos últimos anos. Calma. Sansa apreciava a calmaria.  

Robb tinha uma espada de madeira e a apontava para Fantasma, mas o lobo gigante havia deitado no chão de forma preguiçosa e não lhe dava atenção. O garoto cortava o ar, tentando incentivar seu companheiro a acompanhá-lo, mas recebia de Fantasma apenas algumas bufadas cansadas e grunhidos fracos. Robb sempre levava o animal à exaustão.

— São crianças do verão. — Jon comentou, observando a inocência com a qual conduziam cada um de seus movimentos.

Sansa concordou e aquilo era o que mais temia. Também haviam sido crianças do verão um dia. E o inverno trouxe-lhes apenas dor. Tiveram que crescer a medida que o frio havia crescido com eles, tiveram que tornar-se adultos antes do tempo. Não queria aquilo para seus filhos. O vento soprou gélido por entre as folhas, balançando-as e derrubando as mais fracas. Uma brisa que carregava consigo o outono, uma estação prévia para o que tanto tinha medo. Sansa se aconchegou ainda mais sob os braços de Jon, buscando sentir-se aquecida. Foi duro quando constatou, mas não havia como fugir. Ela o olhou, procurando um apoio. Ele a encarou de forma cúmplice, sabendo o que ela diria a seguir. E nada poderia tê-lo preparado para ouvir aquelas palavras mais uma vez.

— O inverno está chegando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Espero que tenha sido um final digno, satisfatório. Eu estou muito contente com ele.
Pretendo continuar escrevendo, tanto sobre Jon e Sansa, quanto sobre outras ideias loucas que surgem em minha cabeça. Então isso não é um adeus, nos veremos por aí.
Beijos e mais uma vez muito obrigada por tudo ♥