You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 32
Can't go back.


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores, como vocês estão? Trouxe o capítulo final pra vocês, que dorzinha :/
Tudo bem que ainda tem o epílogo, mas esse capítulo encerra um ciclo. Não tenho muito o que dizer, espero muito que goste.
Queria agradecer de coração à Isabela pela recomendação! É muito gratificante ter esse reconhecimento de vocês, esse carinho. Espero demais que essa experiência tenha sido tão boa pra vocês quanto foi pra mim!
Beijos ♥



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Sansa queria acreditar que tudo estava bem. Agora, com o dia claro como deveria ser, conseguiu ver os corpos sem vida sobre a neve. Aquela imagem a fez perceber que enganaria a si mesma enquanto repetisse que as coisas estavam bem, porque não estavam. Quando se afastou de Jon e olhou ao redor, viu o quão bobas haviam sido suas palavras.

— Isso é... — sussurrou. Sentiu as mãos de Jon nas suas e o olhou. — Tanta morte...

— Isso é guerra — Jon lhe disse. Ele parecia abatido e exausto. Mesmo que o perigo maior tivesse sido extinto, talvez eles jamais se recuperassem dos horrores que haviam testemunhado.

Ela então continuou sua caminhada sozinha. Podia sentir a dor lhe comprimindo o abdome onde estava ferida, mas a sua dor parecia quase insignificante diante daquilo. Sentiu a umidade em seus pés crescer e quando olhou para o chão, viu uma poça de sangue acumulada na qual havia pisado. Quase quis vomitar, mas conteve aquela ânsia.  

— Ajude... — ouviu um murmúrio vindo do corpo que estava ali próximo.

Agachou-se depressa, tomando o homem em seus braços.

— Jon! — gritou. — Traga o Meistre, esse homem está vivo. — ela então o embalou em seus braços, como uma mãe faz com um filho. — Vamos ajudá-lo. Não deixarei que você morra. — o homem não lhe respondeu, aparentava estar fraco demais.

Quando Meistre Moryn se aproximou, Sansa apenas deu espaço para que trabalhasse, mas nunca largou o desconhecido que perecia aos poucos em seus braços. Queria salvá-lo mesmo que sequer o conhecesse, queria ser capaz de poupar a vida de pelo menos um homem. Tantos haviam morrido, ela não queria lidar com a ideia de mais uma vida perdida.

— Não há muito o que possamos fazer — Meistre Moryn falou após fazer seu exame. — Podemos oferecê-lo uma morte rápida. — sentenciou então.

— Não! — Sansa se negou. Ela colocou ainda mais intensidade naquele contato, abraçando-o como se fosse parte de sua família. Todos aqueles mortos eram, afinal. Todos parte de uma única família, sofrendo juntos, perecendo juntos.

— Sansa... — Jon abaixou-se ao seu lado. — Você tem que deixá-lo ir.

— Não. — repetiu determinada. O homem tornava-se cada vez mais frio, a respiração era cada vez mais rara e sua face estava contorcida tamanha era a dor que sentia.

— Por favor... — o desconhecido lhe pediu. A voz fraca e falha. Tinha os olhos negros e piedosos. Sansa pensou em qual seria sua história, se era amado, se sentiriam sua falta, se alguém esperava ansiosamente pelo seu retorno.  

— Está apenas prolongando sua dor, minha senhora. — Meistre Moryn interviu, sensato. — Às vezes tudo o que podemos oferecer a uma homem como este é uma morte indolor.

— Vamos, deixe que eu faça — Jon pediu, sacando uma pequena faca reluzente de dentro das vestes.

— Eu faço — o olhar na face de seu marido era de completo terror.

— Sansa...

— Eu faço. — estava decidida. Iria ajudar aquele homem, mesmo que a única coisa que lhe pudesse oferecer fosse a misericórdia de uma morte rápida, uma morte pelas mãos de alguém que se importava, que sentiria aquela perda. Ela então tirou de dentro de sua bota a adaga que havia ganhado de Jon. — Qual o seu nome?

— G-Gawin — Sansa assentiu e tocou-lhe os lábios para que não dissesse mais nada. Depois passou as mãos pelos cabelos castanhos de forma carinhosa.

— Vai ficar melhor em algum ponto, certo? Tem que ficar. — era algo que dizia mais para si do que para ele, mesmo que fossem palavras que servissem de consolo a ambos. Beijou-lhe a testa suada e febril de forma delicada.  

Podia sentir os olhos de Jon sobre si, lhe queimando, mas não o olhou. Posicionou a adaga na garganta de Gawin e então enterrou a lâmina em sua carne. O sangue escorreu quente e vibrante, sujando-lhe as vestes. Fechou os olhos e chorou. Chorou porque nada seria como antes. Nada seria tão doce, fácil e leve como era no princípio. Tudo agora era pesado, denso e difícil. Amargo e cruel, como o sabor de sangue na boca.

— Sinto muito... — sussurrou para si mesma porque Gawin já não podia mais ouvi-la.  

Sentiu quando Jon envolveu os braços ao seu redor e a puxou para cima, a mantendo de pé. Ela o abraçou com força, deixando que as lágrimas se tornassem ainda mais intensas, ainda mais carregadas. Tanta dor.

— Vamos sair daqui. — Jon disse.

— Para onde iríamos? — era como se já não houvesse mais nada.

— Vamos para casa. — tentou sorrir, mas seu sorriso era tão sofrido quanto as lágrimas que Sansa derramava.

— Bran... Eles iriam rumo à Winterfell. — recordou-se num súbito, lembrando-se de como havia deixado seu irmão.

— Podemos encontrá-lo no caminho.

— Se ele estiver vivo... — lamentou.

— Sansa! Ele está vivo, não diga isso, por favor — Jon a repreendeu, mas a verdade era que nutria do mesmo temor.

— Todo mundo está morto. — era difícil constatar aquilo, mas para onde quer que olhasse tudo o que via era morte.

— Nem todo mundo — Sansa reconheceu aquela voz. O tom jocoso e descontraído. Olhou para baixo e viu a figura grotesca de Tyrion Lannister.

— É um homem difícil de matar, Tyrion — Sansa disse, quase sendo capaz de lhe lançar um sorriso franco.

— Nenhuma reclamação quanto a isso — ele repuxou os lábios em um sorriso sem jeito.

— Ouvi que querem ir para casa — foi Daenerys quem falou.

— Sim, talvez encontrar Bran no caminho. Será uma longa jornada, no entanto. Estamos todos tão cansados, há tanto a ser feito — ele então olhou ao redor pela primeira vez depois do fim. Percebendo o que a guerra havia lhes deixado. Vendo o que Sansa via.

— Posso ajudar com isso — Daenerys parecia abalada, mas a sua forma de demonstrar aquilo era sendo ainda mais forte. Jon havia visto quando Viserion fora atacado, viu a fúria crescente nos olhos de sua tia e a ira que parecia lhe consumir. — O que acha de uma viagem mais rápida?

— O que quer dizer? — Jon a olhou confuso.

— Ela quer dizer para usar um dragão, Jon. — Tyrion disse. — Confesso que eu mesmo gostaria de experimentar, mas temo que minhas pernas se encaixem melhor ao redor de um cavalo, ou de uma bela dama. — o duende parecia incapaz de perder seu senso de humor.

— Como? — arqueou suas sobrancelhas em dúvida.

— Pode tentar domar Rhaegal. — ela sugeriu descontraída, como se fosse algo banal.

— Não acho uma boa ideia — Sansa falou. Ela ainda não havia se acostumado com a ideia de dragões.

— Os teme sem razão, senhora Sansa. — Dany lhe sorriu de forma gentil. — Venham, nenhum mal irá lhes afligir enquanto eu estiver aqui.

Daenerys os guiou até onde seus dragões permaneciam imóveis a espera de um comando. Sansa os imaginou mais selvagens, mais rebeldes, mas eles pareciam devotos à sua mãe. Assim como ela era à Catelyn.

— Venha, Jon. — ela o incentivou.

Jon se aproximou do grande dragão verde. Tocou-o nas escamas que pareciam brasas em uma lareira que nunca parava de queimar. Já havia se acostumado com o toque, não era aquilo que temia. Ele estendeu o toque até o dorso.

— Olá, garoto — disse, tentando fazer com que o dragão se acostumasse com sua voz.

Não era medo o que sentia. Era uma sensação de incerteza, de não poder prever o que aconteceria. E mesmo aquele sentimento não era algo ruim. A adrenalina do desconhecido era o que mais lhe fascinava quando estava perto de Rhaegal. Então, em um gesto estrondoso e também elegante, o dragão baixou sua cabeça na direção do solo.

— Ele está lhe dando permissão. — Dany disse.

— Fácil assim? — Jon estava desconfiado, não parecia ter sido um desafio.

— Não foi fácil, Jon. Nutriram uma relação de confiança ao longo do tempo. Rhaegal foi ficando cada vez mais confortável com a sua presença, esqueceu? — era verdade. Mesmo que apenas tivesse recusado seu toque uma vez, Rhaegal havia se mostrado mais receptivo com o tempo. — Ele sabe que vocês tem uma conexão.

E parecia saber. Jon não sabia como, não sabia o que fazia para que notasse, mas Rhaegal percebia. Tinham uma conexão, Jon podia senti-la, mesmo que não fosse capaz de descrevê-la.

— Tome cuidado. — ouviu a voz de Sansa atrás de si.

Ele então, com cautela, tentou montar no dragão. Era alto e colossal e teve dificuldade para conseguir passar a perna, mas o fato de o animal ter permanecido imóvel o tempo inteiro fez sua tarefa ser um pouco mais fácil. Quando, por fim, estava montado, sentiu uma sensação que era incapaz de descrever. Nem mesmo em seus mais fantasiosos sonhos de garoto havia se imaginado sobre o dorso de um dragão, um dragão de verdade, que carregava o nome e a identidade de seu verdadeiro pai. Rahegal abriu as assas e as movimentou, um movimento curto, no entanto, ainda não estava pronto para voar. Jon sorriu. Mas seu sorriso morreu no minuto em que viu Sansa cair com os joelhos no chão. Estava fraca e ele havia sido descuidado em não tê-la mantido sob seus cuidados o tempo inteiro.

— Sansa! — quando saltou de Rhaegal, conseguiu ver quando Edmure Tully finalmente chegou até eles e aparou sua sobrinha. — O que houve?

— Ela foi ferida, Jon. Tentei fazer com que visse o Meistre, mas Sansa sequer quis me ouvir.

— Como pude ser tão descuidado? — ele então a tomou em seus braços, a erguendo do chão e caminhando com ela até onde meistre Moryn estava.

— Estou bem — ela lhe disse em meio a um gemido contido.

— Não, não está. Não precisa ser forte o tempo todo, Sansa. — Jon sabia que ela não queria demonstrar sinais de fraqueza, mas já não era mais necessário. — Permita-se sentir a dor.

— Não dói — ela lhe lançou um sorriso fraco, um sorriso mórbido em meio à sua face pálida. Ele acreditou. Acreditou porque quando havia sido atacado por seus outrora companheiros, quando a morte enfim lhe assolou, a sua proximidade fez com que não sentisse dor alguma.

Ele a colocou no chão com cuidado e deixou que o Meistre a examinasse. Esperou apreensivo, temendo perdê-la depois de tudo. Não era justo.

— Então? — estava impaciente, cada segundo que se passava igualava-se a uma eternidade de espera. — Ela ficará bem?

— Estanquei o ferimento e ela já não sangra mais. Mas perdeu muito sangue, precisa de cuidados que não tenho como oferecer daqui. O melhor seria levá-la para casa, mas a viagem é muito longa, temo que a enfraqueça ainda mais — as palavras eram desoladoras, quase como uma sentença.

— Estou bem — a ouviu repetir, teimosa, tentando se erguer, mas falhando.

— Posso levá-la em Rhaegal — sugeriu sem pensar.

— No dragão? — Jon sabia da relutância de alguns meistres quanto aos dragões. — Não sei...

— É seguro — Dany se aproximou deles. — Eu mesma já viajei muitas milhas sobre Drogon. Pode ser nossa única alternativa. — Daenerys o abraçou, novamente em um gesto inesperado. Jon havia notado que ela era uma mulher que fazia o que tinha vontade, quando tinha vontade, não havia como prever seus movimentos. — Salve-a. Não posso ter a Rainha do Norte morta quando emancipar suas terras — ela lhe largou e sorriu. Jon quis questionar, mas não havia tempo.

— Tudo bem. Vamos lá, me ajudem a colocá-la sobre Rhaegal.

Edmure se prontificou e ergueu Sansa em seus braços. Jon sabia que ela protestaria se tivesse forças para tal, mas ela gemeu a contragosto. Antes de partir, porém, resolveu procurar por Edd e Tormund. Havia tanto para ser feito...

— Edd! — Jon chamou o amigo quando o viu distante.

— Snow — o Comandante da Patrulha lhe sorriu. — O que faremos agora? — ele parecia completamente perdido. Não havia uma Muralha, não havia Castelo Negro. De que servia então a Patrulha da Noite?

— Eu lhe ajudarei a colocar tudo em ordem, mas não posso agora. Preciso levar Sansa até Winterfell, mas voltarei. Isso é uma promessa. Vamos descobrir o que fazer.

Edd apenas assentiu, inquieto. Jon abraçou seu companheiro com força. Todos eles precisariam de força. Foi então a vez de falar com Tormund.

— Você a viu? — o selvagem começou, nervoso. Poucas vezes o havia visto daquela maneira.

— Do que está falando?

— A Mulher Vermelha... Está morta. — ele começou a caminhar e Jon o seguiu.

Quando parou, Jon conseguiu ver o mar vermelho sobre a neve suja. Os cabelos de Melisandre sendo engolidos pela umidade, a pele ainda mais pálida do que antes. Sua garganta, antes agarrada por um rubi reluzente, agora lhe sorria um sorriso vermelho de sangue. Pela primeira vez, Jon não sentiu calor quando se aproximou dela, estava tão fria quanto um corpo morto deveria ser. Quis sentir alivio, mas sentiu-se levemente culpado. A havia mandado para longe, mas o quão longe poderia chegar em meio aquela confusão? Desviou os olhos daquela imagem perturbadora e se afastou.

— Ajude Edd — ele pediu, então, tentando ignorar o que acabara de ver.

— Irei. Cuide de meu povo até que vá buscá-los. Não sei o que o destino nos reserva agora. É tudo tão incerto.

— Eles estarão a salvo, lhe prometo.

Quis ainda encontrar Robett Glover e Wyman Manderly, mas sequer sabia se ainda estavam vivos. Deixou a missão para Tormund e pediu para que lhes avisasse sobre Sansa. Então voltou até ela e viu que todos o aguardavam para que ele a colocasse sobre o dragão. Podia ver o medo que sentiam de se aproximar da criatura. Ele então a tomou em seus braços e a acomodou sobre o dorso duro de Rhaegal. Estava coberta por uma grossa manta de peles e tremia pelo frio que afugentava o calor de seu corpo. Então ele mesmo se acomodou sobre o dragão e, sem que dissesse uma palavra, como se pudesse ler sua mente, Rhaegal levantou voou. Jon sentiu como se um vento percorresse dentro de si, era uma sensação engraçada. Já estivera no alto da Muralha, tão alto que podia ver o mundo inteiro, mas, ali, era como se possuísse o mundo. Como se nada pudesse confrontá-lo.

O dragão sabia para onde ir, e ia tão rápido que logo os que havia deixado para trás sumiram no horizonte. Abraçou Sansa para que o calor de seu corpo a mantivesse aquecida, mas ela ficava cada vez mais fria. Não que já não fosse, mas era um tipo diferente de frio. Era um frio fúnebre que o fez sentir calafrios, não o mesmo que o fazia queimar. Não soube quanto tempo se passou, não soube se foram dias, horas, ou mesmo minutos, mas, como que ao acordar de um sonho, ele avistou Winterfell. Avistou seu lar. E de súbito lembrou-se de Arya. Havia evitado pensar nela, para que a dor não tomasse conta de seus sentidos e perdesse o foco na batalha, mas ao ver aquelas muralhas tão próximas foi inevitável não ouvir o riso entusiasmado dela. Quando pousaram, quase fora capaz de ouvir o tintilar de aço contra aço entre agulha e garralonga. E foi isso que fez com que deixasse que uma lágrima solitária escorresse. Era uma única gota salgada, mas que carregava uma angustia tão grande e pesada, que equivalia a um mar de lágrimas.  Sansa abriu os olhos e puxou o ar com vontade, como se sentisse que estavam em Winterfell. Ela o olhou confusa, atordoada. Mas, mesmo assim, se livrou de seus braços e saltou do dragão sem dificuldade, como se tivesse feito aquilo tantas vezes antes.

Jon se apressou para alcançá-la, mas ela já atravessava o grande portão que estava aberto. Quando entrou no pátio, viu Sam e Willas ali parados. Talvez o sentinela tivesse avistado Rhaegal se aproximar e os avisou.

— Onde está Bran? — ouvi-a perguntar para Willas. Sam olhou para ele confuso.

— Bran? Seu irmão, minha senhora? Não está aqui. Não há ninguém aqui além dos que deixaram. O que há? — Willas falou.

— Ele não chegou?

Jon perguntava-se como Sansa ainda estava de pé, como ainda tinha energias para toda aquela cena, mas concluiu que era a vontade de encontrar Bran que a movia. E, por isso, quando descobriu que ele não estava ali, voltou a sentir-se fraca. E então caiu. Willas a aparou antes que pudesse tocar o chão.  Jon correu até eles, a tomando para si.

— Sam, me ajude. Sansa foi ferida, precisa de cuidados. Não posso perdê-la. — então correu para dentro do castelo e foi seguido por Sam e Willas.

Colocou-a sobre a cama de seus aposentos e deixou que Sam trabalhasse. Mesmo que não quisesse deixá-la. Mesmo que não quisesse perdê-la sem que estivesse ali como testemunha, para ter consciência. Ele aguardou pacientemente enquanto Sam fazia de tudo para salvá-la. Seu amigo dissera que Meistre Moryn já tinha feito todo o trabalho duro. Ela só precisava de descanso, precisava se alimentar e recuperar suas forças.

— Ela irá sobreviver, Jon. Confesso que nunca vi alguém tão forte quanto Sansa. Qualquer um que tivesse tido que resistir por tanto tempo jamais o teria conseguido da forma como ela fez. Estava lúcida quando chegou e perguntou pelo irmão. Isso é... Quero dizer, ela é forte. — confessou quando deixaram-na dormindo.

— Ela é — disse orgulhoso. Pelo menos a sensação de que poderia perdê-la a qualquer instante havia passado.

Mesmo assim, mesmo que Sam tivesse lhe garantido que sobreviveria, ele não a deixou nem por um momento enquanto aguardou que acordasse. O dia nasceu e morreu tantas vezes que ele sequer se deu ao trabalho de perceber quantas. Sam os visitava algumas vezes ao dia para empurrar alguma comida em sua garganta e dar-lhe alguma água. Mas ela continuava dormindo. Dormia tão pacificamente que parecia saudável como deveria ser. Jon viu sua respiração variar de rara para constante e aquilo lhe deu alivio. Viu a cor voltar para seu rosto e viu os lábios ganharem vida novamente. Recuperava-se aos poucos. Talvez aquele tempo em que estava alheia a tudo o que havia acontecido fosse o melhor para ela. Fantasma manteve-se junto a ele durante todo aquele tempo, saindo poucas vezes para caçar alguma comida, mas voltando logo em seguida. Era uma companhia que lhe fazia bem em meio a tanto silêncio.

Bran havia chegado em um desses dias. Foi uma surpresa, no entanto, quando chegou não apenas junto de Brienne e de Meera, como também de seu tio Benjen. Foi o único dia em que saiu para ver o que ocorria do lado de fora daquele quarto. Viu seu tio e não o reconheceu. Montado em um alce, coberto por um capuz negro e com a pele pálida que acolhia seus olhos azuis vibrantes. Estava vivo, mas já não era mais o mesmo. Havia se sentido feliz em vê-lo, mas conviver com ele era um lembrete constante de tudo o que tivera que enfrentar até então. Quando fechava os olhos, conseguia projetar a face de Benjen Stark em todos os mortos que o atacaram. E não conseguia encará-lo da mesma maneira. Não como quando o via como um modelo a ser seguido. O que lhe deu alivio, no entanto, foi saber que não ficaria ali por muito tempo. Evitou-o tanto quanto pode e Bran lhe contou que logo partiriam. Estavam apenas aguardando que Sansa acordasse, ele tinha uma missão, uma missão que havia sido interrompida porque tinha que alertá-los sobre o Rei da Noite. Mas, agora que o inimigo havia sido derrotado, poderia retornar para seu treinamento.

E, depois de Bran, chegaram tantos outros mais vindos do que havia restado da Muralha. Daenerys chegou em seu dragão e depois disso chegou Tyrion Lannister. Sam contou como o duende havia ficado quando Brienne lhe contara sobre a morte de seu irmão. Havia bebido por uma noite inteira, havia promovido um festim no Grande Salão em homenagem ao grande Jaime Lannister. Jon não se deu ao trabalho de participar. Mesmo que tivesse salvado a vida de Bran, o Lannister não era alguém por quem nutria alguma afeição. Willas e Davos tomavam conta do castelo. O Herdeiro da Campina e Daenerys pareciam se dar bem no que se tratava do futuro de Westeros. Ouvira dizer que concordavam a respeito de quase tudo e sobre o que discordavam, sempre encontravam alguma solução que agradasse a ambos, tendo Davos como um intermediador. Lyanna Mormont havia partido para a Ilha dos Ursos algum tempo depois de sua chegada e Jon concordou que deveriam retomar a vida normal no Norte. Junto com os que chegavam, vieram também Glover e Manderly e Jon os mandou para casa igualmente. Enviar-lhes-ia cartas quando Sansa despertasse. Nunca ficou tão grato quanto naquele momento por escrever cartas para nobres senhores quanto quando Sansa enfim acordou.

— Jon... — ela murmurou ao abrir os olhos. Era noite, uma noite tão fria que Jon podia ouvir os sopros da neve do lado de fora.

— Sansa, pelos deuses. Finalmente acordou! — ele se aproximou dela, sentando-se ao seu lado na cama. — Está com sede? Precisa de algo? — quis ser solicito, mas não sabia o que fazer primeiro. Então simplesmente a abraçou.

— Bran? — ela perguntou, ainda não formando uma sentença completa.

— Ele está bem! Logo o chamarei para vê-la. Estão todos bem. — explicou.

— Arya — o nome soou como um lembrete. A vitória nunca vinha sem fatalidades.  

Ele não soube o que lhe dizer. Então apenas a acolheu. Embalou-a em seus braços e beijou-lhe a testa. Estavam feridos, vazios, maltratados, mas tinham que seguir. Havia todo um povo que dependia deles. A morte de Arya não seria em vão. Mesmo assim, quando enfim partiu, levou um pouco de ambos consigo.

— Quanto tempo fiquei dormindo? — ela perguntou, então, finalmente formando uma frase completa.

— Alguns dias. Não se preocupe com isso.

— Tanto tempo... Preciso retomar meus deveres, o Norte precisa de mim — ela então se forçou para fora da cama, mas Jon a impediu.

— Está tudo sob controle. Não se preocupe com isso agora, por favor.

Ela voltou para seus braços. Dessa vez o abraçando ao invés de ser abraçada. Eles teriam que ser fortes um pelo outro, seguir em frente mesmo tão quebrados. Talvez se juntassem duas pessoas feridas pudessem formar uma só com tanta força quanto a necessária para fazer o que tinha que ser feito.

— Não me deixe — ela pediu após algum tempo de silêncio.

— Por que eu faria isso? — Jon questionou sem entender, a apertando com força contra si.

— Não sei... É apenas uma prevenção. Não me deixe. — parecia uma suplica o que dizia. E era, afinal.

— Preciso ir até à Muralha... Quero dizer, o que restou dela. — ele a informou hesitante. Prometera à Edd.

— Não... Não quero que exista um dia sequer que estejamos separados. Não permitirei que isso aconteça. — ela então o olhou. Seus olhos vivos e vibrantes, como aquilo o alegrava. Mesmo assim, ele tinha que ir.

— Somos os protetores do Norte, Sansa. — ele tentou sorrir, mas ela não lhe sorriu de volta.

— Esse é um fardo que teremos que carregar — disse então. Era verdade. O dever era um fardo. Era como carregar um escudo pesado demais em uma batalha que exigia habilidade.

— Voltarei antes que perceba que parti. — prometeu-lhe.

— Como se isso fosse possível — ela então lhe sorriu divertida. — Perceberei sua partida no momento em que deixar este quarto, sentirei sua falta de forma tão constante quanto respirar. Cada batida de meu coração pulsará saudade.

Aquilo era parte do que significava ser um Stark, porém. Do que significava serem Rei e Rainha. Sempre teriam aquele manto gelado e nevado o qual chamavam de Norte entre eles. Sempre teriam o dever lhes chamando mesmo quando não queriam dar-lhe ouvidos. Mas, se tinham que governar toda uma nação, todo um povo, o fariam juntos. Porque eles agora eram um só. Um só corpo, um só coração. Cheios de cicatrizes, de falhas e de medos, mas o eram juntos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O final é agridoce, né? Não tinha como não ser :/
Venham bater um papo comigo, queria muito saber como foi a jornada de vocês até aqui!
Beijos e até o epílogo ♥