You're burning up, I'm cooling down. escrita por Thai


Capítulo 29
War Pt. I: Fight fate.


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoal. Tudo bem?
Esse capitulo foi um verdadeiro desafio haha
Terá uma parte 2 como pode ter ficado claro pelo título, mas será uma abordagem diferente e não é uma continuação direta desse aqui. Vocês vão entender melhor quando eu postar. Pretendo fazer isso em breve, talvez até amanhã.
Espero muuuuuito que gostem.



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Quando Jon viu a Muralha começar ceder, algo dentro de si despertou. Não podia mais permanecer apático. Um instinto muito intenso de proteger Sansa correu por suas veias e o faria a qualquer custo. Por isso ele a agarrou em meio aos protestos e a puxou para cima, a forçando a se erguer. Ela lutou contra todos os seus esforços, tornando sua tarefa mais difícil. Como se não bastasse toda a confusão que sentia, ela ainda resistia intensamente enquanto se livrava de seus braços. Em outras circunstâncias teria sido fácil fazê-la ceder, mas naquele momento ela se opunha a ele com uma força que não parecia sua e Jon estava cansado demais para subjugá-la, mesmo que fosse para o seu bem.

— Você precisa sair daqui, Sansa. Agora! — ele gritou, com esperança de que seu tom autoritário surtisse algum efeito sobre ela, mas ela não se moveu. Parecia uma escultura de rocha, como se tivesse se tornado uma estátua dentro das Criptas, morta por dentro e por fora.

Sansa abraçava Arya com tanta força que seus corpos estavam quase fundidos. Eram como o aço de uma espada, as ligas tão fortes que nem mesmo a morte havia conseguido destruir. Sansa havia se tornado aço. Dura e implacável. Fria e obstinada. Mesmo assim, as lágrimas que corriam por sua face eram desespero puro, sensíveis e cheias de angustia, e mesmo os estrondos de grandes placas de gelo caindo não fizeram com que ela se levantasse.

— Não vou deixá-la! — o choro de Sansa foi capaz de ferir Jon como se ele mesmo tivesse acabado de sofrer um golpe. Estava tão triste quanto soava e ele podia sentir aquilo quase como se fossem um só e partilhassem da mesma dor. Era quase uma verdade, afinal.

Naquele momento, ele percebeu que não adiantaria forçá-la. Apesar disso, precisava tirá-la dali. Jon entregou sua espada que ainda queimava flamejante e alaranjada para Tormund segurar e se agachou ao lado de Sansa.

— Olhe para mim — ele pediu manso. Sansa ergueu seus olhos para ele, as lágrimas se acumulavam e pareciam um oceano azulado e revoltoso. — Você precisa sair daqui. Não posso tê-la aqui, Sansa. Está me ouvindo? Preciso de você segura. Preciso de você viva. Não posso perder as duas, não de uma vez. — ele então se atreveu a olhar para Arya. Sua irmãzinha repousando sem vida nos braços de sua esposa, estava tão serena que por um momento acreditou que apenas dormia. — Vai levar Arya com você. — ele então tocou a face da mais nova. — E vai cavalgar para o mais longe que conseguir. Hoje não será o dia que morreremos. Não permitirei.

Então Jon tomou Arya dos braços de Sansa. Ele se ergueu lentamente, tentando equilibrar-se com o peso de sua irmã. Parecia mais pesada, talvez fosse o peso de tudo o que representava. Brienne foi rápida e se precipitou até eles quando Sansa levantou-se em seguida, levemente cambaleante, desnorteada. Ajudou-a a se erguer, como se fosse um alicerce capaz de impedir uma construção fragilizada de desabar. Ao redor deles, pessoas corriam de um lado para o outro. Sansa podia ouvir os gritos, os comandos, mas pouco se importou.

— Para onde devo ir, Jon? — ela o olhou esperando que ele tivesse alguma resposta reconfortante, mas viu em seus olhos que não tinha. Estava tão perdido quanto ela. — O que devo fazer agora? — procurava algum norte, mas nada apontava em uma direção que lhe parecesse favorável.

— Brienne — Jon chamou a mulher que prontamente se postou ao seu lado. — Leve Arya e Sansa com você. Leve também Bran e Meera e quantos homens achar necessário. Leve-os para longe daqui, o máximo que conseguir. Cavalgue dia e noite se necessário, apenas vá para longe. — ele então, com pesar, entregou Arya nos braços da mulher.

Brienne deu um aceno determinado e fiel. Jon sabia que podia confiar nela.

— Jon... — ele ouviu Sansa murmurar e então a abraçou. — Eu não posso ir. Não posso deixá-lo.

— Você tem que ir — ele tomou a face dela em suas mãos e depositou um beijo delicado em sua testa. — Eu vou encontrá-la quando tudo acabar. Eu prometo.

Foi então que beijou seus lábios. Beijou-a como se fosse o último beijo que trocariam. Como se fosse uma despedida e fez valer cada segundo.

— Volte para mim — ela pediu. Os olhos dilatados pelo medo de perdê-lo.

— Eu sempre vou encontrar meu caminho de volta para você. — ele então a beijou mais uma vez. — Vá agora, reúna tudo o que conseguir para uma viagem. Eu tenho que lidar com isso. — olhou ao redor para ver o caos e o horror que o rodeava.

Ainda não compreendia muito bem o que estava acontecendo de fato, mas teria tempo para descobrir uma vez que Sansa estivesse devidamente segura.

— Vamos, Lady Sansa, vou ajudá-la. — Sansa assentiu e olhou para a mulher. A imagem de Arya era quase desoladora enquanto repousava inerte nos braços de Brienne.

— Volte para mim — Sansa sussurrou mais uma vez para Jon e forçou seus pés a se afastarem dele.

Conforme caminhava para longe, sentia seu peito se encolher cada vez mais. Sentia-se tão fria por dentro que quase julgou que ela mesma estivesse morta. Brienne liderou o caminho, Sansa ia logo atrás, seguida por Meera. Em algum ponto Jaime Lannister havia se juntado a eles e havia colocado Bran em seus braços. Era uma imagem tão irônica que Sansa a encarou como mais uma piada dos Deuses. Riem de nós. Esgueiraram-se em meio à multidão eufórica e atordoada até a Torre do Rei. Sansa deixou que seus olhos percorressem ao seu redor e viu nas faces dos homens que corriam a desesperança. Ela então ergueu aos olhos para a Muralha. Ou parte dela. Grandes blocos de gelo despencavam do céu. Para onde quer que olhasse, via a grande muralha se desfazer como se fosse um simples castelo de neve, tão frágil que algum dia duvidou que havia sido a construção colossal que se lembrava. Tão frágil que despencava em um sopro.

— Vou até os estábulos. Jaime, leve-os até seus aposentos para que peguem o máximo de coisas que conseguirem. — Brienne falou tomando comando da situação. Sansa agradeceu-a internamente por aquilo, ela mesma não sendo capaz de raciocinar com lógica. Jaime assentiu — Nos encontraremos aqui em breve.

Então partiram para lados opostos. Sansa acompanhada de Jaime Lannister, Bran e Meera, e Brienne sozinha. Deixou-se ser guiada até seus aposentos pelas lembranças, mas quase não se sentia dona de seus próprios comandos. Quando chegou até o quarto, viu a porta de madeira envelhecida tombada no chão. A súbita vontade de chorar lhe arrebatou mais uma vez, mas não o fez. Sentia-se tão vazia que nem mesmo lágrimas conseguia derramar. Sentiu então as dores dos golpes que havia dado na porta ao tentar derrubá-la. A adrenalina havia sido tanta que não teve tempo para pensar nas dores. Mas ali estavam elas. Foi quase insuportável quando tomou consciência dos males físicos e emocionais que a assolavam.

— Vou com Bran até seus aposentos, ficará bem? — ouviu Jaime lhe falar e acenou para ele quase que automaticamente. Não ficaria bem. Jamais ficaria bem novamente.

Entrou no cômodo e viu Agulha reluzindo à luz da lareira. Tocou a espaça com cautela, temendo mais uma dor, mais um golpe das memórias. Ela está morta, não há nada que possa fazer. Foi então que se apercebeu da presença de Nymeria, a loba era tão silenciosa que Sansa havia se esquecido de que estava ali. É a sua forma de luto, pensou. Suspirou de forma pesada. Então começou a recolher algumas roupas e as guardou em uma sacola de tecido, pensando se realmente as usaria, e concluiu que não. Então guardou Lamento da Viúva, sem pensar muito. Vasculhou seus pertences e encontrou a adaga que Jon havia lhe dado. Ele me manterá segura mesmo que não esteja lá, pensou. Então a enfiou dentro de sua bota, para ficar mais próxima de si. Enfiou também os pães que haviam lhe levado para que comesse, mas que ela nem ao menos tocou. Era tudo. O que mais poderia levar? Saiu dali e esperou até que Jaime retornasse com seu irmão. Viu Jon ao longe, ele gritava exasperado e gesticulava para Melisandre. Viu uma fúria tão profunda em seus olhos cinza, embaçados pelo ódio, que por um momento o temeu. Ele então saiu dali dando passos pesados e começou a dar ordens. Sansa desviou os olhos quando aquilo se tornou muito difícil de assistir. O medo de perdê-lo era quase insuportável. Mesmo assim, agora tinha noção daquilo, seria apenas um peso se permanecesse ali.

— Tudo pronto? — ouviu Jaime perguntar. Ela então o olhou. O homem tinha feições brandas. Parecia quase preocupado de verdade com ela. Sansa apenas acenou.

Não se atreveu a olhar para Bran. Não quando poderia fraquejar mais uma vez. Naquele momento tinha que se manter aço. Caminharam com pressa para fora da torre e encontraram Brienne segurando uma tocha, ainda tinha Arya em seus braços, mas havia colocado um manto negro sobre ela de forma respeitosa. Estava com um patrulheiro que trazia seus cavalos. A mulher quis ajudá-la a montar, mas Sansa recusou com um aceno. Também não a olhou nos olhos. Sabia o que encontraria. Pena e impotência. Simplesmente não podia lidar com aquilo.  Não queria lidar. Observou enquanto Jaime montava em um garanhão e colocava Bran junto com ele, para que não caísse. Meera subiu em seu cavalo e então foi a vez de Brienne, auxiliada pelo jovem patrulheiro enquanto acomodava Arya de forma desajeitava em seus braços. Sansa olhou para o rapaz que aparentava pouca idade e sentiu pena. Pensou se ele sobreviveria e foi com pesar que concluiu que não. Ele parecia compartilhar da opinião dela porque a olhava de maneira amedrontada. Saíram dali a trote rápido. Sansa jamais olhou para trás. Jamais teve coragem.

— Conheço um lugar que podemos ir. Não é tão longe, mas também não é tão perto de toda essa confusão — ouviu Bran se manifestar pela primeira vez. — Será o bastante para nos afastarmos até que descansemos e possamos ir mais longe.

— Eu guiarei o caminho — foi Meera quem disse.

E assim seguiram. Meera na dianteira com Jaime ao seu lado, enquanto Sansa e Brienne iam atrás, com Nymeria sempre em seu encalço. Percebeu que a mulher abria e fechava a boca várias vezes durante o percurso, como se quisesse dizer algo e não encontrasse palavras. Não a incentivou a falar, não queria ouvir nada. Palavra alguma seria capaz de mudar o que sentia. Nada poderia lhe dar conforto. E tudo piorou quando já estavam tão longe que a muralha era apenas uma mancha branca e embaçada como poeira, como pequenos flocos de neves pairando no ar. A lua pareceu ser engolida pelas sombras porque tudo ficou muito escuro de repente. Nem mesmo a luz pálida do luar iluminava o caminho. Quando Sansa olhou para cima, não encontrou nada. Apenas o breu. Negro e sombrio. Infinito e solitário. Sentiu tanto frio que pensou que pudesse congelar em um instante.

— É ele — Bran disse. Foi então que Sansa o olhou. Seus olhares se cruzaram antes de ele mesmo olhar para a escuridão do céu. — É o Rei da Noite.

Todos permaneceram em silêncio. Um silêncio fúnebre. Era ali que começava a Grande Noite, então. Sansa sentiu-se dentro de uma história fantástica. Dentro de um pesadelo do qual jamais acordaria. Agora apenas a luz fraca e rubra da tocha que Brienne carregava os iluminava. A chama tremeluzia e ameaçava se apagar sempre que a brisa soprava mais forte e mais gelada. Porém a flama não se apagou. Resistia de forma determinada. Sansa sentiu uma pontinha de esperança quando viu que a luz ainda lutava. Eu posso enfrentar também, pensou.

— É aqui — Meera falou chamando a atenção para si.

Sansa olhou para frente e viu uma torre construída de forma desajeitada. Parecia ter sido abandonada há muito. Sensatos foram os que um dia ali habitaram.

— Ficamos aqui quando estava fugindo de Winterfell até o outro lado da Muralha. É uma torre de vigia. É alta o suficiente para que vejamos o que quer que se aproxime de nós. — Bran informou.

— Não podemos ver nada — Sansa o lembrou. Sempre que olhava para qualquer lado que fosse, nos lugares que a tocha não alcançava, tudo o que encontrava era a escuridão.

Bran baixou os olhos. Mesmo assim, eles seguiram até a torre. Tinha uma porta de madeira úmida e tombada, quase de nada servia. Uma escada de pedras se erguia como um caracol até o alto. Deixaram os cavalos ali, amarrados em uma tora de madeira antiga. Brienne liderou o caminho enquanto carregava Arya com cuidado, sendo seguida por Nymeria que observava seus movimentos de forma atenta. Então foi a vez de Jaime passar com Bran e Meera e só então Sansa subiu.

O tempo parecia se arrastar de maneira mais lenta que o normal enquanto se encaravam em silêncio. Nyemeria havia repousado sua cabeça no colo de Sansa que lhe fazia um carinho vez ou outra. A loba parecia ter sentido a morte de Arya mais que todos, seus olhos eram tão tristes que Sansa quase nunca olhava para eles. Brienne havia acendido uma fogueira, mas o fogo parecia ineficiente para mantê-los aquecidos.  Ouviam os estrondos de guerra como trovões cortando a distância. Sansa pensou por um momento ouvir guinchos de dor e morte, mas julgou que fosse apenas sua imaginação lhe pregando peças. Podiam ver ao longe o fogo que queimava engolindo o que estava a sua frente. As chamas eram verdes e brilhantes. Tudo o que Sansa sentia era medo. Lembrava-se da devastação após a Batalha da Água Negra quando Tyrion havia usado fogovivo. Sentia-se inútil. Sentia-se impotente diante de tudo aquilo. Não havia sido capaz de salvar Arya. Não era capaz de fazer nada por Jon.

— Não posso ficar aqui — ela disse em um sussurro. Todos a entendera muito bem, no entanto.

— O que está dizendo, Sansa? — seu irmão a olhou nos olhos. Ela encontrou os olhos dele e viu neles o mesmo medo que sentia.

— Não posso ficar aqui, Bran. Não posso simplesmente não fazer nada! — a frustração que sentia era quase compartilhada com os que estavam ali. — Eu vou voltar para lá! — mesmo que fosse uma ideia absurda, mesmo que não pudesse fazer nada de efetivo, não fazer nada em si era muito pior. Nyemeria ergueu as orelhas e saiu de seu colo. Olhou-a altiva, pensou que entendia o que dizia e que tinha certo apoio em sua postura. Entendeu que se fosse voltar, não o faria sozinha.  

Sansa então ergueu-se de forma brusca. Brienne foi tão rápida quanto ela e se colocou na beira da escada.

— Não posso deixar que faça isso, Lady Sansa. — falou determinada.

— E, no entanto, não pode me pedir. Saia da minha frente, Brienne. — a mulher não se moveu. — Isso é uma ordem. — Sansa viu-a fraquejar. Sua honra era tão forte que o sentimento de obediência quase foi capaz de fazê-la ceder. Mas ela não o fez.

— Deixe que a garota vá — Jaime interviu. O encarou surpresa e ele lhe lançou um sorriso. — É o marido dela quem está lá, Brienne. Nem mesmo você é tão dura que não possa perceber como isso a está matando. Ela o ama. Ficar aqui não lhe fará nenhum bem. Sua irmã está morta, seu irmão está a salvo conosco. Ela precisar ir até Jon. E eu tenho um sentimento de que Jon precisa vê-la. — Sansa não entendeu porque ele havia intervido a seu favor, mas sorriu para ele em resposta. Ele parecia o único capaz de amolecer Brienne.

A mulher moveu-se meio passo. Era o suficiente para Sansa passar, mas ela esperou.

— Eu prometi à sua mãe que a manteria segura. Mas percebo que não posso deixá-la presa aqui se o que está em seu coração é o contrário. — disse flexível.

Sansa acenou para ela. Então se agachou para falar com Bran.

— Eu voltarei. Prometo que voltarei. Tudo isso terá um fim logo, então seremos eu, você e Jon, como uma família novamente. Nossa família. — ela tocou a face do irmão e sentiu quando as lágrimas começaram a correr por sua face, então as enxugou rapidamente, não querendo demonstrar fraqueza. — Eu voltarei.

— Eu sei — Bran também tinha lágrimas nos olhos, mas ele também tinha um sorriso contagiante em seus lábios. — Vá lá e lute contra o destino!

Sansa o abraçou com força. Demorou-se naquele gesto, deixou-se aproveitar aquele momento. Então o largou com pesar. Acenou para Meera que lhe sorriu. Quando se dirigiu para a saída, Brienne ainda estava plantada na porta.

— Tente se manter segura — a mulher disse.

— Eu irei — disse com dúvida. Mas não deixou transparecer.

Então abraçou Brienne. Devia muito a ela. Foi por ela que conseguiu chegar até a Muralha e reencontrar Bran. A mulher havia sido quase uma fortaleza ao seu redor, a protegendo, a incentivando. Então a largou antes que voltasse a chorar. Olhou para Jaime e sorriu para ele.

— Obrigada — sussurrou.

Jaime lhe sorriu e fez um gesto para que esperasse. Vasculhou a sacola que ela havia jogado ali de qualquer jeito e lhe jogou Lamento da Viúva. Sansa a segurou com habilidade.

— Caso precise — ele disse. Sansa deu um aceno positivo.

A espada tinha uma capa de couro, então a entrelaçou ao redor de seu corpo. Brienne lhe entregou a tocha que havia reacendido e então deu um passo para que ela passasse. Sansa correu escada abaixo com um aperto no peito, sendo seguida de perto por Nymeria. Montou em seu cavalo e saiu a galope, a loba conseguia facilmente manter seu ritmo. Ia tão rápido que a brisa que soprava quase era capaz de cortar sua face. Podia ver enquanto se aproximava que o terror apenas se tornava mais evidente. Podia ouvir os gritos e lamentos de homens feridos. Viu dragões voando e viu fogo por toda a parte. Tudo queimava, até mesmo a neve.

***

Quando se certificou de que Sansa estaria longe dali e segura, Jon deixou que a fúria tomasse contra de seu corpo. Avançou contra Melisandre e agarrou-lhe o braço.

— Você sabia! — acusou-a. — Vi em seus olhos que sabia quando não esboçou reação de surpresa. Quando viu que era Arya e não pareceu contrariada! — ele apertou suas mãos, sabia que lhe deixaria uma marca, mas naquele momento queria feri-la tanto quando ela o havia ferido.  

— O Deus Vermelho exige seu preço, Jon Snow. Uma vida. Era o que ele queria. Um sacrifício. E foi o que você o deu. Pensou que perdia a mulher que amava, mas perdia um outro tipo de amor. Amor é amor aos olhos de R’hllor, no entanto. Você lhe deu o sangue. Ele lhe retribuiu com o fogo. — Melisandre não se abalou com a fúria de Jon e aquilo o desconcertava de uma forma que só o fazia ter mais raiva.

Jon queria socá-la mais uma vez. Não o fez, no entanto. Reuniu toda a força de vontade que tinha para virar-lhe as costas. Mas antes, porém, lhe lançou um aviso:

— Saia de minha vista! Eu prometo que a mato se a ver novamente. E dessa vez falo sério. — ele a mirou com olhos tão carregados de rancor que por um momento a sentiu vacilar. Pela primeira vez desde que pusera os olhos nela ele sentiu Melisandre perder seu ar de superioridade inabalável.

A mulher lhe deu as costas e partiu. Não se preocupou em descobrir para onde ia, não se importava. Encontrou Edd correndo até ele de forma alarmada.

— O que está havendo? — perguntou ao amigo.

Só então ele se deu tempo para olhar o que acontecia ao seu redor. Desejou que não tivesse feito, desejou ter permanecido na ignorância. Por muito tempo pensou que a Muralha os manteria seguros. Agora, enquanto a assistia perecer aos poucos, quase podendo ouvir gritos reais enquanto caía aos estrondos, percebeu que teria que lutar por sua vida, que nada mais separaria o reino dos Caminhantes Brancos.

— Está cheio deles do outro lado, Jon. Homens que estavam de vigia caíram lá de cima bem diante dos meus olhos, alguns se jogaram em desespero. Os que tiveram tempo de descer informaram que há um exército que quase parece infinito. O que vamos fazer? — Edd era o Lorde Comandante e mesmo assim buscava em Jon algum tipo de comando. Jon percebeu que teria que tomar controle da situação.

— Vamos seguir com o plano. — disse e então foi até Tyrion e Dany. — Tyrion, reúna os homens que instruiu sobre o fogovivo. Dany, faça como planejamos. É a nossa maior arma.

— Podemos vencer isso — ela lhe disse. Tocou-lhe o ombro, o puxando para um abraço.

Foi desconfortável durante o início, não sabia como se portar. Mas viu que o gesto de sua tia era um consolo. Abraçou-a com força e depois a largou, observando enquanto ela caminhava até Drogon e montava nele. O dragão bateu suas asas e mais uma vez Jon sentiu como se o mundo inteiro estivesse tremendo. Viu quando Rhaegal os seguiu e subiram tão alto no céu que pareciam apenas manchas. Viserion logo se reuniu a eles e Jon voltou a prestar atenção ao redor. Tyrion já havia sumido de suas vistas.

— Recuem! — ele gritou. — Recuem e se mantenham em posição! Arqueiros na frente.

Então todos começaram a correr para longe de Castelo Negro, para longe da Muralha. Tormund se precipitou até ele e só então Jon lembrou-se de garralonga. Pensou se devia chamá-la de Luminífera e a ideia lhe pareceu errada. A espada queimava como se fosse uma tocha. Tomou-a em suas mãos, sentindo-se mais poderoso de forma quase instantânea. O selvagem logo se afastou, indo comandar seus próprios guerreiros. Logo havia se formado uma linha de arqueiros na dianteira do exército tão diverso, que se postava agora a uma distância segura da Muralha. As flechas ardiam em chamas. Jon observou o brilho negro de obsidiana na ponta de lanças e espadas e aquilo lhe deu conforto. Não estavam em tanta desvantagem como pensara. Além do vidro de dragão, tinham também o fogovivo que era capaz de afugentar os mortos e, mais que tudo isso, tinham os dragões. E havia também o grande número de homens. Enquanto observava a Muralha ceder os últimos blocos, Jon foi capaz de distinguir as silhuetas dos mortos que compunham o exército dos Outros. Então concluiu que a hora do confronto havia chegado. Nada mais os separava da guerra. Notou quando tudo ficou negro. A escuridão engolindo cada canto, cada homem, cada resquício de vida. Apenas a fogueira que haviam acendido para o ritual ameaçava as sombras.

— Fogo!

E então observou uma chuva de pequenas chamas flamejantes tomar o céu. Enquanto o exército de Caminhantes corria até eles, eram abatidos pelas flechas que conseguiam acertá-los e logo seus corpos começavam a carbonizar. O fogo se alastrou enquanto mais e mais flechas eram lançadas e já não estava tão escuro.

— Estejam preparados!

Foi a vez de Tyrion dar o seu comando. Enormes catapultas de madeira haviam sido construídas e cada uma delas carregava um vidro de fogovivo. Jon observou quando as cordas foram soltas e os frascos verdes foram lançados. Não demorou para que o fogo consumisse tudo o que tocava. Mortos, alguns caminhantes, e até mesmo Castelo Negro. Tudo ardia em chamas. Jon olhou para os lados e viu que a batalha já havia se iniciado nos demais castelos. Viu ao oeste quando Torre Sombria pareceu brilhar. Logo voltou a prestar atenção no que o rodeava e viu quando Daenerys cortou o céu com seu grande e colossal dragão negro. Tinha os outros dois a seguindo e foi em um movimento coordenado que lançaram suas chamas sobre o inimigo.

E então já estavam próximos o suficiente para que pudesse se iniciar uma batalha corpo a corpo. Jon abateu os mortos com facilidade, eles não eram as ameaças reais. Os Caminhantes Brancos eram os reais inimigos. Os únicos inimigos. E foi então que se deparou com um deles. Era alto, os ossos eram velhos e cristalinos, a carne era pálida como leite e os olhos tão azuis que brilhavam, azuis que queimavam como o gelo. Tinha uma grande e fina espada de cristal. O Outro se precipitou e o atacou. Deixando cair sua espada fria que teria partido garralonga se não fosse feita de aço Valiriano. Então o gelo e o fogo se encontraram naquele tintilar de aço e cristal. O gelo em nenhum momento cedeu para o calor das chamas. E assim iniciaram uma dança coordenada. O adversário estava morto, mas parecia tão cheio de vida quanto Jon jamais havia sido. Era pálido, mas tinha a elegância de um rei. E era assustadoramente belo. Tão belo que se Jon não estivesse tão determinado o teria distraído.

E enquanto homens e mortos pereciam ao seu redor, enquanto chamas consumiam tudo o que tocavam, Jon dançou com o Outro como igual. Desferindo golpes controlados, resistentes e implacáveis. Jon girou, fugindo de um golpe frio. Havia lutado com tantos homens em sua vida e até mesmo alguns Caminhantes Brancos, mas aquela era uma dança diferente. Era uma dança onde qualquer movimento precipitado resultaria em seu fim. Era uma dança mortífera. Jon apoiou-se no pé para avançar, temendo que se aquilo demorasse demais acabaria se cansando. Desferiu um golpe ligeiro na direção do peito branco, mas o Outro o deteve. Foi rápido o suficiente para se livrar da espada que se lançou em sua direção e apanhou o inimigo com um golpe no estômago. Não havia sangue. Não havia um guincho de dor. Mesmo assim estava ferido. Então Jon se aproveitou do tempo que o Outro levou para se recuperar e cravou luminífera no peito ossudo. A lâmina afundou de forma macia, como se estivesse sendo enterrada em neve e então as chamas começaram a consumir a carne morta e leitosa. Jon puxou a lâmina que havia penetrado e recuou enquanto assistia o fogo tomar conta do que antes havia lhe oferecido algum risco.

Mas era apenas um.

Havia tantos outros mais.

Então se deu a correr, intervindo em um duelo aqui e ali, desviando do fogo. Viu homens queimarem como palha, viu guerreiros pereceram como crianças verdes. Era a guerra afinal, e em uma guerra tudo o que se perdia era a vida. Mesmo os que não morriam de verdade, mesmo os que supostamente sobreviveriam àquilo. Todos perderiam suas vidas diante dos horrores que presenciavam.

E foi então que viu o vulto vermelho em meio às chamas, em meio à neve e à escuridão. Um vulto cobre e que não era fogo. Era capaz de queimá-lo, mas não o consumia.

— Sansa...? — e então o vulto desapareceu em meio ao caos. Você está louco, Jon Snow.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? A fic está em sua reta final, gostaria muito de saber a opinião de vocês.
Até o próximo beijos ♥



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