Mistakes escrita por Luc


Capítulo 8
Capítulo 08 - Um Tempo Para Pensar


Notas iniciais do capítulo

http://statusescrevendo.wixsite.com/escrevendo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698012/chapter/8

Capítlo 08. Um Tempo Para Pensar...

Os olhos castanho-escuros estavam embaçados, os lábios rosados com alguns cortes, o antebraço enfaixado, a pele branca avermelhada em meio a tantos hematomas, e no queixo um corte severo. Max Greyer não enxergou muito bem quando acordou, mas dava pra sentir um perfume específico que guardou desde o dia que conheceu no mercado, era Nicolas que estava ao seu lado. Em seguida, a visão ficou mais clara e concluiu que estava num hospital. Já havia recebido todos os cuidados após ser espancado há poucas horas atrás.

            - Nicolas... – Disse num tom baixo tentando se sentar.

            - Calma, é melhor não fazer muito esforço. – Tentou ajuda-lo.

            - Está tudo bem, não está doendo tanto... Ai Ai Ai. – Dores nas costas.

            - Fica parado, a enfermeira pediu pra você não se mexer.

            - Droga! Tem muito tempo que eu tô aqui?

            - Algumas horas, ainda nem escureceu... – Nicolas foi até a janela e abriu as persianas para que a claridade invadisse o quarto.

            - E você está aqui há muito tempo?

            - Eu ajudei a te trazer... Você estava no chão próximo a biblioteca...

            - É... Eu lembro de algumas coisas... – Evitou mais diálogos.

            - O que aconteceu, Max?

            - Eu preciso ficar sozinho. Eu... Eu... – Hesitou.

            - Foi porque seu irmão pediu? Você está agindo estranho desde que... Quem fez isso?

 Muitas perguntas, poucas respostas.

            - Nicolas, é mais complicado do que você imagina...

Interrompendo a conversa, Christian e Adam chegaram. Preocupado, o milia se aproximou do amigo com um abraço sem se importar com os hematomas.

            - Quer terminar de me matar? – Max disse.

            - Quem fez isso com você, Max? –

Silêncio momentâneo.

            - A outra pessoa está pior? – Adam perguntou.

            - Não tive tempo nem de revidar...

Em seguida, uma enfermeira, que conhece Nicolas e Adam por também cuidar de Caleb no mesmo hospital, informou que eles não poderia ficar muito tempo no quarto.

            - Mais dez minutos e depois vocês vão ter que ir embora, ok? E Nicolas, consegui uma brecha para você ver seu irmão.

Silêncio momentâneo.

            - A gente se fala depois... – Max indagou evitando olhares.

Adam e Nicolas deixaram o quarto.

A sós, Chris e Max puderam conversar melhor sobre o ocorrido.

            - O Lazer fez isso pra mandar um recado para o Eric...

            - Caralho! Max, isso é loucura...

            - Eu sei, eu sei. É por isso que eu... que eu vou contar pra polícia sobre o assalto e resolver isso tudo logo.

            - E o Eric? Ele sabe disso?

            - Não, eu vou contar pra ele, mas não vou mudar minha decisão. – Convicto.

            - E o Nicolas?

Silêncio. Max respirou fundo, abaixou a cabeça pensativo e hesitou antes de falar do rapaz que vem mexendo com seus sentimentos. Inegável que o jornalista tem um forte impacto em seu coração, beirando a algo bem maior do que imaginou sentir. Mas é tudo tão confuso e novo para Max que ele ainda é incapaz de definir suas emoções.

            - Eu não sei, Chris... não era para ser assim, eu nem imaginava que fosse gostar de... Você melhor do que ninguém sabe que eu nunca... – Confuso.

            - Você sempre reprimiu essa vontade.

            - Mas eu gosto de mulheres...

            - E desde quando isso quer dizer algo? Você pode ser bissexual, Max.

            - Eu não sei...

            - O que você sente por ele? Ou sei lá, sobre essa situação com ele?

            - Eu estou confuso, não era o que eu imaginei, mas quando chego perto dele fico meio...

            - Com o coração acelerado?

            - Isso soa tão idiota, tão gay! – Abaixou a cabeça. Orgulhoso demais para falar de um assunto que sempre considerou brega.

            - Você está confuso, eu imagino que sim, mas sabe que pode contar comigo, ne? Você precisa descobrir o que quer, e quem você é. Não digo isso nem pelo Nicolas e sim por você, cara.  

            - Por agora, está decidido, eu vou falar com a polícia sobre o assalto e dizer que eu estava envolvido.

            - Estou orgulhoso de você. – Christian respondeu, mesmo sabendo da possibilidade de Max pegar anos de cadeia.

No terceiro andar do hospital, o quarto onde Caleb estava internado o silêncio é absoluto. Ver o irmão naquele estado ainda era algo que Nicolas não podia acreditar. Tão cheio de vida, tão cheio de sonhos e simplesmente parado em coma, com uma possibilidade remota de acordar. De um lado, em pé próximo a cama, Adam controlava as lágrimas. Do outro, Nicolas estava sentado numa poltrona, segurando a mão de Caleb, esperando que ele pudesse acordar como sempre esperava a cada visita.

            - Tô sentindo sua falta, Caleb. Acorda, por favor. Eu preciso tanto dos seus conselhos... – Se emocionou.

            - Ei, e os meus não basta? – Adam sorriu.

Risos contidos.

            - Você é meu lado malicioso e o Caleb é o meu lado puritano. Ele sempre foi muito...

            - Correto? Eu sei. Isso é o que mais me faz sentir falta dele. Os sermãos, o jeito autoritário de falar... Ele é a nossa cabeça.

            - Ele precisa acordar... – Nicolas se emocionou.

            - Ele vai... Eu acredito que vai! – Adam deixou que as lágrimas caíssem.

Na delegacia, Lydia recebeu de Derek todos os passos de Eric nas últimas horas e ficou desconfiada do fato dele visitar uma loja de antiguidades duas vezes. Esperta, ela já estava sacando a jogada do marginal que estudou o lugar que pretendia assaltar. Ela estava um passo à frente de Eric e ele precisava tomar cuidado, ou então, certamente a cadeia o espera.  

Não demorou muito para que Eric soubesse da notícia sobre seu irmão e desesperadamente partiu para o hospital. Quando chegou no quarto de Max, sua primeira ação foi abraça-lo. Ignorou toda dor e hematoma e simplesmente o abraçou. É nítido o amor e o companheirismo que tem pelo irmão.

            - Cara, o que aconteceu? Quem fez isso contigo?

            - Eu estou bem, relaxa...

            - Foi o Lazer. – Christian indagou dizendo a resposta que Max não queria dizer.

Max agradeceu através de olhares.

            - Lazer fez isso? – Olhos arregalados. – Droga... – Andou pelo quarto tomado pela culpa. – Max, foi mal, cara, eu... Eu...

            - Eric, relaxa. Eu tô bem, ta tranquilo... Na verdade eu quero conversar com você sobre uma parada.

            - Vou deixar vocês sozinhos... – Christian saiu do quarto.

Quando ficaram a sós, Eric permaneceu em silêncio aguardando as palavras serem ditas por Max, que também precisava de coragem para falar sobre sua decisão de contar a verdade para a polícia. Por longos segundos a apreensão de ambos os lados tomou conta do quarto e tudo que podiam ouvir eram os ecos de alguns passos andando pelos corredores, provavelmente eram as enfermeiras trabalhando.

            - Eu tomei uma decisão importante e quero que saiba que eu tomei por mim. Você sabe que eu estive por perto sempre que você precisou, então agora eu preciso que...

            - Se for falar que é viado, deixa pra lá, cara. Eu não vou me intrometer, só não consigo entender o que um cara consegue fazer melhor que uma mulher na cama... Aliás, você é o que come? – Curioso, confuso, mas no fundo, a sexualidade do irmão pouco importava. Talvez sempre soube, porém nunca quis admitir.

            - A parada é séria, Eric, e não, não é sobre minha sexualidade. É sobre o que nós fizemos... Sobre aquela noite do assalto.

            - Max... – Resmungou. – Ainda nisso? Cara, deixa isso pra lá. Se afasta daquele moleque e consegue outro viado para você comer, fim da história.

            - A gente botou um cara em coma, Eric. Isso é sério. É uma vida!

            - Eu botei uma vida em risco. Não pegue essa responsabilidade pra você. Eu te disse que a culpa seria toda minha.

            - E como você fica bem com isso tudo?

            - Eu só não penso. – Respondeu friamente.

            - A culpa é nossa, mas eu tomei a decisão de ir até a polícia falar toda verdade. – Indagou sem mais delongas.

Eric ficou pretérito. Longos segundos de silêncio e o barulho de salivas nervosas sendo engolidas se tornou alto diante daquela situação.

            - Você não pode fazer isso.

            - Eu não consigo mais viver desse jeito, irmão. Olha para nossa vida. A gente não trabalha, a gente não tem nada. Vamos viver assim até quando?

            - Isso é por causa daquele cara? Qual é, Max.

            - O Nicolas só me ajudou a perceber que dá tempo da gente ser alguém. Olha pra mim. – Pediu atenção ao irmão ao vê-lo se afastar da cama. – Isso tudo é sobre minha vida, nossa vida e o futuro que a gente ta construindo... Não dá mais!

            - Max... – Não havia argumentos.

            - No fundo eu sei que você é uma pessoa boa e que também quer deixar isso tudo para trás. A melhor maneira é fazer o que é certo.

Novamente o silêncio tomou conta do quarto, os irmãos se fitaram com olhares. De um lado a angustia, do outro o orgulho por finalmente tomar uma decisão em prol do que realmente acredita.

Eric deixou o quarto sem mais palavras e por alguns minutos Max ficou sozinho, pensando sobre tudo que decidiu.

            - Só me dá alguns dias a mais, pode ser? – Voltou novamente. Apreensivo.

Max respondeu com um sim balançando a cabeça e Christian chegou no quarto novamente.

            - Então?

            - Ele pediu duas semanas... Vou dar isso a ele.

            - Tem certeza? Sabe lá o que ele vai fazer nesses dias...

            - Tenho. Eu também preciso desses dias para pensar mais... – Reflexivo.

Pouco antes de escurecer, Max resolveu deixar o hospital, contrariando o pedido da enfermeira que insistiu em faze-lo esperar pelo resultado do raio x torácico. Suas tentativas foram em vão, pois apesar de algumas dores, Max não estava com a menor disposição para ficar sentado numa cama a espera de exames.

Quando passou pela porta de saída do hospital, ele foi até o carro de Christian estacionado a poucos metros à frente, mas antes que pudesse entrar, recebeu uma ligação desconhecida cujo falava sobre a oportunidade de trabalhar como segurança noturno de um dos andares de um prédio no centro da cidade. Max não sabia, mas o protagonista dessa oportunidade veio de uma das pessoas que adquiriu não só carinho, mas também preocupação por ele, Nicolas. Com um sorriso raro no canto da boca, transformando a seriedade no rosto em alegria, ele entrou no carro e apesar do misto de sensações, tristeza por saber que provavelmente não poderia ter o emprego pois estava prestes a se entregar para polícia, ele também estava cultivando o orgulho próprio por caminhar em direção ao seu novo ‘’eu’’.

            - O que foi? Que sorriso é esse? – Christian perguntou.

            - Sei lá, cara... eu tô acordando pra vida.

Anoiteceu... E entrelaçado aos edredons deitado no sofá, entretido com as atualizações de seu celular, Adam conversava com Christian e o teor da conversa não poderia ser outro além de sexo. Algumas fotos íntimas foram trocadas, mas logo o clima foi interrompido pela voz entusiasmada de Nicolas invadindo a sala após receber uma ligação de seu chefe Joseph que o informou sobre uma ligação que fizeram para Max.

            - Acho que vão chamar ele nos próximos dias para fazerem algumas perguntas... espero que ele aceite e fique feliz com essa oportunidade, acho que vai...

            - Calma, respira... – Risos. – Do que você está falando?

            - O Joseph me ligou dizendo que um colega dele pensou em contratar o Max para trabalhar como segurança noturno no prédio da ‘’Seattle Now’’.

            - Você já está querendo empregar o futuro marido... olha, não tá perdendo tempo.

Gargalhadas.

            - Volte para suas fotos sujas. – Debochou antes de deixar o cômodo.

            - Eu dei duro para ter esse corpinho, tenho o direito de exibir. – Adam disse num tom alto entre risos. 

Por volta de sete da noite, uma hora antes da loja de antiguidades, conhecida como ‘’O antigo moderno’’, fechar o expediente, Eric estava sozinho, alguns metros do outro lado da rua, com um capuz na cabeça tapando sua face para que não pudesse ser reconhecido. Ele esperava diminuir o fluxo de pessoas para que pudesse executar o assalto na expectativa de conseguir dinheiro e também algumas raridades valiosas o suficiente para finalmente quitar sua dívida. Depois do que fez o irmão passar, era preciso correr contra o tempo antes que algo pior acontecesse. Situações graves pediam medidas radicais.

Os minutos foram se passando e finalmente a loja ficou menos movimentada, até restar somente os gerentes, que eram um casal de senhores, de aparentes sessenta e oito anos. Eles estavam prontos para fecharem a porta quando viram um homem aproximar, mostrando a arma sutilmente escondida na cintura. Eric ficou paralisado pensando se devia continuar o ato ou voltar para casa. Sua consciência estava pesada até que então, virou as costas e não executou o assalto.

Quando Eric chegou em casa, ele não pôde esconder a ira que estava sentindo pelo conflito interno entre o que ele devia fazer, a preocupação com o irmão, a polícia e a possibilidade de ser preso. Aos gritos, ele acordou Max, que se levantou do sofá assustado. Logo notou que seu irmão estava aflito e sem controle de suas emoções.

            - Eric, o que foi? Aconteceu alguma coisa?

            - Foi mal, irmão. Eu tenho que fazer alguma coisa. Depois do que aconteceu com você, eu tô desesperado. – Tom afoito.

            - Calma, cara. – Max se aproximou ao ver que o irmão estava ansioso. Logo lembrou-se das crises que Eric teve quando parou de usar drogas. – Relaxa. Respira.

            - Foi mal, cara, eu... eu... – Eric o abraçou. – Eu não sei o que fazer. – Resmungou entre os abraços.

            - Não faça nada, jáe? Chega de assaltos. Não vamos piorar as coisas.  

            - Já piorou. Olha só para você? Isso é culpa minha.

            - Isso vai acabar... Nós vamos fazer o que é certo.

            - Max... – Abaixou a cabeça. Silêncio prolongado. – Eu não vou falar para polícia sobre o que aconteceu naquele assalto. Se eu fizer isso, posso pegar anos de cadeia.

            - Qual é, Eric, nós precisamos fazer isso...

            - Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você ia vir com esse papo. Qual foi? Tu comeu aquele moleque e de repente começa agir desse jeito.

            - Você sabe que não é sobre isso. É só olhar pra vida que a gente leva que você vai entender.

            - Você pode mudar sem precisar ficar anos na cadeia. – Argumentou ainda reprovando a ideia.

            - Nós podemos mudar, Max. – Sempre lembrando de incluir o irmão.

A Verdade é que enquanto Max ainda nutre um desejo de mudança, enxergando e cultivando uma expectativa de um futuro melhor, Eric já havia perdido totalmente a sua esperança e por mais que tente cogitar a ideia de mudar, havia algo que o puxava para o lado mais escuro de um caminho. Sempre foi muito revoltado com a vida que levou com os pais e a realidade dura o transformou numa pessoa totalmente sem sonhos.

            - Eu acredito em você, mas esse papo não funciona comigo. – Levantou-se da cadeira, juntou o dinheiro e encaminhou até seu quarto.

            - Então vai ser assim?

            - Eu nem te reconheço mais. – Parou no corredor.  

            - Eu continuo seu irmão, Max. Nada mudou.

            - Nada? Primeiro você começa a se aproximar daquele cara, depois começa a comer ele, agora ta estranho, falando como se... se gostasse dele. Eu já botei um cara pra me chupar quando eu tinha quatorze anos e não passou disso, Max. Só que o que está acontecendo contigo é mais sério. Você...

            - É isso que te incomoda?

            - Não! Mas você mudou por outra pessoa, isso que me incomoda. Eu não ligo se tu gosta de comer viado, se acha que eles fazem algo melhor que as mina... Eu sempre estranhei porque nunca vi um cara com tanta facilidade pra chamar atenção de mulheres e ainda sim pegar poucas... Eu sempre desconfiei, Max, e isso não importava porque você é meu irmão. Traz quantos homens você quiser, eu posso até ouvir vocês transando, acha que eu ligo? Não, porque você vai ser sempre meu irmão. Mas quando se toma uma decisão dessas, de ir até a polícia e falar toda verdade... Eu... – hesitou. – Você que ta tomando essa decisão, não eu.

            - Não estou te entendendo. Eric, eu...

            - Eu te amo, irmão. Mas quando você for falar com a polícia... nossa relação vai... – Engoliu seco, não terminou a frase e fechou a porta do quarto, controlando as lágrimas. Eric estava abalado.

Foi difícil para Max assimilar tudo que o irmão disse. Não estava disposto a mudar de decisão, mas não podia negar que pensar num possível afastamento do irmão era doloroso demais. Para não passar a noite sozinho, Max resolveu pedir pra que seu melhor amigo fosse até sua casa. Sentados no degrau da pequena escadinha que dava acesso a humilde varanda, a conversa entre Max e Christian era sobre o futuro incerto que os esperavam. Estava sendo um dia bastante reflexivo para ambos, principalmente pra Max, que há muito o que decidir.

            - Isso tudo é uma loucura, não é? – Christian disse.

            - É... – Cabisbaixo.

            - Fica tranquilo, Eric vai entender. Eu não consigo nem imaginar vocês afastados. Já passaram por tantas coisas. Ele só precisa de tempo.

            - Ele disse que sempre desconfiou de mim.

            - Uma vez me perguntou se você me comia ou se eu te comia. – Riu ao lembrar.

            - Ta de sacanagem?

            - Ele nunca me viu com muitas mulheres, exceto minhas colegas que ele ja pegou, então... Na verdade, por mais discreto que um cara gay possa ser, sempre vai ter algo que indica. Eu sou discreto e procuro não dar pinta, até por causa da minha carreira no exército. Eles não tem muita tolerância, então prefiro ser cauteloso. Mas também não é algo que eu fico escondendo com medo de descobrirem, saca?

            - Eu sempre tive vontade... Aliás, noventa por cento das minhas punhetas eram com vídeo gays... Mas sair com um cara assim... nunca

            - Só o Nicolas. – Chris indagou.

            - Nicolas... – Tom pensativo. -  É... Esse moleque...

            - Dá pra ver que tu gosta dele, Max. Mais cedo ou mais tarde algum cara ia aparecer na sua vida.

            - Não era para ser assim. Quando eu me aproximei dele, eu lembro que meu objetivo era só saber as informações que a polícia tinha, mas... não cheguei nem perto disso.

            - Está apaixonado, não está? – Questionou, sabendo que sobre sentimentos amorosos, Max nunca falou a respeito.

Max olhou para o céu escuro, sentiu o vento a brisa frienta da madrugada e hesitou pouco antes de responder.

            - Minha cabeça parece que vai explodir...  

            - Você quer ficar perto dele, quando recebe uma ligação ou uma mensagem, você sorri vendo a foto dele, quando ele aparece, você consegue reconhecer o perfume de longe e ficaria horas abraçados sentindo cada vez mais... To errado? É isso que é estar apaixonado, Max. Não adianta fugir.

Silêncio momentâneo. Max engoliu seco, seu coração disparou e as palavras ditas por Christian, inegavelmente poderiam se encaixar nos seus sentimentos.

            - Ele vai me odiar pra caralho quando contar a verdade... – Abaixou a cabeça.

            - Eu não sei o que vai acontecer, mas vai passar. – Apalpou o ombro do amigo.

            - Espero que sim.

Por mais algumas horas, Christian e Max jogaram conversa fora.  

Na manhã seguinte, Lydia já chegou na delegacia ouvindo as novidades de seu parceiro Derek que contou em primeira mão sobre a ligação de um quase possível assalto que aconteceu na noite passada.

            - Ele não completou o assalto, mas esteve lá.

            - Os donos do loca ligaram?

            - Sim. Eles ligaram e disseram que o ladrão esteve lá, mas não fez o assalto. – Derek explicou.

            - Droga! – Lydia iria precisar de mais um plano pra pegar Eric.  

Enquanto isso, Nicolas e Adam estavam a caminho do trabalho quando foram surpreendidos pela presença de Max que estava há poucos centímetros da portaria, certamente a espera de Nicolas, que sorriu ao vê-lo.

             - Eu vou subir e deixar a sós... – Adam disse.

            - O Christian está ali no carro. Ele pediu pra você ir até lá falar com ele.

            - Hum... interessante. – Adam foi até ele.

Ao chegar próximo ao carro de Christian, que estava com as mãos de fora acenando para ele, Adam sorriu e não pôde deixar de zombar em relação a troca de fotos íntimas na noite passada.

            - Nada mal ontem...

            - É assim que eu tenho me sentido, já que você me deixou na mão e sem sexo... – Christian riu.

            - Esse é o meu jeitinho. – Irônico. – O que ta fazendo aqui tão cedo?

            - Vim te perguntar uma coisa... Será que dá pra você fazer um favor grande pra mim?

            - Depende... diga.

            - Preciso que você se arrume e saia comigo hoje a tarde. É um casamento que eu tenho que ir hoje a tarde, mas não posso sozinho.

            - Casamento? Ah...

            - Por favor, eu fico te devendo essa.

Adam desconfiou, mas acabou aceitando.  

Enquanto isso, Nicolas e Max deram início a conversa.

— Você veio para a entrevista? Achei que fosse só na semana que vem. – Nicolas perguntou.

            - Não, eu vim falar com você. Mas, espera! Como você sabe que eu... – Desconfiou. – Foi você! Cara, sabia que tinha dedo seu nessa história... valeu pela dica, eu gostei muito. – De seu jeito mais informal, Max estava agradecido.

            - Que bom que está entusiasmado. Como está o corpo? Os machucados estão doendo?

            - Só o braço enfaixado, mas nada demais. tranquilo...

            - Então... O que você quer falar?

            - Eu andei pensando numas coisas e eu tô descobrindo muita coisa que antes eu não... – hesitou. – Eu não pensava. Eu sei que você é um cara cheio de projetos, tem um trabalho maneiro, até li sua última matéria no jornal.... Nós somos de mundos diferentes, mas...

            - Max...

            - Tem como você ficar alguns dias desligado de tudo e fazer uma loucura comigo?

            - Loucura?

            - Eu também não sei, eu só preciso fazer uma coisa antes de tomar uma decisão importante.

            - O que você quer fazer? Eu não to entendendo, Max...

            - Tenta arrumar dois dias de folgas. Sei que deve ser difícil, mas só te peço isso.

            - Eu... Eu... - Gaguejou. – Eu tenho que tentar falar com meu chefe. Ele... – Confuso.

            - Por favor... – Encarou com olhares.

O jornalista estava confuso, tão pouco conseguiu interpretar a proposta, mas o mistério dos olhos castanho escuro era envolvente o suficiente para perder as estribeiras e aceitar o convite.

Logo, Nicolas e Adam tinham que ir para o trabalho. Dentro do elevador, Abraham aproveitou para contar a Adam.

            - Eu não vou julgar, mas isso tudo está muito estranho. Como assim? Eu não entendi nada! – Gesticulou com as mãos.

            - Eu também não, mas eu quero ir. Eu estou ficando louco, não estou? – Apreensivo, ansioso e ao mesmo tempo rindo de seu comportamento.

            - O que você vai falar para o Joseph? – A porta do elevador se abriu. – Ele não é tão flexível assim.

            - Eu vou dizer que estava doente e pedir para nossa amiga enfermeira conseguir um atestado.

            - Meu Deus. Quem é você e o que fez com meu amigo Nicolas? – Risos.

            - Não sei o que está acontecendo, mas estou adorando.

Inspirado, Nicolas conseguiu escrever sua matéria da semana com bastante facilidade e ainda conseguiu inspiração para deixar algumas possíveis matérias adianta para o próximo mês. Nada como uma boa dose de amor e descontração para que a mente consiga trabalhar com facilidade. Depois do horário de almoço, Nicolas Abraham estava ansioso para que as horas se passassem mais rápido.

Na mesa ao lado, acompanhando o agito de pernas ansiosas, Adam não conteve os risos.  

            - Eu nunca te vi assim... – Disse num tom baixo para não serem flagrados conversando em expediente.

            - Meu coração está acelerado desde cedo.

            - Esse é o poder do Max. – Ironizou. - Só falta mais uma hora, relaxa.

A cada dez minutos Nicolas checava o relógio, ia ao banheiro, tomava uma xícara de café na sala de descanso, tudo para tentar fazer a hora passar mais rápido, até que por fim, finalmente acabou seu expediente. Juntou suas coisas, apressou Adam e adentraram ao elevador acompanhado de alguns executivos do andar acima.  

            - Eu não tinha encontrado o momento pra falar, mas estranhamente o Christian me pediu um favor hoje.

            - Favor? Como assim?

            - Ainda não sei também, mas diferente de você eu sei controlar minha ansiedade. – Debochou.

Entre risos e brincadeiras, os amigos saíram do elevador e caminharam pela calçada até que encontraram Christian e Max dentro de um carro os esperando.

            - Ei. Aceitam uma carona? – Chris disse.  

Logo entraram no carro e foram para casa.

Chegando lá, Christian e Adam sentaram no sofá a espera de Max e Nicolas, que estavam no quarto.  

            - Eu não faço ideia do que eles vão fazer, você sabe? – Adam perguntou.

            - Max não quis me contar... – Mentiu. Ele sabia, mas não quis cogitar a possibilidade de Adam contar.

            - Você sabe que isso é loucura, né?

            - Confia em mim. – Max pediu. Estava um tanto sério e reflexivo. Uma avalanche de sentimentos o consumindo.

            - O que é isso tudo? A gente precisa conversar sobre...

            - Eu vou falar sobre tudo, mas quero que você faça isso por mim. – Max se aproximou. – Estou te pedindo.

            - Eu estou muito confuso...

            - Eu sei... Eu também. – Olhares fitados. 

Cada vez mais ansioso e ao mesmo tempo sem saber o que esperar, Nicolas foi apressado ao arrumar sua mochila, escolheu roupas aleatórias, pegou sua escova de dente e ficou pronto para encarar o inesperado.

            - Então, vamos?!

Juntos, foram até a sala onde lá encontrou Adam e Christian jogando biscoito um contra o outro. Em pouco mais de meia hora e a sala já estava uma bagunça.

            - O Chris vai limpar tudo depois.

Risos.  

            - Estão prontos? – Christian perguntou.

            - Sim. – Nicolas respondeu. – Eu volto daqui há... – olhou para Max.

            - Alguns dias.

            - Eu não tenho a menor ideia do que vocês vão fazer, mas, divirtam-se! Transe bastante. – Adam Sussurrou para o amigo.  

            - Vou levar a mochila para o carro. – Nicolas disse.

O carro de Max estava estacionado na calçada próxima a casa.

Quando ficou sozinho com o amigo, Christian aproveitou para continuar incentivando.

            - Você está fazendo o certo. Quando você voltar, eu já vou ter um advogado bom para te ajudar. Fica tranquilo.

            - Valeu, Chris. – Max o abraçou.

Do lado de fora, enquanto guardava a mochila, Nicolas pôde ver o abraço de Chris e Max e o ato o deixou curioso e ao mesmo tempo ainda mais confuso sobre o sentido dessa viagem.

            - Divirta-se. Faça o que você tem vontade, diga o que sente e se entrega. – Chris indagou por fim.

Eles entraram no carro e depois de mais uma breve despedida, partiram.

O olhar de Max era confuso, carregado de medo por saber que quando voltasse pra cidade, sua vida teria um rumo totalmente diferente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mistakes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.