Todos que olhavam para Leon sabiam que o futuro do garoto já estava perdido. Por muito pouco ele havia conseguido se formar, mas sem qualquer grande mérito quanto a isso. Era sabido também dos problemas da família dele, o que fez o garoto começar a ir para o lado do crime.

Por semanas seguidas ele passou indo a detenção nos sábados. Alias, estar na detenção era algo normal para ele. Parecia que o diretor tinha uma implicância com ele.

Ele passou a madrugada da véspera de seu último dia de aula no colégio escrevendo aquela carta, tentando usar suas pífias habilidades de escrita para dizer o que sentia a uma garota, mas não teria coragem de dizer pessoalmente. Chegou ao colégio e ninguém notou-o colocar o envelope dentro do armário da destinatária.

Leon manteve-se observando de longe e a viu abrir a porta de metal. Ela notou algo cair, pegou na sequência e leu: De um admirador secreto.

Imediatamente, ela virou a cabeça para os lados, a procura do que quer que fosse. Num canto estava Leon, encostado na parede, de braços cruzados. Seus olhares se encontraram. O garoto desviou com vergonha e a menina deu um sorriso. Decidiu ler a carta mais tarde, em seu quarto.

***

Algumas horas depois, Lisa sentou-se em sua escrivaninha e abriu aquele envelope um pouco sujo, amassado, fechado com cola. Haviam apenas duas folhas de papel, arrancadas de um caderno. Não parecia ser algo feito com muito capricho, a começar pela letra e alguns rabiscos para corrigir as palavras escritas erradas. Começou da primeira linha:

“Lisa,

apesar do colégio inteiro achar que eu tenho os maiores culhões, não tenho coragem alguma de te dizer pessoalmente o que escreverei aqui.

Foi em mais um dos meus sábados na detenção que eu a conheci melhor. Para mim, no começo, você era só mais um patricinha fútil. Mas, até o final do dia já tinha uma visão completamente diferente. Digamos que você seja apenas uma menina normal, que gosta de garotos, maquiagem, coisas rosas. Isso, claro, pincelando sobre. Você é inteligente e vai alcançar coisas na vida que eu nunca sequer poderei imaginar. Alias, todos os quatro que estavam comigo na detenção naquele dia. Uma patricinha, um nerd, um atleta e a esquisitona.

Eu sou o caso perdido! Passei raspando em todos os anos do colégio e este não foi diferente. A minha família está feliz por eu conseguir me formar. Acharam que eu viraria um marginal antes disso e largaria tudo. E bem, era o que estava para acontecer. Eu estava mesmo desvirtuando do caminho. Cada dia estava mais próximo daqueles que fazem as coisas erradas.

Podem ter sido os problemas que tenho na família que me fizeram tentar seguir por esta trilha. Eu tentava me rebelar contra a minha própria vida. Não entendi muito bem ainda, foi isso que o psicólogo da escola me falou. Claro que fiquei puto e achei que ele tava falando merda.

Só que ai veio aquele sábado e praticamente tudo mudou. Tá, sei que teve aquele lance entre a gente. E não, eu não contei para ninguém.

E depois daquela tarde, algo em mim mudou. A princípio não sabia o que era, mas tinha certeza em ser relacionado a você. Nunca tinha sentido nada parecido e por nenhuma outra menina. Não comentei com ninguém. Com o tempo acabei percebendo o que era e deixei trancado dentro de mim, até agora.

Sei muito bem que nunca daria certo entre nós, porém aprendi que o que sinto é algo completamente fora do meu controle.

Eu me perdia em pensamentos em qualquer lugar e me pegava te olhando nos corredores da escola. E era só isso. Nunca poderia chegar perto de você, somos de extremos opostos, tanto no colégio como na vida futura. Eu sou uma perda de tempo! Apenas isso!

Só queria colocar em palavras o que tem no meu coração e falar o que sinto: Eu te amo!

De qualquer forma, desejo o melhor para a sua vida.

Nos vemos no baile de formatura e na formatura também.

Com carinho,

Leon”

***

Cerca de dois dias passaram-se e era a noite do baile de formatura. Todos os formandos participariam. Na semana seguinte, seria a cerimônia de formatura, com os familiares dos alunos presentes.

A escola foi toda decorada com balões e luzes, seria uma noite mais que especial. As meninas escolheram os melhores vestidos e os garotos pegaram os ternos emprestados dos pais.

Leon foi ao baile só por ir mesmo. Estava desacompanhado, encostado num canto tomando um copo de ponche e observando os outros dançarem.

Até que uma garota, com um vestido de cor azul se aproximou dele, era Lisa. Ele quase engasgou com a bebida.

—Concede-me a honra de uma última dança? - ela foi direta, estendendo a mão

Ele sorriu, pegou a mão dela e foram a pista de dança. Algumas músicas depois, eles estavam abraçados por conta do ritmo mais lento que tocava. Consequentemente, aquilo levou a um beijo.

***

Dez anos se passaram desde a formatura. E um reencontro entre os formandos foi marcado na mesma escola.

Leon e Lisa estariam lá. E esse também seria um reencontro para eles, que não se viam desde que concluíram o colégio.

Lisa estava sentada com a filha, conversando com uma amiga. O salão já estava com bastante gente, até que as portas se abriram, fazendo todos ficarem em silêncio. Um homem com roupas formais entrou ofegante.

Ele e Lisa se reconheceram apesar dos anos que correram. E as lembranças daquela noite despontaram em suas mentes, como um momento especial, mas que nunca foi para frente. E nunca iria! Afinal, eles eram o oposto um do outro.