Astronaut: ReFlying escrita por Kaline Bogard


Capítulo 29
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Antes tarde do que nunca!!

'-'

Daqui pra frente só tem mais três capítulos! Já podemos começar a chorar e se despedir :D



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Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 27

Era uma menininha de pele morena e cabelos presos em uma trança, de mais ou menos uns quatro anos, que exibiu um sorriso grande e feliz!

 

— Olá, coelhinha — Wade acenou para ela, cumprimentando em um tom afável que Peter não se lembrava de ouvi-lo usar antes.

 

— Papai!!

—--

Peter olhou de Wade para a menina.  Aquilo era brincadeira? Não, com certeza não.  A criança não fingiria a felicidade tão bem. Que descoberta chocante!

— Ellie-Bellie, esse é o Petey.  Petey, essa é a Ellie!

— P-prazer — Peter disse, tentando não cair do galho da árvore.

A menina abriu a boquinha de espanto e apontou para ele.

— Petey? Você existe de verdade? Meu vovô diz que o Papai tem miolo-mole e inventa um monte de coisa. Pensei que Petey era que nem as vozes.

— O Petey é bem real — Wade cutucou o garoto com o indicador — E é mais legal do que as vozes.

— Papai te ama você — Ellie revelou naquele jeito sincero e inocente de toda criança, antes de apoiar os bracinhos no batente da janela e fazer um bico — Na última visita ele só falou de você o tempo todo.

— Ele também ama você — Peter tentou ignorar o sorrisão de Wade — Muito mais do que me ama. Pode apostar.

— Vocês estuda junto, vão casar depois da formatura e Petey será minha nova mamãe. Viu? Sei a história inteira — ela ainda soou um tanto ciumenta e Peter quase caiu da árvore.

— Wade...

— Que foi? Aprendemos que é importante fazer planos a longo prazo.

— Papai — a menina chamou-lhe a atenção, carente — Ta tomando o remédio direitinho? Você prometeu!

— Todo santo dia. E você? Fez o dever de escola que eu te passei?

A menina sorriu largo.

— Sim! Fiz um pum bem fedido na sala e sai de fininho!! — e cobriu a boca com as mãozinhas para abafar a risada.

— Minha menina!

— Wade!! — Peter recriminou.  Que loucuras mais o rapaz ensinava para a criança?! Que péssima influência!

— Oh! — Ellie exclamou olhando assustada para dentro do quarto — Acho que o vovô ouviu a gente...

— Mas que caralho voador — Wade resmungou e ganhou um soquinho de alerta no ombro.  Ignorou o gesto de Peter e enfiou a mão no bolso do moletom, tirando depressa a bonequinha que afanara no shopping noite passada — Pra você, coelhinha — arremessou com cuidado.

Ela pegou o brinquedo, ágil.  Franziu as pequenas sobrancelhas com desconfiança.

— Você não roubou isso, roubou?

— Ops...

— Papai, o que eu disse? Roubar é muito feio... oh, não! Vovô tá chamano eu!

— Hora de ir, baby boy — disse ao mesmo tempo em que saltava da árvore e Peter o imitava — Bye, bye, Ellie-Bellie!

A menininha acenou para os dois que se puseram em fuga rápido, antes que fossem pegos em flagrante.  De tão desesperado Peter nem precisou de ajuda pra saltar o muro de volta. Tomou impulso sozinho e em dois movimentos estava a salvo na rua, antes mesmo de Wade.

Porém, só se sentiu seguro quando saiu não apenas da rua, mas do bairro.  Caminhou apressado, quase correndo. Enquanto Wade o seguia mais tranquilo, as mãos cruzadas atrás nuca encapuzada, volta e meia assobiando daquele jeito como um passarinho.

Ao aproximar-se da estação de metrô, finalmente Peter parou e respirou fundo.

— Cara, você tem uma filha!

— Ótima dedução, Capitão Obvio. A gente acabou de te apresentar a coelhinha. Ei, que me diz de um hot-dog? — apontou a barraquinha parada ao lado da entrada.

Peter não estava exatamente faminto, mas o lanche cairia bem.  E poderiam conversar enquanto comiam.

— Tudo bem.

Tiveram que esperar quase dez minutos, rotina para qualquer coisa em New York.  Com os hot-dogs e latinhas de refrigerantes na mão sentaram-se no meio fio, alheios a todas as pessoas que iam e vinham na calçada, ao transito infernal na rua.

— Quantos anos você tinha quando ela nasceu? — Peter perguntou antes de dar uma mordida no pão.

— Uns catorze anos — a resposta veio entre mastigadas — Tempos insanos, baby boy. Tu nem pode imaginar...

— Ah, eu posso.  Totalmente posso.

— Acredita que aquela coelhinha linda saiu desse saco aqui — usou a mão que segurava a coca-cola para apontar o meio das pernas — A nossa semente é boa.  Eu se fosse você experimentaria.

— Passo.

— Petey é duro na queda, mas a gente é mais teimoso.

— E a mãe da Ellie? — o garoto não pode controlar a curiosidade, ainda que temesse estar entrando em terreno perigoso. E se tocava um assunto tabu?

Wade deu um gole barulhento no refrigerante, que se acabou com um arroto sonoro, antes de responder:

— A mãe dela não se endireitou. Continua jogando a vida fora.

— S-sinto muito — sentiu principalmente pela menina, que crescia com dois pais problemáticos.  Seria a mãe dela esquizofrênica também?

— Carmelita foi embora pra Los Angeles tentar a carreira de atriz. Mas ela é tão ruim que vai acabar trabalhando de garçonete — o rapaz deu uma risadinha, dava a impressão de que lembrava de algo.

— Ah, do jeito que você falou eu pensei que ela sofresse de alguma doença.

— Vai ver que sofre. Ela adora meninos mais novos, a gente queria traçar uma dama mais velha, essa porra de experimentar de tudo. Quando Ellie-Bellie nasceu, Carmelita deixou ela com os pais e foi embora. Eu estava mergulhado na bagunça, perdi o nascimento da minha bebê. Depois tudo ficou confuso — Wade deu de ombros, como se não falasse de algo importante — Veio aquele lance e quando percebi tava no hospício pagando a conta da zoeira. Os velhos conseguiram uma medida cautelar e a gente não pode chegar perto da coelhinha. Uma merda fodida, se quer saber.

Peter não disse nada.  Ficou olhando enquanto Wade terminava de comer, ele próprio esquecido do lanche em sua mão.  Era a primeira vez desde que conhecera aquele cara que o via com o ar triste. Verdadeiramente triste.

Apesar das brincadeiras, da doença, da falta de noção... apesar de tudo Wade Wilson ainda era humano, tinha emoções. E tristeza era uma delas, ainda que não a mostrasse o tempo todo.

— Se continuar olhando assim a gente não se responsabiliza — o rapaz debochou.

— Ellie parece uma boa menina — Peter não se abalou com a piada. Uma vez, na casa de Clint, Wade dissera que o humor era sua ultima defesa.  Talvez não tivesse dito uma mentira completa.

— E é. Acredite: até de alguém como eu pode sair uma coisa boa. Os velhos dizem que eu sou uma influencia ruim. Mas não é verdade, a coelhinha nasceu bem, com todos os parafusos. Nenhuma influencia vai estragar ela.

Peter ergueu uma sobrancelha. Com certeza Wade era o pior dos exemplos! E a frase chegou na ponta da sua língua e ali ficou. Entendia o ponto de vista dos avós da criança, todavia passara por uma situação parecida: a ausência de ambos os pais.  Por motivos diferentes, claro. Mas tal ausência pesando cada dia como um fantasma assombrando seu crescimento com milhões e milhões de “e se...?”.

— Wade, não sei se você é boa influencia pra sua filha ou não. Só acho que ela tem direito de decidir por si própria. E Ellie só poderá decidir se te conhecer direito.

— Que bacana, baby boy! Por isso você é nosso crush!

— Besta — Peter ia levar o ultimo pedaço do hot-dog aos lábios, quando Wade o impediu, segurando-lhe o queixo com a mão e usando o polegar para limpar um pouco de maionese que sujava a bochecha do menino.

— Um dia nós sairemos em um jantar de verdade, do tipo família. A Ellie, você e eu.  A gente vai sentar em um restaurante fudido de tão chique e se divertir a noite toda. Prometo prometidinho.

Peter Parker sentiu a garganta se apertar.  Tinha apenas dezesseis anos e já carregava nos ombros mais promessas não cumpridas do que a maioria das pessoas jamais levaria.  Mas quem era ele para destruir a esperança que via nos olhos azuis de Wade Wilson? Um rapaz que partilhara consigo uma parte preciosa do passado.  A cada dia, de seu jeito singular, Wade mostrava que Peter era importante de verdade. Justamente por tal fato, podia ser complacente.

Que ele sonhasse com o que quisesse.

Pelo menos por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem!! :D