Capítulo 22

Sábado amanheceu agradável, apesar de abafado, como era tão característico de New York naquela época do ano. Peter saltou da cama cheio de disposição e boa vontade, duas coisas que aumentaram depois de um banho rápido.

Encontrou o café da manhã reforçado que Tia May lhe preparara antes de ir para o trabalho. Assim que terminou de comer, tentou organizar as tarefas de casa, pois ele também tinha sua cota de responsabilidades.

A primeira era cuidar da louça suja, as poucas que acabara de usar. Depois ia aparar o gramado da frente e o da área dos fundos. Isso demandava mais tempo, pois o cortador de grama era velho, obsoleto. Bem que gostaria de comprar um novo, mas as finanças apertadas não permitiam tal luxo. Ocasionalmente cortava a grama nas casas vizinhas e levava uns trocados extra que eram mais do que bem vindos.

Aparar a grama e arar o restolho em um montinho não era o exercício preferido, contudo não podia fugir disso. Na hora do almoço teve que usar a imaginação e o pouco conhecimento pra se virar e preparar algo. Geralmente comia as sobras do jantar, como tiveram um convidado dos mais gulosos na noite anterior, não sobrou nada que pudesse requentar.

Balançou a cabeça querendo afastar qualquer pensamento sobre a noite anterior.

Dividiu a parte da tarde entre o resto das tarefas domésticas, o dever de casa e ainda sobrou tempo pra assistir televisão. Por volta das cinco horas, reuniu coragem e começou a se arrumar para ir ao shopping com os amigos. E isso era bem rápido, só tomou outro banho rápido antes de se meter nos velhos jeans e camisa do Lanterna Verde, antes de colocar uma camisa social manga curta por cima. Perdeu um tempo se encarando no espelho, em busca de algum sinal de pelos, desanimado em não encontrar. Queria tanto começar a fazer barba, uma pena que a genética não colaborasse. Às vezes se imaginava com um cavanhaque estiloso como o de Tony Stark (ainda que daquele jeito ralinho adolescente). Ao invés de barba, achou uma espinha perto da orelha e travou a terceira guerra mundial consigo mesmo, tentado a espremê-la. O bom senso venceu ao final e a espinha permaneceu intacta.

Voltou rápido para o quarto.

— Você é pontual! — exclamou mais surpreendido com isso do que com o fato de Wade Wilson já estar pendurado na sua janela.

— A gente não tava se aguentando de saudade — o rapaz devolveu animado. Vinha com o surrado moletom de capuz, fato que fazia Peter se perguntar se ele usava apenas esse estilo de roupa. Muito provavelmente a resposta era positiva — Já batemos umas três pensando em você e...

— Wade! Esse é o tipo de informação que eu não quero saber!! — pensou por um segundo — E vê se usa uma revista da próxima vez!

— Sim, senhor!

Peter girou os olhos e sentou-se na cama para calçar os tênis. Por fim, pegou a carteira, guardando-a no bolso e a câmera, pendurando-a no pescoço.

— Me espera lá na frente. Já estou saindo.

Tinham combinado se encontrar com Tony e Bruce perto dali, para irem juntos no carro de Tony até um dos grandes shoppings em Manhattam. Loki iria com Natasha e Clint no carro de Thor. Tarika e Niat iriam de moto.

Os dois garotos caminharam lado a lado, com Wade tentando contar o sonho que tivera na noite anterior e, obviamente, incluía Peter Parker e inúmeros detalhes picantes, que o pobre garoto tentou cortar cada um deles. Divertindo Wade com todas as suas reações indignadas.

Tony atrasou apenas vinte minutos antes de parar próximo à calçada com seu Camaro vermelho, o modelo 2016, que traduzia em cada detalhe o ego monstruoso de Tony Stark; e ganhou um assovio impressionado de Wade.

— Olá, Filhote. Olá, Pinel. Hora de aventura. Não se esqueçam de pôr o cinto.

Apesar do aviso, Tony dirigiu com uma cautela surpreendente. Em grande parte por culpa de Bruce, sentado no lado do carona, que fiscalizava a direção do amigo com atenção. Se a velocidade se aproximasse perigosamente do limite ou algo similar, lá estava Bruce, puxando a orelha de Tony (não literalmente, claro).

O shopping estava lotado, como já era de se esperar. Apesar disso, foi fácil encontrar Thor, Niat e Loki parados em uma das entradas da praça de alimentação. Depois dos cumprimentos usuais, Bruce perguntou:

— Onde estão os outros?

— As meninas estão em uma loja de departamentos — Niat respondeu. Ela não tinha a menor paciência para experimentar quilos de roupas.

— E Clinton? — Tony indagou.

— As três meninas, Stark — Loki respondeu com ironia — Barton se inclui nessa afirmação.

Não era segredo que o rapaz também adorava experimentar roupas.

— E o que a gente faz? — Thor perguntou — Eles disseram que nos encontram em duas horas no salão de jogos.

— A gente pode ver um filme. Tem uns bons em cartaz — a ideia veio de Niat.

— Perfeito — Tony concordou.

— Vamos ver um romance — Wade decretou passando o braço pelos ombros de Peter e puxando-o pra si — Uma história como a minha e a do Petey. A Bela e a Fera...

A frase trouxe Peter de volta a realidade. Wade não se comportava nem no jantar com a sua tia. Como ele ia ficar quieto por duas horas em um salão escuro e cheio de gente? Na melhor hipótese, ia ficar falando o filme todo! Na pior hipótese, faria o grupo ser expulso durante a sessão.

— Talvez cinema não seja uma boa ideia.

— Todos a favor do filme — Thor comandou naquela voz de trovão.

Wade e Peter foram os únicos que não levantaram a mão. No mercy...

— A gente vai onde o baby boy for — Wade Wilson soou categórico, como se ninguém ali já não tivesse certeza disso.

— Então, o que vai ser, Parker?

O garoto deixou os ombros caírem, derrotado.

— A gente vai dar uma volta por aí — decidiu — Talvez comer alguma coisa.

— Okay. Nos vemos em duas horas no salão de jogos. Até mais — Stark se despediu e o pequeno grupo rumou em direção às escadas rolantes. O cinema ocupava todo o terceiro piso do shopping. Thor e Loki seguiram de mãos dadas, ladeados por Bruce e seguindo Niat e Tony.

— Enfim sós — Wade o libertou do abraço e fez menção de segurar-lhe uma das mãos, mas Peter foi mais rápido, enfiando ambas no bolso da calça e começando a andar. Os dois rapazes já chamavam atenção sem isso, só a figura exótica de Wade atraia olhares o bastante.

— O que quer comer? Hambúrgueres? Uma pizza?

— Hummm, não. Jessica me disse que tem um restaurante aqui que faz tacos ótimos. Tô a fim de experimentar.

— Jessica? A Jessica Jones? — Peter estranhou — Vocês são amigos agora?

— Ciuminho da gente?

— Não.

— Hehe, eu já te disse que ela é estranha. Mas a gente divide dormitório numa das instalações da S.H.I.E.L.D.. Talvez ela não tenha dito que os tacos sejam ótimos. Talvez não seja o restaurante desse shopping e talvez... não seja o tipo de taco que você está pensando... na verdade ela disse algo muito próximo a partir minha cabeça com um taco. Garota doida.

O menino colocou a mão sobre os olhos e respirou fundo. Ele ainda tentava entender aquelas baboseiras por que mesmo? Pois Wade aproveitou isso para segurar o braço de Peter e puxá-lo para dentro da praça de alimentação, já olhando em redor atrás do suposto restaurante mexicano que provavelmente nem ficava ali.

Parker só se deixou levar. Como ele vinha fazendo muito ultimamente em relação a Wade Wilson.