Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 20

— O jantar de ontem foi épico, não foi? Não vemos a hora de repetir a dose! — Wade Wilson disse quando Peter Parker sentou-se ao lado dele no ônibus — Bom dia, baby boy.

— Bom dia, Wade — o garoto respondeu de mau humor. Os cochichos que se espalharam pelo ônibus o fizeram respirar fundo. Aparentemente um dos nerds notórios do colégio convivendo com o aluno-problema doido ainda era assunto pra fofoca.

— Não acredito que a autora cortou a cena do jantar — Wade soou manhoso, enquanto grudava no braço de Peter e esfregava o rosto que nem um gato querendo atenção do dono.

— Eu faria o mesmo — a resposta veio ácida. Esperar um comportamento socialmente aceito do outro era querer muito.

— Mas foi legendário! A parte em que...

— Não. Me. Lembre.

— Okay, baby boy. Todo mundo tem um preço... vou descobrir como comprar a autora e fazer a cena do jantar vir a público. Será um escândalo que o JJ iria adorar!

— Quem? — Peter não entendeu aquela frase.

— Referências, Peter Rogers. Você não pegou a dica, mas nossos leitores vão capitar. Relaxa.

Peter preferiu seguir o conselho e nem tentar adivinhar quem seria “JJ” ou “Rogers”. 'Lógica' e 'sentido' eram palavras que não existiam no dicionário “Wilson”.  Apenas permitiu que Wade continuasse grudado em seu braço, quase ronronando de felicidade.

Chegar ao colégio era como adentrar o tapete vermelho do Oscar sendo o indicado preferido da noite. Chamavam a atenção de todos os outros alunos! Claro, eram a fofoca do momento.

Wade só soltou do braço de Peter quando atravessavam o corredor e encontraram com um dos inspetores de alunos.

— Bom dia, senhores — Cage, um negro alto e forte, cumprimentou — Wade, o diretor quer falar com você. Temos uma queixa.

Peter logo intuiu que era obra de Flash, pela tarde anterior. Fez menção de se meter no assunto, todavia Wade bagunçou o seu cabelo.

— Boa aula. A gente resolve isso — garantiu virando-se para seguir Cage, porém parou um instante — Petey, já pensei nas nossas palavras de segurança. As suas podem ser “mais rápido, Wade” e as minhas serão “que apertadinho...”

— QUÊ?! — o pobre garoto engasgou, enquanto os outros alunos circulando no corredor tinham crises de riso. Pelo calorão que sentiu no rosto teve certeza que corava até as orelhas.

— A noite a gente te explica direitinho, Cherry Boy — então virou-se para Cage, que acompanhava tudo com ar de desgosto e ‘cochichou’ tão baixo que todo mundo ao redor ouviu: — Eita lacre difícil de tirar, se tiver umas dicas pra me passar...

— Não tenho, senhor Wilson — a resposta foi igualmente bem audível.

—--

A manhã passou tão rápida que quando Peter percebeu já era hora do almoço. Durante o período, recebera SMS o suficiente de Wade para imaginar que ele estava muito bem, obrigado.

Durante a troca de salas encontrou-se com Flash Thompson apenas uma vez. O rapaz estava com o nariz um tanto inchado e a pele escurecida. Não se aproximou de Peter, embora o olhar agressivo lançasse juras de vingança na direção do garoto.

Na hora do almoço, foi sentar-se na mesa em que já estavam Tony, Clint, Niat e Loki. Nem tentou impedir Barton de roubar sua maçã. Aquele cara tinha uma paixão irrefreável pela fruta, era imparável.

— Olá, jovem Parker! — Tony cumprimentou — Como seu dia terminou ontem? As fofocas dizem que Wade deu uma surra no Thompson.

Peter respirou fundo, ganhou tempo mexendo na comida com o garfo.

— Wade não deu uma surra nele, não vi a cena direito, acho que a cara do Flash trocou um beijo com a porta do armário. Mas o diretor mandou chamá-lo logo na entrada.

— Fez um estrago — Niat ergueu as sobrancelhas, sua expressão era afável, como se tentasse transmitir apoio a Peter. Ela, assim como os outros Avengers, sabia bem a dureza de estar na mira dos valentões do colégio.

— Caras assim te seguem pela vida inteira, não tem como fugir — Loki cruzou os braços sobre a mesa, já terminara de comer — Fandral está na mesma faculdade que Thor, aterrorizando os calouros da fraternidade como se ainda estivesse no Senior.

— Ei, e o grandão? — Tony indagou — Se recuperou bem da ressaca?

— Mais ou menos — a resposta veio junto com uma risadinha maldosa — Nem o Thor escapou e ficou de molho no domingo.

— Saudades do grupo todo reunido — Clint observou a maçã em suas mãos, de modo pensativo — Vamos no shopping esse final de semana?

— Por mim tudo bem — Tony concordou e foi imitado pelos demais, a ideia era boa. Mais dois membros do grupo se aproximaram — Ah, Bruce, Natasha sentem-se! Clint usou o cérebro, combinamos de ir ao shopping. Desmarquem tudo da agenda.

— Eu não tinha nada marcado — a ruiva sentou-se ao lado do namorado. Bruce acomodou-se de frente para o casal, ao lado de Tony, olhando-o com acusação.

— A gente só vai ao shopping se sair acordo sobre o projeto — e ele falou muito sério.

— E lá vamos nós de novo — Niat apoiou o cotovelo sobre a mesa e descansou o queixo na mão espalmada.

Tony bufou.

— Se falar a palavra com “F” eu juro que te faço engolir esse prato, Robert.

— Pois é melhor do que engolir o seu ego, Anthony.

Peter reclinou-se para o lado de Clint:

— Eles são sempre assim?

— “Sexto sentido” — o garoto respondeu com a boca cheia de maçã.

— O que?

— “All the time” — Natasha explicou.

Então Peter Parker respirou fundo. Ele também era parte do clube de ciências, naquela menos de uma semana em que entrara, não vira avanço algum nos planos do projeto. Fato que, muito provavelmente, espantara os outros alunos interessados em ciências.

— Caras, a solução é muito óbvia. Você quer trabalhar com matéria a nível molecular. E você quer um projeto mecânico. Juntem as ideias e façam um Max Steel que espalhe esterco na plantação.

— Já existe algo assim, jovem Peter. Com aviões, na aviação agrícola — Stark desdenhou.

— Pois eu aposto que você projeta algo mais eficiente. Para aproveitar melhor o fertilizante fólico que o Bruce planeja fazer.

Stark analisou a frase por alguns segundos.

—... claro — ficou obvio para todos que Peter fisgara Tony pelo ego — Claro que tudo o que eu projetar é melhor do que o que já existe. Isso pode funcionar, de fato. O que acha, Bruce?

— Por mim tudo bem — o garoto deu de ombros. Geralmente o amigo vencia pelo cansaço e o fazia desistir de qualquer plano. Aquela era praticamente a sua primeira meia vitória desde que a amizade começara — Vamos fazer isso!

— Filhote, não pense que não vi o que fez — Tony apontou para Peter — Te perdoo desde que continue o ótimo trabalho de reconhecer meus méritos.

Os outros adolescentes riram por alguns segundos, apenas para se dar conta de que o refeitório silenciava gradativamente. Era Wade Wilson que caminhava cabisbaixo em direção a mesa dos Avengers. Em silencio, ele parou ao lado de Peter.

— O que houve...? — o garoto soou preocupado. Algo grave acontecera, para abater-lhe o animo de tal forma.

A resposta do rapaz foi inclinar-se e pegar Peter nos braços, que de tão chocado ficou, não teve nem reação. Em seguida, Wade sentou-se no lugar em que ele estivera até então e acomodou Peter no próprio colo, abraçando-o.

Os outros apenas acompanhavam a cena, até que Tony Stark não resistiu a curiosidade.

— O Fury pegou pesado, Miolo Mole?

Respirando fundo, Wade respondeu:

— O diretor deu um sermão tão foda na gente que o meu pinto congelou de medo. Esquenta direitinho, baby boy... — a voz veio fraquinha, como se fosse uma vitima indefesa.

Peter engoliu a vontade de grudar no pescoço de Wade e só soltar quando ele ficasse roxo. Ao invés disso, juntou os cacos da sua dignidade, levantou-se escapando dos braços que o aprisionavam e foi sentar-se no banquinho vazio logo ao lado.

O falatório voltou ao refeitório com força total. Só conseguiu pensar em como Wade estava errado. A vida deles não era uma fanfic, era um show dos horrores e Peter Parker era a atração principal.

Pelo menos era assim que se sentia naquela doida forma de amizade. Mas um dia... um dia colheria os frutos de sua boa ação. Só torcia pra não estar senil quando tal acontecesse!