Do acaso à superação escrita por Paty Everllark


Capítulo 29
Fim de linha


Notas iniciais do capítulo

Oi meus lindos!!! Eis que estou de volta após um hiatus forçado. Como expliquei nas notas passadas, não foi intencional me perdoem.

Espero que ainda estejam por ai.

Quero agradecer a todos que de alguma forma me ajudaram a chegar até aqui através de um favorito, acompanhamento e especialmente os que deixaram um comentário por mais simples que tenha sido. EU AMEI! Foi por causa de vocês que continuei, apesar de tantas dificuldades. Obrigada de verdade.

A minha linda e especial Betafriend Belzinha, obrigada pelo carinho e amizade.

Espero que gostem do capitulo, esse é o penúltimo. Rrsrsrs. Depois temos mais um e o epílogo.

Boa leitura.



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Pov de Peeta

 

— Filha, o que você está dizendo? – Rápidas, as palavras saíam da boca de Melissa, na mesma proporção que as lágrimas molhavam sua face. 

O que minha menininha estava tentando me dizer?

— Ele deu veneno para a vovó ficar doente, ele falou comigo...  era para ela não soltar você da cadeia.  O vovô não queria que você casasse com a mamãe. O seu padrinho descobriu... aí... aí o vô Snow jogou ele no poço... Papai...  ele ainda está lá...

 Eu estava ficando horrorizado diante de tudo que minha filha nos relatava. Como ela havia aguentado carregar todo fardo daquela descoberta sozinha?

— A-aquele homem e a Enobaria, eles sabem de tudo... o-o tio Cinna... – Melissa gaguejava e atropelava as frases, era nítido que estava em choque, porém tudo que dizia tinha coerência. Não podia ser apenas fruto de imaginação infantil. Ela jamais soube de minha prisão, tampouco conheceu meu padrinho Darius. Delly e eu sempre deixamos nosso passado oculto as nossas filhas para poupa-las dos nossos sofrimentos. 

— Mel? – Abracei minha filha com força, seu pequeno corpo tremia violentamente.

— Papai a-aquele homem... – Uma sensação angustiante apoderou-se de meu ser. – Aquele homem estragou o carro do tio Cinna... eles me mostraram as fotos para que eu fizesse você e a Katniss brigar. O tio estava morto de verdade. Ele disse que ia fazer o mesmo com você a Katniss e a maninhas...

— Que homem Melzinha? Que carro? Que fotos te mostraram? – perguntei olhando diretamente para Katniss que ficava pálida, ao lado de Finnick, este me olhava em pânico.

Que tipo de monstros mostrariam fotografias de um acidente para uma criança?

— O Irmão da Enobaria.

P-Peeta? Céus! Amor foi o Woody... — Katniss sussurrou antes de desmaiar nos braços de nosso amigo.

******

— Me perdoa Peeta, não fazia ideia que os ansiolíticos que a Elizabeth receitou para as crises comprometiam a eficácia da pílula. No seu aniversário... nós devíamos ter usado a camisi...

— Por favor, Katniss não continua. Quem devia estar te pedindo perdão por não estar comemorando era eu. Grávida? Meu Deus!  Nem acredito nisso. Serei pai outra vez. Isso é tão... 

Maravilhoso? – A pergunta saiu baixinha, Katniss era a insegura em pessoa. Não poderia ser diferente. Desde que o médico solicitou o Beta HCG para confirmar a gestação ou não, não dei uma palavra para apoia-la.

— É sim. Isso é maravilhoso  – concordei.

— Você está feliz? Digo, nós nunca havíamos conversado sobre...

— Eu estou muito feliz com nosso filho Niss. – Coloquei o dedo em seus lábios para emudece-la. – Ele é o fruto de nosso amor. Jamais duvide disso.

Fitei Melissa deitada no leito hospitalar e acariciei seus cabelos. Por muito custo minha filha conseguira dormir, todavia meu coração se achava dilacerado por não tê-la protegido das maldades do avô. Melissa estava quebrada, traumatizada, as sequelas a acompanharia por muito tempo, quiçá por toda a vida. No entanto, senti alívio e gratidão por ela estar segura conosco, assim como o bebê que Katniss carregava em seu ventre, o oposto Amber e Primrose que se encontravam a mercê de bandidos.

— O Snow não é louco de fazer mal as meninas Peeta, além do mais a polícia toda de Panem já está a procura dele. – Katniss pareceu adivinhar meus pensamentos e me olhava de maneira compreensiva, afinal ela melhor do que ninguém sabia a dor de perder um filho.

— Que tipo de pai eu sou Niss? Um pai que não consegue garantir a segurança das minhas próprias filhas...

— Peeta, Katniss, ela chegou! – Finnick invadiu novamente o recinto para nos comunicar a chegada de Rue.  Seu timbre de voz alto fez Melissa agitar-se sob o lençol, porém continuou dormindo.

— Se quiserem posso ficar enquanto conversam. – Finn se ofereceu ao perceber nossa hesitação em deixar Melissa, mas Katniss adiantou-se.

— Obrigada Finn, mas eu fico aqui. – Fiquei aliviado e sorri para Katniss, em seguida deixei um beijinho suave em seus lábios e outro na testa de minha filha antes de tomar o caminho do elevador na companhia de Finnick.

*****

— Peeta eu entendo suas preocupações e embora possa parecer insensibilidade de minha parte estou sim considerando o final de gestação da Johanna, contudo ela terá que ser forte. Chegou a hora dela e Katniss  saberem de toda a verdade, não tem mais como adiar. Dou menos de 24hr para essa bomba estar em todos os telejornais de Panem.

— Katniss também está grávida... – Joguei a bomba. Deixando-a abalada mediante a informação, no entanto a mulher sustentou a postura inabalável. – Nós acabamos de descobrir, mas decidimos por hora ocultar a novidade de todos – concluí.

— Meus parabéns, Peeta. – Finnick bateu em minhas costas. Ele e Annie sabiam do tratamento ao qual Katniss vinha sendo submetida por conta das crises de ansiedade. Quando minha noiva coletou sangue para o exame ele estava conosco, provavelmente já aguardava um resultado positivo.  

— Obrigado Finn. Queria te pedir um favor.

— Eu sei o que irá me pedir, não precisa se preocupar estou indo para a casa da Johanna. Direi tudo a ela e meu tio antes que eles acabem descobrindo pela mídia. Pedi que Annie levasse as crianças para lá.

— Muito obrigado meu amigo. – Agradeci, o Odair despediu-se e se foi.

— Ufa! A Katniss também está esperando neném? Não esperava por isso... Se pudesse jamais mostraria esse dossiê a nenhuma das duas Peeta, principalmente sabendo o quanto isso afetará o emocional de ambas.

 Observamos o envelope pardo sobre a mesa, as informações contidas nele em breve seriam divulgadas. Rue tinha razão, por mais que quiséssemos poupa-las, nós não conseguiríamos esconder de Katniss e Johanna aquele conteúdo por mais tempo.

— Você melhor do que ninguém sabe o quanto elas padeceram por causa desse maldito. A Mason sempre se culpou por ter feito o Woody conviver com a sua família e a Katniss quase morreu nesse acidente.  

Eu sei Peeta... Meus pais sempre desconfiaram que o acidente de carro que matou meus padrinhos tivesse sido provocado, entretanto a perícia feita no automóvel não deu em nada. Hoje já sabemos que foi Alexander Golding que subornou os peritos para proteger o filho. 

— Parece que estou dentro de um filme de terror... saber que  o chefe de segurança ocultou provas de um assassinato para livrar o próprio filho das acusações, e pior,  que o deixou livre para se juntar a Snow e Enobaria, aumentando assim a sua lista de crimes. – Fechei os punhos com força, estava com tanta raiva, que seria capaz de cometer uma loucura diante de tudo que tinha acabado de descobrir.

O sequestro de minhas filhas era só a ponta do Iceberg. Na verdade, Rue e Joshua já estavam a caminho do distrito com uma ordem de prisão decretada em nome de Snow e da esposa, entretanto mesmo já sabendo da ligação entre Woody e Coriolanus, ambos não sabiam que o Golding mais velho estava no distrito 1 também. 

A morena trouxe consigo um dossiê final sobre o caso que investigava há anos. A investigação que revelou a verdadeira identidade do ex-namorado de Johanna levou a polícia a um esquema de corrupção e fraude gigantesco, incluindo lavagem de dinheiro, compra de votos e informações privilegiadas. Tal esquema era encabeçado por nada mais, nada menos que Coriolanus Snow.

Na lista de criminosos, além do governador e a esposa, também constava o nome do vice-governador, do secretário de segurança e do delegado Seneca Crane – culpado por minha prisão assim que cheguei ao distrito –, sem esquecer-se de alguns “peixes pequenos” que já se achavam atrás das grades desde o inicio da noite, juntamente com o Alexander, Seneca e o vice-governador, todavia ninguém esperava que eles fugissem muito menos que levariam minhas filhas.

 – Sinto muito por suas filhas... Nós iremos pega-los Peeta. – Rue colocou a mão sobre meu ombro, buscando minha atenção para si durante meu devaneio. – Eles não conseguirão sair de Panem com todas as acusações que temos contra eles. Tudo que a sua filha contou, torna esse caso ainda mais complexo do que pensávamos... meu  noivo já está na mansão acompanhado de seus  homens, estão periciando a casa e o poço onde Melissa disse que está o corpo de seu padrinho...

— Esses três loucos podem matar minhas filhas, quando deixarem de ter serventia para eles...  – Externei meu maior temor. Sei que o trio usariam minhas filhas para sair de Panem, mas logo elas se tornariam descartáveis.

Minha mente ainda fervilhava, quando quatro policiais entraram uniformizados e causando certa comoção nas pessoas que estavam na lanchonete.  Suas fisionomias não eram nada boas, temi pelo pior.  Ao ser chamada pelo homem que liderava o quarteto, Rue pediu licença e colocou-se em  um canto reservado com o policial. Notei a expressão atordoada deles e uma discursão alterada se iniciando, breves minutos  passaram e vieram até mim.

— Peeta encontraram o Snow, mas... – Fez suspense.

— Mas? Rue, por favor, me conte onde estão minhas filhas? – Não me importava saber daquele calhorda, no entanto ela continuou.

— O Snow está sendo atendido no setor de emergência deste hospital, foi para a cirurgia e corre sério risco de vida.

— O quê?!

— Não sabemos o que aconteceu. Os policias encontraram Coriolanus gravemente ferido em uma usina desativada próximo a fronteira. Eles acreditam que seu ex-sogro e os irmãos Golding se desentenderam durante a fuga...

— Rue, onde estão Primrose e Amber?

— Me desculpe Peeta. Nós acreditamos que Woody e Enobaria atravessaram a fronteira com elas...  realmente sinto muito.

Não!  – Minhas pernas fraquejaram e um nó se fez em minha garganta.

— O-o quê você disse Rue? — Atrás de mim Katniss fez a pergunta. Seus olhos revelando incredulidade diante de tudo que ouvia.

******

— Ela já dormiu? – Katniss questionou assim que entrei na sala de casa.

— Finalmente - respondi sentando-me a sua direita, Katniss segurou minha mão. Johanna, acomodada na poltrona à frente sustentava a aparência bastante abatida apoiando a cabeça no ombro de Haymitch. As famílias de Finnick e Johanna estavam hospedadas em nossa casa pelo terceiro dia consecutivo. Na verdade nos mantínhamos em vigília a espera de noticias sobre o paradeiro das meninas.

— E como ela está? – Annie indagou sobre o estado da minha filha mais velha.

Há três dias Melissa só dormia comigo ao seu lado. Acordava diversas vezes durante a noite após pesadelos. Quando isso acontecia tentava contar o sonho, mas gaguejava muito e como consequência começava a chorar. Desde que voltamos do hospital Mel vinha apresentando dificuldades em comunicar-se conosco através da fala, evitando usar a voz em muitas ocasiões.  As raras vezes que o fazia era para culpar-se pelo sequestro das irmãs. Nem a presença das crianças a distraia.

— Nada bem, e o estado dela só piora com o passar dos dias... Três dias. Três malditos dias! – Me exaltei. – Eu não consigo mais ficar aqui parado. O relógio está correndo e ainda não descobrimos nada sobre o paradeiro delas... Se ao menos aquele desgraçado do Snow acordasse.

Snow talvez fosse o único que soubesse de minhas filhas, no entanto estava em coma induzido por consequência dos ferimentos. As buscas em sua casa confirmaram as denúncias de Melissa. Um corpo, que a polícia supôs ser de meu padrinho – para o desespero de Magda e Otto – fora encontrado. Ao menos, filho e a esposa dariam um enterro descente a Darius, caso se confirmassem através do DNA que era ele no poço, todavia eu me sentia responsável por sua morte.

 – Peeta nós temos que ser pacientes nesse momento, a polícia...

— Finn, sei o que irá dizer, mas minhas filhas estão na mão de gente sem escrúpulo algum. Assassinos! Correm risco de vida. – Finnick se encolheu ante meu tom agressivo. – Me desculpa – pedi. – Sei que está tentando me acalmar.

— O Woody é imprevisível, mas algo me diz que ele não atravessou a fronteira como os federais acreditam.

— Como assim Joh? – Haymitch perguntou. Ele estava sendo um grande suporte para a esposa. Johanna surtara assim que soube sobre a morte dos pais e passou mal. Graças aos céus a bebê estava bem.

— Eu o conheço, ele não costuma agir por impulso e está sendo obrigado a fazê-lo devido aos últimos acontecimentos – disse pensativa.

Assim que terminou sua linha de raciocínio a campainha da casa do tocou.

— Vou ver quem é. – Annie ofereceu, encaminhando-se para o interfone da cozinha.  

— Sua prima disse que ofereceram recompensa para quem desse informações sobre o sequestro, e que estão otimistas. – Haymitch salientou.

— Rue está entrando e não está sozinha – Annie avisou enquanto se apressava em abrir a porta de entrada. A policial adentrou o espaço, acompanhada por duas moças de aparência humilde. Katniss, Johanna e Annie franziram o cenho quase em sincronia.

— Michele?! – O que ela faz aqui? – Surpresa, Katniss direcionou a pergunta à prima.

— Sei que as três já conhecem a Michele, então dispensarei as apresentações formais.

— Quem são elas?— sussurrei no ouvido de Katniss.   

— Foi a Michele que indicou o Riviera Dreams, Resort onde passamos seu aniversário. — Segredou-me da mesma forma.

— Essa é Loren, irmã de Michele. – A garota parecia nervosa enquanto era apresentava. – Elas me procuraram na delegacia essa manhã.

— Por que as trouxe aqui? – inqueri.

— Peeta você terá que ser bastante racional após escutar tudo que eu lhe disser... Nós descobrimos onde o Woody está, no entanto...

*****

De carro, Rue e eu cruzamos os portões do Riviera.  O local não parecia em nada com o paraíso que visitamos no final de semana de meu aniversário. Cercado por viaturas da polícia, equipes de televisão e curiosos, o resort mais parecia uma praça de guerra.

— Montamos uma espécie de quartel general no bangalô mais próximo de onde ele mantem as meninas cativas. Ainda não o conheço, mas o novo delegado já esta lá junto a equipe especializada que negocia a rendição do Woody. Quem diria que OJ Rogers era mais uma das identidades desse falsário.   

Embora tivesse passado por diversas plásticas. Vendo os telejornais, Loren constatou que o namorado OJ Rogers, e Woody eram a mesma pessoa. Loren procurou a irmã e juntas foram à delegacia para denuncia-lo. Ao averiguar, os federais descobriram que ele estava escondido no resort.

Ainda estávamos no caminho de pedras que levava até o bangalô  quando começamos a ouvir gritos vindos do local.

— Vocês são o quê? Um bando de amadores?  Imaginaram que um bandido experiente como Samuel Golding cairia em plano tão infantil quanto esse? Vocês colocam a vida das reféns em risco! De quem foi essa ideia idiota...? Não precisam me dizer. Andem, sumam de minha frente antes que eu cometa uma atrocidade! 

 Ao pararmos na porta nos deparamos com um homem negro de aparência austera e cabelos grisalhos, aparentava ter pouco mais de cinquenta anos e literalmente bufava.  Os policiais que levavam o sermão passaram por nós cabisbaixos, enquanto o outro continuou detrás de uma mesa resmungando entre dentes. Estava tenso e colocava os dedos na testa a massageando de maneira nervosa.

— Pai o que está fazendo aqui? – Olhei para Rue e depois para o homem percebendo algumas semelhanças. Katniss já tinha me falado do padrinho – Boggs esse era o seu nome –, entretanto o que ele estava fazendo no Distrito 1? Pelo que sabia ele era delegado no 12.

— Filha. – O homem voltou-se para a morena, mas logo me notou. – Esse é o pai das menores? – Apontou para mim.

— Sim pai. Esse é Peeta Mellark, noivo de Katniss e pai das reféns.  O que o senhor esta fazendo aqui? Quando chegou? – Boggs não se preocupou em me cumprimentar, acenou-me com a cabeça e sentou-se. Sua filha o imitou, mas preferi ficar de pé.  

— Cheguei a poucas horas de jatinho. Fui transferido as pressas a pedido do atual governador, assumirei o lugar do Seneca até segunda ordem. Panem está uma bagunça. Muita gente grande envolvida nessa ‘sujeirada toda já foi para a prisão, contudo ainda falta gente...

— Como e onde estão minhas filhas? – perguntei cortando sua fala.  Era a única coisa que me interessava, em especial após tudo que ouvi do corredor. 

— Sente-se senhor Mellark – ele ordenou, mas percebi uma troca de olhares significativa entre ele e Rue.

— Estou bem assim.

— Ok. – Puxou ar dos pulmões. – Quando cheguei aqui Enobaria já tinha se rendido, e uma equipe já intermediava as negociações com o Golding. Algumas exigências inclusive já haviam sido acatadas. Uma delas foi alimentação para ele e as crianças...  – Boggs trocou olhares novamente com a garota. – Contudo os negociadores tiveram a brilhante ideia de colocar calmante em dose cavalares na refeição, supondo que Samuel fosse comer também...

— Eles drogaram minhas filhas? – indaguei em choque. – Esses  homens são loucos?

— Pai, com que tipo de profissionais despreparados lidamos neste distrito? Como colocaram a vida das crianças em risco desse jeito? Quanta irresponsabilidade.

— Esse foi o motivo do meu descontrole há alguns minu...

— Senhor, com licença. – Uma jovem interrompeu nossa conversa.

— Pois não.

— O helicóptero que o sequestrador pediu acabou de pousar no campo de futebol.

— Helicóptero? Ele pediu um helicóptero? – Eles só podiam estar brincando.

 – Sim, pediu senhor Mellark, mas não lhe daremos a oportunidade de usa-lo. – Boggs disse, porém continuou falando com a moça.

 – E como estão as meninas?

— As notícias não são boas senhor. As duas estão apagadas, e ele as mantem amarradas junto ao próprio corpo, uma em seu peito e outra as suas costas...  

Não consegui terminar de ouvir o que a mulher falava, deixando o cômodo praticamente a atropelando no processo, corri sem destino, tendo apenas minha intuição como guia. Era possível ouvir Rue e o pai gritando meu nome.  Fixei a audição no som do helicóptero e tive certeza de para onde deveria ir.  Woody era maluco. Jamais deixaria minhas meninas em suas mãos, nem que para isso tivesse que mata-lo.

*****

 — Não se aproximem, ou eu juro que explodo essas pestes junto comigo! Eu não tenho nada a perder.

Diante daquela visão, estaquei. Ao meu redor uma barreira composta por carros de polícia e atiradores de elite. Por mais que meu amor por minhas filhas gritasse em meu peito, seria imprudência chegar  perto deles. Primrose estava atada ao peito do monstro, enquanto Amber estava em suas costas, ambas amarradas por uma jaqueta, minhas filhas não esboçavam nenhuma reação, pareciam dormir. Woody segurava na mão direita algo que se assemelhava a uma bomba, e na outra, o que parecia ser o detonador. Saía de um dos bangalôs e caminhava com dificuldades até o helicóptero, curiosamente vazio.

— Peeta. – Rue colocou a mão em meu ombro pela segunda vez no dia assim que me alcançou. – Pode ser que a bomba não seja legitima. – Tentou me consolar.

 Não consegui dizer mais nada. Apenas ajoelhei-me e pedi aos céus ajuda.

*****

Acorrentado. Não existia outra definição para meu estado. Com toda certeza Katniss e Johanna já deviam saber dos derradeiros acontecimentos por causa dos abutres da mídia que transitavam pelo local. Alguns tentando até me entrevistar, desrespeitando minha dor. Minha vontade era invadir o perímetro que os federais delimitaram como seguro para os civis e os jornalistas, mas seria impossível. 

Diante da ausência do piloto, Woody voltou para o bangalô e seguiu berrando feito louco que o tempo estava acabando. O sol já dava sinais de deixar o céu, revelando que a noite não tardaria a chegar.

— Mellark! – Boggs chamou. – Tentaremos um plano arriscado, mas não temos muito a fazer, as meninas estão dopadas a muitas horas, não sabemos  se elas estão bem.  

— O que pretendem fazer? – inqueri. 

— Esse é meu genro. – Um homem achegou-se a nós e estendeu-me a mão em cumprimento. 

— Sr. Mellark, meu nome é Joshua. Eu me apresentarei ao meliante como se fosse o piloto do helicóptero. Irei até lá desarmado e trajando o mínimo de roupas possíveis. Foi uma das suas exigências... buscarei  desarma-lo. – Enquanto ele falava ficava mais claro o quanto a estratégia era arriscada. – Entretanto necessito da sua autorização para executar essa ação.

— Por favor, não deixe nada de ruim acontecer a minhas filhas. – Precisava confiar nele.

— Eu darei minha vida por elas se for necessário. O senhor tem a minha palavra.

Trinta minutos depois, apenas com a roupa intima, Joshua caminhava com as mãos para o alto de encontro seu destino.  

*****

— Peeta, Josh é treinado para lidar em situações como esta.

 Rue tentou me animar, mas não teve êxito. Assim que seu noivo se acomodou no lugar devido, e ligou os motores, Woody emparelhou-se a porta do helicóptero. Pela postura corporal era visível que estava sentindo-se a salvo.

— Só o piloto! Nem pensem em atirar, meu dedo pode escorregar!   Não quero nenhuma gracinha!  

  Woody agachou e colocou o artefato aos seus pés. Com apenas uma das mãos – visto que com a outra ainda segurava o detonador – desamarrou Amber de suas costas. Sem sutileza alguma a jogou no chão como se descartasse um saco de batatas, empurrando-a com os pés para afasta-la da aeronave. Por instinto, tentei ir de encontro dela, mas fui segurado por Boggs.

— A outra irá comigo, não ousem tira-la daqui antes de decolarmos.— Referiu-se Amber, jogada no chão.  

Tudo ocorreu num flash. O canalha ainda lançava ameaças ao se abaixar para resgatar a bomba, quando Joshua num bote certeiro retirou o detonador de sua mão e lhe deu uma chave de braço. O agente jogou-se para trás levando consigo Woody e Prim.

Usando as pernas, como numa luta de jiu-jitsu dominou por completo o bandido mantendo Primrose em segurança durante toda a ação. No instante seguinte um esquadrão antibombas retirava o aparelho das mãos de Joshua e se encarregava do artefato. Uma equipe de paramédicos iniciavam os cuidados nas meninas. Enquanto eu ainda processava tudo que havia acontecido ao meu redor.

*****

 — Paizinho... — A vozinha era baixinha e manhosa.

— Oh, meu amor. – Me acheguei até onde minha caçulinha, que despertava lentamente após um longo período de sedação. Amber, que acordara alguns minutos antes descansava em meus braços, mas logo se fez alerta e sorriu para a irmã.  

— Por que você tá chorando papai? – A baixinha questionou assim que me sentei na beirada do colchão, a outra me encarou com uma sobrancelha erguida. Minhas filhotas eram lindas. Não via a hora de leva-las para casa e riscar aquele maldito dia do nosso calendário. 

— Nada Prim... só estou feliz porque você acordou meu anjinho. – Abri espaço para ter Primrose em meus braços também.

— Eu também papai?  – Sorri ante a pergunta de Amber, mesmo que meus olhos ainda estivessem marejados, meu sorriso apareceu. Ver ambas em segurança nos meus braços, não tinha preço. 

— Não precisa ficar com ciúme querida, estou feliz porque minhas duas filhinhas acordaram e estão ótimas. – Do jeito que dava, as apertei em meu colo fazendo-as rir alto.

 – Cadê a Mel e a Katniss, papai? – Minha caçula questionou assim que afrouxei o aperto e as sentei na cama.

— Estamos aqui meu amor – falou Katniss  que chegara à porta do quarto naquele instante.  Senti-me aliviado por vê-las, já que Melissa se localizava um passo atrás de minha noiva. Minha mais velha tinha grossas lágrimas nos olhos e prontamente correu para nos abraçar.

— Calma filha, está tudo bem agora. – Alisei seu rosto limpando-lhe  as lágrimas. 

— M-me perdoa papai, e-eu tive tanto medo de perder minhas irmãzinhas. É-é tudo culpa minha... – Melissa gaguejou.

— Nada disso é culpa sua, minha filha.  Nada. Entendeu?  – afirmei. E olhei para Katniss que estava visivelmente emocionada com a cena. Estendi as mãos para ela, que se juntou a nós sem pestanejar.

— Eu amo vocês – declarei assim que minha noiva sentou-se conosco. Katniss e eu, acomodamos as meninas entre nós, enquanto nos olhávamos de maneira cúmplice.  – E nunca mais iremos nos separar.

— A gente não vai voltar mais para a casa do vovô? – Primrose questionou. O sorriso saltava aos olhos.

— Não filha.

— E a Katniss vai ser nossa mamãe agora? – Foi a vez de Amber, e Katniss sorriu ao ouvi-la e lhe respondeu com um aceno afirmativo.

— V-vamos s-ser uma f-família. – Melissa sussurrou.

— Sim Melzinha. – Katniss segurou a mão dela com firmeza. Melissa a abraçou e chorou.

— M-me p-perdoa pelo que eu fiz?

— Meu amor, eu faria o mesmo se estivesse no seu lugar. Então estamos quites. – E beijo-lhe a testa.  

— Nós temos uma coisa para falar com vocês – eu disse e Katniss  encarou-me apreensiva sabendo o que vinha pela frente. As meninas ficaram expectantes aguardando a novidade. – Vocês vão ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha... – Parei para analisar as reações. Olhos brilhantes, boquinhas abertas e sorrisos felizes nos lábios. Numa atitude surpreendente o trio gritou em uníssono e abraçou minha noiva como se não existisse amanhã. E após um dia onde todos meus piores pesadelos caíram por terra movi os lábios para que apenas Katniss me ouvisse.

— Eu te amo. 

— Eu também te amo.  — Ela me respondeu da mesma forma, sendo envolta em uma áurea de felicidade que irradiava de minhas pequenas.   

 No silêncio do meu coração agradeci a Deus, por aquele momento. Eu me sentia o homem mais feliz do mundo por estar junto das mulheres que eu amava.


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Notas finais do capítulo

Gente, estou ansiosa. Espero mesmo que tenham gostado desse desfecho.

Façam uma autora amadora feliz, me deixe saber o que acharam do capitulo através de um comentário.

Bom fim de semana e um aviso para quem lê MM:

Tentarei atualizar a fic durante essa semana também.
Beijokas



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