Três horas da manhã e eu ainda não tinha conseguido pregar o olho, foram muitas emoções para digerir em menos de quarenta e oito horas, resolvi ir até a cozinha preparar um chá calmante talvez me ajudasse a dormir, um pensamento começou rondar minha cabeça, comecei a lembrar das conversas que Peeta e minha irmã tiveram aqui em casa, da afinidade que eu percebi existir entre os dois, durante horas os dois conversaram sobre o passado, brigaram em alguns momentos, em outros sorriram, entraram numa bolha onde só cabiam os dois; Ficamos apenas os observando sem ter muito que contribuir com o papo animado deles, Finn, Annie, Haymitch e eu.  Estava muito chocada em saber que joh conhecia Peeta Mellark tão bem e nunca mencionou sequer seu nome conosco.  Por que ela faria isso?  – a voz grave de meu hospede tirou-me de meus devaneios.

—Desculpe-me doutora Katniss, vim até aqui apenas beber um copo d’água pensei que a senhora já estivesse dormindo.

— Peeta nada de doutora, nem senhora, só Katniss, por favor, somos da mesma idade então dispensemos essa formalidade toda, afinal você é amigo de minha irmã e agora ficara hospedado aqui na minha humilde residência. – tentei fazer graça, notei que ele ficou sem ação ao me encontrar na cozinha.

— Sobre isso... Sei que conheço a Mason há muito tempo e partiu dela não da s-sen, desculpe de você o convite para eu ficar em sua casa, embora tenha concordado,  suponho ser constrangedor no seu caso uma mulher viúva tão recentemente ter um homem que mal conhece debaixo do mesmo teto; saiba que estou grato por tamanha generosidade vinda de sua parte, jamais esquecerei o que esta fazendo por mim.  – por livre e espontânea pressão de Johanna e meu cunhado aceitei acolher Peeta no quarto reservado as visitas, a princípio quando o trouxe da delegacia somente lhe daria roupas limpas, refeição decente, e algum dinheiro que possibilitasse sua estadia em alguma boa pensão, depois pensaria uma forma melhor de ajuda-lo, meus planos desceram pelo ralo depois do que aconteceu entre nós dois no estúdio esta manhã me senti em debito em relação a ele, não saberia explicar o porquê.

— Não a incômodo algum é muito bem vindo em minha casa e pelo tempo que necessitar amanhã te levarei até meu escritório e conversaremos com meus sócios Glimmer e Brutus sobre seu caso, Estava preparando um chá para tomar, me acompanha?

— Se não se importar quero sim, obrigado.  Katniss... Tenho medo de estar abusando de sua hospitalidade, na hora do almoço notei seu desconforto com a insistência da Mason e do marido dela para  que eu ficasse aqui, afinal a casa é sua.  

— Não fiquei desconfortável, só fiquei um pouco surpresa com a proposta daqueles dois. – na verdade eu não tinha ficado surpresa coisa nenhuma, sabia que o senhor e a senhora Abernathy fizeram tudo de caso pensado tendo o aval de Finnick e Annie, desde a morte de meu marido e minha filha meus familiares estão preocupados comigo, principalmente minha irmã que age como se a sua irmãzinha mais nova fosse quebrar a qualquer minuto, a intenção dela mantendo o Mellark junto a mim é que eu desista de me mudar para o 4, ela nem questionou sobre meu impulso de ir à delegacia durante a madrugada pagar a fiança dele,  em outro momento ela estaria possessa ou surtando com esta minha atitude.  

—Devo ter te passado uma péssima impressão a meu respeito.  Agora eu é que te peço,  não se preocupe comigo minha reação na hora do almoço foi por conta da surpresa mesmo, nada, além disso, vai ser bom ter alguém para conversar me sinto muito só às vezes, agora se sente enquanto preparo seu chá. – Peeta pareceu relaxar com minha explicação, sorriu e depois puxou uma cadeira e sentou-se; Enquanto eu preparava o chá ele me observava em silêncio, seu olhar me causou certo mal-estar.

— É no mínimo estranho você e Joh se conhecerem a tanto tempo e eu nunca tê-la ouvido falar nada a seu respeito. – coloquei uma xícara de chá para ele na mesa e me sentei a sua frente iniciando o assunto que instigava minha curiosidade.

—Devo muito a sua irmã, ela conhece toda minha historia e me ajudou quando eu saí do reformatório, foi ela que me incentivou a fugir com minha esposa. 

— Peeta... Quando eu fui à delegacia pagar sua fiança pedi a meu assistente para levantar a sua ficha? Perdoe-me, tive que fazer isso não sabia nada sobre você, descobri algumas coisas sobre o seu passado, posso te fazer uma pergunta?

— Eu sei o que quer me perguntar, por que eu agredi Snow não é?

— É ele é um homem influente e muito rico, o que fez ontem te prejudicou demais caso queira abrir uma ação contra ele posteriormente, por que não procurou um advogado antes de ir até o Belle Mason? 

— Você não entende Katniss, ninguém entende, eu vivi naquela mansão durante anos, sei quem é o Snow e do que ele é capaz, não posso deixar minhas filhas a mercê daquele sujeito, o governador não é o santo que todo mundo pensa, – Peeta colocou a xícara em cima da mesa e se levantou, começou a ficar nervoso andando de um lado para o outro na cozinha, não aparentava mais ser o homem gentil que eu conheci ao longo do dia.  

— Não precisa falar se não quiser mais se serei sua advogada preciso saber tudo ao seu respeito,  é o melhor jeito de te ajudar num possível processo contra ele.

— Me perdoe, é que só de ouvir falar no nome daquele canalha...  – ele sentou-se novamente e pude notar seus olhos azuis ficarem marejados, não demorou muito e ele começou a falar sob forte emoção.

— Quando minha mãe foi trabalhar na mansão dos Snow eu deveria ter uns dez anos, dona Marta mãe de minha esposa sempre foi uma mulher muito amável inclusive com os empregados da casa, dona Greasy Sae e ela desenvolveram um relacionamento muito bonito pareciam até mãe e filha, a mãe de Delly tinha vinte cinco anos quando chegamos à residência deles o marido já era um senhor de cinquenta e seis, ele a maltratava muito, Coriolanus sempre foi um tirano e suas vitimas preferidas eram a mulher e a filha, com apenas quinze anos minha sogra foi obrigada a casar com o velho, tudo para cumprir um acordo entre ele e James Cartwright pai dela, o acordo entre os dois uniu o útil ao agradável, meu sogro estava falido mais ainda tinha um nome importante e influente no cenário político e na alta sociedade, e sr Cartwright era um bilionário buscando ascensão tanto na alta sociedade quanto na política, a combinação perfeita.

Durante o tempo que minha mãe trabalhou na mansão testemunhamos muitos negócios escusos e fraudulentos firmados entre políticos, empresários e algumas personalidades, o atual governador nunca foi alguém muito honesto pode se dizer assim, porém o que mais nos angustiava eram as agressões físicas contra dona Marta e seus casos extraconjugais, algumas vezes ele levava suas amantes para a mansão e obrigava dona Marta a permanecer debaixo do mesmo teto que tais mulheres, muitas vezes ela as servia como se fosse uma empregada, tinha noites que a humilhação era tão insuportável que dona Marta pegava a filha e se refugiava nos aposento dos empregados nos fundos da casa principal, eu e Delly nos tornamos inseparáveis por conta da amizade entre nossas mães e com o tempo o inevitável aconteceu nos apaixonamos minha mãe e minha sogra nunca fizeram oposição ao nosso namoro, mesmo com o acordo feito entre Fhilipe Ritchson e Snow de casar seus filhos Gloss e Delly quando ela fizesse dezoito anos, a mãe dela não queria que minha esposa tivesse um destino parecido com o seu, partiu de minha sogra e minha mãe a ideia de fugirmos pela primeira vez.  Não demorou muito o pai dela  descobriu nosso namoro e nossos planos e logo armou para que eu fosse preso, depois mandou Delly para um colégio interno no distrito 6, muito conhecido por seu métodos nada convencionais de ensino, minha sogra ainda tentou me ajudar a sair do reformatório mais teve um ataque cardíaco e faleceu duas semanas após eu ter sido preso.  – eu já sabia da historia de Peeta, Pollux meu assistente já havia me passado sua ficha completa, ainda assim eu mantinha meus olhos fixos nele durante todo seu discurso, dava para sentir pela sua fala  o  quanto ele sentia ódio do sogro. 

— Foi neste tempo que conheceu Johanna?

— Minha mãe a conheceu primeiro... Acho que foi obra do destino sua chegada em nossas vidas. –  o loiro abriu um sorriso tímido em minha direção, seu sorriso era tão sincero que era impossível não correspondê-lo. 

 –Snow expulsou minha mãe da mansão assim que mandou me prender, a dispensou sem direito a nada, depois de anos trabalhando na mansão mamãe saiu do trabalho apenas com seus pertences pessoais, Darius meu padrinho e  motorista da residência, deu para minha mãe suas economias, com o dinheiro ela pagou  um quartinho no distrito 2 onde eu estava cumprindo minha  pena, e com a sobra comprou  materiais para fazer bolos  e pães e vendê-los  na feira livre, foi lá que elas se conheceram, sua irmã estava abrindo uma franquia no 2,  na época ela  ficou maravilhada com os dotes de minha mãe e a contratou para trabalhar no restaurante, e depois que eu sai do reformatório ela me deu uma oportunidade de trabalhar lá também,   Johanna me ensinou  tudo que eu sei hoje, por conta dos seus ensinamentos eu consegui um trabalho na casa do Cinna Thompson como cozinheiro alguns anos depois. 

— Johanna nunca me falou de você.

— Não? Interessante ela me falava muito sobre você em nossas conversas quando ela viajava para o 2, dizia do orgulho que ela sentia da irmãzinha mais nova estar estudando na melhor faculdade de direito da capital e do quanto ela sentia sua falta  por estar longe de casa, falava também da paixão dela pelo Haymitch e do casamento que aconteceria em breve,  sobre o namoro escondido de Finnick e  Annie, do seu carinho pela senhora Mags. 

— Nossa e você se lembra de tudo isso? – me admirei com tudo que Peeta dizia de minha família, realmente ele e minha irmã parecia ter uma bela amizade, o que me deixava ainda mais intrigada sobre ela ter ocultado uma amizade assim.

— Seria impossível esquecer nossa amizade, Johanna teve um papel importante em minha vida, eu fiquei muito deprimido por ser obrigado a ficar longe de minha branquinha, quando eu soube que ela ia se casar, a Mason me incentivou e me deu dinheiro para que eu pudesse fugir, costumo dizer que a doida patrocinou a nossa fuga, já que não podia ficar no distrito2 fui para o 12 com Delly e minha mãe, algum tempo depois ele nos achou e denegriu minha imagem por lá, mudávamos sempre e sempre dava no mesmo, Snow sempre nos achava,  para ele não importava que eu e a filha dele já estivéssemos formando uma família ele a queria de volta na mansão e casada com o Gloss  só nos deixou em paz quando fui para o 4  e comecei a trabalhar como cozinheiro para o Cinna, parece que  eles tinham uma certa rivalidade desde o passado, alguns anos depois eu ainda voltei no 2 procurando pelo restaurante e por Johanna mais ele estava fechado, sabia que ela vivia no 1 mais sempre tive medo de chegar perto deste distrito por causa de minha família,  e como eu sempre me afastei dos grandes centros não acompanhei a ascensão social de minha querida amiga ao longo destes anos.  

— Entendo, só não consigo entender por que após tanto tempo Coriolanus ainda te persegue e quer ficar com a guarda de suas filhas?

— Ainda não entendeu Katniss?  Seu assistente não falou tudo sobre mim e minhas filhas não é?  O Snow esta falido outra vez, gastou toda sua fortuna com mulheres e jogatinas.

— E o que suas meninas têm  a ver com isso Peeta? – perguntei já com medo da resposta.

— Eu e Delly não fugíamos de Snow só para viver nossa bela história de amor, e ele não nos caçava como animais só por que queria ver a filha casada e morando com ele na mansão. — suspirou e soltou a bomba que me fez recostar no encosto da cadeira, eu teria mais trabalho ainda para defender meu cliente.

— Há quatro meses o s.r. James Cartwright faleceu deixando uma fortuna incalculável para seus únicos parentes vivos.