Coração de Lata escrita por Lady Padackles


Capítulo 6
Eu enxergo assim




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Aquele sim era um jantar romântico, como há muito tempo ele e Sam não tinham. Flores em cima da mesa, vinho de qualidade, música agradável… Dean estava satisfeito, pois seu marido, muitas vezes tão distante, estava pelo menos se empenhando para agradá-lo. A conversa sobre os japoneses e a empresa não lhe interessava muito, mas Campbell entendia que esse era o dia-a-dia de Winchester, e se esforçava para mostrar-se atento. Na verdade o louro esperava uma brecha para falar de Castiel, e dos sentimentos que pareciam confundir o pobre androide. Quando finalmente o assunto veio à tona, Sam pareceu muito surpreso.

— Castiel? Apaixonado por você? – Perguntou o moreno incrédulo, franzindo o cenho.

— É… Bem… Não. Acho que ele está apenas confuso, Sammy. – Dean precisava ser cuidadoso. Não queria que Sam considerasse a atitude de Castiel inapropriada demais e pensasse em se livrar dele. O pobre androide, na verdade, não tinha culpa de nada. Ele e Dean passavam muito tempo juntos, e, com a pouca experiência de vida que tinha, era natural que Castiel não conseguisse entender ainda uma relação de amizade.

— Você já transou com ele?

A pergunta de Sam pegou Dean de surpresa. O louro fitou o marido a procura de alguma dica sobre o que ele queria dizer com aquilo. Era uma provocação? Estaria Sam com ciúmes de sua relação com o humanoide? Ou talvez ele estivesse de gozação? Mas a expressão do moreno, que perguntara com a naturalidade de quem pede um copo d'água, não deixava transparecer nada além de tranquilidade.

— Não! Claro que não! – exasperou-se Campbell.

— Por que claro que não?

— O Castiel e eu somos amigos! Eu amo você, Sammy. Só você! – Retrucou o louro, ainda sem entender como Sam podia acusá-lo daquela forma, com a expressão mais serena do universo inteiro. – Eu jamais te trairia!

Agora ele estava arrependido. Dean devia ter deixado Winchester falar dos japoneses a noite inteira. Achou que o marido pudesse ajudá-lo com Castiel, mas, pelo jeito, aquele papo só servira para que ele passasse a desconfiar de uma relação entre os dois.

— Dean… Transar com Castiel não é traição! – Disse Sam convicto. Aquela afirmação fez com que o louro se espantasse. Ele estava prestes a abrir a boca para retucar, mas Sam não o deixou falar. – Ele é seu robô. Seu brinquedo! É como um boneco inflável de última geração – disse, com paciência. Em seguida deu um longo suspiro, enquanto Dean o observava apreensivo. – Estou começando a achar que no fim das contas Castiel não foi um bom presente para você.

— Não, Sammy. Claro que foi. Ele me faz companhia! – Dean respondeu, quase sem pensar. Não sabia agora onde Sam queria chegar com aquela conversa.

— É que quem está ficando confuso com tudo isso é você, Din-dean. Androides não tem sentimentos, lembra? O Castiel foi projetado para simulá-los. Esse tipo de robô está fazendo o maior sucesso no Japão, mas acho que tem muita gente ficando meio maluca por causa deles, assim como você…

— Eu não estou maluco! – reclamou Dean. Campbell tinha certeza disso. Não estava maluco … Castiel tinha sentimentos! Pelo menos parecia ter… Ou será que ele estava mesmo simulando tudo?

— Então deixa de besteira, e para de tratar esse robô como se fosse humano…

Dean assentiu com um gesto de cabeça.

— Ele vai tentar te conquistar. Vai dizer que está apaixonado… Lembra que ele é só uma máquina, projetada para isso mesmo: sexo e romance. Não pode se esquecer disso. Se eu fosse você, experimentava logo. Dizem que esses robôs são bons de cama. Eu mesmo quero provar um dia. - acrescentou Winchester dando uma risada e colocando na boca uma bela porção de sobremesa.

Dean estremeceu. Melhor mudar o rumo daquela conversa. Castiel podia ser só uma máquina, mas o louro simplesmente não conseguia pensar nele como tal. Era estranho ver Sam falando em Castiel como se fosse um simples objeto. Mas defender o robozinho para o marido estava for a de cogitação. A última coisa que Campbell queria era que Sam o achasse um doido varrido e levasse seu amigo embora.

O resto da noite correu tranquilamente sem que Castiel fosse mencionado novamente. Demorou um pouco para que Sam tomasse coragem e contasse ao marido sobre a viagem que precisaria fazer em breve.

— Você vai ao Japão, Sammy? - Dean soou decepcionado, mas não bravo. A reação do louro foi mais amena do que Sam antecipara, e isso fez com que o moreno respirasse um pouco mais aliviado. Dean haveria de entender...

— É um negócio importante... Você pode vir comigo se quiser! - propôs Winchester.

Há algum tempo atrás, Dean não teria hesitado. Por pior que fosse ficar cercado de seguranças, viajar com seu marido era sempre melhor opção que ficar sozinho com os empregados no casarão. Mas agora ele tinha Castiel...

— Pode ser... - respondeu o louro com pouca convicção. - Mas imagino que você vá ficar ocupado o tempo todo, né? Não sei...

Sam novamente surpreendeu-se com a reação do marido. Dean estava em dúvida? Por mais estranho que fosse, melhor assim. Melhor que ele ficasse em casa. Seria complicado para ele tentar arranjar tempo para o louro durante a viagem... E foi assim que Dean e Sam decidiram que Campbell ficaria no Texas, deixando Winchester partir sozinho para o oriente, já na semana seguinte.

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Sam estava aliviado e agradecido por Dean ter sido tão compreensivo dessa vez. Para fechar a noite com chave de ouro, levou o marido para a cama e fizeram amor por muito tempo. Dean teve o cuidado de trancar a porta para que Castiel não entrasse sem aviso.

— Eu vou morrer de saudades... – Campbell lamentou-se fazendo dengo.

— Eu sei, meu amor. Eu também vou! - E dizendo isso, já sonolento, Sam agarrou-se ao marido e beijou-o diversas vezes antes de cair no sono. Seu último pensamento antes de dormir foi que se esforçaria ao máximo para dar atenção à Dean nos poucos dias que teriam antes da viagem. Era o mínimo que podia fazer por ele.

Dean também queria aproveitar seus raros momentos ao lado de Sam. Tratou de acordar cedo para usufruir de cinco minutinhos de esfregação antes que Winchester saísse para o trabalho. O louro ainda ouviu quando Sebastian foi reclamar com o patrão sobre "ter que dar banho em marmanjo".

— Marmanjo? Sebastian, ele é só um robô! - retrucou Sam, dando pouca importância ao lamento do empregado - Só me faltava essa agora. Pelo jeito todo mundo endoidou aqui nessa casa...

Dean teve que rir. Pelo menos ele não era o único doido. Em seguida suspirou pensando no robô. Depois daquela maravilhosa noite ao lado do seu amor, não tinha muita vontade de enfrentar Castiel e seus pedidos de casamento de novo...

Antes de ir ao encontro do androide, Campbell repassou na cabeça a conversa que tivera com o marido. Castiel não tinha sentimentos... Todas as suas reações eram programadas. Suas emoções eram apenas simuladas. Uma simulação brilhante, isso era verdade... Qualquer um haveria de admitir. Racionalmente, Dean acreditava na afirmação de Sam. Seu coração, ao contrário, dizia que algo inexplicável dera vida, de verdade, àquele robô.

Apensar da pouca vontade, Dean decidiu que o melhor a fazer era ter uma conversa com o androide. Castiel precisava entender que seus sentimentos, simulados ou não, eram de amizade apenas. E o louro não queria de jeito nenhum que as coisas ficassem esquisitas entre eles.

Campbell chegou de mansinho. Deu bom dia para Castiel, e em seguida sentou-se de frente para ele.

— Por que você falou em casar comigo, em ser meu namorado...? - perguntou meio do nada.

— Eu... Só queria te beijar. - Castiel disse parecendo sem graça. Dean poderia jurar que o vira enrubescer. Aquele robô era fofo. Muito fofo... Dean sorriu sem querer.

— E por que? - insistiu o louro.

— Eu... Acho que estou apaixonado. - O androide dessa vez fez questão de fitar o chão enquanto falava.

— Não, Castiel... Olha... Você não está.

— E como você sabe? - Dessa vez, o robô olhou Dean nos olhos, se mostrando curioso com a resposta que o louro haveria de lhe dar.

— Porque amor, paixão... Isso é coisa de humanos, não de robôs...

Assim que terminou a frase, Campbell teve medo de parecer rude, e completou, amenizando: - Sorte de vocês, aliás... Poque a gente sofre com todo esse sentimentalismo.

— Hmmmm. - Castiel pareceu pensativo. - Eu posso ter interpretado errado.

— Sim! - concordou Campbell.

— Talvez eu ainda não saiba o nome disso... Porque nunca aconteceu comigo antes...

— É amizade! - concluiu o louro.

— E amizade eu posso sentir?

Não, teoricamente não podia... Dean estava confuso com tudo aquilo.

— Não sei...

Castiel então calou-se. Olhou para Dean ternamente em seguida.

— Deixa pra lá. - disse depois de alguns segundos. - Tanto faz... - completou.

É. Talvez fosse melhor assim... Dean sentiu-se aliviado com o fim daquela conversa. Talvez devessem esquecer aquele assunto de vez.

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Aquele dia não foram à piscina e muito menos fugiram de casa para passear. Dean e Castiel passaram bastante tempo sem fazer nada, ou simplesmente assistindo seriados de televisão. Castiel gostava muito deles, mas Campbell mal conseguia se concentrar. Passou a maior parte do tempo distraído, ora pensando em como sentiria saudades de Sam quando ele viajasse, ora refletindo se era possível que Castiel tivesse mesmo algum tipo de sentimento.

O humano e o androide só levantaram do sofá no final da tarde, por insistência do último. Queria jogar ping-pong... Assim que começaram a partida, entretanto, foram interrompidos por Sam, que voltara mais cedo do trabalho.

— Oi meu amor, jogando ping-pong?

Dean surpreendeu-se quando sentiu os enormes braços do moreno segurando-lhe por trás e dando-lhe um beijo no pescoço.

O louro gostou da surpresa, é claro. Mas o jeito como seu marido ignorava Castiel o incomodava. Winchester nem mesmo cumprimentou o pobrezinho do robô, e já saiu puxando Dean de perto dele como se o que estavam fazendo juntos não tivesse a menor importância.

— Sammy, eu estava jogando com o Castiel... - repreendeu o louro. - Você nem mesmo falou com ele... - suspirou, vendo o olhar desolado do androide.

— E você prefere jogar ping-pong a ficar comigo? - Winchester pareceu ofender-se. - Poxa, eu consegui sair mais cedo pra ficar com você... - disse fazendo beicinho.

O louro abraçou o marido. Claro que ele preferia ficar com Sam... Mas não queria que Castiel se sentisse rejeitado também. Sem opção, Campbell apenas se aproximou do robô e deu-lhe um tapinha no ombro, como a desculpar-se.

Dean não sabia explicar porque, mas o androide lhe pareceu, naquele momento, completamente humano. Mais humano do que jamais lhe parecera antes. Talvez fosse a tristeza estampada no rosto, que cortava o coração do rapaz.

Já longe dos olhares de Castiel, Campbell voltou ao assunto.

— Sammy, é claro que eu prefiro ficar com você... Mas não custava cumprimentar Castiel e pedir licença, né? - reclamou.

Sam riu. As palavras de Dean o fizeram se lembrar de outra coisa, e ele não pôde deixar de contar para o marido. Era engraçado demais.

— Dean, o Sebastian deu banho no Castiel? - disse em meios às rizadas. Nem mesmo esperou que o louro respondesse, pois era uma pergunta retórica. - Ele veio se queixar pra mim... Disse que... Disse que... - Sam não conseguia nem falar, em meio às gargalhadas.

— Que não queria dar banho em marmanjo... - completou Dean, sem achar tanta graça assim da piada. - Eu ouvi a conversa... - completou.

— Cara, Dean, você achando que robô tem sentimentos, e ele achando que é um homem de verdade... Eu não aguento. - O moreno estava já sem fôlego, e o louro, ficando irritado.

Aquilo não era assim tão engraçado. Sebastian não deixava de ter razão, e Dean setia-se um pouco culpado por tê-lo feito dar banho em Castiel. Mas antes Sebastian que ele... O robô podia ser de mentira, mas tinha um pênis que parecia de verdade. Até funcionava de verdade... Não que ele tivesse visto, mas Sam mesmo fizera questão de enfatizar.

— Muito engraçado... - O mais velho falou por fim, em tom de reprovação. Sam estava rindo da cara de Sabastian, mas também da cara dele. - Eu e Sebastian não temos culpa se o robô é, tipo, praticamente um homem de verdade... O pobre do Sebastian teve que lavar um pênis... - acrescentou sério.

E Sebastian lavando um pênis não era um pensamento engraçado, sendo este de verdade ou não? As vezes faltava a Dean um pouco de senso de humor. Mas Sam não estava a fim de ver o marido irritado, então tratou de morder a língua e mudar o rumo da conversa.

— Eu trouxe chocolate - lembrou-se o moreno, pegando uma bela caixa de bombons que trouxera consigo. Aquilo foi o suficiente para que Dean sorrisse. Logo estavam os dois se deliciando e brincando na cama.

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Depois de horas se divertindo com o marido, assim que Sam adormeceu, Dean lembrou-se de Castiel. Ainda se sentia culpado por tê-lo largado assim, sem nem mesmo um pedido de desculpas. Sentia-se também envergonhado pelo jeito com que Sam tratava o coitado. O louro simplesmente não conseguiria dormir sem antes falar com ele.

Na penumbra, Campbell aproximou-se do androide, que estava no meio da sala de TV. Ele não estava assistindo vídeos, ou jogando alguma coisa, como costumava fazer. Estava simplesmente parado, no mesmo lugar, como se viver não valesse a pena. Dean sentiu uma pontada no coração.

— Castiel, você está bem? - perguntou baixinho.

O robozinho se virou para o humano e simplesmente se esticou para abraçá-lo. Um abraço que Dean não pôde negar. O louro não custou a perceber que algo estava mesmo diferente. Algo que ele sentira desde que se aproximou do robô após a curta partida de ping-pong que disputaram. Era um cheiro... Cheiro de gente. Cheiro de homem.

Sim, o cheirinho de plástico tinha ido embora e deixado em Castiel um cheiro de gente de verdade. Provavelmente o banho que Sebastian lhe dera. Depois, vendo o manual do robô, Dean leu que a instrução era para banhar o androide, e livrá-lo do cheiro da embalagem. Naquele momento, entretanto, abraçado a Castiel, o louro apenas sentia com se abraçasse um ser humano. E um de quem ele gostava muito.


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