Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 82
LXXXII


Notas iniciais do capítulo

07/04/2019
Olá! Depois de duas semanas tratando a tendinite, trago mais um capítulo para vocês. Não tem muito da Wandinha ou do Barnes nele, mas tem outros personagens que amo muito e a insinuação de um casal que adoro. Aqui vai também um agradecimento especial aos que continuam comigo nessa jornada incrível ♥ Muito obrigada também a O Lado Bom do Yaoi, que deixou comentários super gentis ♥ Vamos lá?
PS: Sem imagem por enquanto, tô meio atrasada pra um compromisso.



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Steve Rogers cumprimentou outro aluno do Instituto Xavier com um sorriso um tanto acanhado, fraco. Era mais um que havia frequentado seu famigerado curso de verão, que se resumia a aulas de desenho básico enquanto conversava com as crianças sobre liberdade e histórias da Segunda Guerra. Sam Wilson achava graça, também debochava sobre os vídeos educativos que ele tinha feito em 2012 para a educação de adolescentes. Na realidade, Steve apreciava tais atividades. Depois da Guerra, tinha se esquecido das coisas que de fato gostava de fazer e por muito tempo só se manteve ocupado com a SHIELD para dizer que preenchia seu tempo livre. Ela permanecia ocupado com atividades deveras perigosas, mas era bom sentar um pouco e conversar com jovens. Eram talentosos, esperançosos, revoltados. Isso o fazia lembrar pelo o que eles estavam lutando.

Só ainda não levava muito jeito ao ver crianças com brilhos nos olhos frente ao Capitão América. Ele não queria abusar dos benefícios que a fama trazia, por exemplo o fato que as pessoas pareciam mais inclinadas a ouvi-lo. Ele podia encostar no ombro de alguém de quase sua própria idade e dizer em seu tom paternal “Filho,” para iniciar uma conversa e praticamente seu argumento estava garantido. Mas, apesar de tais coisas ainda serem um tanto embaraçosas, tinham lá suas vantagens. Foi só dizer que o Capitão América contava com a ajuda dos estudantes para não espalhar por aí que estavam no Instituto que todos concordaram em ajudá-los.

Se bem que teve que narrar toda a história da barba.

Os dois esperavam sozinhos no hall da mansão e tal demora de Xavier e a senhorita Munroe os deixava nervosos. Não havia nada sobre Anna Marie ou Remy LeBeau também.

— Tem algo errado, Sam.

— É. Professor Xavier nunca foi regado a atrasos. Nem Ororo. Aqueles colegas que conhecemos em Zurique também não estão aqui, aquela tal ruiva, o cara de óculos estranhos e o… O homem que mais parecia um lenhador.

— Logan Howllet?

— Conhece?

— Ele lutou na Segunda Guerra, sabe?

Ele se lembrava do rosto de Logan durante uma ou duas missões, mas ele não parecia se recordar tais coisas. Steve tentou abordar o assunto uma vez, no entanto Xavier explicou que o mutante de garras metálicas não tinha memórias de muitas coisas - e talvez fosse melhor assim.

— Steve Rogers. — Sam estalou a língua e balançou a cabeça. — Você é um homem de muitas histórias.

— Eu tenho quase cem anos. — Deu de ombros. — Há muito o que contar. Coisas que nem você sabe.

— Huh, o que essa barba fez com o queridinho da América? Cheio de segredos.

Steve nem ousou contar outras partes de sua tão estranha vida, como ter conhecido um homem vindo do mar, durante a Segunda Guerra. Nunca mais o encontrou, infelizmente.Apesar do instante de descontração, ele encarou desconfiado o ambiente ao seu redor. Os alunos tinham voltado para suas salas de aula e ninguém tinha aparecido ainda. Ele e Falcão tinham evitado usar canais de comunicação para avisar Xavier para não serem interceptados pelo governo, mas conseguiram chegar até lá sem serem seguidos. Pensavam que a telepatia o professor seria o suficiente para anunciar sua chegada, mas… Ainda que tudo estivesse quieto, havia uma agitação no ar.

— Sentiu algo diferente, Sam?

— Muito leve, mas sim.

Steve parou um instante para ouvir. Era uma respiração muito leve, entrecortada.

— Quem estiver aí, por favor se mostre.

— Apesar da juba, Steve aqui nao morde. Não é, Steve?

Ele só lançou um olhar feio para Sam e logo em seguida ouviram uma risada abafada e depois um “opa” seguido de um tropeço. A pessoa em questão viu que não fazia mais sentido continuar se escondendo e se revelou, embora não do jeito que eles estavam esperando: a jovem saiu de uma das colunas da mansão, como se estivesse atravessando-a de dentro para fora.

Era uma aluna e lhes deu um aceno.

— Oi.

— Então, mocinha… — Sam tentou abafar o riso. — Sabe onde professor Xavier está? Ou então senhorita Munroe?

— Eu me chamo Kitty Pride. — Ela se aproximou, estendendo a mão para cumprimenta-los com entusiasmo. — Mas podem chamar de Lince Negra se forem me levar para a missão. Vocês obviamente precisam de ajuda pra chegar até lá embaixo. Eu disse para a Jean que eu podia ser útil, mas ela não me escuta. Só parece se importar quando eu a xingo na minha cabeça. Agora só ouvem a Anna Marie. Ela é legal e tem uma mecha platinada maneira, mas não adianta se ninguém conta o porquê tem tanta comoção envolta dela e...

Houve um segundo de pausa. Nenhum deles estava muito acostumado com falatório.

— O que estão olhando? A gente tem que se apressar pra pegar o jato!

Steve franziu os cenhos.

— Que missão?

— Oh. Vocês não estão aqui para a missão com os X-Men?

Os dois se entreolharam com cautela.

— Ai, droga. Vocês não estão aqui pra missão. Eu tô tão ferrada.

— Kitty. Lince Negra. — Steve avançou um passo e colocou a mão em seu ombro magro. Imediatamente ela parou pra prestar atenção, sua expressão de repente solene perante ao Capitão América. Não era sua real intenção colocar a menina em perigo, mas ele precisava de informações.  — Que tal nos levar para o tal jato?

 * * *

O lugar era bem maior do que Steve tinha visto em visitas anteriores. Além da mansão contar com salas de aulas, banheiros, dormitórios e tudo o que um verdadeiro Instituto necessitava para abrigar todos com conforto, existia também andares subterrâneos. Tinha sido uma longa descida até aquele andar e  parecia algo que Tony teria projetado devido a segurança das paredes revestidas de material metálico e hermético. Steve não sabia dizer exatamente qual material era aquele, mas a tecnologia investida era notável: trancas por leitura biométrica nas portas, todas com um emblema em forma de X e estruturas pesadas. Não que aquilo adiantasse contra os poderes da menina que os guiava: ela podia atravessar qualquer coisa sólida. Na primeira porta que se depararam, Kitty pegou os dois pelas mãos e deu passos a frente, caminhando pela parede grossa como se nada estivesse impedindo-a de passar.

O Capitão América sentiu-se como um verdadeiro fantasma.

Quando chegaram ao final do corredor, Kitty Pride se virou para os dois e soltou um suspiro. Steve não compreendia ao certo como as mutações genéticas aconteciam, na realidade nem mesmo os melhores cientistas sabiam exatamente, e tal coisa parecia tão irrelevante naquele momento: ela não passava de uma adolescente. Uma criança com muito a aprender, viver. Era um crime desejar que ela fosse curada, mandada a um reformatório, vigiada por máquinas e sujeita a duras leis. Por que punição se não havia delito? Por que construir prisões se o Estado poderia instruir esses jovens? Kitty Pride era uma garota como qualquer outra, apenas falava bastante e podia atravessar paredes.

— Tecnicamente, nem eu deveria estar aqui, mas… Não sei, parece ser importante o que vocês têm a dizer com o professor Xavier. Digo, é o Capitão América e o Falcão. É legal ter um herói diferente aqui no Instituto. Acho que nos faz sentir que existem outras pessoas que se importam com a gente.

— Garota. — Sam sacudiu o rosto. — Nós ainda somos Vingadores. Nós protegemos as pessoas.

— Eu sei, mas… Nós não somos considerados pessoas. Somos mutantes. Mutunas. — Disse ela com tristeza, uma lembrança ruim por detrás de seus olhos baixos. Steve sentiu seu sangue correr com raiva da situação, imaginando quantas vezes a menina tinha ouvido aquele termo chulo. — São sempre mutantes lutando por mutantes. É raro ver algo diferente.

— Não mais. — Steve lhe assegurou. — Escute, nós não teremos a mesma abordagem do Instituto, mas não vamos deixar que Sentinelas tomem as ruas. O que houve em Zurique é inaceitável.

Ela colocou as mãos atrás do corpo e sua postura era nervosa, bamba.

— Fiquei com medo quando… Quando a senhorita Jean e os outros foram pra lá. Todos nós ficamos. Parecia que… Que iam liberar o uso de Sentinelas de verdade.

— Isso não vai acontecer. — Sam foi categórico, mas não pareceu surtir muito efeito na adolescente, que deixou escapar um sorriso nervoso, triste.

— Tem gente desaparecendo.

— Sabemos. — Steve assentiu. — E é por isso que estamos aqui. Vamos conversar com todos pra resolver isso.

— Entendo que eles não falam tudo pra gente pra não termos medo, mas ouvimos boatos horríveis.  Isso faz muita gente pensar se… Se Genosha é realmente mais segura.

— Nós não… — Ele engoliu seco. Não tinham informações em primeira mão desse novo país há semanas. Tudo o que sabiam é que a travessia era um tormento, mas a estadia um deleite. Ninguém mais desejava voltar, ninguém mais queria estar numa nação onde se corria risco e atualmente nenhum mutante se considerava seguro. — Não sabemos.

— A amiga de vocês. A Feiticeira Escarlate. Ela não está lá? Ela desapareceu depois de Zurique. A última notícia que vi dela foi em Marrakesh e lembro de ter ouvido Anna Marie falar dela em Bucareste. Pensei que estivesse lá… Já que ela é filha do..hm, Magneto.

— Ela não está. — Sam respondeu pelos dois, mas não tinha certeza. Ela poderia estar qualquer lugar, sem desejar ser encontrada. Isso provocou uma pontada de pânico em Steve. Os últimos meses não tinham sido fáceis para Wanda e ele não fazia idéia de como ajudar. Por mais que Bucky tivesse feito companhia à ela, agora a Feiticeira estava sozinha. Steve tinha que acreditar que ela estava bem.

— Ele, Magneto, disse que… Que ela é uma de nós. Isso é verdade?

O Capitão demorou um segundo a mais para confessar:

— Sim.

— Ela está segura?

— Ah, sim. — O Falcão trocou um breve olhar com Steve e por fim optou por uma resposta que, apesar de verdadeira, também foi dita com um tom ameno e positivo: — Ela só tá buscando entender melhor como que ela é filha de Erik Lensherr.

— Eu imagino. — Ela olhou para baixo durante alguns segundos e depois ofereceu novamente suas mãos à Steve e Sam. — Vamos?

Eles atravessaram a porta. Pararam em uma plataforma acima de tudo, num cômodo que tinha dimensões colossais e abrigava justamente aquela aeronave em que os X-Men usaram para sair de Zurique. Aquilo era um hangar projetado com perfeição.

Depois de um primeiros instante admirando o local, os olhos de Steve desceram até um grupo aglomerado perto do jato, que jazia parado e com a comporta aberta. Ele identificou Professor Xavier, Ororo, Scott Summers, Logan e Jean Grey, cada um deles uniformizado em azul marinho e amarelo. Eles não notaram a presença dos três logo ali em cima, talvez porque até mesmo os telepatas estavam focados numa discussão. Entre todos e notavelmente desconfortável, havia um homem com as mãos para cima num gesto de rendição, suas roupas e seu rosto sujos de graxa.

— Ora, essa! — Sua face estava carregada de frustração, olhos arregalados e testa franzida. — Não é minha culpa!

Scott deu um passo para frente.

— O jato não estava com a manutenção em dia?

— Sim! — Sua voz subiu tom mais agudo. — Vocês me veem trabalhando, toda semana faço vistoria!

Steve se surpreendeu em ouvir uma risada familiar de deboche, uma risada que ele ouviu algumas vezes durante suas missões com o Comando Selvagem durante a Segunda Guerra. Logan se apoiou com o ombro na lataria do jato, cruzou os braços e disse:

— É, e ainda assim o jato não decola justamente no dia em que mais precisamos.

— O tipo de avaria que sofreu não é detectada por uma troca de óleo ou limpeza! Posso consertar, — Ele completou com desespero. — Mas vou precisar de algumas horas, talvez um dia inteiro.

— Nós não temos um dia inteiro!

Steve franziu a testa, encarou Sam e também Kitty. Ela também pareceu abismada com a explosão de raiva de Scott, que logo foi acalmado por Jean.

— Gente… — Ela chamou a atenção de todos, apertando delicadamente o ombro de Scott.

— Forge faz o seu melhor. Imprevistos acontecem e não vai adiantar nada discutir.

— Precisamos de um outro plano. — Em silêncio até o momento, professor Xavier concluiu de maneira sucinta e pesarosa. Ororo, próxima da cadeira de rodas do diretor do Instituto, soltou um suspiro  e pareceu pensar em outras alternativas.

— Apenas alguns de nós consegue voar e… Genosha é tão longe.

Steve não soube o que deixou sua pele mais eletrizada: o peso da afirmação em si ou a reação de Kitty Pride ao seu lado. Ela deu um passo rápido para frente, sua boca aberta:

— Vocês vão para Genosha?!

Um silêncio breve pairou no ar. Os X-Men encararam os dois Vingadores, eles encararam de volta. Ninguém disse nada por um segundo que pareceu eterno, até que toda a paz de Jean Grey foi roubada. Steve mal conhecia a mulher ruiva, mas julgava-a calma. Depois de ver sua face se torcer em irritação, ele reconsiderou seus julgamentos e até mesmo deu um passo para trás. Era como assistir um incêndio crescer.

Ao menos ela não parecia tão furiosa com eles quanto estava com a adolescente.

— Kitty! Eu disse para não descer o hangar!

— E quando você ia dizer que a missão era em Genosha?

— Eu não ia! — Jean respondeu, seu corpo de repente flutuando alguns centímetros do piso. Steve se segurou nas barras da plataforma, certo de que havia algo diferente no ar. Ele olhou para a mutante lá embaixo, seus cabelos ondulando mesmo sem vento. É claro. Além de telepatia, ela também tinha poderes telecinéticos. — Não ia porque é perigoso!

— Perigoso? Eu sou uma mutante. Uma mutuna. — Kitty mencionou o termo com raiva, descendo as escadas em direção ao grupo. Sam não saiu do lugar e Steve optou por também permanecer ali, apenas observando. — Qualquer lugar que eu vá é perigoso e nem importa, porque eu intangível!

— Você não entende, Kitty…

— Então me conte! — Desceu mais alguns degraus, já próxima do chão. — Eu tô cansada de ouvir vocês falarem que a gente pode salvar o mundo e no fim ficar trancada aqui!

Kitty! —Ororo tentou intervir.

— E sabe o que mais? — Ela continuou, a despeito do aviso de Tempestade e o assovio debochado de Logan. Steve sentiu a gravidade mais leve devido ao uso instintivo dos poderes de Jean Grey, que tiravam o peso de tudo conforme a tensão do ambiente crescia. Ela estava no seu limite. — Todo mundo no Instituto acha o mesmo!

— Ele querem sugar seus poderes e talvez a sua alma, Kitty! — Jean gritou, largando sua telecinese, agora já com os pés nos chão e lágrimas nos olhos. — E eu não posso te ver morrer! Eu não posso… — Soltou um soluço choroso. — Não, nenhum de vocês.

Kitty parou alguns metros de distância da mais velha, seus ombros rígidos. Chocada.

— Jean. — Scott chamou seu nome de maneira muito suave, pegou seu ombro com delicadeza. — Jean.

Steve pôde ver as mãos da telepata tremendo enquanto ela e Kitty se encaravam. Era uma bomba prestes a explodir, mesmo que Scott fizesse o máximo para tranquilizá-la. Ele a chamou pelo nome mais de uma vez, mas Jean somente soltou um suspiro aliviado quando Kitty veio a seu encontro e a abraçou com força.

O Capitão América sabia reconhecer uma família quando enxergava uma. Eles eram isso. Steve tivera a sua nos Vingadores também, por mais que… Por mais que ele tenha falhado com Tony ao esconder algo tão importante, sobre os pais dele. Era uma ferida ainda aberta

As duas, acompanhadas por Scott Summers, se afastaram do resto do grupo. Foi nesse instante que a atenção de Xavier recaiu sobre os Vingadores.

— Rogers, Wilson. Quando falaram que iriam me ver, não achei que fosse tão cedo. Lamento a cena que acabaram de presenciar. Bem, — Ele amenizou a situação com seu tom de voz calmo e sua boa educação. Steve e Sam trocaram um rápido olhar e optaram por descer as escadas enquanto Xavier falava. Nesse ínterim, o mecânico chamado Forge pegou suas ferramentas e foi para o outro lado do jato, com pressa de resolver o problema da aeronave. — Parece uma hora terrível para uma visita.

— Parece uma boa oportunidade para ajudar. — Sam argumentou, indicando o jato com o queixo, e Steve aproveitou a brecha para prosseguir com a conversa:

— Você sabe que estamos investigando o desaparecimento de mutantes pelos últimos contatos que fizemos, professor Xavier. Queremos ajudar a causa. E... achamos que duas pessoas que vieram para cá podem saber alguns detalhes importantes.

Ororo franziu a testa, Logan, que acendia um cigarro na boca, também pareceu surpreso.

— Oh. Você diz os dois jovens que a senhorita Maximoff trouxe?

— Sim. — Sam afirmou. — Anna Marie e Remy LeBeau.

— Bom… — Ororo deu um passo à frente. — É claro que podem conversar com os dois, mas estamos no meio de algo importante.

— Vão para Genosha, huh? Vão precisar mais do que carona, eu suponho. — Ergueu uma das sobrancelhas, indicando a aeronave e o fato de que, se os X-Men iam a Genosha e esperavam problemas, necessitariam de toda ajuda possível. Steve estava sempre pronto para acabar com quem promovia eugenia racial.— Nós podemos conversar com eles depois dessa missão.

— Na verdade… — Uma jovem vestida de verde saiu do jato, cabelos castanhos e mechas brancas. Era a exata descrição dada por Bucky, assim como a descrição do homem que a acompanhava, de ar despojado e olhos rubros. Steve supôs que fosse Remy, conhecido também por Gambit. — Nós vamos para Genosha por causa do que eu contei, Capitão Rogers.

— O que você quer dizer?

— Erik está em perigo. — Xavier suspirou. — Ele e todos os mutantes na ilha.

— Eu… Eu fui pega nos experimentos. Fugi. Sei que eles tem um certo tipo de cura, algo capaz de anular os poderes de mutantes. É temporário até onde sei, mas… Não entendi o plano completamente. — Ela deu de ombros e Steve notou o olhar preocupado, embora de soslaio, que Remy lançou a jovem. — É perigoso. Sei que eles têm injeções e sei que eles têm robôs e é por isso que queria avisá-lo.

Não era difícil ligar um ponto no outro e raciocínio rápido de Sam resumiu a questão:

— Derrubaria Magneto e todos os habitantes de Genosha.

— Exato. E ele vai abrir as fronteiras para receber auxílio internacional. — Logan soltou uma baforada de fumaça do cigarro, ironizando a ajuda de caráter duvidoso de outros países. Tal coisa incendiou os ânimos de Steve Rogers, pois nenhuma nação ou povo deveria ser enganado numa oferta de ajuda. Era um cavalo de Tróia.

— Três navios vão atracar no porto dentro de um dia e sem o nosso jato… — Ororo olhou para a aeronave. — A viagem será muito longa.

Ele tentou pensar rápido, levantando todas as questões na sua cabeça. Outer Heaven não era rápida o suficiente, pois se tratava de uma base aérea imensa e pesada. Mesmo que eles pegassem uma aeronave menor, não seria tão veloz quanto o jato do professor Xavier e nem tão furtivo. Não chegariam tão cedo a Genosha, embora não fosse levar mais que um dia - e um dia era tudo o que eles tinham. Tentar interceptar os navios no mar era em vão. A solução seria chegar antes que os navios atracassem, ou pelo menos nesse mesmo momento. Não poderiam permitir que a carga fosse desembarcada.

Primeiro, levariam todos a Outer Heaven. Bucky e Natasha também iriam para lá em breve, de modo que todos poderiam ficar a par da situação e prosseguir com esse novo destino. A cabeça de Steve Rogers tentava extrair informações importantes de cada lembrança, de cada pista, pensava em rotas aéreas, marítimas e toda a geografia do local. Mas algo ainda não fechava. Zola admirava os mutantes, da forma mais distorcida possível, e parecia irreal simplesmente querer matá-los. Até entenderia se Zola focasse apenas em Magneto, mas não parecia ser o caso. Seringas, experimentos, máquinas. Uma cura temporária para as mutações, um equipamento capaz de separar almas do corpo. Steve começou a ter ideia do que o cientista suíço desejava - e horror lhe subia a espinha. Enquanto isso, a conversa continuava, Sam lançando questionamentos válidos à Ororo Munroe.

— Não existe uma maneira de alertá-lo?

— Não sabemos de nenhum canal receptivo de informações disponível. Quando Genosha quer mandar mensagens, geralmente é por meio de suas emissárias. Mística, Psylocke, Frost. No geral, todos são bem… reclusos.

— Telepaticamente, então. — Sam cogitou, virando-se para Xavier. — Magneto não deve usar aquele capacete dia e noite.

— Não, não usa. Mas ele tem telepatas poderosas ao seu lado e elas bloquearam qualquer  tentativas de contato. Até mesmo Jean não conseguiu.

Steve deu um passo para frente, seu rosto duro e olhar gélido.

— A Máquina de Almas. — Disse, de repente. Seu olhar cruzou com o de Sam. — Zola não vai parar até acabar o que começou cinquenta anos atrás. Ainda quer o corpo e o poder do único que poderia aniquilá-lo. Ele não quer matar mutantes, ele quer manipulá-los. E que figura melhor que Magneto para fazer isso?

Houve uma pausa. Todos eles compreenderam a gravidade da situação e o horror que isso trazia.

— Ororo. — O tom de Xavier foi pesado. — Chame Jean e Scott. Vocês vão sair com o Wilson e Rogers. Agora.

* * *

Todo o grupo já estava no ar e a caminho de Outer Heaven. Sam pilotava, Ororo conversava ao seu lado enquanto Scott e Logan discutiam se era saudável ou não que ele fumasse um grosso charuto dentro da aeronave. Jean Grey nem ligava para os argumentos usados pelos dois, encarando os truques de carta que Remy LeBeau exibia para ela e para Anna Marie. Tinha sido difícil para a ruiva deixar Kitty no Instituto, tanto por conta da insistência da adolescente ir junto quanto pela dor de se separar da amiga, quase uma irmã mais nova.Steve usou esse meio tempo para entrar em contato com Natasha. Buscando um pouco de privacidade, ele foi até o fundo e usou o comunicador em seu antebraço. Não precisou nem dar dois toques.

— Hey. — Ele ouviu a voz dela e pôde respirar mais calmo. Steve não se considerava uma pessoa exatamente explosiva, mas o tom baixo das palavras de Romanoff eram sempre agradáveis - mesmo se debochadas, mesmo em situações ruins, e ele tinha sofrido todas essas nuances em anos de parceria. — Quais são as notícias, Rogers?

— A boa notícia é que não estamos sozinhos nessa.

— Hm. Essa é a boa?

Ele soltou um suspiro, um riso fraco e curto demais.

— É, essa é a notícia boa. Espero que não tenha planos para mais tarde. Há muito trabalho a se fazer.

— Oh, isso é um encontro? Pensei que nunca ia me chamar para sair.

Nat.

— Steve Rogers, — Ela estalou a língua. — Sempre estragando a graça do momento.

— Natasha. Quando eu te chamar pra sair, você vai saber.

Uma pausa do outro lado da linha.

— “Quando”?

Outra pausa, desta vez de sua parte. Inspirou, expirou. Ao  fundo, ele pode ouvir a voz de seu amigo Bucky Barnes dizendo, de forma alongada nas vogais: “Cara”. Steve então riu, quebrando a tensão do momento. Então Bucky tinha ouvido tudo? Típico. No futuro não iria mais perdoá-lo pelo clima com Wanda. Em um pensamento mais obscuro, ele desejou que depois de tudo, houvesse ainda um futuro para todos eles.

— Deem um jeito de chegar logo, vocês dois.

— Três. — A espiã voltou a usar seu tom profissional. — Estamos levando companhia.

— Bom. Pela forma que as coisas andam, quanto mais gente, melhor. Vai ser perigoso.

— Eu ficaria decepcionada se não fosse. Estamos a caminho, Steve. Tente não ficar muito ansioso.

— Vou tentar.

Mesmo sem vê-la, era como se assistisse seu sorriso.

— Câmbio.

Câmbio.

Steve suspirou. Tinha outra ligação para discar e mais um favor a pedir.

 * * *

Quando pousaram na pista para aeronaves menores em Outer Heaven, a base sobrevoava um ponto do oceano Atlântico, próximo à Europa. A nave de Natasha e Bucky também estava lá, indicando que os dois, ou melhor, os três já haviam pousado. Steve imaginava que tinham encontrado uma forma de convencer Yelena Belova de se juntar a eles - o que trazia mais paz ao seu peito. Ele entendia o quanto isso era importante e doloroso para Nat, portanto alívio inundava suas veias ao ver que tudo havia corrido da melhor forma possível. Imaginava que era algo próximo da situação de ter Bucky ao seu lado, um pedaço de seu passado - embora esse pedaço fosse violento para a espiã russa.

Steve auxiliou todos os seus convidados a descerem da nave e seguirem reto para o interior da base. Era um dia nublado como os olhos de Ororo Munroe, embora ela argumentasse que estava reservando a energia para usar seus poderes tempestivos em Genosha, portando a chuva não era obra sua. O céu era tão cinzento quanto a cor de Outer Heaven sem seus recursos de camuflagem.

Remy seguiu o caminho assoviando uma melodia repetitiva esboçando comentários sobre a base, enquanto Anna Marie implorava que ele apenas parasse. O Capitão ainda tinha certa cautela em trazê-los, porém Scott Summers assegurou que eram de total confiança - e ele daria crédito ao mutante. Scott era um bom líder e sua namorada, uma telepata, concordava com sua opinião sobre Remy e Anna e aquilo tinha que significar algo.

Nós corredores, ele tentou fisgar algum tipo de reconhecimento em Logan ao mencionar uma marca de charuto antiga, da qual ele dividiu uma vez com o batalhão em uma missão de resgate na Segunda Guerra. Logan nem piscou, nem uma memória antiga atravessou sua cabeça. Ele apenas pediu que, após a viagem, pudesse desfrutar de nicotina e álcool. Steve concordou. Parecia um pedido justo, por mais que o Capitão América não fosse fisicamente capaz de ficar bêbado e muito menos fumasse.

As estruturas da base eram largas e muito bem projetadas. Havia três níveis, mais o “convés” e a imensa sala de comando e comunicação. A parte inferior guardava mantimentos, a parte média reservava os aposentos, enquanto a parte superior servia para armazenar equipamentos, enfermaria e também era uma área comum para treinos ou até mesmo lazer entre os residentes. Em caso de perigo, a parte inferior e a média poderiam se desacoplar do restante - protegendo a vida de quem estivesse fora de combate.

Não que fosse exatamente necessário. Wakanda havia investido tecnologia de ponta ao construir Outer Heaven, portanto a base contava com campos de força para protegê-la em toda a sua extensão, bem como era equipada de artilharia pesada, caso a camuflagem não fosse suficiente.

Naquele momento, usariam apenas a sala de comando que poderia ser acessada pelo convés - a pista de pouso - ou então pelos níveis inferiores. Era um cômodo grande, dotado de painéis com telas sensíveis ao toque e hologramas. Como nunca receberam muitas pessoas ali, Steve e os outros costumavam passar horas ali jogando conversa fora enquanto monitoravam certos lugares e investigavam outras informações, sentados à uma mesa hexagonal. A iluminação estava baixa, composta apenas pela luz dos painéis e mapas projetados no ambiente em cor azul ciano. Ele viu três silhuetas no local, todas familiares. Trocou o olhar com Bucky, num cumprimento silencioso, e seu amigo tomou um instante para observar os convidados. Encarou Remy, Anna Marie. Depois encarou Logan e franziu a testa em reconhecimento, numa pergunta muda:

Não seria ele… Um antigo colega da Segunda Guerra?

Steve só negou quieto, um aceno vago com a cabeça. Não era um assunto para aquele momento e Bucky pareceu entender. Seu olhar então se firmou em Natasha. Parecia ter interrompido uma explicação que a espiã recebia de Belova, que por sua vez esticava a mão para mostrar uma rota no mapa a sua frente. Nat lhe ofereceu aquela sua expressão cansada, no entanto resoluta. Determinada.

A luz então se acendeu no restante da sala, deixando tudo claro. Eram onze pessoas ao todo.

— Bom, — Sam tomou a dianteira da conversa. — Temos muito o que falar e pouco tempo. Vamos ficar confortáveis primeiro, então… Sugiro que sentem-se.

Ninguém discutiu e logo todos estavam acomodados à mesa hexagonal que, na verdade, não se tratava de uma mesa com um tampo de superfície maciça, mas sim um “anel” com um espaço vago no meio onde podia-se entrar para discursar para todos presentes. Cada lado reservava dois assentos, Yelena dividia o seu com Bucky; Sam com Ororo; Remy e Anna, Scott e Logan, e Jean Grey na outra ponta.

Steve foi para o meio para mostrar o que tinham descoberto na investigação, e Natasha também. Também estava interessado no que ela tinha dizer, Steve fez um aceno leve com a cabeça e a instigou a começar ao invés dele, de modo que ela selecionou os arquivos cedidos por Belova. Jm contador de tempo apareceu em vermelho no alto da sala, com uma contagem regressiva em andamento. Poupou apresentações ou uma breve introdução:

— Nós temos menos que vinte e quatro horas para salvar Erik Lensherr e toda a população mutante que vive em Genosha.

 


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Notas finais do capítulo

* Eu também adoro romanogers xD

* Geral no mesmo lugar: Vingadores e X-Men. Teremos mais dessa missão no próximo capítulo!

* Logan lutou na Segunda Guerra e me pareceu interessante se ele, Steve e James se conhecessem. Fiz também uma pequena referência ao Namor, meu novo personagem favorito hahah Ele ajudou os Aliados e tem, surpreendentemente, uma boa amizade com o Capitão América e Bucky!

* O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska

* Me contem o que acharam de Outer Heaven!