Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 42
XLII


Notas iniciais do capítulo

Oba! Mais um capítulo em uma semana! Digo mais uma vez que o tablet tem feito maravilhas. Estou escrevendo todos os dias e acredito que na Quarta-Feira teremos mais uma postagem! yaay!

***AVISO*** Cito mais algumas coisas que aconteceram em Pantera Negra. Tais citações foram marcadas com três asteriscos. Quando vê-los no texto, pule para os próximos. É o inicio e o fim dos spoilers. Acredito que não irá interferir na leitura, mas estou avisando caso alguém não tenha assistido ainda e queira algumas surpresas. As demais citações, que são mais leves, foram mantidas.

Um bom final de semana para vocês e boa leitura!

PS: Eu tentei postar o capítulo hoje mais cedo, mas aparentemente o site estava com problemas. Depois, durante meu expediente, tentei de novo = e concluí, porém postei o script do Bee!Movie haha Por isso exclui e estou postando agora certinho.



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Pelo susto, Wanda poderia dizer que a sensação era de cair em queda livre por muitos e muitos metros, mas se dissesse isso seria injusta e falsa. Era mais como mergulhar. Quando abriu os olhos, estava num ambiente oco, algo como o vácuo escuro e primitivo, antes de estrelas e universo serem forjados. Seu coração sentiu-se acolhido e pronto para sair do peito, finalmente em casa. Ela viu Ebony sentado no que deveria ser o chão e Agatha de pé. Ela acenou e suas vestes roxas tremeluziram como nebulosas.

“Eu sei, eu sei.” Os braços dela indicaram o infinito ao redor de si. “Pomposo, não?”

“Isso é sua casa?”

“Oh, querida. Claro que não. Eu jamais a teleportaria contra sua vontade e aqui nada mais é que um espaço onde você pode treinar antes de vir a minha casa. Se decidir vir, é claro.”

“Eu vou, é só que… Preciso resolver algumas coisas antes.”

“Entendo. Seus amigos. Aquele homem.”

“Sim. Devo explicações.”

“Muito bem. Como eu disse antes, senhorita Maximoff, talvez eu não tenha todas as respostas. Tenho os meios, os instrumentos. Pretendo mais do que ensinar o que sei, pretendo que busque mais conhecimento do que posso dar… Mas adianto que isso pode ser um pouco difícil.”

“Defina ‘difícil’”

“Ela é boa, Agatha”

“Eu poderia introduzir essa jornada com muitas palavras, Wanda, mas quem a faz é você. Sou mera personagem secundária. Não vou falar o quanto é será árduo, pois você espera tal coisa.”

“E o que você espera de mim?”

“Que acredite… Que acredite que cobre pode se tornar ouro. Ouro ou o que você quiser.”

“E o que seria a Pedra Filosofal que tornaria tudo isso possível?”

Agatha apontou para na direção do próprio tórax, na altura do coração.

“Você mesma. Então, como quer começar essa jornada?”

A jornada parecia já ter começado para Wanda. Ela pensou nos seus gritos, quando criança, quando ria e brincava e tinha seu motivo de viver ao seu lado. Pensou nos seus gritos quando tudo aquilo se calou por causa de uma bomba que atravessou o teto.
Será que era aquilo, afinal? Um eterno processo de abrir mão. Talvez fosse hora de não querer se agarrar em nada.

“Com silêncio.”

Agatha assentiu e os três permaneceram calados pelo o que pareceu a eternidade, olhando para o infinito escuro e sem estrelas. Quando estava pronta, ou achava que estava, Wanda voltou a encarar a mestra.

“Qual é a primeira lição?”

“Não pretendo enumerar lições, pequena bruxa. Mas confesso que precisamos de um Norte. ”

“E este Norte seria…?”

“Feitiços de proteção. São simples, requerem pouco material e pouco conhecimento prévio. Não tem como errar e, mesmo que erre, na pior das hipóteses só não vai funcionar.”

“O que? Você quer que eu apenas faça um círculo de sal e uma oração? Não sou tão iniciante assim.” Disse ela, um tanto ofendida. “E não estou procurando problemas, Agatha.”

“Se não fosse tão iniciante, saberia que certos feitiços de proteção envolvem muito mais do que sal e cânticos. Sangue, alma, sombras… Não vem ao caso agora. E não seja ingênua. Você sabe que vai precisar.”

Wanda suspirou desgostosa. Era verdade.

“Sinto que deseja um desafio.”

“Depende do desafio.”

“Hm. Tenha um bom rendimento na lição de hoje e lhe ensino o truque da moeda.”

“Sério? O truque da moeda? De fazê-la desaparecer e, uau!” Wanda estalou os dedos. “Estava na sua orelha o tempo todo?”

“Desaparecer e aparecer em outro lugar. Conceito simples, vários métodos. Comece com algo pequeno e daqui a pouco poderá fazer sóis inteiros sumirem. Uma única palavra: teleporte.”

 

Ela cruzou os braços, depois colocou mais peso em um dos lados do quadril. Com essa habilidade, Wanda poderia… Poderia voltar para casa. Ver a neve e o final do inverno. Era Fevereiro, em breve ela e seu gêmeo fariam aniversário. Podia ir vê-lo. Sua boca era teimosa, mas seus lábios hesitaram. Tentador demais.

“Diga mais sobre a lição de hoje.”

“Como eu estava falando, quero que você aprenda a se defender de ataques psíquicos e feitiços, e notei que a senhorita tem grande sensibilidade com auras. Estou certa?”

“Sim.”

“Ótimo. Diga-me, querida, quando vê auras, como as vê? E o que entende sobre elas?”

“Geralmente me dão dicas sobre a personalidade da pessoa e principalmente suas emoções. Não é sempre que consigo entender tudo de primeira e há quem consiga ocultar a aura de mim. Ou não consigo ver por, sei  lá, incapacidade minha.“

“Bom, bom. É um começo. Ao fim dessa aula, quando você voltar à Biblioteca de Wakanda, o livro revelará conhecimentos escritos para você. Agora, preciso dizer que é necessário certo refinamento na sua visão e podemos ir para a parte prática. Auras podem variar por fatores externos e internos, podem ter cores diferentes ao mesmo tempo, tamanhos variados, são expansivas ou retraídas, camadas… E não necessariamente significa a mesma coisa para todo mundo. Nisso ao menos você tem tido boa interpretação.”

“Agradeço o elogio, mas… O que isso tem a ver com proteção?”

“Interpretadas corretamente, auras podem te indicar se alguém tem intenções hostis. Isso por si só já  serve de prevenção ao perigo. E você é empática demais para não se cuidar direito. Acaba se banhando em sentimentos que não são seus… Não é nada saudável quando em excesso.”

“Sou obrigada a concordar.”

“Um terceiro ponto que preciso discutir com você é quando um adversário habilidoso faz uso de auras para te desestabilizar.”

“Não parece tão efetivo.”

“Não?”

“Sim, digo… Se alguém habilidoso quisesse desestabilizar outra pessoa, porque não partir para --”

Wanda estava há um metro apenas de Agatha quando viu um gancho feito de energia sair da velha e fincar-se na altura do seu diafragma, abaixo dos seios. O impacto foi sentido como um soco, tirando o fôlego e um grito abafado dela. A Feiticeira olhou para baixo com os olhos arregalados e já tingidos de rubro e viu que o gancho não tocava exatamente em sua pele, e sim pairava sobre sua própria aura. Mal conseguiu balbuciar palavra alguma, com a visão turva e corpo mole e exausto, até que aquele tentáculo emitido por Agatha desligou-se de súbito. Wanda voltou a respirar com dificuldade.

“Tenha em mente que isso foi apenas uma demonstração.”

A Feiticeira Escarlate ajoelhou-se, buscando apoio no chão que não era exatamente um chão.

“O que fez comigo?”

“Conhece o conceito de pontos de energia?”

“Você diz os Chakras?”

“Os hindus dizem Chakras…” Ela corrigiu sutilmente. “Mas sim, esse tipo de conceito. Auras, em termos grosseiros, são espelhos do seu interior e envolvem seu corpo físico. Chakras são diferentes, são vórtices de energia do nosso corpo que absorvem e distribuem… Energia também  São relacionados com glândulas e sentimentos, pensamentos. Portanto, uma aura fragmentada, oscilante, pode indicar que alguém perde vitalidade e essa perda, por sua vez, pode estar relacionada com a falha de algum Chacra. Para equilibrar a Aura, é fundamental equilibrar os Chacras e isso significa…”

“Equilibrar os próprios pensamentos.”

“Isso. Há quem diga ‘padrão vibratório’. É claro que ervas, cristais e amuletos auxiliam nessa tarefa, mas a mudança começa, termina e permanece com você. A melhor maneira de se prevenir contra ataques energéticos é manter seus Chacras equilibrados, por consequência sua aura também.  Você tem o terceiro desestabilizado, o do plexo solar. É uma abertura perigosa para alguém experiente e esse tipo golpe é considerado bem maldoso. Pode ser mais sutil se quisesse, porém acreditei que uma vivência mais intensa desse feitiço seria mais interessante.”

“Percebi. Vou aprender?”

“É claro. É necessário que conheça tal coisa para poder se defender dela. Não quero que tenha a necessidade de usar tal recurso com frequência, mas também lhe servirá no futuro.”

“Legal… Digo, suponho que por causa do meu desempenho, não vou aprender o truque da moeda.”

“Confesso que estou tentada a lhe obrigar a usar um anel para abrir portais, entretanto isso é desnecessário e muito limitador. Aliás… Nós  apenas começamos.”

 

O restante da aula foi a enumeração e explicação sobre pontos de energia, suas localizações no corpo, quais glândulas e sentimentos se relacionavam, bem como suas nomenclaturas em outras culturas. O termo Chakra, conforme Agatha elucidou, era mais utilizado na atualidade por conta do vasto conhecimento dos hindus nessa área, vindo da Medicina Ayurvédica, que por sua vez tinha a denominação originada dos Vedas, escrituras sagradas concedidas pelo Deus Brahma aos humanos.

Wanda tentava acompanhar as explicações com atenção, seus olhos piscando em vermelho de tempos em tempos para poder enxergar as demais camadas de aura com perfeição. Não era fácil e ela não conseguiu ver as últimas camadas, mesmo que Agatha usasse a sua própria de exemplo. A mestra também citava outras nomenclaturas e enfatizava que cada um se relacionava a cultura de sua própria língua, sendo necessária muita pesquisa e respeito por cada uma.

O final da lição tirou ainda mais suor da testa da sokoviana, levando-a acreditar o quão pouco sabia e como era errado já lhe considerarem uma Feiticeira, com F maiúsculo. Agatha demonstrou como era possível projetar sua própria energia para atacar ou defender outra pessoa, focando no ponto fragmentado da aura. Pessoas más intencionadas poderiam sugar a vitalidade de quem já sangrava disso, por assim dizer. Wanda foi capaz apenas de lançar um gancho fraco, fino e curto, durante poucos segundos até que dissipasse em névoa carmesim.

“É suficiente, Wanda.” A mestra tocou nos braços erguidos dela e os abaixou, impedindo-a de tentar projetar um tentáculo astral pela vigésima vez.

“Eu realmente quero aprender o truque da moeda.”

As linhas de expressão do rosto dela tomaram uma aspecto bondoso, quase sorrindo. Quase. Ela apenas apertou o ombro de Wanda, suas palavras simples:

“Fez progresso hoje. Não lhe falta talento, apenas técnica.”

“Deixe apenas eu…”

“Uma mente cansada não conseguirá fazer nada. Vamos, pare. O material que precisa ler estará no livro, como eu disse. Mais tarde poderá treinar. Verdade seja dita, você já projeta energia psiônica e consegue ler bem as emoções das pessoas. Ajudou James Barnes, embora com métodos diferentes. Tem feito um trabalho interessante.”

“Interessante?”

“Sim, interessante. Não fique tão convencida, há muito o que aprender. Tome aqui a moeda. Hoje não será o dia que vai fazê-la desaparecer, mas creio que será em breve. Por enquanto, medite sobre o que conversamos hoje. Quando se sentir pronta para a nova lição, diga “Solve et coagula” e nós duas seremos convocadas para cá.”

Wanda riu, observando o item gasto, com o símbolo de uma serpente mordendo a própria cauda de um lado e um imenso olho do outro. Era moeda de prata, sem dúvida. As duas se despediram de forma breve, Ebony apenas deu um aceno com a cabeça. Em poucos instantes Wanda sentiu seu corpo pairar no ar como se imersa em água sem maré, até que afundou para a realidade. Estava de joelhos no chão, o livro repousado ali como se nunca tivesse testemunhado uma cena pagã, e uma moeda em suas mãos.

 

Agatha e seu gato preto observaram a jovem feiticeira desaparecer. Ebony balançava sua cauda impaciente.

“Eu esperava fogo. Calcinação.”

“Você viu a garota, Ebony. Ela nasceu do fogo e fogo ainda a espera. Talvez o primeiro passo já tenha sido tomado, é difícil dizer. Deixe-a. O processo inteiro vai acontecer, cedo ou tarde.”

“Ela vai precisar de ajuda.”

“Ela vai precisar de si mesma mais do que nunca.”

 

Ao chegar nos dormitórios, Wanda notou que não havia passado muito tempo - se é que havia passado tempo algum dentro do livro roxo de Agatha Harkness. O livro parecia mais profano e pesado em seus braços, porém ela não podia sentir seu coração mais leve. Colocou-o na cama e sentou-se ao lado dele, estreitando os olhos para os próprios braços para tentar enxergar as demais camadas de auras. Com a mão oposta, ela segurava a moeda de prata, ainda sem desvendar o truque.

Não havia visto nenhum colega no hall e Shuri ficaria disponível somente a partir do final da tarde. Talvez todos estivessem ocupados com o tema Outer Heaven, talvez Wanda devesse se animar também. Steve dissera “Uma casa para nossa família” e aquilo lhe trazia alegria e medo. Mais medo. Quem sabe fosse o peso da responsabilidade.

Wanda deitou-se, triturando estas e outras ideias. Deixou a moeda no criado-mudo e o livro ao seu lado na cama. Pietro, Erik Lensherr, parentesco e mutação. O único parente que não conhecia bem era tia Natalya, mas parecia improvável que estivesse metida nisso tudo. Nunca mais ouviu falar dela e depois de tantos anos e guerras em Sokovia, a Feiticeira poderia supor que estava enterrada a sete palmos do chão.

Seus poderes e Outer Heaven. Ela poderia começar de novo. Começar melhor. Agatha a ensinaria tudo o que precisasse, certo?

E James. Bucky, ele gostava de ser chamado de Bucky. Precisaria se corrigir na presença dele no futuro, pois seu primeiro nome escapava fácil da sua boca e Wanda não era sua amiga íntima. Ele estranhou o livro roxo, mas não a impedira. Só disse para ficar segura e como ela diria que desejava que ele ficasse também?

E então ela dormiu sem saber que dormiu, abraçada num travesseiro fofo e imaginando como manter suas promessas tolas.

 

* * *

— Pensei que seu corpo estava cobrando todo o seu sono atrasado. — Wanda ouviu sua amiga Shuri dizer, embora sua voz ainda estivesse longe. Levantou devagar, o corpo entorpecido e as pálpebras pesadas. Tinha sonhado com a montanha coberta de névoa e neve, e ela parecia mais nítida dessa vez. Havia novamente o rosto bovino e também uma silhueta em cor vermelha, com uma longa capa. Ela corria. — Mas para pagar todo seu sono atrasado, você teria que entrar em coma por uns três anos.

Demorou alguns segundos para esboçar uma resposta.

— “Oh, Wanda! Que bom que conseguiu dormir, sei que tem problemas pra isso e fico muito feliz de vê-la descansar.” — A Feiticeira tentou imitar o sotaque wakandano da outra, debochando do fato de ter sido acordada.

— Eu fico feliz de te ver descansando, sua…Dorminhoca. — Jogou uma almofada na direção dela, que não teve reflexo para pará-la a tempo. Acertou em cheio sua bochecha esquerda.— Mas não quando combinei de encontrá-la às cinco da tarde e espero até as seis sem notícias.

— Que exagero. Não é como se eu pudesse sair daqui sem falar com ninguém e…

— E entrar em outra dimensão ou voltar no tempo como você já fez...

— Minha nossa, são seis horas?— Wanda interrompeu-a, eletrizada de súbito. Seus olhos encararam o pulso, onde a joia kimoyo estava e o relógio digital indicava o início da noite.— Eu dormi tudo isso?

— Sim, dormiu mesmo. Pela Deusa, fiquei preocupada. Já estava estranha desde a reunião, depois te encontro jogada inerte na cama com esse livro esquisito, ou esse diário… Você já tinha ele? Está vazio.

— Ah, eu… Ganhei recentemente, mas não tive oportunidade de usar.

Shuri não parecia convencida, mas deixou passar.

— Bom, sabe quando disse que não liguei pro fato do meu irmão bloquear meu acesso a arquivos confidenciais e etc?

— Sei.

— Então, eu não liguei nos primeiros cinco minutos. Depois passei horas tentando contornar o bloqueio dele na minha identificação e agora estou tranquila porque consegui.

— Por que está me contando isso?

— Porque você cumpriu a sua parte do acordo e eu não serei impedida de fazer a minha. E...— Ela alongou a palavra na boca, em parte por hesitação, em parte por brincadeira. — Porque preciso de ajuda. Sei que tem segredos, eu tive os meus. Estou colocando todas as cartas na mesa.

— Interessante fazer isso para uma bruxa. Quer que eu leia seu futuro, Alteza?

— Estou satisfeita em traçar meu destino. Agora, vamos conversar direito. Tem um lugar que você ainda não conhece, meu lugar favorito em Wakanda.

— Onde?

— Meu laboratório. Meu “lab”.

— E o que vamos fazer exatamente?

— Quero me exibir um pouco. E também te mostrar algumas coisas que descobri, outras que escondi de você.

 

As duas partiram em silêncio para o tal “lab” de Shuri. A líder das Dora Milaje, Okoye, acompanhou-as até determinado momento, trocando um aceno típico de Wakanda que consistia em cruzar os braços por cima do tórax com os punhos fechados, dando uma leve batida acima do coração. Okoye, em seu traje vermelho e portando uma lança de vibranium, tinha a expressão austera, porém Wanda conseguia enxergar sua aura benevolente, de tons metálicos como sua terra. Bronze, a Feiticeira concluiu, encantada por ser logo um metal considerado dos guerreiros e espadas.

O lugar para onde iam ficava nos limites do Palácio, mas não exatamente dentro dele. Tiveram que se afastar até mesmo da arena das Adoradas e descer mais um nível de elevador, embora não tanto quanto para ir no Hangar e ver a construção de Outer Heaven. A princesa riu ao notar as mãos de Wanda segurando forte as barras de apoio, bem como sua tez ainda mais pálida, um tanto surpresa de vê-la assim. Achou que o nervosismo de Wanda no elevador, no início do dia, estava envolvido com o fato de estar muito perto de James Barnes. Talvez não fosse o caso.

— O quê? Tem medo de elevadores?

— Eu só odeio espaços fechados. Principalmente os que tremem.

— Assim você me ofende. Esse elevador nem treme, sokoviana. — Shuri disse com o tom áspero, mas depois suavizou a face. Não queria piorar o pânico da outra. Titubeou um pouco, depois confessou: — Eu não sou muito fã do mar.

— Sério?

— Sério. Toda aquela imensidão sem nada para se segurar… Urgh. E se você falar sobre gatos não gostarem de água, eu juro que... — A porta se abriu com um som leve, dando passagem para um corredor bem iluminado. — Oh, chegamos.

Andaram alguns metros e em seguida desceram uma rampa em espiral, música de fundo envolvendo-as conforme avançavam. O piso da rampa era iluminado e os corrimãos todos decorados por desenhos e arabescos na cor preta. Wanda deu de cara com obras de arte, grafites e uma infinidade de peças tecnológicas. Com certeza um laboratório mais interessante do que de Tony Stark.

— Minha nossa. Esse lugar não para de ficar maior e…

— Melhor?

— Sim.

Shuri caminhou com naturalidade até uma bancada, mexendo com algumas ferramentas sem se importar com a presença de sua amiga, que caminhava mesmerizada pelo recinto observando suas invenções, os painéis e os manequins com armaduras e outros equipamentos.

— Então, o que queria me dizer? Além de se exibir, é claro. Isso são luvas na forma de panteras?

— Não toque nisso. E sim, são. Acredito que saiba que faço parte da equipe de desenvolvimento de tecnologia e que eu sou muito boa nisso. Traje com absorção e expulsão de impacto com energia cinética? Eu que fiz. Discos que me permitem pilotar um veículo a distância? Eu de novo. Tênis de silêncio absoluto?

— Você, entendi.

— Meu irmão encontrou um adversário à sua altura enquanto você e seus colegas ainda estavam na prisão. Houve morte. Talvez saiba disso tudo não por mim, mas deve ter conhecimento sobre o que houve. Sobre como mudamos, como revelamos nosso país para o resto do mundo.

—Sim. Steve me contou. — Wanda respondeu com delicadeza. *** Era algo recente e forte. Soubera que o adversário em questão era o próprio primo do rei T’Challa, portanto primo dela também. Matou Ulysses Klaw, homem que também foi um desafeto de Wanda quando aliou-se a Ultron. O modo que esse inimigo, Killmonger, aplicara o golpe em Wakanda era um divisor de águas para aquela nação. ***

— Fomos assombrados por erro do passado, de nossa negligência. Sabe que meu país promove a paz e esse legado quase se quebrou na ocasião… Mas tivemos mudanças boas. *** Não somos mais uma nação isolada do mundo, escondida sem compartilhar de sua riqueza. Agora existem centros de ajuda humanitária, começando em Oakland. Eu ajudei um agente da CIA, comecei a ajudar James Barnes… ***

— Você achou que eu era só mais uma garota estrangeira para consertar?

— Sim. E eu estava furiosa porque existiam coisas ainda maiores no mundo e eu estava aqui, enquanto meu irmão lida com coisas verdadeiramente importantes. Para mim era um desperdício de tempo e ainda por cima tinha uma garota esquisita que podia atrapalhar meus avanços na recuperação de Barnes.

O sorriso das duas foi sem humor.

— Falando assim, até eu ficaria brava.

— Não se preocupe, aliviei esse sentimento quando te dei um soco.

— Eu ficaria bem calada. Ainda está mancando com esse gesso na perna.

— Desgraçada. O que quero dizer é que… Bem, é que tentei fazer coisas maiores e estraguei tudo. E agora sei que existem tarefas que não precisam ser feitas por apenas um par de mãos. Eu quero sua ajuda para curar James Barnes.

Wanda piscou, a boca aberta sem formar palavras. Sua expressão era tal que Shuri teve o impulso de rir, mas endireitou-se para explicar de forma clara e séria.

— Meu irmão designou o caso de Barnes para mim. Tenho o equipamento necessário, o intelecto também, mas ainda assim é uma questão muito delicada. A ideia era, por assim dizer, reiniciar o cérebro dele sem apagar as memórias, somente a HYDRA. O mapeamento do cérebro dele foi um dos mais completos feito em anos em Wakanda e acredito que no futuro possa ser base de nossas Inteligências Artificiais. Bom, isso não vem ao caso agora. O fato é que antes de eu executar qualquer coisa na cabeça dele, eu precisava identificar quais pontos críticos que deveriam ser apagados e simular cada possibilidade no computador, para me certificar que dava certo e que eu tirava os pontos corretos. Não estava dando certo até você fazer o que fez.

— Mas eu não sei exatamente o que fiz.

— Tem certeza que não?

— Bom… — Wanda mordeu os lábios. — Eu anotei algumas coisas. A cada visão, uma palavra.

— Ah, sim! Capitão Rogers mencionou isso. Digo, palavras de ativação… Helmut Zemo usou isso no ano passado, um caderno vermelho com as instruções de ativação do Soldado Invernal. Se pudéssemos colocar as mãos nele… Seria bem mais rápido.

— O próprio Bucky não saberia quais são essas palavras?

— Ele me contou que depois de determinado ponto já não consegue processar bem o que está acontecendo. Ele ficou um tempo descongelado aqui, pudemos fazer alguns testes. Ele pareceu gostar da vida em Wakanda.

— Impossível não gostar.

— Digo, gostar mesmo. Ele vestiu túnicas e passou alguns dias numa cabana à beira de um lago. As crianças chamaram ele de “Ingcuka Emhlophe”.

— Lobo Branco. — Wanda traduziu para o inglês enquanto ouvia Shuri. Era uma alcunha deveras interessante e a feiticeira mais uma vez lembrou-se de sua infância, dos contos e fábulas que lia junto com Pietro. — Foi como rei T’Challa o chamou hoje mais cedo. — Ela concluiu em voz alta, pensativa. A garota e o lobo. — Anotei as palavras, Shuri. Digo, das memórias. Vi quando foi torturado, anotei todas elas. Não será tão completo quanto o caderno vermelho, mas pode ajudar.

Os olhos negros dela brilharam.

— Perfeito. Ele é um bom homem. Quero ajudá-lo e sei que você também quer. Sinto que estamos perto.

— Por que só está me dizendo isso agora?

— Porque te achei perigosa. Porque voce nao impediu a morte de wakandanos na Nigéria. E porque estava com raiva do meu irmão. E do homem sokoviano que matou meu pai. Eu não vou pedir desculpas pelo o que fiz, mas agradeço por ter me dado tempo de te conhecer mais do que os arquivos sobre você.

— Então… — A Feiticeira deu um sorriso de lado, brincou com a pulseira kimoyo em seu braço. Talvez aquilo realmente fosse uma pulseira da amizade. — Vamos continuar nos odiando?

Shuri riu.

— Até que Bast diga o contrário.

O ímpeto de Wanda foi mais forte do que sua timidez e todos os protocolos de etiqueta ao lidar-se com alguém da realeza: ela a abraçou forte. Teria logo a soltado se Shuri não tivesse retribuído o gesto, para sua surpresa. Não demorou muito, porém.

— Argh, meu gesso, Wanda. E meu piercing. Largue-me.

As duas permaneceram em silêncio por um tempo, escutando somente as batidas da música ao fundo.

— Mas… Você mencionou contornar o bloqueio feito por T’Challa. Se antes você queria reconquistar a confiança dele e conseguir mais destaque nos assuntos da coroa, não entendo como driblar as decisões dele possam te ajudar nisso.

— Isso não é pra mim. — Ela respondeu, novamente a face dura como pedra. — Eu fiz um código para acessar arquivos em outras fontes. Outros lugares. Vai demorar para nos dar resposta e assim que for detectado, será desativado. Em resumo, é uma bala única no escuro e eu quero que você puxe o gatilho. É a sua chance de tentar descobrir mais sobre sua origem, mas você tem que decidir onde atirar. E se vai atirar.

— Shuri, eu… — Wanda colocou a mão sobre as próprias têmporas. Uma oportunidade de saber mais sobre seu parentesco com Erik. Não sabia se gostaria de descobrir, ou se deveria. Se talvez até não resultasse em nada. Mas Shuri estava se arriscando por sua causa e aquilo não parecia justo. — Não quero causar problemas.

— Se T’Challa descobrir, me resolvo com ele. Só não acho certo negar um conhecimento que lhe atormenta… — Deu de ombros. — Você quem sabe.

— É só eu dizer onde procurar?

— Sim. Se tiver alguma pista.

— Sokovia. — Disse, depois parou para pensar um pouco. — Talvez na fronteira com a Polônia.

— Hm. As respostas não vão demorar muito para chegar, então. Talvez uma semana, ao máximo. Não existem tantos pólos de tecnologia e serviço de Inteligência Tática, apesar de terem um exército.

A sokoviana apenas concordou com um gesto. Sabia disso, fizera parte de anarquistas e militantes. Depois virou um rato de laboratório. Mas tinha conseguido alguns arquivos que diziam sobre os experimentos feitos nela e no seu irmão, além de precisar saber mais sobre a relação com a Polônia. A canção dos seus sonhos, a montanha…

— Está se sentindo bem, Maximoff?

— A cadeia de montanhas na região.

Shuri sentou-se em um banco alto e com apenas alguns toques abriu uma tela, mostrando um mapa topográfico do lugar. Era uma região bela, com vales e uma montanha maior que as demais.

— Hm… Montanha Wungadore. Não existe nenhuma base da SHIELD ou HYDRA conhecida por perto, terei que pesquisar mais a fundo.

A Feiticeira sentiu um arrepio longo, vindo de sua coluna até a nuca, junto com um engasgo contido. A montanha Wungadore era conhecida por relatos de acontecimentos estranhos… Lugar evitado tanto pelos romani quanto pelos gadjé. Pensava que a montanha de seus sonhos e de seus pesadelos era algo inventado, ou somente inspirado nos boatos, mas ali, olhando para a projeção na montanha, percebia que era exatamente aquela. Como isso se relacionava à  Erik, só o tempo diria.

— Procure por lá. E… eu quero fazer aquele teste. Do gene X. Preciso saber se sou realmente uma mutante.

— Eu não estava esperando por isso, mas agora estou bem animada. Talvez assustada. Você tem fogo nos olhos quando está decidida. Mas não seremos estúpidas dessa vez. Vamos curar Barnes e descobrir um pouco mais sobre você. Simples.

— É. Simples.

— Agora… Vamos tirar um pouco do seu sangue. Temos exames a fazer.


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Notas finais do capítulo

*Como puderam ver, Agatha Harkness tem seus poderes e sua filosofia baseada na Alquimia. Ela ensinará conhecimentos diversos para Wanda, o que também alinha-se com Magia Caótica, um ramo da bruxaria moderna. Cabe em nota dizer que essa fanfic é ecumênica e respeita todas as religiões e crenças.

* Estou curiosa para saber o que acharam! Se tiverem um tempinho, venham me visitar nos comentários ♥

*Cuidado com a Paparazzi e a Loeine. Elas sabem demais.

* O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.



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