Acordo-me lentamente quando a luz fraca do sol entra pela fresta da janela. Sinto braços ao meu redor e constato que Peeta ainda está dormindo. Levanto-me com cuidado para não o acordar e vejo que ainda estou com sua blusa, desço para a cozinha e começo a preparar o nosso café da manhã. Faço torradas, café e chá sem açúcar como Peeta gosta. Quando estou terminando de tirar as torradas da torradeira ouço passos atrás de mim e sinto alguém me abraçar por trás.

— Que cheiro gostoso. – Diz Peeta com a voz meio sonolenta.

— Você desceu sozinho?

— Sim, senti sua falta na cama, fiquei preocupado. – Ele diz.

— Eu estou bem, só morrendo de fome. Mas bem... – Digo colocando as torradas sobre a mesa.

Nos sentamos a mesa e começamos a comer, eu ataco a comida como se não me alimentasse a dias. Sinto algo se revirar dentro de mim e corro para o banheiro. Colocando todo o meu café para fora.

— Katniss... Você está bem? – Ouço Peeta me perguntar e respondo que sim.

Lavo minha boca e volto para a mesa, voltando minha atenção para o meu café.

— Katniss, você não estava vomitando? – Ele pergunta me encarando.

— Sim, mas ainda estou com fome. – Respondo tomando um gole de café.

Assim que terminamos eu me visto e vou para casa tomar um banho, digo para Peeta não se preocupar que eu trago o almoço para ele. Assim que entro pela porta vejo minha mãe, Johanna, Annie e Effie sentadas no sofá e conversando.

“Johanna não.”. Penso sorrindo amigável e juntando-me a elas.

— Olha só, ela chegou. – Diz Johanna. — Como foi a noitada? Espero que não tenha se cansado muito, temos que ajudar Effie a escolher um vestido de noiva.

— Não me cansei. – Pisco para ela que sorri maliciosa.

— Onde você estava? – Ela pergunta.

— Na casa do Peeta.

— Dormiu lá?

— Sim...

— Só dormiu?

— Depende, a hora que fomos deitar para dormir sim, antes não. – Sorrio para ela que gargalha.

— Isso quer dizer que vocês dormiram juntos? – Ela arregala os olhos. — Quem é você? E o que fez com Katniss Everdeen?

— Qual é? Eu posso fazer uma Revolução. Mas, não posso dormir com o homem que eu gosto? – Falo.

— Grandes revelações esta manhã. Nunca me senti tão feliz em acordar cedo.

Subo para meu quarto e tomo um banho relaxante, volto para a sala e nós começamos a folhear algumas revistas da Capital com vários modelos para vestidos de noiva. Quando chega a hora do almoço, Gale e Haymitch vão para minha casa e eu vou até a casa de Peeta chamar ele para almoçar conosco, acho que até irei aproveitar esse almoço para comunicar a minha gravidez para os outros e também para Peeta. Assim que chego lá, vejo a pior cena da minha vida: Peeta está sentando no sofá e Delly está ao seu lado, ela segura seu rosto com as duas mãos e ele, me parece sem reação. Eles estão se beijando! Levo minha mão a boca tentando reprimir qualquer som que posso sair dela enquanto sinto lágrimas quentes e grossas descerem de meus olhos. Tento sair dali sem fazer barulho, porém quando vou me virar acabo sentindo uma tontura e deixo um dos quadros de Peeta que estão pendurados na parede caírem no chão. Ele se parte em dois com um estrondo e por um segundo eu consigo compará-lo com meu coração. Olho de relance para eles. Peeta parece assustado e confuso e Delly leva as mãos na boca. Saio correndo dali antes que um dos dois tentem falar algo. Chego em casa e pego minha jaqueta de caça e meu arco. Todos estão na cozinha e assim que entro eles veem até mim.

— O que aconteceu filha? – Pergunta minha mãe ao ver lágrimas descerem de meus olhos. Estou tentando controla-las, mas isso parece impossível agora. Só quero ficar sozinha.

— Nada. – Digo.

Saio pela porta e vejo que Peeta está saindo de sua casa, aperto o passo para fora da Aldeia. É incrível como de repente o tempo se fechou, o sol que brilhava a algumas horas não aparece mais, e nuvens grossas e cinzentas rodeiam o céu azul, como se os dois estivessem em algum conflito, e apenas por um segundo lembro-me de Peeta comparando meus olhos com uma tempestade e eu dizendo que os seus eram como o céu.

Sinto alguém vir atrás de mim e aponto uma flecha para a pessoa, vejo Gale parar instantaneamente e levantar as mãos como rendimento.

— Eu quero ficar sozinha. – Digo encarando Peeta que ainda tenta vir atrás de mim, andando o mais rápido com as muletas. — Não precisam se preocupar. – Dito isso eu me viro e saio quase correndo dali.

Entro na floresta e vou direto para o lago, o único lugar aqui que pode me acalmar. Logo vejo um chuvisco começar e me abrigo debaixo de uma arvore, porém não é só mais uma arvore, é a arvore em que eu e Peeta fizemos nosso piquenique. Como eu sou boba, se vim para cá pensando em esquecê-lo por ao menos umas horas, eu fracassei de novo. Fico sentada ali por algumas horas e quando vejo que o céu está mesmo escurecendo volto para casa, apesar da chuva não ter passado de um fino chuvisco, minhas roupas estão molhadas e eu estou tremendo de frio. Assim que entro em casa minha mãe vem correndo até mim me dando um abraço apertado. Subi para meu quarto tomando um banho quente e colocando roupas quentes também, enquanto minha mãe preparava um lanche para mim, já que eu estava sem almoço e sem comer nada desde cedo. Assim que terminei de me vestir desci para a cozinha.

— Gale? – Encaro seus olhos vermelhos e inchados, provavelmente ele estava chorando.

— E aí Catnip? – Sua voz está rouca e ele funga.

— Aconteceu alguma coisa? – Pergunto, sentando-me ao seu lado na mesa. O encarando melhor, posso notar um corte não muito profundo em sua bochecha e um pequeno corte em sua sobrancelha direita.

— Johanna teve uma alucinação, ela ficou histérica. Pensou que eu era um dos seus torturadores da Capital, e me atacou. Isso já tinha acontecido outras vezes. Mas dessa vez, quando ela se recompôs e viu que tinha me machucado. Ele começou a chorar dizendo que tudo que ela fazia era me machucar, que isso não ia dar certo. Que ela ia acabar matando o nosso bebê. E por último, terminou comigo. – Ele diz com a voz embargada. — Não preciso dizer que estou arrasado, não é?

— Não, não precisa. Eu já passei por isso com o Peeta. Esse é o real motivo para não estarmos juntos. Ele pensar que é uma ameaça para mim.

— E como você tem sobrevivido sem ele? – Gale pergunta. — Por que eu te juro que estou tentando me segurar aqui para não sair correndo atrás dela.

— Primeiro: Eu sei que ele não vai mudar de ideia; Segundo: Não corro atrás de ninguém; E terceiro, mas não menos importante: No fundo eu sei que ele está tentando me proteger, do jeito dele, talvez do jeito errado dele. Mas ele está tentando me proteger. – Digo.

— Você devia ir vê-lo, quando você foi para a floresta, ele tentou ir atrás de você, porém caiu e parece que o pé dele ficou pior. – Diz Gale.

— Isso é verdade mãe?

— Infelizmente, ele está sentindo muita dor e está com febre, além do inchaço ter piorado. – Ela diz e eu me desespero.

— Vou ir vê-lo. – Digo.

— Não, ele está dormindo. Eu lhe dei um remédio para abaixar a febre e outro para a dor. Ele vai dormir tranquilamente até amanhã. – Ela diz me servindo com uma xícara de café.

— Catnip, sei que é pedir muito, mas será que eu posso dormir aqui hoje? – Gale pergunta e eu assinto.

— Não se preocupe Gale, no primeiro pesadelo ela virá te buscar. – Digo sorrindo para ele.

— E porque você não faz isso com o Peeta? – Ele me encara.

— Por que eu sou Katniss Everdeen!

Tomamos o café e fomos para a sala enquanto minha mãe preparava a janta, assistimos filmes e nos divertimos muito. Minha mãe arrumou o quarto de hóspedes para Gale e nós fomos dormir.

Eu virava na cama de um lado para outro, não tinha sono. Minha cabeça estava em outro lugar. Talvez eu não devesse ter saído da casa de Peeta daquele jeito, ou muito menos ter ido para a floresta sem antes ouvi-lo. Eu sou mesmo uma idiota impulsiva. Agora Peeta está ainda mais machucado do que antes por culpa de quem? Isso mesmo, Katniss Everdeen, ou seja. Eu mesma. Ouço vozes conversando e quando olho pela janela vejo Gale e Johanna se beijando. Ele fecha a porta da minha casa e segue abraçado com Johanna rumo a casa deles. Queria que Peeta mudasse de ideia rápido como a Johanna. E queria me dar por vencida fácil como Gale. Mas sei que isso é impossível.