As cartas das semanas seguintes, estavam com menos informações do que as do começo, antes as instruções eram praticamente diárias e agora tem diminuído em dias, semanas, isso fez com que Regina se preocupasse, é claro... Tinha medo de cometer algum erro irreparável com Emma, mas tudo parecia estar correndo bem, participavam das aulas sem maiores acontecimentos, ainda mais depois do término da loira com Zelena, ainda recebia olhares de raiva da garota ruiva, mas por enquanto não passava disso, depois das aulas costumavam ir à sorveteria ou na padaria da família de Ruby.
Era difícil para Regina acreditar que algo de ruim poderia acontecer com a loira, apesar de ter seus pensamentos sempre um pouco distantes, ela estava sempre junto de seu grupo.

[24 de maio]

“ A partir deste dia, Emma se ausentará da escola por uma semana.
Perguntamos o motivo, mas ela não respondeu.
Pensando bem, aquele dia era o 49º dia após a morte de sua mãe, que faleceu em nosso primeiro dia de aula, mas só soubemos disso após a morte da própria Emma.”

Regina sentiu um calafrio subindo de seu pé e indo até a cabeça ao ler sobre a morte de Emma, ela estava tão viva todos os dias na sala de aula, como poderia em algum espaço de tempo passado ou futuro não estar mais entre eles? Era uma questão que amedrontava e assustava a morena que balançou a cabeça tentando escapar de tais pensamentos.

[21 de Junho]

“Manhã de chuva bem forte, mas o sol aparecera de tarde.
Emprestei meu moletom para Emma que estava toda encharcada.
Deveria ter levado uma toalha para que ela pudesse se secar...

O clube de futebol suspendeu os treinos até o fim das provas.
Hoje, depois de muito tempo, fomos embora todos juntos.
Quando o grupo se separou, Emma me chamou para estudar no final de semana.”

— Hey, bom dia! – Como dito, Emma chegou molhada na classe, Regina logo que a avistou tirou sua toalha de banho da bolsa dando em prontidão à amiga que arregalou os olhos. – O que? Uma toalha de banho??? Porque diabos anda com isso? – Regina congelou com o espanto de Emma, deveria ter sido menos desesperada, mas não queria que a loira pegasse um resfriado.
— Cadê a minha, Regina? – Disse Killian que chegou logo atrás de Emma, também ensopado por causa da chuva.
— Desculpe, eu só trouxe uma, talvez Emma te empreste depois de usar, certo? – Esperou a resposta dela.
— Oh, claro! Sem problemas. – Sorriu para o amigo oferecendo-lhe a toalha. – Tome, não vou conseguir me secar mais do que isso e Gina? – Chamou a amiga que já estava sentada em seu lugar. – Muito obrigada, quero dizer, é estranho ter uma toalha na bolsa, mas me salvou. – Deu um sorriso e logo se sentou ao seu lado abrindo a mochila para pegar seu material escolar.
As ultimas palavras de Emma ecoavam na cabeça de Regina, desejava ser capaz de salvá-la de qualquer outra eventualidade, de qualquer perigo que pudesse surgir, desejava ser capaz de salvar Emma da forma que estava sendo pedido nas cartas, seus pensamentos foram interrompidos com a voz da loira e seus dedos tocando-lhe o ombro.
— Será que podemos ir embora juntas hoje? – Porque a loira estava fazendo essa pergunta? Praticamente todos os dias que não tinha treino iam juntas.
— É claro! Ei, Mulan e Ruby, nós vamos embora com Emma hoje. – Ao ouvir isso Emma engoliu a seco, não era essa a intenção, mas nada disse.
— Ahn... Nós temos um compromisso hoje, mas vão vocês duas. – Ruby disse sem esperar resposta e foi para seu lugar, junto com Mulan.
— E vocês dois? Querem ir com a gente? – Regina mencionou para Robin e Killian.
— Hoje quero chegar cedo em casa, vai ter torneio do meu jogo de vídeo game favorito. – Disse Robin.
— E eu... Eu.... – Killian pensava em uma desculpa. – Vou assistir The Walking Dead. – Regina ficou confusa com a reação dos amigos em arrumar compromissos, na carta dizia claramente que iam embora juntos naquele dia e que Emma a chamaria para estudar no final de semana, mas não questionou, não poderia simplesmente falar que deviam ir juntos porque era o que a carta dizia, apenas assentiu em ir embora apenas com Emma.
Quando as aulas terminaram, cada um foi para seu canto, restando apenas as duas, antes mesmo de sair da escola outro ato inesperado aconteceu.

— Você mora perto do Piers Park, não é? – Perguntou Emma.
— Moro sim, por quê?
— Eu ainda não fui até lá e quero conhecer desde que cheguei aqui, será que você pode me levar? – Definitivamente se isso tivesse acontecido com a Regina do futuro estaria na carta, certo? Vindo de Emma era algo importante e até mesmo para Regina, já que não costumavam sair apenas as duas.
— É claro Em, você vai adorar tenho certeza, quero dizer, é um dos meus lugares favoritos de Boston, a vista é incrível e dependendo da época do ano, tem flores que eu gostaria de levar para casa de tão bonitas. – Emma se divertia com a empolgação da amiga.
— Hey, não fique aí falando, me mostre! – Riu enquanto Regina corava.
As duas foram caminhando em silencio até o parque, apenas observando as ruas por onde passavam e isso não incomodou nenhuma das duas, pelo contrário, era confortável apenas apreciarem a companhia uma da outra, mesmo que não fosse dito uma palavra sequer, Regina sentia que Emma estava à vontade e isso a deixava feliz.
Ao ver a paisagem que o parque oferecia a loira se surpreendeu.
— Uaaau! Você não estava brincando, hein?! Parece que dá para ver a cidade inteira daqui! – Regina observava os olhos de Emma brilhar, era raro isso vindo dela, o que fazia Regina querer abraçá-la de felicidade, mas não sabia se seria recíproco, então apenas a observou de perto. – Definitivamente esse é o meu novo lugar favorito em Boston, não que eu já tenha outro, mas... – Debruçou-se com o cotovelo apoiado em um dos muros do Pier em que estavam, respirou fundo e sorria para o que via por alguns segundos, ao seu lado tinha algumas mudas de flores das quais Regina se referiu mais cedo, como se tivesse tido uma idéia a loira disse. – Gina, feche os olhos!
— O que? Porque? – Perguntou sem entender.
— Apenas feche os olhos, prometo que não farei nada de ruim. – Regina percebia o divertimento na voz de Emma. – Ande, não tenha medo. – Dessa vez sentiu os olhos de Emma nos seus, o que lhe causou um frio na espinha e paralisasse qualquer movimento, se encararam por alguns segundos que para a morena poderiam ser contados como décadas, quando Emma lhe fez um sinal com a cabeça incentivando-a a fechar os olhos, finalmente Regina obedeceu, sentiu a mão da loira tocar seus cabelos, mas foi rápido. – Pronto! Pode abrir. – Quando abriu os olhos Regina se assustou com o celular de Emma em sua frente e ouviu o barulho da foto sendo tirada.
— Ei!! Você está tirando fotos minhas? Porque fez isso? – Disse tentando pegar o celular de sua mão mas a loira a impediu.
— Desculpe haha, mas calma, você ficou bonita, olhe! – Virou o celular para que Regina visse, entregando o aparelho em sua mão e foi quando a morena notou na foto uma presilha em formato de flor em seu cabelo.
— É linda, Emma! – Disse olhando para a foto, colocando a mão no local onde a loira havia prendido o acessório. – Mas não precisava. – Entregou o celular.
— É um presente, por você ter trazido meu lanche todos aqueles dias, por me ligar para me acordar de manhã. – Disse com certa delicadeza.
— Mas... Emma... Desde que você começou a namorar eu parei de fazer isso. – Respondeu constrangida.
— Mas até então você fez e eu aprecio muito isso! Eu estava com ela em minha bolsa para te entregar mais cedo, mas acabei me esquecendo e quando vi as flores do parque me lembrei.
— Obrigada mesmo Emma, eu adorei! – Disse emocionada com o gesto da loira.
— Ufa, ainda bem que gostou, sério! Essas coisas deixa a gente meio sem graça, né?! Meu coração até desparou com medo de você não gostar...
— Achei que você estivesse acostumada em dar presentes.
— Na verdade é a primeira vez. – Regina a encarou confusa. – Quero dizer, eu já dei presentes antes, mas é a primeira vez que espero que alguém goste do meu presente. – As emoções para Regina Mills estavam fortes naquela tarde, Emma parecia tão mais leve, tão mais aberta que Regina não sabia se poderia ficar melhor, foi interrompida de seus pensamentos com a voz de Swan. – Sabe, no dia em que trouxe meu lanche pela primeira vez, contei à minha vó, porque desde que minha mãe... – Ela não terminou a frase e após uma pausa pigarreou. – Agora moramos só eu e vovó e ela disse que se eu quisesse poderia fazer meu lanche para não te incomodar mas eu realmente queria que você fizesse aquilo por mim, dizendo em voz alta parece egoísta, me desculpe. – Pela primeira vez naquela tarde, o olhar de Emma voltou a ser triste.
— Ei. – Abaixou sua cabeça para encarar Emma que estava olhando para baixo. – Você não foi egoísta, eu realmente gostava de te acordar, de fazer o seu lanche, mesmo que você não quisesse, eu iria insistir. – Sorriu tentando fazer com que Emma sorrisse também e funcionou. – Você vai fazer algo nesse fim de semana? Estava pensando em estudarmos juntas, o que acha? – Mesmo com algumas mudanças, lá estavam os acontecimentos da carta, o que entristeceu um pouco Regina, esperava que aos poucos os fatos se dissipassem e Emma continuasse viva, sem precisar correr nenhum perigo.
Após combinarem de estudar, Emma deixou Regina em sua casa e dali foi para a sua.

“Após um mês de namoro, parece que Emma e Zelena finalmente terminaram.
Obs: mesmo com o convite para estudar, não deixe de estudar em casa também, ou suas notas vão cair.”

Pelos acontecimentos do futuro Emma passou um mês com Zelena, mas naquela realidade, foram apenas duas semanas, Regina se perguntava se sua “eu” do futuro também havia recebido aquele presente que havia recebido hoje, mesmo tendo a sensação que não, esperava que pudesse ter sentido a felicidade que estava sentindo agora, na verdade graças às cartas, sabia que já tinha passado por momentos felizes com a loira que a do futuro não, se não tivesse seguido várias das instruções talvez as coisas fossem diferentes, negativamente. Afastou os pensamentos que lhe rodeavam e abriu o caderno para começar a estudar um pouco, já que pretendia dormir cedo para encontrar Emma no dia seguinte, combinaram de estudar na biblioteca pública da cidade.

No dia seguinte, encontrou Emma encostada na parede do lado de fora da biblioteca, ela vestia uma calça jeans, coturnos de cano baixo, uma camiseta preta com uma xadrez vermelha por cima, seus cabelos em um rabo de cavalo, era a primeira vez que a via sem o uniforme escolar ou de treino, estava completamente encantada com a beleza de Emma Swan, não que já não tivesse notado antes, mas sem uniforme conseguia ficar ainda mais bonita.

— Hey! Sem uniforme, huh? – A loira disse sorrindo, Regina usava uma regata cinza com uma saia estampada com flores. - Vamos?!
— Cadê o pessoal? – Mesmo que não tivessem mencionado em chamá-los, talvez Emma tivesse conversado com o restante do grupo por mensagem.
— Eles não vem, acha que conseguiríamos estudar com todo mundo aqui? Aliás, chamei o Robin, mas ele disse que não daria, então sinto muito Regina Mills, mas será apenas nós duas hoje. – Regina não podia negar, gostava da idéia e também gostava daquela Emma mais solta, gostava de ver seu olhar menos triste e com mais vida.

Ao longe estava Zelena com duas amigas, Regina e nem Emma perceberam sua presença no local, que coincidentemente estavam ali para também estudar.

— Aquela ali não é sua namorada? – Disse Tinker, amiga de Zelena.
— Não mais, já dispensei. – Mentiu.
— De novo com aquela garota.
— Cafona! – Encarou as duas que estavam sentadas concentradas no que estudavam. – Mas nem me importo, quem perdeu foi Emma. – Desdenhou e as amigas concordaram, como sempre concordavam com tudo que Zelena dizia ou fazia. Entre um estudo e outro não podia evitar os olhares para a mesa da ex namorada, mas nada disse, não iria demonstrar despeito, apenas corroia a raiva que sentia de vê-la ali com Regina.

Na semana em que Emma se ausentou da escola, Regina fez anotações de toda a matéria para que ela não perdesse nada, a loira agradeceu mesmo dizendo que não era necessário, mas isso fez com que Emma tirasse sua melhor nota em química.

[4 de Julho]

“ Na divulgação das notas, Emma tirou a melhor nota de todo o segundo ano.
(Eu só fiquei na média mesmo...)

— Fala sério, primeiro lugar? – Killian praguejou.
— Foi só em química. – Emma tentou não dar muita importância.
— Mas você faltou um monte. – Ruby disse incrédula.
— Você freqüentou as aulas de reforço, Em? – Perguntou Robin.
— Na verdade não, foi graças a Regina, ela me ajudou nos estudos, obrigada! – Sorriu para a amiga, que percebeu que Ruby e Mulan também sorriam.
— Porque vocês duas estão com esse sorrisinho no rosto? Vocês sequer alcançaram a média. – Disse Regina sem entender a felicidade das duas que nada disseram apenas se entreolhavam e depois olhavam para Regina e Emma.

“Depois de divulgar as notas, o professor decidiu aproveitar o resto do tempo em uma aula informal.
Achei o assunto tão interessante que me lembro até hoje: “Viagem no tempo.”

— Como ainda temos tempo, gostaria de falar sobre um assunto que possa ser o interesse de vocês, nesse período de provas, vocês nunca pensaram como seria bom saber as questões antes da prova? E se fosse possível usar uma máquina do tempo para trazer respostas do futuro? Pois na minha opinião, criar uma máquina do tempo não é impossível. – Regina quase saltou da cadeira com a possibilidade, seria a explicação para as cartas, mas se realmente fosse possível, porque não veio pessoalmente além de mandar coisas escritas? – Mas como poderíamos viajar no futuro? Para tanto seria necessário deslocar-se quase na velocidade da luz, tendo por base a teoria da relatividade proposta por Einstein, tudo o que eu falei até aqui constitui uma idéia amplamente aceita na comunidade cientifica. Agora vamos falar sobre uma questão ainda não comprovada, mas que desperta interesse, o “buraco negro”, quando a ciência puder criar um buraco negro, eu penso que será possível viajar no tempo, é como um corpo celestial de gravidade estratosférica, algo capaz de sugar absolutamente qualquer coisa, mas o que acontece com aquilo que é sugado? Acredita-se que a gigantesca força gravitacional do buraco poderia criar uma distorção no espaço-tempo capaz de deslocar a matéria pela linha do tempo, inclusive já existem pesquisadores fazendo tentativas em reproduzir buracos.
— Professor. – Killian interrompeu levantando o braço.
— Sim, Killian, pode falar!
— Na minha opinião viajar no tempo é impossível! Vamos supor que seja possível viajar no tempo, como ficam as incongruências criadas por uma viagem temporal? Por exemplo, usando uma máquina, eu viajo ao passado para mudá-lo a fim de alterar algo que aconteceu no futuro, com ele alterado não seria mais necessário voltar ao passado e nem criar uma máquina do tempo, enquanto existir essa contradição não acho possível.
— Sim e o nome disso é “paradoxo temporal”, muitos cientistas descartam a possibilidade justamente por isso, entretanto haveria um modo de evitar e seria através de “mundos paralelos” com isso inúmeros passados e futuros possíveis se dividiriam como galhos, assim alterando algum acontecimento do passado, apenas gera a criação de uma nova linha do tempo, sem mudar a original, portanto os fatos do passado continuariam inalterados, enfim, se algum dia for possível a viagem no tempo, também possamos comprovar a existência de mundos paralelos! – A turma se fez em um absoluto silencio, o clima parecia ter pesado. – Bom, vamos encerrar por aqui, se tiverem dúvidas podem me procurar. – Com isso alguns alunos foram até sua mesa, quando o grupo de Regina se aproximou de sua mesa.
— Esse lance de mundos paralelos, o que acham disso? – Disse a garota.
— Depois do que o professor disse, acho bem possível. – Mulan respondeu pensativa.
— Besteira, só há um passado e um futuro. – Killian continuava com a mesma opinião.
— Mas se realmente existisse, mesmo com uma máquina do tempo seria impossível reparar os erros do passado, não é? – Seu olhar parecia perdido em pensamentos, assim como os demais.

Regina sentiu seu estomago contorcer, os acontecimentos estão cada vez mais distantes dos das cartas, isso porque ela estava alterando alguns fatos, isso deveria alterar também no futuro, certo? Mas o que está escrito continua igual, isso queria dizer que realmente pudesse existir um passado diferente? Um que condiz com tudo o que aconteceu como dizem as cartas e agora um novo com as atitudes diferentes que estava tomando. Não conseguirá apagar seus arrependimentos, mesmo que consiga salvar Emma neste mundo, isso não quer dizer que salvará ela no futuro? Ao se dar conta desses possíveis fatos, Regina sentiu sua cabeça girar, seu rosto queimar e as lágrimas se amontoarem em seus olhos.

— Regina? – Robin a chamou mas não obteve resposta.

A morena manteve seu olhar para Emma que estava parada em sua frente, assim como os demais, as lágrimas que antes segurava, agora já não faziam cerimônia, ajoelhou-se no chão colocando as mãos no rosto, sentindo o desespero tomar conta de si, tudo o que havia feito até agora, poderia ser em vão para a Emma do futuro, sentia-se culpada por sua “eu” do futuro ter tantos arrependimentos, por ter perdido alguém que tanto amava e as esperanças de que poderia consertar isso agora, se esvaiam junto com suas lágrimas, dizia para si mesma “me perdoe Emma, me perdoe por tudo, eu não fui capaz e agora também não serei, me perdoe.”