Para Sempre escrita por Sue Niehaus


Capítulo 4
Minha Irmã Morta


Notas iniciais do capítulo

Hello pessoas, como prometido o capítulo está maior, e daqui a pouco vou postar o quinto capítulo, porque talvez eu vá ficar sem tempo pra postar essa semana, vou ficar sem pc :/ mas vou tentar atualizar sempre que conseguir.
aaah lembrei, é normal esse tempo alinear na estória, não estranhem...
e obg pelos comentários vocês são uns amorees...
sem mais delongas, e boa leitura...



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Eu entrei na casa, fui até a cozinha, peguei uma garrafa de água na geladeira, então subi para o meu quarto, já que eu sei que estou sozinha em casa, pois sei que Siobhan está no trabalho.
A Senhora S. sempre está no trabalho, o que significa que eu tenho essa casa só pra mim, basicamente o tempo todo, embora eu normalmente fique só no meu quarto.
Eu me sinto mal pela Sra. S, Eu me sinto mal pela vida que ela trabalhou tanto para ter, e de uma outra para outra ela se ver cuidando de uma adolescente. Mas já que minha mãe era filha única e todos os meus avós morreram antes deu fazer dois anos, não era como se ela tivesse muita escolha. Eu quero dizer, ou era viver com ela – a única irmã e gêmea, do meu pai – ou ir para um orfanato, até eu fazer 18 anos. E embora ela não saiba nada sobre criar uma criança, ela resolveu cuidar de mim. Eu nem havia saído do hospital antes dela vender o apartamento na qual morava, para comprar essa casa grande, e contratar um dos melhores decoradores da Flórida para mobiliar o meu quarto.


Eu quero dizer, eu tenho todas as coisas normais como uma cama, cômoda, e uma mesa. Mas eu também tenho uma TV de tela plana, um massivo closet, um enorme banheiro com uma Jacuzzi e um chuveiro separado, um balcão com uma incrível vista para o oceano, e meu próprio quarto/esconderijo de jogos, com outra TV tela plana, um balcão, micro-ondas, mini bar, som, sofás, mesas, puffs, e tudo mais.


É engraçado como antes eu daria tudo para um quarto como esse. Mas agora eu daria tudo para que as coisas fossem como antes.
Eu acho que já que a Sra. S passa a maior parte do tempo ao redor de outros advogados e todos aqueles executivos VIPs que a firma dela representa, ela achou que todas essas coisas eram necessárias ou algo assim. E eu nunca tive certeza se ela não tem filhos porque ela trabalha o tempo todo e não tem tempo para um, ou se ela não encontrou o cara certo ainda, ou se ela nunca quis um pra início de conversa, ou talvez a combinação dos três.


Provavelmente pode parecer que eu deveria saber tudo isso, sendo psíquica e tudo mais. Mas eu não posso necessariamente ver a motivação de uma pessoa, na maior parte o que eu vejo são eventos. Como toda uma corrente de imagens refletindo a vida de alguém, como slides ou algo assim, só que em um formato mais como o de um trailer. De qualquer forma, eu não acho que você tem que ser clarividente para saber que quando as pessoas sonham em ter filhos elas normalmente pensam em termos de um pequeno bebê, e não uma adolescente de 1,70 m, olhos verdes, cabelo loiro com poderes psíquicos e uma tonelada de bagagem emocional. Então, por causa disso, eu tento ficar quieta, respeitosa, e longe do caminho da S.


Eu, definitivamente não digo que eu falo com minha irmã morta quase todo dia.
Da primeira vez que Kira apareceu, ela estava parada perto do pé da minha cama de hospital, no meio da noite, segurando uma flor com uma mão e acenando com a outra. Eu ainda não tenho certeza do que foi que me acordou, já que não foi como se ela tivesse falado ou fez qualquer tipo de som. Eu acho que senti a presença dela ou algo assim, como uma mudança no quarto, ou mudança no ar.
A princípio eu assumi que estava imaginando – só outro efeito colateral dos medicamentos para dor em que eu estava. Mas depois de piscar um muitas vezes e esfregar meus olhos, ela ainda estava ali, e eu acho que nunca me ocorreu gritar ou pedir ajuda. 
Eu observei enquanto ela vinha para o lado da cama, apontou para o gesso cobrindo meu braço e perna, e riu. Eu quero dizer, foi uma risada silenciosa, mas ainda sim, não era como se eu achasse engraçado. Mas assim que ela notou minha expressão enraivecida, ela rearranjou seu rosto e gesticulou como se estivesse perguntando se doía.
Eu dei nos ombros, ainda um pouco infeliz com a risada dela, e mais do que um pouco assustada com a presença dela. E embora eu não estivesse inteiramente convencida que era realmente ela, isso não me impediu de perguntar:


— Onde estão mamãe, papai e o Pongo? – Ela virou a cabeça para o lado, como se eles estivesse parados ao lado dela, mas tudo que eu podia ver era um espaço vazio.


— Eu não estou entendo.


Mas ela só sorriu, colocou as palmas juntas, e inclinou a cabeça para o lado, indicando que eu deveria voltar a dormir.


Então eu fechei meus olhos, embora eu nunca tenha recebido uma ordem dela antes. Então tão rapidamente quanto eu os abri e disse:


— Hey, quem falou que você poderia usar as minhas roupas, ainda por cima o meu casaco?
Então ela desapareceu, ignorando-me.


Eu admito, eu passei o resto daquela noite com raiva de mim mesma por fazer uma pergunta tão idiota, superficial, e egoísta. Eu tive a oportunidade de receber respostas para as maiores perguntas da vida, para possivelmente ganhar o tipo de revelação que as pessoas especulam há séculos. Mas ao invés disso, eu desperdicei o momento repreendendo minha irmã por ter pegado minhas roupas. Eu acho que velhos hábitos realmente nunca mudam. 
Da segunda vez que ela apareceu, eu fiquei tão agradecida por ver ela, que eu não fiz menção nenhuma ao fato dela estar usando não só meu casaco favorito, mas também minha melhor jeans (que eram tão longas que a bainha ia até os tornozelos dela), e o bracelete da sorte que eu ganhei no meu aniversário de 13 anos que eu sempre soube que ela invejou.
Ao invés disso eu só sorri e acenei e agi como se não tivesse notado, enquanto eu me inclinava em direção dela e falava.


— Então onde estão a mãe e o pai? — eu perguntei, pensando que eles iriam aparecer se eu só olhasse com mais força.
Mas Kira só sorriu e bateu os braços nos lados dela.


— Você quer dizer que eles são anjos? — Meus olhos se abriram em surpresa.


Ela virou os olhos e balançou a cabeça, se abaixando enquanto gargalhava silenciosamente.


— Ok, quer saber? Que seja — eu joguei meu corpo para trás contra os travesseiros, pensando que ela realmente estava se fazendo, mesmo que ela estivesse morta.

— Então, me diga como é lá? — eu perguntei, determinada a não brigar. — E você, bem, gosta, de morar no céu?


Ela fechou os olhos e ergueu as palmas como se estivesse balançando um objeto, e então de lugar nenhum, uma pintura apareceu.
Eu me inclinei para frente, olhando para a pintura que era certamente o paraíso, colocado em uma moldura dourada, com várias árvores, e uma silhueta de alguma terra distante.


— E porque você não está lá agora? — eu perguntei.


E quando ela deu nos ombros, a pintura desapareceu. E ela também.


Eu fiquei no hospital mais de um mês, sofrendo com ossos quebrados, uma concussão, hemorragia interna, cortes e machucados, e um corte bem profundo na testa. Então enquanto eu estava toda enfaixada e medicada, Siobhan foi sobrecarregada com a tarefa de limpar a casa, fazer os arranjos para o funeral, e guardar minhas coisas para a grande mudança.
Ela me pediu para fazer uma lista dos itens que eu iria querer trazer. Todas as coisas que eu poderia querer arrastar da minha perfeita vida em São Francisco, Califórnia, para uma vida nova assustadora na Flórida. Mas fora algumas das minhas roupas, eu não queria nada. Eu só não podia aguentar uma única lembrança de tudo que eu perdi, já que não é como se uma caixa idiota cheia de porcarias traria minha família de volta.


O tempo todo em que eu estava presa naquele quarto estéril, eu recebi visitas regulares de uma psicóloga, uns internos, que sempre começavam as sessões com a mesma pergunta idiota sobre como eu estava lidando com a minha “profunda perda” (palavras deles, não minha). Depois eles tentavam me convencer a ir para a sala 618, para sessão de terapia.
Mas de forma alguma eu ia tomar parte nisso. De jeito algum eu podia sentar num círculo com um bando de pessoas angustiadas, esperando por minha vez para dividir a história do pior dia da minha vida. Eu quero dizer, como isso poderia ajudar? Como poderia me fazer sentir melhor confirmar o que eu já sabia – que não só eu era solenemente responsável pelo que tinha acontecido a minha família, mas também que eu fui idiota o bastante, egoísta o bastante, e preguiçosa o bastante para perder tempo, vadiar, e procrastinar para fora da eternidade?


Sra. S e eu não conversamos muito no voo de São Francisco para o Aeroporto da Flórida, e eu fingi que era por causa do meu luto e dos meus ferimentos, mas na verdade eu precisava de distância. Eu sabia todas as emoções conflitadas dela, como por um lado ela queria tão desesperadamente fazer a coisa certa, enquanto no outro lado ela não conseguia parar de pensar: Por que eu?
Eu acho que eu nunca me perguntei: Por que eu?
Na maior parte eu penso: Por que eles e não eu?
Mas eu também não queria arriscar magoar ela. Depois de todos os problemas que ela tinha passado, me acolhendo e tentando prover uma boa casa, eu não podia arriscar deixá-la saber como todo o trabalho dela e as boas intenções eram um completo desperdício em mim. 
Como ela poderia só me largar numa velha lixeira e não teria feito à mínima diferença.


A entrada para a nova casa era um borrão no sol, mar, e areia, e quando Sr. S abriu a porta e me levou para o andar de cima para o meu quarto, eu dei um rápido olhar apressado então murmurei algo que soava vagamente como obrigado.


— Eu sinto muito por ter que deixar você assim — ela disse, obviamente ansiosa para voltar para o seu escritório onde tudo era organizando, consistente, e não tinha qualquer semelhança com o mundo fragmentando de uma adolescente traumatizada.
E no momento que a porta se fechou atrás dela, eu me joguei na cama, enterrei meu rosto em minhas mãos, e comecei a chorar.
Até que alguém disse:


— Oh, por favor, dá pra olhar pra si mesma? Você já viu esse lugar? A TV de tela plana, a lareira, a banheira que faz bolhas? Eu quero dizer, O-olá?


— Eu achei que você não podia falar — Eu rolei e olhei minha irmã, que, por sinal, estava vestida com uma roupa de corrida rosa da Juicy, Nikes dourados, e uma brilhante peruca de boneca da china.


— É claro que eu posso falar, não seja ridícula. — Ela virou os olhos.


— Mas das primeiras vezes... — eu encarei.


— Eu só estava me divertindo um pouco. Então atire em mim. — Ela começou a andar pelo meu quarto, passando as mãos pela minha mesa, no novo laptop e novo iPod que Sra. S deve ter colocado ali.

— Eu não acredito que você tem tudo isso. É tão injusto! — Ela colocou as mãos nos quadris e ficou feia com raiva. — E você nem está aproveitando! Eu quero dizer, você já viu a sacada? Você se incomodou em ver a vista?


— Eu não me importo com a vista — eu disse, dobrando meus olhos sob meu peito e encarando.


— E eu não acredito que você me enganou daquele jeito, fingindo que não podia falar.
Mas ela só riu.

— Você vai superar.


Eu observei enquanto ela caminhava pelo meu quarto, empurrou as cortinas para o lado, e lutou para destrancar as portas francesas.

— E onde você está conseguindo todas essas roupas? — eu perguntei, olhando-a de cima a abaixo, revertendo de volta para nossa rotina normal de briga e discussão. — Porque primeiro você aparece com minhas coisas, e agora você está usando Juicy, e eu sei por fato que mamãe nunca comprou para você esse casaco.


Ela riu. — Por favor, como se eu ainda precisasse da permissão da mamãe quando eu só posso ir para aquele enorme closet celestial e pegar o que eu quiser. De graça — ela disse, dando um sorriso.


— Sério? — eu perguntei, meus olhos se alargando, pensando que soava um negócio muito bom.


Mas ela só balançou a cabeça e dispensou. — Anda, você tem que ver o quão legal é essa nova vista.


Então eu o fiz. Eu levantei da cama, limpei meus olhos com a minha manga, e fui até a sacada.
Passando por minha irmã menor enquanto eu pisava no chão de pedra, meus olhos se alargando enquanto eu absorvia o cenário diante de mim.


— Isso é pra ser engraçado? — eu perguntei, olhando para a vista que era uma réplica exata da pintura do paraíso que ela tinha me mostrado no hospital.
Mas quando eu virei para olhar para ela, ela já tinha desaparecido.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi meio/todo focado na vida de Emma depois do acidente, e não teve Regina :/ mas acalmem-se já vou postar o próximo capítulo com muita Regina, linda e maravilhosa hauhasud
tchau serumaninhos.



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