Twenty One escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 7
Grease


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas,
Não é que enfim consegui postar dia vinte e um?!
Bom, tem uma coisa delicada nesse capítulo, que é sobre religiões. Eu não vou entrar muito nisto, mas é necessário ver como o Nico pensa sobre isso para entendê-lo. Eu não vou realizar um grande milagre na vida de ninguém aqui e dizer que foi obra de Deus, não vou converter personagens para fé nenhuma.
As crenças, os ideais, o Nico em si não são, necessariamente, reflexos que condizem com minhas crenças e ideais. Você pode concordar ou discordo da forma como ele vê o mundo, mas não quero doutrinar ninguém, ok?!
A segunda coisa é que vou repostar a fanfiction como original, mas ainda manter essa. Basicamente trocarei os nomes e alguns poucos acontecimentos, ok? Caso você não goste de universos alternativo, pode ir ler. Até o próximo mês espero ter feito isso.
Ademais, espero que gostem.



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“Não existe a chance de que você seja um bom garoto que acha que é amaldiçoado e precisa se empenhar em parecer odioso para poupar aqueles ao redor de um terrível destino? Pois soube que isso acontece.’ (...)

‘Meu pai era amaldiçoado. Já eu? Sou condenado.’”

(CLARE, Cassandra. As Crônicas de Magnus Bane: O Herdeiro da Meia-Noite)

 

— Olá, padre, — Nico se aproximou, soltando a mão da de Thalia para oferecê-la.. —  Sua benção.

— Deus te abençoe, filho. — O homem sorriu quando a apertou, observando o Di Angelo levar as mãos unidas até os lábios, depositando um beijo suave sobre a do sacerdote. — Como você está, menino? Há muito tempo não te vejo! Sinto sua falta.

— Eu vou sobrevivendo.  — Murmurou, evasivo ao soltar a mão e enfiá-la no bolso da calça. — E o senhor?

— Pela Graça de Deus, estou muito bem. — A voz do padre era suave, um jeito tão doce que lembrava à Thalia manhãs de natal. — Uma dorzinha aqui e outra ali, mas nada que impeça servir ao povo. Se São Francisco de Assis¹ sofreu até as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo¹, quem sou eu para reclamar de tão pouco? Somos abençoados pela vida, mesmo cada um com sua cruz, não é?

— Acho que sim, padre. — Nico se remexeu, parecendo atordoado com a conversa.

— Como vai seu pai? — O padre perguntou, percebendo o desconforto do rapaz, que logo se tornou um sorriso sarcástico.

— Virou pastor. — Ele contou, fazendo o padre erguer a sobrancelha.

— Ah, é mesmo? Fico feliz que ele tenha encontrado o caminho dO Senhor.

— Acho que é mais fácil ter encontrado o caminho do dinheiro: — O Di Angelo continuou, seu tom frio e cruel, como se estivesse contando uma piada mórbida. — Mais fácil atrair seus fiéis seguidores para a funerária quando eles acreditam que é o caminho do céu.

— Não seja tão duro com seu pai, menino. — O sacerdote suspirou, seus olhos castanhos pesarosos ao encarar o rapaz à sua frente, como se ver o lado obscuro dele lhe trouxesse dor. — Devemos amar e perdoar o nosso próximo, principalmente nossos pais. Sua mãe sempre disse que seu pai se tratava de um bom homem que se deixou corromper, talvez você devesse ter mais fé nele.

— Padre, com todo o respeito: — Nico respondeu baixo, como se tentasse controlar o tom para não gritar, e Thalia percebeu seu corpo tenso. — Meu pai não tem salvação. Ele merece queimar no inferno e se eu souber que há alguma forma dele conseguir o paraíso… Então eu terei problemas com Deus.

— Meu menino… — O padre murmurou para si, olhos lacrimejando e balançando a cabeça. — Tão jovem e tanta amargura… Eu me lembro de quando não era mais que uma criança e subia no altar para rezar o pai nosso. As vezes temos que voltar ao nosso antigo amor para entender quando nos perdemos de Cristo.

— Eu nunca me perdi, padre. — Nico suspirou, o corpo um pouco menos tenso, mas igualmente melancólico. — Só estou cansado.

— Você pode encontrar descanso e paz em Cristo, filho. Mas, quando achar que é o momento de voltar, sabe onde encontrar refúgio.

— Obrigado, padre. — Nico suspirou e apertou os lábios. — Pensarei a respeito.

— Sei que acabará pensando, meu rapaz. — O sacerdote sorriu triste, passando os dedos pela cabeça de Nico antes de fixar os olhos em Thalia. — E, você, mocinha, saiba que Deus a ama também, Ele sempre escuta as orações, mesmo que nem sempre possa nos atender como queremos.

—Hã... Obrigada. — A Grace respondeu constrangida, ansiosa para sair dali.

— Vejo que estão apressados. — O homem ainda sorria, os olhos distantes como se pudesse ver algo além dos dois jovens à sua frente, como se fosse lhe dada uma visão do futuro. — Só mais uma coisa, meu menino: Lembre-se do seu nome. Talvez fosse bom para os momentos de desespero.

 

(...)

 

O caminho até a sorveteria pareceu bem mais longo, ainda que não tenha levado mais que algumas quadras. O silêncio era pesado e Thalia sentia falta da mão de Nico segurando a sua, principalmente porque cada vez que ela o olhava, ele parecia mais melancólico e perdido em pensamentos, como se revivesse cada palavra do padre ou cada dor do passado.

— Quer deixar o sorvete para  depois? — A Grace perguntou quando ficar calada pareceu impossível.

— O que? — Nico questionou, sendo desperto dos seus pensamentos.

— Você parece abalado. — Ela explicou, parando de andar. — Devia ir para casa descansar.

— Preocupada comigo, Grace? — Ele retrucou em um sorriso sarcástico, que não chegou aos olhos castanhos.

— Sim, estou. — Cruzou os braços, o tom irritadiço. — Algumas pessoas têm empatia: elas se preocupam até com um vira-lata no meio da rua em dia de chuva, ainda mais quando quem sofre é outro ser humano.

— Não se preocupe, querida. — Retorquiu, ainda ácido. — Alguns “seres humanos”, como você disse, já se acostumaram com o sofrimento. Já tomei uma anestesia permanente, encontrar um padre no meio da rua não é mais do que um corte de papel. E, além do mais,  nśo já chegamos. Essa é a melhor sorveteria da cidade.

Ele gesticulou para um prédio com fachada azul e porta branca, havia uma placa de neon com os dizeres “Máquina do Tempo Jackson” e o nome soava familiar para Thalia.

— Eu ia perguntar se já provou todos os sorvetes da cidade para saber, — Ela comentou subindo os poucos degraus atrás de Nico, abriu a porta para ela. —, mas acho que a resposta é sim.

— Eu garanto que, pelo menos, o melhor sorvete azul é o que temos aqui.

— Sorvete azul?

Antes que Thalia tivesse resposta, Nico se pôs de lado e gesticulou para que ela entrasse. Ok, aquela sorveteria tinha, no mínimo, a decoração diferente. Era um tema retrô, com bancos vermelhos e ladrilho preto-e-branco, como se fosse um tabuleiro de xadrez, além das paredes coloridas e um balcão grande branco, como se tivessem entrado em algum filme do tempo da brilhantina. No canto esquerdo do estabelecimento havia uma plataforma baixa, onde pessoas dançavam sem se importar com quem as olhasse, de uma forma que a Grace achava muito estranha e engraçada.

— Uau! — Thalia exclamou, olhando em volta atordoada e reconhecendo “You're The One That I Want”, vinda de uma jukebox. — Isso é incrível!

— Não é? — Nico riu, um pouco menos melancólico ao segurar sua mão. — Vem, vamos sentar.

A Grace ainda estava fascinada com toda a decoração quando uma mulher surgiu a sua frente. Ela combinava com a decoração do local, os cabelos castanhos pouco grisalhos presos em um lenço branco e o corpo modelado em um vestido rodado azul com bolinhas também brancas, sorria tão doce que as rugas do rosto lhe davam um ar acolhedor.

— Bom dia, em que posso ajudar? — Thalia abriu a boca para responder a garçonete, apesar de ainda estar indecisa sobre o que pedir, quando a mulher notou o rapaz ao seu lado. — Nico! Quanto tempo?!

— Olá, Senhora Jackson. — O Di Angelo sorriu educado.

— Como você está?! — A mulher continuou. — Tem tanto tempo que não te vejo!

— Estou bem. E a senhora?

— Com meus dois filhos quase me deixando louca?! Ainda consigo atender os pedidos sozinha, então estou bem. — Ela sorria tão calorosa que Thalia se viu retribuindo, apesar de não entender porque Nico estava tenso ao seu lado, olhando para a porta como se esperasse alguém aparecer e salvá-lo — E então, escolheram?

— Que tal o especial da casa? — Nico sugeriu. — Tudo bem pra você, Thalia?

— Claro. — A Grace forçou um sorriso, um tanto confusa quando a garçonete se retirou. — Você tem alguma coisa contra velhinhos? Parece que todos que você vê fica à ponto de explodir.

Nico riu, mas havia algo em seus olhos denunciando que não era verdadeiro.

— Não são todos os velhinhos e, acredite, você não vai querer chamar Sally de velhinha: ela tem mais disposição, energia e ânimo do que eu. É só que ela e o padre que encontramos me fazem pensar no meu passado, na minha mãe.

— Ela ia naquela igreja? — Thalia perguntou suavemente, com medo de invadir espaço alheio. Contudo, o Di Angelo já havia mostrado que aquilo era algo que ele não permitiria, então, o máximo que podia acontecer, era ele lhe dar uma má resposta. Entretanto, não foi isso que aconteceu.

— Minha mãe era católica fervorosa, sabe? — Contou, os olhos castanhos mostrando que parecia perdido no passado. — Ela se agarrava à religião para esquecer de nossos problemas. Todos temos nossa própria forma, à final de contas. Para alguns é a bebida, outros antidepressivos, no caso dela foi Deus. Todos tem seus benefícios e malefícios.

Thalia assentiu com a cabeça, mantendo-se em silêncio para que ele se sentisse confortável em continuar.

— Dominico Miniato di Angelo. — O rapaz suspirou, apertando os lábios. — Minha mãe me deu esse nome por causa de um mártir da Igreja Católica muito famoso na Itália, que é de onde eu sou, São Miniato³. Ele é conhecido ter sofrido muito. A história diz que deixaram ele de frente pra um leopardo faminto, jogaram fogo e até cortaram sua cabeça. Mas ele nunca perdeu a fé e sempre sobrevivia: dizem que até quando foi decapitado, se ergueu e escolheu onde queria morrer. Minha mãe queria que eu fosse assim, eu acho: Um condenado, que tem fé e persevera até o final.

— O que aconteceu com ela?

— Câncer. — Nico engoliu em seco, os olhos opácos. — Foi repentino.

— Eu… sinto muito. — Thalia sussurrou, sem saber o que dizer.

— Os bons morrem antes, como diria o poeta. — O rapaz apenas deu de ombros, como se isso não importasse muito.  — E você, Thalia Grace? A garota que nunca foi a igreja. Por quê?

— Minha mãe seria expulsa, acredite. — Thalia suspirou, batucando a mesa com os dedos.

— O que aconteceu com ela?

— Sei lá. — A vez do dar de ombros foi da Grace, que parecia perdida em pensamentos. — Deve tá bebendo todas, é o que ela sempre faz. Ou tentando ser atriz, a incrível “Beryl Grace”, era o sonho que eu fiz questão de estragar com meu nascimento.

— Quanto tempo não a vê? — Nico perguntou suavemente, os olhos fixos em Thalia.

— Uns cinco anos. Ela me mandou deixar ela em paz: pela primeira vez, obedeci.

— Não quer saber como ela está? Se ainda está viva?

— Ah, ela deve estar. — Thalia o olhou nos olhos, e o azul refletia melancolia. — Vaso ruim não quebra.

— A cada minuto que passa, mais vejo que temos mais coisas em comum. — O Di Angelo sorriu, sendo retibuido e respondido com um revirar de olhos. — E seu irmão? Como você o perdeu?

— Isso já é algo que não quero conversar.

Nico assentiu com a cabeça, compreendendo, e logo Sally chegava com duas taças repletas de milk shake denso azul, com chantilly e jujubas por cima.

— Esse é o especial da casa? — Thalia questionou, estranhando a cor do doce.

— Essa é uma das consequências de viver com Perseu Jackson: O mundo dele é azul! — Nico riu, levando o canudo aos lábios e manchando-os em azul.

— Acho que sou a culpada disso. — A garçonete comentou, fazendo Thalia franzir a testa. — Desde criança eu entupo ele de doces azuis.

A Grace sorriu educadamente e levou o canudo aos lábios, provando do sorvete. Tinha um gosto semelhante ao de baunilha, mas não chegava a ser tão doce: realmente era gostoso.

— Não tenho culpa se seus alcaçuz são os melhores! — Uma voz soou atrás de Thalia, levando-a a olhar e encontrar Percy sorrindo com os braços cruzados. — Não posso virar as costas que já fazem um complô, não é mesmo?

— É de praxe. — Nico riu, seus lábios em um tom azul. — Faltei no grupo das quarta pra falar mal de Percy Jackson e estou sendo atualizado por nossa adorável líder.

— Eu não duvidaria que você fizesse isso, Ghost. — Percy reclamou com um bico, dando a volta e abraçando a garçonete. — Mas sei que minha mãe jamais entraria, não é, Mamãe?

— Claro, querido! — A Senhora Jackson retribuiu o abraço do filho antes de fingir um sussurro para Nico. — Depois te envio a pauta!

— Poxa, ninguém me ama?! — Percy resmungou. — Não acredite neles, Thalia, eu sou um amor de pessoa.

— Acho que você me disse algo sobre salvar donzelas do terrível vilão. — A Grace apontou para Nico.

— O que faz de mim o mocinho! — O Jackson justificou rindo.

— Mas, — Ela enfatizou, colocando um fio do cabelo atrás da orelha. — também disse que é só pra roubar elas pra você.

Percy fez outro bico dramático, abraçando ainda mais a mãe: — Não foi isso que eu disse!

— Desista, Perseu — Nico retrucou, revirando os olhos. —, você não engana mais ninguém!

— Fique calado, tampinha. — Percy revirou os olhos e foi até o Di Angelo, bagunçando os cabelos negros dele, que lhe deu um tapa. —Você é a personificação do diabo.

— Eu odeio quando você faz isso! — Nico reclamou, tentando arrumar os cabelos.

— Posso nem te tratar como meu irmãozinho mais novo que você chora. — O Jackson replicou, sentando-se à mesa ao lado do primo, que continuava resmungando:

— Eu não sou seu irmãozinho mais novo. Tyson é.

— Falando em Tyson — A senhora Jackson interferiu, olhando os garotos como se fossem crianças. —, vou ver por onde ele anda. Um filho me dando trabalho já é o suficiente!

— Não acredite em tudo isso, Thalia. — Percy pediu, rindo e pegando a taça do sorvete de Nico. — Juro que sou um amor!

— Não, não é! — O Di Angelo revidou, puxando a taça de volta e levando o canudo aos lábios. — E não roube meu sorvete, você é o dono disso aqui!

— Não, não sou. — Novamente Percy pegou o sorvete do primo, fazendo Thalia rir, já quase terminando o dela. — Meus pais são. Eu só sou um pobre professor que você usa como chofer. Aliás, custava mandar uma mensagem avisando que ia vir pra cá? Tive que perguntar umas dez enfermeiras onde você tava até a Doutora Ártemis aparecer e avisar que você tinha fugido com uma garota!

— Eu não posso sair colocando em outdoors ou no Twitter que vou raptar Thalia, Perseu. — Nico retrucou tentando esconder um sorriso. — Como vou forçá-la a se casar comigo em Vegas se o FBI está atrás de mim?!

— Eu tenho a impressão que não é preciso um rapto pra isso, não é, Thalia? — Percy piscou, fazendo Thalia olhar para Nico de alto a baixo, avaliando-o.

— Não sei não, acho que vale a pena avaliar opções melhores. — Ela lançou um sorriso malicioso para Percy, revidando a “piscadinha”.

— Uau, Perseu. — Nico resmungou. — Primeiro meu sorvete e agora minha garota. Acho que vou ali chorar em um cantinho no banheiro antes que você roube o resto da minha vida!

— Que vida?! — Percy gritou quando o primo já se afastava, lançando-lhe um olhar ameaçador. Thalia tinha certeza que, se ele fosse uma pessoa normal, estaria lhe dando dedo.

— Dramático?! Nenhum pouco. — A Grace comentou sorrindo, o que logo se desfez ao ver o olhar que Percy lançava ao primo. A testa estava franzida e os lábios apertados, além dos ombros visivelmente tensos sob a camisa. — Está tudo bem?

— Aconteceu alguma coisa enquanto vocês vinham? — O Jackson questionou, ainda olhando na direção do amigo que já havia desaparecido ao entrar no banheiro.

Thalia fez uma careta, lembrando-se da discussão e depois a corrida, mas não achava que fosse isso.

— Nós encontramos um padre do meio do caminho. — Contou, também olhando para as portas duplas vermelhas. — Ele parecia conhecer Nico desde criança. Di Angelo, quer dizer.  — Se corrigiu, lembrando que o garoto havia reclamado por ter sido chamado pelo primeiro nome por ela.

— Não leve a mal essa coisa do nome. — Percy suspirou, enfim a olhando. — Ele tem toda uma filosofia com isso também. Mas, se você diz que encontraram um padre e se for quem eu estou pensando… Ele acabou  falando sobre a infância de Nico, não é?

— Também. Era mais sobre os pais dele. — Thalia sussurrou e as feições de Percy se tornaram mais sombrias enquanto ele abaixava o rosto, fechando as mãos em punho. — Tentei não me intrometer.

— Acho que isso explica porque ele está tão abalado. — Suspirou, mais uma vez olhando para as portas do banheiro fechadas. — Alguns assuntos são delicados para Nico. Família, pais, religião… A mistura disso tudo deve estar deixando ele pra baixo.

— Nunca pensei que ele tivesse alguma religião. — Thalia comentou, tentando não soar invasiva, ao mesmo tempo que estava curiosa.

— Eu não diria que Nico tem uma religião. — Percy contou, remexendo no canudo do sorvete. — Mas ele cresceu indo pra igreja com a mãe, então acho que ainda tem coisas que ele acredita, sabe? Eu não sei se ele acredita em Deus, mas em um paraíso sim. Acho que é o que  mantém ele vivo ainda.

— Como assim?

— Ele ficou sozinho depois que a mãe e a irmã morreram, e ele era muito apegado à elas. Agora somos, praticamente, só nós dois. Ele diz que sonha com o dia em que vai encontrar elas novamente e já tive medo dele querer antecipar esse encontro.

— Você diz… — Thalia engoliu em seco, apertando a taça em sua mão ao sussurrar temerosa. — suicídio?!

— Pra Igreja Católica, — Percy explicou lentamente.— suicídio é um dos pecados que te leva direto pro inferno. E ele acredita que a mãe e a irmã estão no céu.

— Se ele se matasse, jamais veria elas novamente. — A Grace concluiu, vendo o rapaz a sua frente confirmar a teoria. — Mas não tem outras coisas que você tem que fazer pra ir pro céu? Tipo, ir pra igreja, não pecar e um monte de outras coisas?

— Eu perguntei a ele isso uma vez. — Percy suspirou, olhando para a porta do banheiro e depois voltando-se novamente para Thalia, os olhos verdes estreiros. — Ele me disse que Deus tem uma dívida muito grande por tudo o que ele passou. Então, no mínimo, ele merece ir direto pro paraíso.

— Nossa!

— Eu não entendo nada disso, de verdade. Acho que cada um tem sua fé, cada um deve acreditar naquilo que faz você se sentir bem com você mesmo. E, por mais que seja louco e estranho todo esse jeito de Nico pensar, enquanto manter ele vivo, acho melhor que continue assim, melhor que ele continue acreditando.

Thalia engoliu em seco, sem saber realmente o que dizer. Mas, também não foi necessário, as portas do banheiro se abriram e Nico saiu de lá. Ele estava pálido na luz artificial, mas sorria e caminhava com leveza, seguindo até a jukebox e colocando uma música mais animada.

— Então, posso ter Thalia de volta por alguns minutos? — Ele ergueu a sobrancelha ao chegar à mesa, parecia tão calmo que era difícil acreditar que era o mesmo garoto com as crenças mórbidas que conversavam segundos atrás.

— Acho que vou liberar ela por enquanto. — Percy riu, mascarando toda a preocupação. — Meus lábios vão estar ocupados enquanto termino essa maravilha gelada. Sério, minha mãe devia abrir filiais por todo o mundo, né? Todo mundo deveria ter a honra de provar isso.

— Bom, já que foi trocada por um sorvete, — Nico ofereceu à mão a Thalia. — dar-me-ei a honra dessa dança? Dessa vez, sem túmulos em volta, claro.

Thalia tentou sorrir o mais verdadeira possível enquanto pegava na mão dele e se deixava conduzir para a plataforma onde dois casais dançavam.

Contudo, ela não podia deixar de pensar que parte de Nico di Angelo parecia morta. Só faltava levá-la ao túmulo.


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Notas finais do capítulo

Um pouco pesado o capítulo, não foi?
Mas é bom pra conhecer o Nico...
E então? Acham que ele é só um garoto triste mimado? Qual será os acontecimentos tristes que o tornaram tão vingativo e fechado? A Sally realmente deveria abrir filiais no mundo inteiro pra provar sorvete azul?!
Deixem a opinião aí embaixo, por favor!

¹ São Francisco de Assis: (5 de julho de 1182 — 3 de outubro de 1226), frade da Igreja Católica italiano que teve a vida voltada para a pobreza, sempre se dedicando ajudar aqueles que sofriam. Foi canonizado em 1228.
²Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo: Feridas, semelhantes as de Jesus descritas na bíblia, que apareçam em Francisco de Assis sem uma explicação lógica. Ainda com a dor extrema, o santo da Igreja Católica não deixava de ajudar o próximo.
³ São Miniato: Primeiro mártir de Florença, a tradição conta que era um príncipe, filho de um rei da Arménia, e morreu em Florença no ano 250 por causa das perseguições dos cristãos, da parte do Imperador Décio. O santo passa por várias fases de martírio, conforme narrado por Nico.

Música do capítulo:
You Are The One That I Want - Grease