Twenty One escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 15
Vinho Tinto


Notas iniciais do capítulo

Recapitulando:
Nico e Thalia estão em um encontro, a qual ela demorou para aceitar;
Ele a levou para ver uma exposição de Saudek e agora eles vão ver uma exposição mais particular, digamos assim;

Boa leitura!



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Nico não havia planejado aquilo, não daquele jeito. Era apenas para levar Thalia a exposição e provocá-la, observar sua reação enquanto lhe mostrava os quadros e flertava, mas pararia por aí. No entanto, ao vê-la tão surpresa e pensativa ao analisar as obras, Nico não pode deixar de se envolver pelos próprios flertes.

O olhar que Thalia lhe lançava, a forma como sorria e o provocava desequilibrava cada plano e autocontrole de Nico. A inocência e confusão em seu olhar ao não entender como Saudek conseguia expor tanta sensualidade sem tornar vulgar as obras, contrapostas ao desejo que ela exibia a cada toque de Nico… Não, ele não podia simplesmente ignorar aquilo.

Ele sabia que Percy demoraria a lhe perdoar por levar Thalia ao apartamento de Rachel no último andar do prédio que acontecia a exposição, mas havia urgência em seu corpo, em sua mente e em seus atos. Iria pedir perdão de joelhos ao primo mais tarde, se esse fosse o preço a se pagar por uma noite com Thalia Grace.

Um riso escapou por seus lábios ao girar a chave na porta do apartamento. Mais cedo, havia dito a si mesmo que não iria transar com Thalia naquele noite. Parte do motivo se resumia a sensação de que ela se negaria ao mesmo e ele jamais a forçaria ou a pressionaria. De fato, o simples ato dela enfim ter aceitado o convite de saírem juntos —  convite o qual havia surgido de maneira impensada da primeira vez e, então, havia se tornando uma brincadeira mais divertida a cada recusa — o surpreendeu, a exposição se tornando perfeita para um ambiente de flerte.

E, agora, ali estava ele, segurando-a pelos dedos finos e a guiando pelo apartamento iluminado apenas pela luz da lua que transpassava a janela de vidro que tomava toda uma parede, lançando ao ambiente uma luz azulada e silhuetas interessantes.

— Fique a vontade. — Nico sussurrou, beijando o ombro de Thalia e a deixando no meio do ambiente, sem se dar ao trabalho de acender as luzes.

Nico lhe ofereceu vinho tinto e uma conversa aos sussurros cheia de flertes, tentando clarear seus pensamentos ao dizer a si mesmo que ele deveria ir com calma, deveria saborear Thalia da mesma forma como estava fazendo com o vinho furtado de Percy.

O Di Angelo concentrava-se no gosto não familiar do vinho, para se esquecer do gosto da boca de Thalia; Concentrava-se na suavidade com que o líquido frio dançava por sua língua, para não pensar na suavidade da boca dela contra a sua; E também, tentava pensar em como o líquido rubro aquecia-lhe o corpo ao descer pela garganta, provocando arrepios, mas nem isso parecia suprir a sensação de seu sangue correr mais rápido a cada toque ou olhar de Thalia.

Ele não conseguia se lembrar da última vez que havia provado uma taça de vinho e nem a última vez que havia reagido daquela forma a alguém. Só sabia que iria aproveitar cada segundo disso, antes que a realidade o lembrasse porque deveria se abster de álcool e relações duradouras.

 

— Quero lhe mostrar algo. — A voz do Di Angelo era baixa ao lhe acariciar a face e Thalia sentiu um arrepio ao vê-lo se afastar.

Seus olhos azuis acompanharam cada passo de Nico, cada movimento ao parar em uma estrutura alta e fina e começar a mexer nela. Thalia não fazia ideia do que era aquilo, assim como não fazia ideia de onde estava. Era um apartamento, isso ela podia dizer, uma das coisas que havia lhe chamado a atenção era justamente uma cama baixa repleta de lençóis brancos. Mas, ao mesmo tempo, o lugar quase não tinha móveis, Thalia havia notado apenas um conjunto de sofás e puffs, formando um semicírculo de frente para uma parede, e o que parecia ser uma mini cozinha no fundo do aposento, de onde o Di Angelo havia tirado o vinho.

Em contrapartida, havia um número grande de cavaletes, alguns até cobertos por lençóis, mesinhas, caixas e quadros grandes espalhados pelo lugar, uma confusão de objetos que formava o que Thalia imaginava ser um ateliê. Talvez fosse a casa de um artista, mas Thalia achava difícil ver o Di Angelo morando em um lugar tão simples e despojado.

— Venha. — O comando do Di Angelo lhe quebrou a linha de raciocínio e Thalia hesitou, não gostando da ordem. — Por favor.

Ele completou em um tom doce e Thalia o seguiu, curiosa ao perceber que, da máquina que Nico mexia, uma luz pálida saia e se projetava na parede de frente aos puffs. Quando se aproximou, Thalia percebeu que, de fato, era um projetor de filme, o tipo que ela só havia visto na televisão, e o Di Angelo terminava de ajustá-lo.

— Por que não se senta? — O Di Angelo sugeriu em um tom baixo, guiando-a para o sofá quando as primeiras imagens em preto-e-branco começavam a ser projetadas na paredes.

Thalia aceitou a sugestão e a nova taça de vinho que lhe era oferecida, sentindo o corpo do Di Angelo colado ao seu ao dividirem o acento, o queixo repousando no ombro de Thalia com a boca tão próxima de seu pescoço, que era difícil se concentrar nas imagens projetadas.

— Isso é um filme? — Ela perguntou, tentando entender os planos daquele rapaz que sempre fugia do convencional.

— Um curta. — Ele sussurrou, enviando arrepios na garota. — Chama-se Dimensões do Diálogo, esse é o segundo de uma série de três¹. É um dos meus favoritos.

Thalia tentou prestar atenção nas imagens projetadas. De fato, parecia interessante ao apresentar a figura de duas pessoas feitas de argila, com uma mesa entre eles e mostrando-os da cintura para cima de perfil, mas era claro pelos traços e pela anatomia que se tratava de um homem e uma mulher delineados como se nus, claro. Havia também uma música suave ao fundo — pareciam violinos, mas o que Thalia entendia de música?! — enquanto a fotografia focava nos rosto de cada um, mostrando sorrisos e olhares entre os dois, um claro flerte.

Nico se moveu levemente, atraindo a atenção de Thalia enquanto levava a taça de vinho aos lábios, mas o olhar permanecia nela. A Grace se forçou a olhar novamente para o vídeo, focando nas mãos das personagens unidas, e logo sentia o toque de Nico sobre sua coxa, em uma carícia suave.

Os olhos azuis ainda estavam focados na imagem projetada quando as figuras de argila se beijaram, os lábios unidos e os rostos se aproximando mais até que se unissem em um amontoado de argila. As imagens seguintes mostravam que o casal não havia parado no beijo, as argilas se misturavam como se eles se unissem em um só, mostrando pequenos detalhes que indicavam o que faziam: a mão do homem sobre o seio da mulher, depois sobre os joelhos entreabertos, o movimento de se inclinar sobre o corpo dela e, depois, se juntavam em uma só confusão de argila que se remexia.

Eram imagens eróticas, Thalia pensou, mas ainda assim não revelavam quase nada, eram apenas imagens de toques simples de dois amantes, que atraiam a atenção de Thalia e lhe causavam um calor no ventre, que aumentava cada vez que Nico lhe acariciava as pernas.

E quando as argilas delinearam o rosto de uma mulher gemendo de prazer, Thalia decidiu que poderia muito bem terminar de ver aquele filme depois, havia uma forma mais interessante de terminar aquela noite.

Virando o rosto lentamente, Thalia encontrou o olhar de Nico em si, brilhando em desejo, os lábios entreabertos. Sorrindo maliciosa, ela aproximou sua boca da dele, apenas roçando os lábios, seus dedos tocando-o delicadamente no queixo perfeitamente barbeado, seus olhos focados na respiração dele que acelerava. E, então, ela o beijou, sua boca pressionando a de Nico com força, sua língua com pressa de provar o gosto dele, sua mão ansiosa para alcançar-lhe a nuca e puxá-lo para si.

Ela soltou um suspiro quando o Di Angelo retribui-lhe o beijo com igual intensidade, a boca doce respondendo às provocações sem medo, puxando-a pela cintura até que ela estivesse sobre o colo dele.

— Não deveríamos ir mais devagar? — O Di Angelo suspirou, afastando-se apenas para colocar as taças de vinho no chão. Seu olhar se voltou para Thalia, e ela apenas sorriu sarcasticamente, passando os braços em volta do pescoço de Nico.

— E eu lá sou mulher de ir devagar?! — Retrucou em nada mais que um sussurro e logo seus lábios se encontravam de novo, provocando-se.

Foda-se se tudo o que ele queria era levá-la para a cama e depois nunca mais olhar em sua cara, Thalia pensou. Foda-se se ele lhe achasse fácil depois, se ele a descartasse. Ela não se importava com aquilo ao sentir a forma como ele a beijava com certa suavidade, deitando-a sobre o sofá, seus atos muitos mais lentos e sutis do que os de Thalia, desacelerando-a.

— Quero que você tenha certeza disso. — Nico sussurrou, descendo beijos delicados por seu pescoço.

— Sem essas frases clichês. — Thalia reclamou, seus dedos nervosos ao desabotoar-lhe a camisa. — Eu sei me cuidar. Já teria ido embora se não quisesse isso e se sua preocupação é com o que pode acontecer depois, saiba que eu tomo pílula e nunca tive nenhuma DST. Não se preocupe.

Nico apenas soltou uma risada, deixando beijos ao redor do decote dela, sentindo-a estremecer.

— Não duvido que se cuide, querida. — Ele replicou, beijando-a entre os seios e acariciando-lhe as pernas nuas pelo vestido curto. — À sua maneira, claro. Mas eu nunca transo sem camisinha.

Ele subiu os beijos pelo pescoço de Thalia, alcançando-lhe a orelha e mordiscando-lhe o lóbulo.

— A sua sorte é que nunca saio de casa sem elas. — Ele sussurrou, com a voz rouca ao subir um pouco mais a mão, dessa vez tocando a pele quente sob o vestido justo. — E eu quero isso tanto quanto você.

E, dessa vez, ele a beijou na boca, com uma pressão maior, no entanto, sem deixar de lado a delicadeza com que sua língua se movia para provocá-la, ou a suavidade com que suas mãos a exploravam, com uma lentidão que a deixava cada segundo mais excitada.

Era o jeito dele, Thalia percebeu naquela noite. Nico di Angelo gostava de fazer as coisas à sua maneira, gostava de ter o total controle da profundidade e da velocidade dos toques, gostava de torturá-la.

Aquele sorriso sacana, aquela luxúria em seus olhos, aqueles beijos carregados de erotismo eram um jogo para ele, suas artimanhas para que ela pedisse que ele a despisse logo, que a beijasse logo, que a tocasse logo. Ele sempre acatava aos pedidos e era por isso que Thalia continuava a suplicar, ela nunca havia tido um amante que a provocava tanto assim, que a deixava tão envolvida e ansiosa.

O Di Angelo era o diabo, isso sim. E talvez fosse por isso que Thalia estivesse adorando se entregar, estivesse adorando provocá-lo também, tomando o controle de beijos e usando artimanhas que sabia que enfeitiçavam qualquer homem. Ela estava longe de ser inexperiente e não ia deixar Nico vencer daquela forma, provocava-o com seu corpo e palavras ao pé do ouvido, obrigando-se a ser tão lenta e sutil quanto ele, para embriagá-lo em seu próprio veneno.

E sabia que estava conseguindo quando ele gemeu o nome dela, puxando-a com urgência em direção a cama, atirando-os sobre os lençóis, o que restava de suas roupas se perdendo nas sombras do apartamento.

E mesmo na cama, eles não deixaram de se provocar. Thalia descobriu que Nico não se contentou em explorá-la com as mãos. Os lábios dele se revezavam em sussurrar-lhe em italiano e beijá-la, levando embora todo o controle que Thalia tinha do corpo, ela mal tendo consciência que gritava, retorcia-se e o arranhava, seu corpo estremecendo de desejo. Era a forma do Di Angelo se vingar e retribuir como Thalia o havia provocado, como o havia deixado a beira do êxtase.

Entretanto, ela estava longe de se arrepender de qualquer ato feito ou que ainda faria naquela noite. Quando enfim se uniram, Thalia teve certeza disso.

Em algum lugar da sua mente inebriada pelo corpo de Nico a levando aos extremos, ela compreendia a inspiração que o diretor do curta havia tido. Entre cada toque, cada beijo e cada movimento, Thalia sentia que se fundiam em um, compartilhando seus corpos e suas reações, suas respirações e arrepios, seus olhares envoltos em desejo e seus gritos e gemidos.

Thalia entendia porque alguns artistas como Saudek gostavam tanto de falar de sexo, porque o Di Angelo gostava tanto de provocá-la sobre isso, porque seu corpo se aquecia só com a ideia. Sexo era uma conexão incrível de corpos, uma intimidade primitiva e um prazer viciante se feito da maneira certa e com a pessoa certa.

E, quando Thalia atingiu ao clímax de seu prazer naquela noite, ela soube que transar com Nico di Angelo havia sido mais que certo.

 

Eles dizem ‘todos os bons garotos vão para o céu’

Mas os garotos maus trazem o céu até você

É automático

É apenas o que eles fazem

(JULIA MICHAELS, Heaven. Tradução via Vagalume).


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Notas finais do capítulo

¹Dimensões do Diálogo: Um curta-metragem dirigido por Jan Svankmajer em 1982. Para melhor compreensão da fanfiction, recomendo assistirem o segundo ato, disponível no Youtube em https://www.youtube.com/watch?v=X57zdKph9y4

Lembrando que a classificação da fanfiction é +16, então a descrição não revela mais do que as novelas de horário nobre. Espero que vocês tenham gostado e eu adoraria que vocês dissessem o que realmente acharam dessa cena, além da fanfiction, claro.
Até os comentários, beijos!