Final Sword escrita por Lobão Negro


Capítulo 7
O triste diário




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697255/chapter/7

Dylan suava frio. Os Elfos encaravam ele sem parar, com certa curiosidade, afinal, não era todo dia que um humano aparecia naquela floresta.

— Bem, não queremos ser seus amigos, de qualquer forma. Mas se puder salvar a gente, ótimo. - disse um dos Elfos

— Eu comi uma maçã, dada por uma bruxa, ainda na minha cidade, que fica próxima daqui. Eu estava prestes a morrer e agora estou vivo. - disse Dylan.

— Oh, tem certeza que está vivo? Não faço ideia do que possa ser, até porque uma Bruxa jamais estaria dentro de uma cidade do reino. Elas não passam pelas muralhas encantadas. - respondeu o Elfo.

— Eu me sinto diferente. Na verdade, não quero salvar ninguém, só entrei aqui para resgatar uma pequena garota. - disse Dylan.

— Bom, se capturaram qualquer pequena garota, com certeza ela deve estar no coração da Floresta, ou então morta.. hm... - respondeu um dos Elfos.

— Eu consegui matar um troll, ele parecia ser bastante forte. Como alguém consegue derrubar 50 daqueles? - levantou Dylan.

— Não se preocupe, você não estava acostumado a enfrentar Trolls. Não se compare com quem nasceu e foi criado aqui dentro dessa floresta. - disse o Elfo.

— De qualquer forma... tem um artefato que podemos te dar. Não queremos mais carregar ele, pode revelar nossa posição. E digamos que você é nossa melhor aposta para acabar com eles. - completou o Elfo.

— Um artefato? Vocês tem um? - perguntou Dylan, intrigado.

— Temos. Mas não queremos, é até inútil. É um anel, ele foi usado por Sans. O berserker de Luma que assassinou o nosso rei durante a guerra. - disse o Elfo, mostrando o anel.

— Como alguém de Luma conseguiria entrar no território do reino de Astogun e ainda assassinar o rei? - perguntou Dylan.

— É o que todos se perguntam. Mas estávamos em guerra, e sabe como é... o reino é um território gigante cercado por uma muralha igualmente absurda. Por isso não dominamos todo o território, por isso temos cidades dentro do reino, também cercadas por muralhas. E lugares como essa floresta, que pessoas da guarda real não entram há séculos, pois são mortas. Ele deve ter dado algum jeito. - disse o Elfo.

— E o que esse artefato faz? - perguntou Dylan.

— Ele faz você chorar sangue, conforme vai chegando perto de morrer. O sangue que escorre pela sua pele, te cura e aprimora sua resistência, força, velocidade e concentração mágica. É tudo que descobrimos. - explicou o Elfo, dando o anel para Dylan.

Dylan colocou o anel e saiu totalmente do estado sonolento que estava.

— Obrigado. Eu vou fazer o possível para salvar a garota. Quem sabe eu não salvo vocês também? Nosso inimigo é o mesmo, afinal. - disse Dylan.

— Fique longe de Elder. Ele tem um artefato também, e ninguém aqui faz ideia de qual seja. Mas ainda que não tivesse, ele é naturalmente muito forte. Não é um inimigo que você possa enfrentar. - disse o Elfo.

— Eu não quero saber quem ou quantos são. Pra mim só importa aonde estão. - disse Dylan mostrando a bússola e indo embora em direção ao caminho que ela apontava.

Ele foi embora sem olhar para trás. A floresta realmente tinha muitas árvores, e como estava de noite, o ar dela estava sombrio. As árvores eram um pouco prejudicadas. Não era difícil perceber que muitas batalhas ocorreram na floresta durante as eras. Dylan perguntava a si mesmo se a história era verdade ou mentira. De fato, ele não sentia a presença de Lobão quando o encontrou.

Sempre seguia a direção da bússola, e ela não dava trégua. Sempre apontava para o centro da Floresta. Dylan durante seu caminho sofreu várias pegadinhas de goblins, como quando encontrou uma mulher praticamente despida implorando por ajuda e de repente ela se transformou em um homem um tanto quanto peludo gritando coisas esquisitas. Ou quando fizeram Dylan quase morrer enfrentando dois Trolls para no fim descobrir que o baú que ele tinha percebido e começado a ir atrás, guardava apenas uma calcinha vermelha. Mas uma coisa Dylan pode perceber: todos os Goblins exaltavam os Trolls, como se fossem seus "mestres supremos". E quanto mais no centro da Floresta, menos Trolls e mais Goblins. E bem, mais calcinhas vermelhas e ilusões de homens peludos também. E a cada passo que dava, cada noite que virava, Dylan aprendia mais um pouco sobre como sobreviver e dormir lá. E sobre quais frutas dão dor de barriga.

Até que certa parte do caminho, Dylan ouviu uma voz de homem murmurando:

— Que tédio, que tédio... maldita floresta.

Mas Dylan olhava para toda sua volta e não via absolutamente nada, só sentia uma presença. A essa altura do jogo, o sol já nascia e sua luz entrava levemente entre as volumosas folhas que cobriam o céu da floresta.

— Quem está aí? Que droga é essa? Podem me dar pelo menos um dia de paz, criaturas dos infernos? - dizia Dylan aos ares.

— Você está okay da cabeça, meu jovem menininho? - uma voz extremamente perversa saía da frente de Dylan. E ele sentia um perfume bem agradável.

Aos poucos... algo simplesmente foi surgindo na frente de Dylan. Simplesmente se inserido na existência... um sorriso bem aberto de ponta à ponta, e com todos os dentes largos como os de um humano, mas com as pontas afiadas. Saía da invisibilidade uma imagem que Dylan jamais esqueceria. Aquele sorriso estava bem à frente dos olhos de Dylan, devido a diferença de altura. Era um homem com uma bela cicatriz no rosto, olhos amarelos, cabelos longos e pretos, uma roupa toda branca que brilhava como um anjo, e com um buquê de flores roxas apoiado na nuca, segurado pela mão da esquerda. A única coisa que havia na roupa eram várias cintas pretas. Em uma quantidade desnecessária, por sinal. A postura dele era de alguém que estava encarando Dylan. Com os dentes. No pescoço dele, havia um cordão com um dente podre. E na cabeça dele, havia um chapéu. Dylan não disse nada. O sujeito que apareceu à sua frente parecia estar pronto para luta.

— Você parece ser bem jovem. Faz muito tempo que eu não me divirto com alguém. Que tal a gente se divertir junto, garotinho? Não seja tímido... - disse o sujeito, colocando a mão na cintura de Dylan.

Dylan estava paralisado. Não sabia o que fazer, mas viu dois Trolls curvados atrás do homem que havia encontrado.

— Ficou sem palavras? Relaxe esse corpo... não vou te matar. Você já deve ter ouvido falar de mim, meu nome é Elder. Sou o segundo no comando desse nobre lugar. E sou muito generoso. Mas você agora, terá que se entregar à mim.  - disse Elder, colocando a outra mão também na cintura de Dylan.

— Vacilão. - finalmente respondeu Dylan, dando um soco na barriga de Elder.

Elder se distanciou de Dylan e pegou uma das flores do seu buquê, cheirando ela e aos poucos ficando invisível novamente.

— Eu poderia facilmente te matar agora, menininho travesso. Mas, vamos matar meu tédio, o que te traz aqui? - perguntou Elder.

— Uma garota que está nessa floresta, pra ser sincero. Só quero trazê-la de volta ao pai e ir embora.  - respondeu Dylan.

— Nós capturamos ela. Ela tem a rara habilidade detecção sensorial, e que me ajuda muito. Então vamos extrair isso dela, mas o ritual exige que o dono dê o sangue de bom grado, e ela está se recusando ter essa intenção no coração dela. Vamos matá-la, se não conseguirmos. - respondeu Elder.

— Eu possuo essa habilidade, também sinto a presença de todos residentes em Astogun. Se você me mostrar a garota e a libertar, eu lhe darei a minha de bom grado. Nunca foi decisiva mesmo. - respondeu Dylan, sem pensar duas vezes.

De repente, depois de um tempo silencioso, uma garota em lágrimas saiu de trás de umas das árvores, aparentemente com a mente afetada de tanto chorar. Ela andou lentamente em direção à Dylan aparentemente sendo guiada por algo invisível, que Dylan era capaz de sentir a presença. A garota se agarrou nas pernas dele. Elder novamente saiu do estado de invisibilidade, e pegou outra flor roxa do seu buquê.

— Essa flor, caso sinta o cheiro dela, tem a capacidade de matar qualquer um ser vivo. - disse Elder.

Ele pegou outra flor, e cheirou. Quando fez isso, várias ilusões de si próprio tomaram a parte toda da floresta que Dylan se encontrava. Todas disseram ao mesmo tempo:

— Agora, retire o seu próprio sangue e fique parado para eu possa extrair sua habilidade. Do contrário, vocês dois morrerão em pétalas. Mas se fizer isso, te deixarei ir embora com a garota.

— Mentiroso. - Dylan pegou a garota e saiu correndo. Notou que ela tinha uma faca guardada consigo, e pensou no quanto ela é inteligente por ter escondido aquilo.

Só que Dylan de repente levou uma pancada, que o fez tropeçar, e logo sentiu uma presença indo na direção da garota. Dylan rapidamente se jogou em cima dela para proteger ela de ser morta pelo sujeito invisível. A presença cada vez mais rápido se tornava ainda mais forte, até que um grande barulho de espada se colidindo foi ouvido. Quando Dylan ouviu, ele olhou para trás, e lá estava o homem que tinha derrotado ele com apenas um golpe, em pé na frente dele.

— Você é muito burro, mas é útil. Te devo uma, moleque. Graças à você, consegui descobrir aonde está esse covarde. - disse Lobão.

Dylan pegou a garota nos braços, e mostrou para Lobão.

— Eu tenho boas causas. Faz tempo que não me importo com algo, mas por algum motivo, quero trazer essa garota de volta ao pai.

Lobão desembainhou sua espada com toda sua velocidade e cortou a criança ao meio de baixo pra cima duma vez só. As duas partes se dividiram, uma em cada mão de Dylan.

— SEU DESGRAÇADO, O QUE VOCÊ FEZ, EU VOU TE MATAR. - gritou Dylan em choque, já pegando sua espada. Levou um chute na testa e caiu no chão, atordoado e banhado com o sangue da garota.

— Você não consegue enxergar... ? Eu fiquei por perto. Os elfos não te disseram nada sobre mais alguém ter entrado na Floresta recentemente. Não acha isso estranho? E eles ainda te disseram que são os mestres da informação, também sabem quem cruza a fronteira da Floresta. Como quer salvar uma garota que é de fora, sendo que você foi o único que entrou aqui recentemente? - disse Lobão.

— Os Goblins são uma raça que usa a ilusão para enganar as pessoas. O Elder tem um buquê de flores em que uma delas consegue deixar ele invisível. Mas esse não é o pior mal. Ele não luta sozinho, ele utiliza como dupla o rei dos Goblins que fica oculto e disfarçado em algum lugar do campo de batalha, para ocultar respiração, quaisquer barulhos e vibrações dele. Dessa forma, ele se torna totalmente indetectável. - completou.

— É por isso que ele precisava da sua habilidade. Se ele conseguisse o inverso dela, não precisaria mais de dupla alguma para se ocultar por completo. É por isso que assim que te viram passar, fizeram um plano pra garantir que você viesse na direção deles, pela bússola. Então mandei os Elfos te enganarem, e te entregarem esse artefato, que me revela sua localização. - disse Lobão.

— Como... como você sabia? E como você vai achar o rei dos Goblins? - perguntou Dylan.

— Quem avisou sobre a sua presença nos arredores, para um troll burro, fui eu. Manipulei ele pra acreditar que eu estava indo te pegar pra roubar sua habilidade, e ele correu para avisar aos Goblins para te atraírem primeiro. E sobre o Rei dos Goblins, olhe com atenção para o corpo que está dividido diante de você. Era óbvio que iriam usar a habilidade única de transformação física real dele, para te enganar e tornar o plano deles perfeito até nos detalhes. - respondeu Lobão.

Ele viu duas partes de um Goblin dividido em dois e estraçalhado, no lugar onde deveria estar a garotinha.

— Então tudo aquilo era mentira? Pensei que você era um ser endemonizado. - disse Dylan.

No momento que Dylan disse isso, viu as duas partes do corpo divididas no chão pelo corte da espada negra de Lobão, começarem a entrar numa chama vermelho escuro e serem puxadas para baixo, atravessando o solo, por várias mãos com unhas afiadas, que pareciam ser feitas apenas de sombras.

— Mentira? Nyeh heh heh. - riu o morto-vivo.

Então, a expressão de Lobão mudou, e ele começou a olhar atentamente para cima. Logo, fechou os olhos e disse, procurando a respiração de Elder:

— Não há mais quem esconda seus barulhos, medos, arrependimentos, pecados...

— Não há mais quem esconda o ser desprezível e covarde que você é...

— Era uma manhã como essa, Elder... quando minha filha deu o último suspiro...

— Quando você matou a mãe dela diante seus olhos...

— Quando você a fez arrancar do diário dela cada página que continha o meu nome...

— E quando ela escreveu mais uma vez meu nome com o sangue dela na ponta do dedo... escondida...

— E logo depois se revoltou, e te surpreendeu atacando de surpresa e fazendo esse rombo nesse seu rostinho que você tanto amava, mesmo custando a vida dela. Digno de uma garota que acreditava que um guerreiro de verdade nunca aceitava a derrota...

Lobão amassou o cabo de sua espada de tão forte que apertava, e seu sangue desceu pela pressão que a força fazia na palma da mão, ferindo ela.


— Então hoje... nessa mesma hora... nesse mesmo silêncio... nesse mesmo frio... não vai ser um diário que será rasgado, mas a sua miserável alma.

Elder com uma voz um pouco incerta, fez uma pergunta.

— Sabe que você vai pro inferno pelo resto da eternidade igual à mim por esse pecado, não é? Hehehehe. - disse Elder.

— Não me arrependo de nada. Vou te matar. - completou Elder.Um silêncio tomou conta do local.

A brisa fria bateu no peito dos dois.

Não havia mais oponentes além deles.

— E você ainda acha que eu aceitaria sair de lá e parar de te atormentar... - disse Lobão, com um sorriso sincero no rosto.

Nada mais para ser dito.

A hora havia chegado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Final Sword" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.