The Wicked escrita por Jules


Capítulo 2
Capítulo II




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A hora do almoço. Aquele momento em que os alunos novos quase choram largados no chão por não conhecer ninguém e muito provavelmente ficar excluídos durante o dia. O momento de tortura de qualquer pessoa que é novata em um colégio, está sem amigos e não consegue encontrar rostos conhecidos na multidão. Em outras palavras: eu. Eu havia conhecido algumas pessoas durante o dia nas aulas, mas não havia recebido convites para o almoço e ainda assim não conseguia vê-los em lugar algum. Eu estava com tanta forme que por um momento sequer liguei para o fato de que talvez eu tivesse que comer sozinha no meu primeiro dia de aula. Eu só tinha olhos para aquele muffin.

Peguei a bandeja azul na prateleira e entrei na fila conforme via pessoas conversando descontraídas, servindo seus almoços e dando risada. Eu queria dar uma bandejada na cara de todas as pessoas que riam para que elas fossem mais rápido e não ficassem entre mim e os últimos muffins de chocolate. Eu sentia como se pudesse matar por um daqueles bolinhos. Eu não me lembrava de um dia ter me sentido tão atraída por algo como estava por eles.

Ouvi algumas vozes altas atrás de mim e por reflexo me virei para olhar. Um grupo de meninas bonitas conversava e cada uma delas olhava em minha direção, dando risadinhas. Talvez fosse minha paranoia ou talvez elas só estivessem comentando sobre a aluna nova, mas me senti desconfortável. Tentei ignorar qualquer picuinha e voltei a me focar na fila quando senti uma mão tocar o meu ombro. Me virei mais uma vez, agora dando de cara com uma garota de cabelos loiros que antes estava no grupo das risonhas. Ela me abriu um sorriso tão simpático que cheguei a me assustar.

—Olá! Você é a menina nova de quem todos estão falando, não é mesmo?

Ela perguntou em tom animado, fazendo com que eu olhasse para os lados em confusão. Eu era?

—Eu acho que não. –Abri um sorriso de canto, dando de ombros. –Eu cheguei hoje, então duvido que estejam realmente...

—Não foi de você que o Johnny deu em cima mais cedo? –Ela perguntou novamente, fazendo com que eu franzisse a testa. Johnny? Seria ele o babaca da cantada ruim mais cedo? –Estão todos falando de como foi hilário o “chega pra lá” que você deu nele.

—Ah. –Assenti, abrindo um sorriso de canto divertido. –Nesse caso, sou eu mesma.

As meninas deram uma risada conjunta e então a morena e a ruiva que acompanhavam a loira se aproximaram, abrindo sorrisos divertidos. Todas elas eram extremamente bonitas e pelos olhos em nossa direção, pareciam importantes também. Primeiro que a garota de cabelos loiros parecia valer um milhão de dólares. Eu nunca havia visto tantas roupas chiques em uma pessoa só, não muito diferente das meninas que acompanhavam ela. Ainda assim ela parecia bem simpática, por mais que seus olhos azuis tivessem certo brilho de crueldade.

—Eu sou Georgia. –A menina se apresentou, apontando para as duas amigas atrás de si. –E essas são Lela e Hannah.

—Eu sou Cherry. –Me apresentei, abrindo um sorriso simpático. –É um prazer conhece-las.

Falei em tom educado, sentindo a felicidade me tomar quando percebi que era a próxima na fila. Apoiei a bandeja azul contra o ferro, me servindo de um delicioso hambúrguer e o último Muffin de chocolate. Comemorei mentalmente, vitoriosa por ter conseguido logo o último dos doces.

Peguei a bandeja em minhas mãos e então caminhei em direção ao salão lotado, procurando por algum lugar para me sentar. Nenhuma das mesas ali pareciam realmente convidativas e isso fez com que certo desespero me tomasse. Eu definitivamente não queria almoçar sozinha ou no banheiro. Olhei para meu hambúrguer entristecida por não poder devorá-lo naquele momento. Talvez eu devesse ter pensado em encontrar uma mesa antes.

—…Mas enfim, eu achei demais você ter dado um fora no Johnny. Te juro que fez a coisa certa.

A loira brotou ao meu lado, me pegando de surpresa. Abri um sorriso sem graça quando a morena – Lela – se aproximou também.

—Sim, ele é um completo babaca. –Revirou os olhos. –Geralmente as novatas caem na dele, e por você não ter caído, já faz de você uma menina legal.

—O suficiente para chamar a nossa atenção, pelo menos.

A ruiva – Hannah – comentou em seguida antes que eu pudesse sequer perceber que estava caminhando cercada por elas, agora parada de frente para uma mesa. Georgia acenou com a mão, olhando para as duas pessoas que ocupavam o lugar com uma cara de desgosto e, imediatamente as duas pessoas se levantaram, deixando o lugar livre. Georgia se sentou junto com suas amigas e quando eu não fiz o mesmo, os olhos das três caíram em mim. A loira ergueu uma sobrancelha.

—Vai ficar aí parada?

Abri um sorriso sem graça e me sentei, apoiando a bandeja sobre a mesa e olhando para o meu hambúrguer delicioso. Me senti um pouco mal por causa das pessoas expulsas, mas não consegui encontrá-las para pedir desculpas.

—Por que todas as calouras ficam com o Johnny? –Perguntei curiosa, dando a primeira mordida quase orgástica no meu almoço. –Quer dizer... Sério. Por que?

A pergunta não foi maldosa, foi sincera, mas fez as três meninas caírem na gargalhada. Johnny tinha covinhas, um corpo bonito, mas parecia ser um completo babaca, o que tirava completamente qualquer aparência física atraente que ele tinha. Eu nunca me interessei pelos homens padrões comuns que eram feitos de galãs nos filmes americanos. Eles eram sem graça e facilmente encontrados em qualquer lugar. Aparentemente só eu pensava assim naquele grupo.

—Porque ele é gostoso e sabe como convencer uma menina a fazer qualquer coisa.

Qualquer coisa.

Hannah ressaltou um pedaço da frase de Georgia, fazendo com que eu erguesse uma sobrancelha. Dei uma nova mordida no almoço, dando de ombros.

—É mesmo?

—Bem, sim. Mas ele é um completo otário. –Georgia completou, tentando soar indiferente conforme mexia em sua salada. –Ele geralmente arruma “tapa-buracos” para simplesmente transar com elas e contar para a escola toda que fez isso. Elas são totalmente usadas e ainda continuam atrás dele. –A loira contou, revirando os olhos. –Pobres iludidas, acham que com elas vai ser diferente.

—Só que nunca é diferente.

Hannah concordou. Tentei ao máximo não me sentir incomodada pelo fato da ruiva terminar todas as frases da amiga.

—Tapa-buracos?

Perguntei em fim, curiosa. Dessa vez foi Lela quem assentiu.

—É o nome que damos para todas as meninas que Johnny pega. Ele só faz isso para tentar esquecer a Geo, por isso as chamamos de tapa-buraco.

—Mas elas nunca tapam o buraco de fato porque não existe menina que substitua a Geo.

Hannah concordou, fazendo com que eu até mesmo parasse de comer o meu lanche. Olhei aquela cena, horrorizada com o tanto que aquele grupo de meninas era clichê. Eu me sentia dentro de um maldito filme de Grease.

—Nós namoramos por dois anos.

Georgia contou, fazendo com que eu arregalasse os olhos.

—Um desperdício de tempo.

Lela comentou indiferente, dando uma garfada na salada que ela também comia. Olhei para as comidas que as meninas haviam selecionado para seus almoços e então para o meu hambúrguer gorduroso. Quando o mordi novamente, senti um gosto ainda mais gostoso por imaginar que eu poderia estar comendo salada naquele momento.

—Mas então, Cherry. –Georgia sorriu, tirando minha atenção da comida. –De onde você é?

—Eu vim de Minnesota, de uma cidadezinha chamada Walker.

—Que demais! –Hannah exclamou, quase dando um pulo na cadeira. Soltei uma risadinha com a cena. –Como que era lá? Você andava a cavalo? Cuidava de pastos?

—Meu avô tinha uma fazenda. –Contei, tentando ignorar o comentário quase preconceituoso de Hannah. Não pude deixar de rir. –Mas meus pais sempre foram mais fãs de cidades grandes. Nós nos mudamos para Minnesota quando meu pai abriu uma agência bancária e agora nos mudamos para Los Angeles porque ele resolveu abrir uma filial aqui. Legal, né?

—Superlegal! –Georgia sorriu, olhando interessada para mim. –Mas e você, Cherry? É mais fã de cidades grandes ou interiores?

—Eu nunca morei em uma cidade grande antes, mas eu mal posso esperar para conhecer o lugar! –Exclamei animada, abrindo um sorriso largo. –Eu sempre sonhei em trabalhar aqui, então morar em Los Angeles desde já facilita a abertura de muitas portas para mim. Estou muito animada!

—Você já esteve em um shopping?! –Hannah exclamou, parecendo animada. –Meu Deus, temos que te levar em um shopping!

—Não seja idiota, Hannah, é óbvio que ela já foi ao shopping. –Georgia revirou os olhos, voltando a olhar para mim. –Com o que você quer trabalhar aqui?

Eu me sentia em uma entrevista de emprego naquele momento, mas não ligava. Estava gostando de poder conversar um pouco sobre meus interesses ao invés de Johnny.

—Eu quero ser cantora. –Contei animadamente, abrindo um sorriso largo. –Em Minnesota seria impossível fazer isso, mas aqui? Já estou criando todos os tipos de planos! Se Deus quiser, em breve já vou ser conhecida!

—Cala a boca! –Georgia exclamou, parecendo realmente animada. –Nós também cantamos! Quando eu era mais nova também tinha o sonho de ser a próxima Madonna, mas não sei. Acho que vou acabar tocando a empresa do meu pai quando me formar. Mas muito legal, Cher! Posso te chamar assim, né?

—Claro!

Sorri animada ao descobrir que as meninas também tinham interesse em música. Hannah e Lela me observavam tão animadas quanto Georgia naquele momento.

—Quer saber? Você devia total entrar para o grupo de torcida com a gente!

—Sim! –Hannah exclamou, batendo palmas. Dei risada com a cena. –As audiências encerraram há três semanas, mas podemos abrir uma nova para você, não é mesmo Geo?

—Mas é claro! –A loira sorriu, fazendo meu coração bater forte. –O que você acha? Assim poderia ter mais tempo com a gente.

—Seria ótimo! –Exclamei animada. Eu costumava ser líder de torcida no meu antigo colégio e seria realmente demais poder ser ali também. Cheguei até a me perguntar se as meninas competiam ou coisa do tipo. –Eu vou adorar! Só me falar a data!

—Anotado.

Georgia sorriu abertamente, finalmente pegando a primeira garfada da sua salada. Dei a última mordida em meu hambúrguer, focando agora no Muffin de chocolate que praticamente gritava o meu nome. Meu sorriso morreu quando percebi a expressão no rosto de Geo mudar de animada para assustada.

—Droga, ele está olhando pra cá.

—Ew.

As duas meninas falaram quase em uníssono, fazendo com que eu me virasse para trás e tentasse encontrar de quem elas falavam, mas não consegui.

—Quem?

—Tate Langdon. Anote o nome dessa aberração ao lado do de Johnny na lista “de quem ficar longe”.

Senti meu estômago embrulhar e por um momento a tristeza me tomou. Eu não era amiga de Tate para me importar tanto com ele, mas não gostei da reação das meninas ao tocar no nome dele. O que tinha de errado com Tate que as fazia ter tanto pavor assim? Olhei um tanto desconfortável para Georgia, sequer mordendo o meu bolinho.

—Ele é o meu parceiro de cidadania.

Contei, vendo a expressão no rosto da loira mudar de nojo para surpresa completa. Seus olhos azuis se arregalaram e então ela se aproximou de mim, levando a mão ao lado do seu rosto para que as outras pessoas não pudessem ler seus lábios conforme ela falava. Achei o movimento meio desnecessário, mas não falei nada.

—Eu tomaria cuidado, Cher. Fiquei sabendo que ele é maluco, faz terapia psiquiátrica e toma aqueles remédios de tarja preta para os loucos. Tate Langdon é a encarnação de problema, todo mundo sabe disso. Por isso ele está sempre isolado.

—Minha mãe vai na mesma aula de Pilates que a mãe dele. –Hannah comentou, também cobrindo os lábios com uma das mãos. –E ela disse que ela dorme simplesmente com todo mundo. E bebe. Muito. Ela é simplesmente a maior puta da cidade, sempre metida nos maiores vexames.

—E o Tate provavelmente já matou alguém. –Lela falou indiferente, chamando a atenção de todas nós. Ela deu de ombros, erguendo uma sobrancelha. –O que? Eu não duvido nada daquela aberração. Aposto que o passatempo dele é ficar no quarto, jogando facas nas fotos impressas das pessoas.

Eu queria mandar as meninas calarem as bocas, mas eu me contive. Não sei bem a razão, mas ouvir pessoas falando mal do menino que eu havia conhecido mais cedo, me fazia ferver de raiva. Meus olhos caíram na mesa atrás da nossa e finalmente encontrei Tate ali, focado em seu caderno como da primeira vez em que o vi. Senti meu estômago embrulhar e por um momento desejei que tudo o que eu havia ouvido naquela mesa não passassem de rumores.

Se Tate realmente ia ao psiquiatra e tomava remédios para ansiedade, depressão, ou seja lá o que fosse, eu era a pior pessoa que já pisou na Terra. Eu havia feito um discurso enorme sobre como ele era mal-agradecido, como tinha uma vida maravilhosa e jamais deveria reclamar. Que ele era feliz como eu, havia assumido que ele levava a mesma vida que eu quando eu havia ficado brava por ele ter dito que eu fazia exatamente isso mais cedo. E talvez eu fosse ignorante.

Os olhos de Tate se desgrudaram do caderno e então se encontraram aos meus, que o encarava de forma quase psicopata conforme ele desenhava distraidamente. E agora ele havia me notado, havia notado que eu estava observando ele. E ele não separou os olhares. Ele não ficou sem graça ou sequer ligou por eu estar encarando ele. Ele só encarou de volta. Os olhos escuros me observando como se pudessem enxergar além da minha pele, me expondo. E eu não conseguia desgrudar os olhos dos dele. Eram como malditos imãs.

—Mas sobre a ida ao shopping que Hannah falou, deveríamos total fazer isso. O que acha?

Só percebi que falavam comigo quando senti que todas as meninas da mesa me observavam, provavelmente estranhando meu silêncio. Desviei a atenção de Tate e então olhei para minhas novas amigas, forçando um sorriso largo. Eu já havia sido chamada para sair em meu primeiro dia de aula e aquilo era ótimo! Certo?

—Claro, seria ótimo!

Concordei em tom simpático, procurando os olhos negros que não estavam mais ali. Fitei meu muffin intacto na bandeja e respirei fundo, olhando para as gotas de chocolate que já foram mais atraentes. Eu sou uma idiota. E agora eu não estava mais com tanta fome assim.


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