Carmen chegou na escola com as meninas, conversando. Jaime puxa Marcelina para um canto. Paulo chama Alícia para conversar, e as outras meninas vão de encontro com os meninos restantes. Carmen acabara ficando sozinha. Decidiu beber um pouco de água. Até que vê Mário. Ela anda em direção a ele, mas ele já estava com outra. Marce. Parecia querer acalmá-la. Carmen sorriu. Ele conseguiu a atenção de Marcelina. Conseguiu tudo o que queria. Então ela pensou: Marce provavelmente estava brava com Jaime. Com algo que ele fez ou falou. Então decidiu procurá-lo. Até que o viu, sentado em um dos bancos da quadra. Ele parecia frustrado.
– Jaime? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, se aproximando dele.
– Não aconteceu nada. Sai daqui. - Ele respondeu.
– Não, eu não vou sair daqui. - Ela disse.
– Sai daqui, por favor.
– Não vou sair até você me contar o que tá acontecendo.
– Vou pedir uma última vez. Sai daqui, eu não quero conversar. - Ele pediu.
– Não.
– CARMEN, SAI DAQUI AGORA! - Ele disse, levantando o punho para a garota que estava sentada do seu lado.
– Você vai mesmo me bater? - Ela perguntou, já ficando meio nervosa.
– VOU, SE NÃO SAIR DAQUI! - Ele chegou mais perto dela.
– Jaime, eu só quero conversar! Eu sou sua amiga!
– Carmen, é sério. Você era minha amiga, não é mais. Por favor, SAI DAQUI!
– Não!
Ele se aproximou mais, e segurou o rosto dela com as duas mãos, e ela já estava assustada, com o que tava acontecendo. Estava fazendo aquilo por Marcelina, mas já pensava seriamente em sair dali.
– Você vai me bater agora? Covarde. - Ele a beijou, pegando a menina de surpresa. Ela se debatia, tentando ao máximo se soltar, e conseguiu.
– POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? - Gritou Carmen. - Jaime, eu não quero nada com você! Nem sei por que insisti nisso, sabia que não ia dar certo. - Ela se afastou dele e saiu de lá, deixando um Jaime mais frustrado ainda para trás. Ela foi direto ao banheiro e limpou a boca. Foi rapidamente ao pátio, e se sentou em um dos bancos de lá. Pegou seu celular e seu fone de ouvido, colocou uma música qualquer para tentar esquecer aquele beijo. Jaime fez de novo. Parecia que o destino dela era ser perseguida por Jaime. Desde o 3° ano. Desde aquela época, ela gostava dele. Mas quem ia querer ficar com uma nerdzinha sensível que ficava triste por tudo? Carmen sofreu muito quando criança, com a breve separação dos pais e com a situação financeira baixa. Teve que estudar muito para manter a bolsa de estudos na escola, o que a tornou a garota mais inteligente de sua turma. Com o tempo, tudo se ajeitou. Seu pai começou a ser promovido cada vez mais no emprego, quando conheceu um importante empresário americano que viu nele o sucesso. Ele treinou o pai dela por meses, e quando se deram conta, o pai de Carmen havia virado um homem muito importante. Ele começou a ganhar dinheiro do nada, e acabaram ficando ricos. A situação da família só melhorou. E de Carmen também. Ela não precisou manter a bolsa de estudos na escola, apesar de continuar sendo aplicada. E o tempo a fez muito bem, tanto psicológica quanto fisicamente. Ela estava mais bonita. Os detalhes de seu rosto foram ficando mais firmes. Os olhos, castanhos escuros, foram clareando ao longo do tempo. Seus cabelos, antes castanho-escuros, estavam totalmente negros. Ela ficou mais alta, também, e criou um corpo que a fazia parecer mais velha. Sua visão continuou a mesma, porém, ela trocou a armação dos óculos, estão pretos. Ela mudou seu estilo também. Substituiu a faixa de pano na cabeça, que usava como tiara, por toucas e bonés menos decorados. Ela tomou um estilo mais "tumblr", roupas que não chamam atenção, mas que também são bonitas. Ela não liga muito para maquiagens, prefere usar em festas, mesmo.
Suas atitudes e seus sentimentos também mudaram. Não é mais a sofrida garotinha que se magoava com tudo. Ela é mais fria, e a ironia é a sua melhor arma, além de ter aprendido a dar "patadas" nas pessoas, o que a ajudou muito ao longo dos anos.
Sentiu alguém tocar seu ombro, e a pessoa sentou-se ao seu lado. Ela fingiu não ouvir nada.
– Oi. - Não respondeu. - Carmen, oi. Ei. Ou, responde!
– O que você quer aqui? - Perguntou.
– Eu quero me desculpar, pelo o que eu fiz agora. Eu tô bolado pelo o que a Marcelina me disse, e tal... - Ele disse.
– Me explica isso direito. - Disse sem olhar para ele.
– Ela deve ter falado daquela merda que eu disse pra ela, e não poder ficar com outras garotas se assumisse com ela, e tudo... - Ele começou e ela assentiu. - Então, eu me senti culpado, e quando puxei ela para conversar, eu pedi desculpas. Realmente me senti mal. Mas... Ela não acreditou. Ela disse que eu tava mentindo, que era só um joguinho de charme pra reconquistá-la, e que tava afim de outro, que desistiu de mim. Isso me fez ficar com um misto de raiva e tristeza. E eu falei "Vai pro inferno então, vadia" e ela me deu um tapa. E tá doendo.
– Deixa eu ver. - Ela se ofereceu, olhando para o rosto já virado do garoto. Estava vermelho, com marcas de dedos, e ela realmente teve vontade de rir, imaginando a cena, mas se conteve. Então só disse para ele passar um pouco de água com sabão. Ela decidiu ir para a turma, para não se atrasar, mas Jaime a puxou pelo braço. Ele ficou agradecendo e pedindo para ela não falar nada.
– Nós precisamos ir para a sala, o sinal já bateu e a professora já deve ter chegado. - Quando Carmen olhou o relógio, e olhou a sua volta, viu que estavam uns 5 minutos atrasados, então eles correram o mais rápido que podiam para entrar na sala antes da professora. Mas não deu certo. E o pior: a diretora estava lá, inspecionando a turma.
– Palilo, Carrilho, estão atrasados. - Reclamou Olívia, quando se deu conta que Jaime estava com o rosto vermelho. - Tem alguma coisa que eu preciso saber?
– Não senhora. - Responderam os dois juntos. Ela desconfiou da resposta. - Jaime, sente-se. Carmen, venha até aqui. - Ela gelou. Se aproximou da Diretora, que disse:
– Vá para minha sala, agora, preciso falar com você. - A garota assentiu, com medo. Ela atravessou a turma, de cabeça baixa e corada, indo chateada até a Direção. Entrou na sala e sentou-se. Esperou dez, vinte, trinta minutos e nada da diretora. Já estava disposta as sair dali quando a porta se abriu. Ela havia chegado.
– Muito bem Carmen. Preciso falar urgentemente com você. - Disse a Diretora, sentando em sua cadeira.
– Como acabamos, obviamente, de voltar as aulas, eu estava pensando em fazer... Um baile, entende, de boas vindas, para os alunos novatos ou mesmo para os antigos, um dia para cada turma. - "Ufa, então era só isso!", pensou. - E, como eu sei que você é a aluna mais aplicada de sua turma, eu pensei em lhe colocar como coordenadora principal do baile do 3° ano médio. O que você acha? Vai poder coordenar?
– Claro, diretora! - Disse Carmen. - Para quando?
– Não se preocupe, eu tenho aqui a data e tudo certinho, você tem que decidir apenas qual vai ser o tema da festa. - Respondeu a diretora, entregando os papéis para ela. Carmen olhou alguns dados que haviam lá.
– Obrigada Diretora! Bom, posso me retirar?
– Claro, claro. Ah, vocês estão com dois horários vagos, a professora Helena não pôde vir hoje, aproveite e fale com eles sobre a festa.
Carmen saiu da sala, aliviada. Foi em direção à turma, que fazia suas bagunças de sempre. Quando entrou na sala, MaJo, Mário, Marcelina e Alícia caíram em cima dela, queriam saber tudo. Ela só disse que falaria tudo.
– Gente! - Chamou Carmen, na frente da turma, e todos se calaram e viraram para ela.
– A diretora Olívia teve a ideia de termos um baile de Boas Vindas aqui na escola, daqui a alguns dias. - Ela começou. - Eu queria saber qual tema a gente poderia usar para a festa. Todos começaram a sugerir temas aleatórios, mas a turma concordou em um tema mais atual.
– Bom, só vamos poder entrar em casais, ou seja, quem não tiver um parceiro ou parceira, não entra. E o baile vai ser por turmas. - Ela explicou o conceito de tudo. Como seria, em que cada um poderia ajudar, e tudo o mais. - Em relação à música, terá uma parte do baile que tocará por cerca de 30 minutos, apenas músicas lentas. Só avisando.