Janeiro de 1921

Esme teve que ser levada ao hospital após ter sofrido uma queda da escada. Charles a empurrou e a fez perder o equilíbrio e ela acabou caindo e rolando escada abaixo.

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O doutor vem dizer a ela o diagnóstico:

— Felizmente você não quebrou nada, nem perdeu seu filho quando caiu da escada.

— Você está dizendo que eu estou grávida doutor?

— Ah! – ele vira para olhar para ela, pois estava no quadro de luz analisando os raios-x da perna dela. O doutor percebeu que ela havia quebrado a perna há alguns anos e a cicatriz é pequena provando que o médico que cuidou dela [Carlisle] fez um bom trabalho. – A senhora não sabia?

— Não. Não fazia ideia - ela coloca as mãos sobre o baixo-ventre.

— Então foi mesmo muita sorte o bebê ter sobrevivido.

Esme afaga sua barriga onde seu filho está se formando. Algo lhe diz que desta vez será um menino. Mas ela não pode deixar Charles saber. Ele não permitiria que ela tivesse uma gravidez tranquila. Ele quase matou Angeline e agora quase matou seu filho. Ele não pode saber. Ele não merece ser pai. Ele não pode saber desse bebê. Ela se decidiu e vai fugir para Milwaukee para a casa de seus primos.

— Felicidade para você e seu marido - deseja cordialmente o doutor sorrindo.

— Obrigada – Esme diz se levantando da maca em que estava, ela caminha normalmente até a porta do consultório.

‘Ainda bem que Charles não gosta de hospitais’ ela pensa. Depois que sai do hospital caminha na direção oposta de sua casa e vai até a estação ferroviária.

Procura algum dinheiro em sua bolsa e por sorte encontra. Compra a passagem e pega um trem em direção a casa de seus primos.

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Durante a viagem Esme pensou muito em sua filha, e sabe que ela estará segura na casa da sua mãe. Só lamenta não poder mais amamentá-la no peito, mas Angeline vai ficar bem sob os cuidados da avó. Tomará leite na mamadeira se necessário, já foi amamentada no peito por um ano e meio quase. Está ótimo. Não é excelente, os dois anos como Esme queria, pois a mãe fez assim com ela, mas já está bom.

Charles nunca quis saber como a filha estava. Sempre que Esme ia até a casa da mãe ele não perguntava nada sobre a menina. Ele até esqueceu que tem uma filha. Ou ele esqueceu deliberadamente, pois nunca quis uma menina.

Agora eles vão ter outro filho, mas Esme teme que seja novamente uma menina e foge. Mais calma ela pode ouvir sua intuição lhe dizendo que será um menino dessa vez. Ela sabe que a maneira como descobriu estar grávida novamente não foi como da primeira vez.

O trem chega em Milwaukee. A redução da velocidade do veículo tira Esme de seus pensamentos e a traz de volta a realidade: ela está sozinha. Ela sabe que foi uma atitude imprescindível, mas não sabe o que fazer a partir de agora.

De repente ela se lembra que não está mais sozinha, acaricia  seu abdome que logo começará a inflar. A nova vida que traz no útero lhe dá forças para enfrentar qualquer coisa que seja preciso. Por ele, por esse bebê, a criatura frágil e indefesa será a razão da sua existência a partir de hoje.

Desde o momento em que ouviu o médico ela vive por ele. Seu filho que vai criar com todo amor e carinho. Com todo desvelo e prestimosidade como queria ter podido criar também a filha mais velha. Porém sabe que a mãe fez um excelente trabalho, afinal, ela mesma é prova dos dotes educacionais da boa senhora..

"Eu não vou deixar que ninguém o machuque meu filho, vou sempre cuidar de você e fazer de tudo para te proteger. Você é meu pequeno tesouro."

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Enquanto isso corria na justiça o processo contra Charles. Esme é claro não denunciou o marido, mas Earnest e Ângelo o fizeram. a justiça é lenta, tarda, mas não falha.

Ele recebe a intimação para comparecer até o forum da comarca:

— Que coisa é essa droga?

Lê o papel descrevendo o motivo da audiência. Charles já havia se esquecido que quase cometeu um duplo assassinato há pouco menos de dois anos.

— Argh! Isso não vai ficar assim - entra em casa pois começava a chover.

— Onde está Esme? - ele não está preocupado com a esposa, mas sim quer satisfazer-se para aliviar o estresse gerado pela correspondência. - Tudo culpa daquela imbecil.

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