Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 3
Mano à mano.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696885/chapter/3

— Não ache que eu estou feliz de estar aqui – Daryl disse ao chegar no portão principal da prisão, onde eu estava.

— Temos que fazer isso por Rick, Dixon – respondi sem emoção.

Ele nada disse, fez sinal pra Carl abrir os portões e atravessamos o portal da prisão. Estar lá fora, de novo, era bem estranho. Era como se eu fosse ficar segura para sempre dentro da prisão e o lado de fora ficasse cada vez mais horroroso. Talvez ficasse mesmo.

Daryl andava à minha frente com sua besta em riste. Minha faca estava em minhas mãos. Daryl carregava uma arma com silenciador em sua cintura. Os passos de Dixon eram largos  e eu fazia esforço para acompanhá-lo. Enfim chegamos em uma clareira, obtivemos apenas um total de dois errantes durante todo o caminho. Obviamente Daryl cuidou da situação tão rapidamente que eu mal notei a presença dos zumbis.

— Bom, não acho que devamos começar de cara a usar a arma – ele declarou

— Mas a gente não ta aqui pra isso?

— Hoje cedo você me disse que fez aulas de defesa pessoal...

— Não me diga que você quer meter porrada em mim e espera que eu vá me defender metendo porrada em você também? – arregalei os olhos, indignada. Que tipo de treinamento era esse? O lance das armas de fogo era, justamente, a possibilidade de distância.

— Nunca se deve descartar um combate mano à mano. Você pode encontrar situações piores que zumbis pelo seu caminho, como por exemplo, gente viva – ele disse de forma sombria, recostando-se em uma árvore, cruzando os braços.

— Você pode ter razão – eu disse indiferente. Mas ele tinha total razão. Minhas aulas foram mínimas. Eu só queria impressioná-lo quando contei sobre elas.

— Vai. Mostre o que você sabe.

— Vem pra cima de mim – eu me arrependi de ter dito isso no mesmo momento que as palavras saíram de minha boca.

Daryl veio com tudo pra cima de mim. Com seu ombro, empurrou meu tórax fazendo com que eu caísse estatelada no chão. Pelo baque fiquei sem ar, assim, nenhum som saia da minha boca. Acho que, por isso, ele achou que estava tudo bem e subiu em cima de mim. Colocou seu braço direito na horizontal sobre meu pescoço e fez apenas força o suficiente para deixar minha cabeça imóvel.

— Você se arrependeu de não ter atirado uma flecha em mim e agora vai me matar sufocada ou à chutes? – eu tentei dizer o mais claro possível. Era difícil devido a falta de ar que ainda se instalava em mim.

Ele tirou o braço de minha garganta, mas continuou montado em cima de mim. Pela primeira vez nossos corpos se tocavam e ele parecia ter todos os seus músculos tonificados.

Daryl aproximou seu rosto do meu, nosso narizes quase se tocando.

— Eu sabia que você não sabia se defender porra nenhuma – ele sussurrou olhando dentro dos meus olhos.

Fitei seus olhos miúdos de modo intenso, fiz que abriria a boca para falar algo e num descuido dele consegui forças pra tirá-lo de cima de mim e rolar na grama com ele. Assim, eu ficava em cima dele agora. Fiz o que ele fez comigo, colocando meu braço em sua garganta, chegando bem perto de sua boca.

— Talvez eu só precise de um descuido pra conseguir fazer esse tipo de coisa – sorri de canto.

Ele deu uma risada irônica abafada e balançou a cabeça. Não era pra ser engraçado, e sim, sexy. Droga.

Tirei meu braço de sua garganta e deixei meu corpo ereto, mas ainda montada nele. Ele não tirava os olhos de mim. Eu olhei ao redor. Talvez sendo cautelosa por conta dos errantes, talvez pra evitar aquele olhar pontiagudo de Dixon.

— Se for me ignorar sai de cima de mim, garota – Daryl disse calmamente enquanto colocava suas mãos em minha cintura e me apertou.

Não consegui evitar e soltei um suspiro quando senti o toque. Ele sorriu, eu reparei. Há quanto tempo alguém não me tocava? A noção de tempo num apocalipse é um tanto quanto caótica. Respirei fundo e saí de cima de Dixon. Se eu ficasse ali por mais um minuto as coisas poderiam desandar.

— Não se irrite só porque levou um golpe de uma menina, Dixon. Você continua sendo bem machão, mesmo assim, ta bom? Confie em mim – eu disse dando risada enquanto me levantava.

Ele se levantou também e não pude deixar de notar suas calças. Algo estranho parecia estar acontecendo ali. Minhas suspeitas se confirmavam. Ri por dentro.

Dixon parecia desconfortável e, me ignorando, começou a andar pra fora da clareira, adentrando a floresta densa. Eu corri para alcançar seus passos. Acho que a brincadeira tinha acabado e as aulas realmente começariam.

(...)

No fim do dia a aula já tinha acabado e havíamos retornado pra prisão. Daryl não falou comigo nada além do necessário após o episódio da clareira. Minhas costas ainda doíam pela queda que Dixon causou e meu ombro parecia pesado pelo recuo da arma ao dar os disparos.

O sol já ia se pondo, todos se encontraram no refeitório aguardando o jantar. Pelo que ouvi de Rick, algumas pessoas foram explorar os arredores a fim de procurar suprimentos e, com sorte, munição. Ele dizia, também, que pelo horário, provavelmente eles deixariam para voltar ao amanhecer e o jantar já seria servido.

Fiquei preocupada. Sei que todos ali dentro estão há muito tempo sobrevivendo juntos e que todos estariam bem ao voltar, mas a noite era sempre assustadora pra mim.

Eu dava a primeira colherada no atum enlatado, dividindo a latinha com Carl, quando ouvi uma buzina. Rick, Carl e Dixon saíram correndo – armas em riste – para o portão. Eles haviam voltado! Tudo que eu podia observar era o olhar aliviado de todos que ali estavam. Eles realmente eram uma família.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Velho-novo Mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.