Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 4
Whisky in the jar.




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“Being drunk and weary. I went to Molly's chamber. Taking Molly with me but I never knew the danger" (Estando bêbado e cansado. Fui pro quarto da Molly. Levando Molly comigo mas não tinha ideia do perigo) 

Michonne, que havia saído pra busca, adentrou o refeitório com, não uma e sim duas garrafas de whisky em suas mãos. Tyresse começou a bater palmas e logo todos estavam dando risada, animados por verem álcool depois de muito tempo – inclusive eu.

Todos foram se aglomerando junto aos que acabaram de chegar e, principalmente, ao redor da mesa em que havia o whisky.

— Tivemos sorte, amigos! – Michonne pousava as garrafas na mesa e observando os enlatados abertos – Indico que comam primeiro antes de beber isso. Não queremos dar trabalho pro Hershel.

— Tem razão, Michonne – Hershel disse com seu sorriso típico e simpático – mas fiquem tranqüilos que estarei disponível pra quem precisar de algum tipo de ajuda.

Fui quase engolida pela aglomeração, mas decidi sair dali. Fui em direção à minha cela. Eu, do nada, simplesmente não me sentia bem estando ali. Me sentia uma intrusa. Rick foi até mim e questionou minha saída. O agradeci muito mas disse que estava cansada devido à aula de tiro.

— Se precisar de ajuda com Judith, pode deixá-la em minha cela – eu disse à Rick.

— Ela ficará bem com Hershel. Descanse.

Ele pareceu notar que eu não estava disposta e assentiu, deixando-me ir. Sentei em minha cama, deixando a porta da cela aberta. Fechei os olhos e tudo que eu via era a alegria e a união daquelas pessoas e desejei, desesperadamente, poder tê-los conhecido mais cedo ou até antes do apocalipse. Seriam pessoas que eu conviveria de forma plena, bem diferente das pessoas me rodearam por toda a minha vida e as que estavam comigo até algumas semanas atrás. Eu tinha me acostumado a ficar sozinha e a gostar disso. Queria me fazer útil aqui dentro para eles, mas tinha certeza de que se eu não fizesse nenhuma amizade forte – como eles tem uns com os outros – eu ficaria bem. Confesso que todo aquele clima me atingiu em cheio e me senti deslocada. Quem sabe um dia eu pudesse ser, realmente, parte do grupo. Eu só estava começando minha vida dentro da prisão.

O sono chegou em algum momento que não percebi. Não sonhei com nada. Mas foi um sono pesado. No final das contas eu realmente estava cansada. É como se eu não tivesse mentido pro Rick, no final das contas.

Eu estava deitada de frente para parede, de costas para a porta. Senti um movimento em meu colchão e quando me virei, Dixon estava sentado aos meus pés. A porta da cela estava fechada e o projeto-de-cortina fazia seu trabalho (não que ele fosse necessário, pois a noite já chegara há tempos).

— Porque veio cedo pra sua toca? – ele perguntou com a voz mole e trôpega.

Notei que ele segurava meia garrafa de whisky em sua mão. Sua barba estava por fazer, o que lhe acentuava a aparência de bêbado. A prisão estava silenciosa e ele falou bem baixinho. Pude, porém, sentir o cheiro do álcool no ar.

— Estava cansada só – eu disse, sentando-me um tanto quanto longe dele. Não queria que ele pensasse que eu me interessava por ele. Ele era um grosso e perigoso. Mas lindo.

— Sei. Toma. – Daryl sentou-se mais próximo a mim e ofereceu-me a garrafa.

— Eu não comi direito, acho que não é uma boa idéia.

— Qualquer coisa o Hershel ta aí e te salva, garota – ele deu um belo gole da bebida e colocou a garrafa em meu colo. Enquanto soltava a garrafa, sua mão tocou rapidamente em minha coxa nua. Senti uma enorme vergonha, uma vontade de me cobrir.

— Aproveite, pois não é sempre que temos isso e não somos do tipo que raciona água batizada. Apenas água que o beija-flor bebe que é racionada – ele riu vitorioso, notando meu mal jeito.

Dixon deitou-se em minha cama. Espreguiçou-se. Apesar de evidentemente bêbado, ele também parecia muito cansado. Eu continuava imóvel, nossos corpos se tocando em alguns pontos.

— Dia cheio pra todo mundo hoje, né? – eu disse, enquanto pensava se deveria beber ou não. A vontade estava me matando, porém a consciência...

— Você quer ser útil à prisão, quer me dar porrada mas falha, de certa forma, quer aprender a usar armas de fogo etc, mas não dá nem um gole na bebida que um veterano trás pra você. Fraca, sem consideração e sem talento você é, Ellie.

— Quer dizer que você guardou esse resto especialmente para mim? – eu disse dando risada.

Coloquei-me de pé, mãos na cintura. Dei um grande gole na bebida e fitei-o. Eu não pude evitar a careta que fiz pois o whisky era forte demais, e ele não pode evitar a risada. Wow, Daryl riu! Bacana. Dixon sentou-se e recostou-se na cabeceira da cama. Ajeitou-se mais contra a parede, deixando um espaço na cama para que eu me sentasse ao seu lado. Deu dois tapinhas na cama, me chamando. E ele me olhou de um jeito que dava a impressão de que ele poderia me comer viva.

— Guardei pra mim, mas fiquei com pena de você. Quem sabe bebendo coisa de macho você não fique mais esperta e seja mais útil pra prisão – ele disse, pegando a garrafa de minha mão.

— Eu quero ser útil, Daryl. Mas não preciso da suas ajudas em migalhas – eu comentei, desanimada. Como o álcool fazia efeito tão rápido?!

— Relaxa, Ellie – ele disse com a língua embolada, com a guarda baixa. Jamais imaginei vê-lo assim.

— Você tem noção de que você ta bêbado e ta na minha cela e que tudo o que você fizer e disser poderá ser usado contra você para fins de zoeira futura? – eu ri

— Estudante de direito antes do mundo vir abaixo?

— Tipo isso – eu realmente não queria ficar lembrando-me do passado. Ele não ia voltar de nenhuma forma.

Peguei a garrafa da mão de Dixon. Bebi vários goles seguidos, apenas ouvi um “calma aí” dele, mas eu realmente não queria parar. Quase finalizei a garrafa.

— Obrigada, Daryl.

— Sou um gentlemen.

— Quando quer, é – eu disse e ele fez careta.

Ficamos em silêncio o que pareceu uma eternidade. Parecia que Daryl havia acabado com a garrafa. Ele a colocou no meu colo e deitou-se de novo.

Assentei a garrafa no chão, ao lado da cama e deitei também. Ok, eu estava deitada na mesma cama que um cara depois de sei lá quanto tempo. Ele era uma tentação. O álcool já surtia seu efeito, e ele estava visivelmente grogue. Preferiria que ele saísse dali, mas resolvi puxar assunto. Se ele dormisse ali eu jamais conseguiria acorda-lo ou tira-lo dali a força. Dixon era um armário em comparação à mim.

— Você não gostou muito quando Rick fez as 3 perguntas à mim.

— Não tava nos meus planos levar de volta pra prisão uma pessoa. Apenas suprimentos – ele respondeu naturalmente. Achei um pouco cruel, mas, ele tinha razão.

— Nunca se sabe o que se pode encontrar por ai nos dias de hoje, Sr. Dixon – disse sorrindo, mas logo fiquei séria - Vou fazer valer a pena, ok?

— Espero – ele respondeu sonolento.

Fitei-o, esperando que ele dissesse que é brincadeira e que ele sabe que eu posso ser uma pessoa bacana. Porém, tudo que vi foi um Dixon em sono profundo – com direito à boca aberta e tudo.

Eu simplesmente não estava acreditando que ele tava dormindo em minha cama. Eu ia dormir aonde? Ele devia estar bebendo há muito tempo pra ter apagado assim...bem quando estava comigo. Sortuda.

É claro que eu não poderia deitar em cima dele. Eu teria que me encaixar no espaço que ele deixara, quando o sono chegasse. O problema era que, eu estava ficando bêbada e o sono demoraria muito pra chegar. Eu precisava acordá-lo.


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