Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 2
It Gets Worse




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A prisão parecia ser melhor do que qualquer coisa que eu já vira desde o inicio do fim dos tempos. O “belo” muito desejado antes da merda atingir o ventilador não era mais algo importante. Segurança era e era segurança que eu senti ao ver aqueles muros e cercas. Tinham até uma horta!

Minha decisão em aceitar ir com eles foi relativamente fácil. Eu estava há muito tempo sozinha. Pelo menos era como eu me sentia. Acho que há um mês eu me perdera de meu grupo...as pessoas que comigo estavam foram morrendo pelo caminho. Parece que sempre ter praticado corrida enquanto o mundo era mundo, foi bem útil pra mim.

O comentário negativo do homem dos olhos miúdos quanto eles “não poderem” me agregar me deixou em dúvida, confesso. Não gosto de ser peso pra ninguém. Rick parecia ser o chefe e se ele achava que eu poderia estar com eles, eu faria isso valer a pena. Minha intenção era ser realmente útil à eles. Eles eram tudo o que eu tinha agora.

Rick me levou pra conhecer tudo o que pôde, mas disse que eu poderia explorar o resto do complexo sozinha. Ele precisava checar Judith, sua filha. Um bebê, pelo que ele me disse. Eu nem consigo imaginar um bebê vivendo no meio disso tudo. É como se fosse uma benção no meio do caos.

Eu me sentia realmente bem. Eu estava realmente muito grata ao Rick e eu precisava dizer o mais rápido possível, assim que ele tivesse tempo. Sentia que gostaria de compartilhar com ele muitas coisas.

Pelo fim do dia, já tinha conhecido as várias pessoas que por ali viviam, e tive bate papos rápidos com Maggie, Beth e Tyresse.

Maggie explicou que naquele dia eram ela, seu marido Glenn e Carol que estavam na casa, também.

— Maggie, aquele homem que me encontrou... quem é?

— Ah, o Daryl Dixon.

— Não o vejo andando muito por aqui.

— Ele gosta de ficar na toca dele.

— Ele parece não ter ficado muito feliz com minha chegada. Pelo caminho até a prisão ele ficou andando sozinho na frente de todos, sempre com sua arma apontada. Ele parece não ser do tipo que baixa a guarda... – eu disse hesitante.

— Parece que temos uma vidente por aqui – Maggie respondeu sorrindo.

Eu apenas sorri de volta. Essa conversa ficou em minha mente, a noite toda. Eu realmente tinha lido o cara. Mais um carrancudo pra minha vida. Ainda bem que a prisão é grande e nossos encontros seriam esporádicos. Fiquei pensando, também, se não deveria agradecê-lo por não atirar suas flechas em mim. Mas acho que ele atiraria se o Rick não estivesse por perto, caso isso significasse menos um “peso” pra comunidade da prisão.

Eu estava muito ansiosa pelo simples fato de estar ali. Por saber que eu não seria acordada no meio da noite com barulhos de zumbis tentando entrar na casa ou simplesmente trombando uns contra os outros (era até engraçado quando isso acontecia). Assim, não conseguia mais ficar na cama juntamente com meu turbilhão de pensamentos. Minha cela – ao lado do quarto de Beth, irmã de Maggie – já ia ficando clara. O breu da noite parecia estar indo embora, devagar.

Levantei-me e fui pra parte externa da prisão. Sentei recostada a uma parede e conseguia observar o céu multicolor. Parecia um dia normal, do mundo normal. Mas não era.

Por um momento fechei os olhos e coloquei a cabeça entre minhas pernas, abraçando-as. Um vento frio invadia meu ser e eu desejei mais do que nunca uma caneca de chocolate quente. Acho que eu nunca mais vou sentir nem o cheiro de um.

Absorta em meus pensamentos, quase morri de susto quando ouço meu nome. Uma voz relativamente rouca e sem emoção alguma me chamava.

— Ei – eu respondi, levantando a cabeça, olhando pra Daryl que estava em pé ao meu lado – eu quase me mijei de susto dessa vez, cara. Você tem que parar com essas entradas triunfais.

Daryl esboçou um mínimo sorriso e sentou-se ao meu lado.

— Qual é a sua Ellie?

— Oi? Porque a agressividade na pergunta?

— Não estou sendo agressivo.

— Agora não, mas quando perguntou foi.

— Não fui.

— Foi.

— Você curte agressividade, Ellie?

— Eu curto na hora do rala e rola, sabe. Mas esses são dias longínquos – eu disse rindo mas quando vi que ele não achou a mínima graça, parei imediatamente. Que cara difícil! – Qual é o problema, Daryl?

— Sabe meu nome já, então...

— Eu perguntei pra Maggie... fiquei me perguntando se não deveria te agradecer por, sabe, não ter metido uma flecha na minha cara.

— Deveria

— Você é tão fofo. Trata todos os novatos bem assim?

— Não... só as garotas que dizem estar sozinha e sobrevivendo mesmo assim. Estranho.

— Só porque sou uma garota eu tenho menos chances de sobrevivência sozinha?

— Se ainda tivéssemos aquela galera que pesquisa e coleta dados, eles diriam que a resposta é sim. Mas como não temos, contente-se com minha palavra.

— Eu fiz umas aulas de defesa pessoal antes do mundo virar... Isso. Mas, o que te interessa? Eu não sou uma ameaça pra você, nem nada do tipo. Não se preocupe comigo... Além do mais, pretendo ser útil pra vocês aqui dentro. Eu não sou um peso, Daryl.

— Eu nunca disse que você era um.

— Mas agiu e está agindo como se achasse exatamente isso - eu respondi começando a me irritar e ele olhava pro horizonte, pleno.

— Porque esta acordada tão cedo?

— Sabe como é... Lugar novo, pensamentos a mil – bufei - Eu não tenho ninguém, sabe? E vocês parecem ser maravilhosos uns com os outros. Caralho, a Maggie tem até um marido! E vocês tem um bebê por aqui também... É tudo muito louco. O tempo que fiquei sozinha me deixou elétrica o tempo todo. Não saber o dia de amanhã continua assustador do mesmo jeito que era no inicio de tudo.

— A situação não fica melhor, mesmo. Mas sempre dá pra piorar - Daryl disse firmemente, levantando-se e despedindo-se com um leve toque em minha cabeça.

— Entradas e saídas triunfais. Eu sou oficialmente sua fã – eu disse e ele apenas me olhou de soslaio. Jurei ter visto um sorriso ali.

Ele agia de forma rasa mas parecia ser completamente denso e profundo, como ninguém mais ali dentro era. Eu precisava saber mais dele. No fim das contas, meu desejo de não vê-lo sempre pela prisão estava se transformando em desejo de vê-lo. Sempre.

Assim como prometi a mim mesma, assim que encontrei Rick "a toa" (ele nunca estava a toa, na verdade) decidi ir agradecê-lo por ter me acolhido. Ele foi muito atencioso e, claro, declamou as regras do local.

Logo ele me apresentou Judith quando Carl chegou carregando-a. Eu e Judith nos apaixonamos a primeira vista e eu sabia que precisávamos sobreviver ali dentro, sobretudo, por ela e Carl. A juventude crescendo naquele mundo era triste mas, ao mesmo tempo, adaptar-se-iam melhor com certeza.

— Ellie, você disse que tem experiência com facas. E armas de fogo? - ele me questionou.

Fiquei com medo de dizer que não tinha ideia de como usar armas. Inclusive nunca tinha tido a sorte de achar alguma durante minha peregrinação pelo mundo zumbi. Apesar do medo eu não tinha escolha e não era justo com Rick mentir. O manejo de armas era algo essencial para a manutenção da prisão.

— Não tenho experiência com armas... Nem qualquer outro tipo de armamento que não facas. Tenho um reflexo rápido por conta disso, pelo menos.

— Bom Ellie, seria muito bom se você aprendesse como funciona uma arma. E claro, como usá-la nos errantes. Eu gostaria de poder te ajudar mas tenho muito o que fazer... Vou procurar alguém que possa te dar algumas aulas de tiro hoje a tarde, tudo bem? Usando um silenciador, claro. Obviamente precisarei de você amanhã para manutenção de cercas, horta... Podemos ver de Hershel precisa de algum tipo de ajuda, também. Mas, por hora, ficamos assim combinados.

— Acho ótimo. Darei o meu melhor!

Com um movimento de cabeça, Rick ia se retirando segurando Judith e tendo Carl em seu enlaço. Fiquei extremamente ansiosa para a tal aula de tiros.

Durante nosso almoço de enlatados, todos estavam reunidos no refeitório da prisão. Rick veio que avisar que quem me daria as aulas do dia seria Daryl pois era o único disponível.

— Sei que as vezes ele pode ser um pouco duro, mas é que ele é duro com ele mesmo e isso acaba transbordando aos outros. Apenas abstraia – ele me aconselhou.

Eu não sabia se tinha gostado ou não da idéia. Ele parecia interessante, mas eu teria uma arma em mãos e paciência zero para as tiradas dele.


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