Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 81
[2ªT] Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

TÔ VIVA GENTE. Mas não me matem pela demora, please!

Como expliquei no nosso queridíssimo grupo do Facebook, tive uma junção de: crise criativa + meu aniversário chegando + probleminhas pessoais. MAS AGORA TÁ TUDO MUITO CERTO E A GENTE VAI O QUÊ? Seguir atentíssimos com Defenceless ♥

E assim, o aniversário foi meu, mas é vocês quem ganham, com um capítulo grande, mergulhado em trezentos gifs e muito tiro de 12, meus amores. Se segurem, que a parada vai ser LOUCA. Muitos forninhos cairão a partir desse momento, então segurem na minha mão.

E por último, mas MUITÍSSIMO importante: ESTE CAPÍTULO POSSUI CENAS NC-18.

All set? Let's go ♥



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MÊS 5

Natalie estava estudando na bancada da cozinha, grifando o livro e fazendo anotações extras no caderno a partir do áudio da aula que ela havia gravado no celular. Gostava de adiantar resumos para quando chegasse a semana de provas, ela já estivesse com tudo pronto e pudesse se preocupar apenas com os estudos em si. Mas ultimamente vinha sendo mais difícil do que de costume.

Isso porque vez ou outra ainda se pegava pensando em Hunter, o que a fazia sentir raiva. Havia feito um acordo consigo mesma: tinha direito a tentar ligar uma vez por dia, esperando que ele atendesse seu telefonema. Mesmo quando já havia chego em um ponto que nem sabia mais o que gostaria de falar. Ou ouvir. Aos poucos tudo parecia perder o sentido que antes existia. Por isso, Natalie sempre escrevia. Escrevia diariamente cartas sobre o que gostaria de dizer a Hunter se tivesse uma chance. Mas aquelas eram cartas que jamais seriam lidas, que dirá enviadas. Se limitava à escrita para manter a sanidade e não se prender dentro de si mesma. E naquele dia estava se forçando a estudar. Se recusava a aceitar que Hunter ainda tivesse tanta influência sobre ela. E seu esforço acabou sendo compensador.

Concentrou-se profundamente por horas a fio, tão atenta à voz do professor que ressoava em seus fones de ouvido, que levou um susto quando viu Anna marchando a passos largos em sua direção, como se fosse um touro avançando no toureiro. Natalie arregalou os olhos e parou de fazer o que estava fazendo no mesmo instante.

— Onde diabos está a minha calcinha rosa de renda?

Natalie a olhou incrédula e soltou um riso debochado logo em seguida, o que fez as narinas de Anna dilaterem.

— O que te faz pensar que eu sei onde está essa sua calcinha?

— Não sei, você quem deveria me responder. Está usando todas as minhas roupas ultimamente. Por que não pegaria minhas calcinhas?

Natalie deixou que uma expressão de horror e asco nascessem em seu rosto.

— Ew. EW, não! - Natalie botou a língua para fora. - É que eu estou sem estoque de roupa limpa!

— Pois é… Logo logo o seu estoque de calcinhas limpas também vai acabar. - Anna fechou o cenho enquanto a garota de sardas a observava em silêncio, sem reagir. Bateu o pé, ligeiramente irritada. Queria rir de toda aquela situação, mas conteve-se. - Sim, isso é uma DIRETA para “lave a porra das suas roupas. HOJE.”

— Credo…

— “Credo” digo eu! - a voz divertida de Anna já estava mais distante, pois ela já voltava para o quarto.

Natalie suspirou enquanto rolava os olhos e descia da banqueta para ir em direção do próprio quarto e buscar o bendito cesto de roupas sujas. Pegou o saquinho de moedas e colocou dentro do bolso frontal da blusa de moletom que vestia. Sabia que Anna não se importava de emprestar roupas - elas viviam com as roupas, uma da outra -, mas Natalie havia exagerado na dose. E arrependeu-se ainda mais quando levantou o cesto e mal conseguia carregá-lo, de tão pesado que estava. Foi vagarosamente, fazendo pequenas pausas e amaldiçoando a si mesma até o elevador.

Apesar de adorar o fato de terem uma lavanderia coletiva, diferentemente do que acontecia na maioria das residências no Brasil - onde as pessoas possuíam espaços privativos em suas casas -, Natalie detestava o fato de ter que pegar o elevador para tal. Principalmente pelo fato de que ela constantemente encontrava algum vizinho, e isso não a deixava nem um pouco confortável. Mas por milagre do destino, daquela vez não precisou dividir o elevador com mais ninguém.

Ao chegar no subsolo do prédio, andou pelo pequeno corredor que levava até a lavanderia, e no meio dele cansou-se de carregar a cesta no colo. Por isso, começou a arrastá-la indisplicentemente de costas, sem ver o que estava à sua frente. Empurrou a porta da lavanderia com o próprio corpo sem qualquer cerimônia, fazendo com que ela batesse contra a parede. Quando Natalie se virou para escolher a máquina que usaria dentre as três, quase teve um ataque do coração. Não estava sozinha.

Deu de cara com o rapaz que  supostamente havia conhecido no rooftop da festa do tal Oliver, cerca de um mês atrás. Estudou-o de cima abaixo em completo choque. Passou seus olhos pelos cabelos loiro-escuros levemente ondulados do garoto, a mandíbula marcada, os lábios avermelhados ligeiramente entreabertos. Os olhos eram de um azul bem claro e, segundo o subconsciente de Natalie, bem convidativos. Não se lembrava de tê-lo achado tão atraente na festa. (FOTO)

Virou todo o seu corpo, ainda assustada com a presença dele. Ele parecia igualmente surpreso. (GIF)

— O que faz aqui? - estava tão pasma que nem se preocupou com a falta de polidez com que a sua frase acabou saindo.

— Hmm, lavando roupa? - ele respondeu retoricamente, fazendo-os soltarem um sorriso fraco em uníssono.

— É, certo. Mas…

— Eu moro aqui. - o loiro respondeu antes mesmo de Natalie finalizar a sentença.

— Desde quando? - Natalie caminhou receosamente na direção de alguma máquina. Seus olhos continuavam sobre ele.

Ele coçou a parte de trás da cabeça, pensativo. Seus olhos focaram o teto por alguns instantes, como se fizesse um cálculo mental. Quando pareceu chegar a um resultado, voltou a olhar para Natalie.

— Quase 6 meses.

Holy shit, como… - Natalie se lembrou que antes de Hunter ir embora, ela mal ficava em seu próprio apartamento, o que queria dizer que dificilmente ela teria tido oportunidade de trombar com o novo vizinho. Isso sem contar a temporada que havia passado fora por causa da turnê. - Entendi.  Bom… Sou do 42.

Natalie estendeu a mão na direção dele para cumprimentá-lo.

— 52.

O rapaz apertou a mão dela e os dois ficaram conectados não só pelas mãos, mas também pelos olhares. Aquilo durou alguns instantes - até Natalie se dar conta do clima constrangedor e soltar a mão dele. Ele sorriu de canto enquanto ela começou a colocar as roupas em uma máquina.

— Do que está rindo? - ela riu também.

— Falamos o apartamento, mas eu nem sei o seu nome.

Right.– Natalie deu um sorriso tímido. Estavam flertando? Ela parou de carregar a máquina e voltou a olhá-lo. - Sou Natalie Kalkmann.

— Benjamin Blackwell.

— Prazer! - Natalie devolveu a atenção à máquina, fechando-a. Começou a depositar as moedas no contador, e em seguida apertou o botão para que ela funcionasse.

Muito prazer… - Benjamin falou mais baixo, e o som da máquina quase o tornou inaudível, mas Natalie conseguiu captar o que ele havia dito, o que a fez rir descarada e sugestivamente.

— Como é? - Natalie o provocou. Não sabia por que, mas sentiu vontade de desafiá-lo.

— Nada. - o loiro sorriu marotamente de canto.  Adorava jogar quando o assunto era sedução. Encostou-se na máquina ao lado da qual Natalie estava usando. - Então… de onde conhece o Oliver?

— Oliver? - Natalie o fitou confusa. Estava distraída com a cor dos olhos dele, mas logo se deu conta de que Benjamin já havia iniciado outro assunto. - Ah, o Oliver… Eu não o conheço. - Natalie respondeu dando de ombros enquanto se sentava sobre a máquina de lavar onde estavam suas roupas.

Benjamin arqueou as sobrancelhas, depois piscou repetidamente.

— Como não? Você atendeu a porta, falou com a mãe dele e tudo.

— Veja bem… Eu era convidada de uma convidada. - ela subiu os ombros novamente como se estivesse falando sobre um assunto corriqueiro. - Ora, ninguém atendeu a maldita porta, então eu mesma atendi. Só não contava que fosse uma policial, ou que por acaso a policial fosse a mãe dele. Mas fazer o quê.

Benjamin soltou um riso incrédulo. Ficou surpreso com o pensamento e atitude da castanha. E se sentiu ainda mais atraído.

— Sua mãe não te ensinou que não se deve ir à casa de estranhos ou conversar com eles assim?

— Assim como estou fazendo com você agora? - Natalie levantou a sobrancelha divertidamente.

— Você já sabe meu nome. E o número do meu apartamento. - ele respondeu convincente.

Natalie gargalhou gostosamente, jogando o corpo para trás e apoiando-se nos braços sobre a máquina de lavar. Aquilo fez Benjamin a desejar ainda mais.

— Até onde eu sei, você ainda poderia ser um serial killer maluco e assediador. - ela o fitou sugestivamente, olhando-o por baixo.  Foi a vez de Benjamin gargalhar. - De qualquer forma, eu já sou bem grandinha. Posso me defender sozinha.

Natalie observou Benjamin se aproximar até que ficasse quase entre as pernas dela. O gesto fez o seu coração acelerar. O contato visual ficou ainda mais intenso.

 

Wicked Game - Tula

 

— Ah, é? - Benjamin apoiou as mãos sobre as coxas dela. Os rostos estavam tão próximos que Natalie era capaz de sentir o hálito de menta que emanava da boca dele. O contato visual continuava profundamente inquebrável. Era como se pudessem despir um ao outro apenas com o poder do olhar. Era uma conexão inexplicável, e Natalie tinha certeza de que ele pensava exatamente o mesmo. - E o que você faria para se defender de mim?

Natalie se aproximou delicadamente, roçando a sua bochecha na de Benjamin, o que provocou um evidente arrepio no rapaz. Os lábios dela ficaram bem perto do ouvido dele.

— E quem disse que eu quero me defender de você? - ela sussurrou audaciosamente.

Em resposta, Benjamin apertou as pernas de Natalie, que afastou o rosto do dele minimamente para poder voltar a encará-lo.

Os olhares emanavam puro desejo e excitação, e todo o ambiente parecia estar imerso naquela sensação que os dois criaram do nada, sem saber como ou quando.

Benjamin aproximou o seu rosto do dela vagarosamente, como se com aquele gesto, pedisse permissão para avançar. Natalie repetiu a ação dele, deixando o mínimo de espaço entre as bocas. A atitude dela foi unânime para que Benjamin acabasse de vez com a distância existente, beijando-a delicadamente, mas ao mesmo tempo com certa voracidade.

Natalie o puxou para mais perto pela camiseta azul marinho que ele vestia, enroscando suas pernas em volta da cintura do rapaz logo em seguida. Estava assustada com a própria atitude. Mesmo que tivesse ficado com outros garotos nas muitas festas a que havia ido, não sentia nada mais do que os narcóticos lhe permitiam, o que para ela estava bom, na altura do campeonato. O engraçado era que naquele instante Natalie não estava sob efeito de qualquer substância, embora não conseguisse se controlar. Sentia-se atraída como há muito não se sentia. Desde… afastou aquele pensamento com uma força que não soube nem de onde tirou. Queria que sua atenção estivesse focada em uma pessoa, e apenas uma: Benjamin.

Sentir o toque quente das mãos de Benjamin em sua pele e o gosto da boca dele era simplesmente extasiante. Era insano, porque era tão bom que ela se focava em fazer com que aquela sensação fosse recíproca. Acreditou que estava no caminho certo ao ouvi-lo soltar pequenos gemidos quando ela começou a beijar o pescoço dele e deixou que suas mãos passeassem pelos cabelos e costas do loiro.

Benjamin pendeu a cabeça para trás e fechou os olhos com o toque dos lábios quentes de Natalie, sentindo-se completamente rendido por ela. Sentia um rastro de fogo ser deixado pela boca da garota, que percorria toda a extensão de seu pescoço. Estava completamente ensandecido com as sensações que ela estava sendo capaz de provocar nele.

Quando Natalie sentiu as mãos de Benjamin no cós de sua calça legging,  ficou um tanto receosa, interrompendo os beijos e descansando seu nariz no vão entre o pescoço e a clavícula dele.

— Tudo bem? - a voz de Benjamin saiu fraca, mas ansiosa. Ele estava um pouco ofegante.

— Tudo… exceto pelo fato de que estamos em uma lavanderia…

Um acompanhou a risada do outro e Benjamin se afastou para olhá-la.

— Você… quer ir pra outro lugar?

Natalie estancou por alguns instantes com a pergunta dele.

— “Outro lugar” seria seu apartamento? - ela sorriu fraca e timidamente.

— É… não quis que soasse… - um ficou olhando para o outro. Benjamin estava tão surpreso com aquela situação quanto ela.

Natalie começou a ponderar e analisar toda aquela situação e contexto. Estava tensa.

Não era como se já não houvesse recebido um convite daquela magnitude de uma pessoa que mal conhecesse. Ou melhor: nunca havia aceitado a uma proposta semelhante. Cerca de quase um ano atrás aquela pergunta havia, sim, feito por outra pessoa. Hunter. Natalie engoliu em seco enquanto encarava os atenciosos olhos azuis que lhe observavam com incerteza e expectativa. Então um questionamento lhe atingiu: “Por que não?”.

Não era Natalie quem vinha procurando, desesperadamente, por novos sentimentos que não envolvessem Hunter? Não era ela quem havia ultrapassado seus próprios limites e valores em busca de uma libertação? E tudo o que ela havia sentido com Benjamin parecia ser um sinal de que talvez ele fosse a porta de entrada para isso.

— Vamos para seu “outro lugar”, então. - Natalie respondeu com um meio-sorriso, sustentando aquele olhar que já a estava desestruturando.

Benjamin sorriu de canto, um tanto vitorioso. Ele estreitou os olhos claros e brilhantes ao mesmo tempo em que pressionou a mandíbula, deixando-a ainda mais evidência. Natalie teve vontade de beijá-lo ali, mas conteve-se. Benjamin se afastou para que ela pudesse descer da máquina de lavar e abriu a porta do recinto. Natalie passou por ele e o sentiu logo em seu encalço.

Os dois se direcionaram para o elevador e Benjamin apertou o botão do 5° andar. Só então ela notou que ele morava no duplex do prédio, mas não fez qualquer comentário a respeito.

Os dois ficaram se encarando enquanto o elevador subia. E, estranhamente, aquela situação não os deixou constrangidos. Ficavam se observando com olhares sugestivos e divertidos, como se existisse uma piada da qual só eles dois soubessem. Estar na presença de Benjamin lhe provocava uma sensação diferente. Boa. Fazia-a se sentir viva.

Quando saíram do elevador, seguiram pelo lado direito do corredor. O apartamento de Benjamin ficava exatamente em cima do dela.

Benjamin destrancou a porta e deu passagem para que Natalie entrasse primeiro. Ao segui-la, logo depositou suas chaves sobre a pequena prateleira que ficava suspensa na parede, sob um espelho. Seus olhos não saíram de Natalie sequer por um instante.

Observou-a estudar seu apartamento com atenção. Natalie deixou que seus olhos cor de mel passeassem curiosamente pelo recinto, sem qualquer pudor.

A sala era ampla e bem decorada, com móveis que mesmo sendo de cores diferentes, eram harmoniosos. Percebeu um violão descansando no sofá. À sua direita havia uma escada que dava para os quartos, no andar de cima. Mais adiante, havia um pequeno lance de escadas e que dava acesso a cozinha. Os dois ambientes se conversavam tranquilamente, com uma mesa circular de vidro para refeições, e uma cozinha compacta, mas igualmente bem decorada. Era como se a sala e a cozinha fossem um único ambiente. (FOTO 1 | FOTO 2 | FOTO 3 | FOTO 4 | FOTO 5 | FOTO 6 | FOTO 7)

— Seu “outro lugar” é bem legal. - Natalie comentou.

Benjamin riu baixo.

Thanks.

Benjamin seguiu pela escada, para o andar de cima, e Natalie o seguiu. Entraram em uma porta ao lado esquerdo, logo ao fim da escada. À direita parecia haver um banheiro e mais um quarto.

Se Natalie não estivesse de corpo presente ali, jamais conseguiria acreditar que um duplex como aquele existia logo acima de seu humilde (mas ligeiramente espaçoso) apartamento. O quarto de Benjamin era assustadoramente amplo, e dava a impressão de quase ser um galpão, pelo pouco de mobília que decorava o ambiente, dando um ar um tanto minimalista. Não havia uma cama com cabeceira, apenas um grande colchão king size em frente a duas das enormes janelas que davam acesso à sacada e à escada de incêndio para o rooftop. Ao lado direito do colchão, um pequeno cômodo para abrigar o abajur. Ainda mais à direita se encontravam estantes repletas de livros, que cobriam uma terceira janela. Próximo dessas mobílias haviam ainda mais 3 janelas longas e estreitas, estrategicamente espaçadas com pôsteres entre elas. Do lado esquerdo havia um grande armário embutido, e uma porta logo ao lado, onde deveria ser o banheiro privativo. Perto da porta de entrada estava a escrivaninha, que além do notebook, empilhava mais e mais livros, tanto no tampo, quanto ao lado da mesa. (FOTO)

Quando Natalie se atentou um pouco mais aos objetos que dividiam espaço sobre a mesa, notou um pequeno estojo muito similar aos que alguns de seus colegas de festa usavam para guardar erva e seda. Também viu alguns rascunhos do que pareciam roteiros para cenas, frases soltas na borda das folhas de papéis, como se fossem ideias guardadas para depois.

Adorava conhecer a casa das pessoas porque achava que aquela era a melhor maneira de conhecê-las de verdade.

— Reparando na minha bagunça?

Benjamin brincou. Quando Natalie se virou para olhá-lo, viu-o com o ombro escorado na parede, observando-a.

— Na verdade, conhecendo o seu universo. – Natalie sorriu de canto, enquanto prestava atenção nos pôsteres de filme antigo atrás dele, entre as janelas estreitas.

— Universo? - ele franziu o cenho, confuso.

— Gosto de dizer que cada pessoa é um universo. E muito de um universo - no caso, pessoa - , pode ser encontrado em seu “habitat natural”.

Benjamin deu um sorriso apenas com os lábios. Havia gostado da analogia da garota. Puxou-a para si e a encostou na parede onde estava apoiado anteriormente.

— E o que você pode dizer sobre mim?

— Bom... – ela olhou para o teto como se aquele ato a ajudasse a organizar as informações. - Você... ama ler, gosta de escrever... talvez compor, por conta do violão na sala... é organizado em alguns pontos, bagunceiro em outros, mas sempre se acha na sua bagunça. Não parece gostar que se intrometam no seu estilo de vida, ou mesmo na decoração da sua casa. – ela apontou com o polegar para a porta como se indicasse o outro cômodo. - Pelos pôsteres de cenas de filmes clássicos, diria que é cinéfilo. E ah, você tem um kit de fumo. Então eu diria que é um artista incorrigível, talvez um estudante de cinema.

Quando Natalie voltou a encarar Benjamin, percebeu-o boquiaberto. Ele piscava pausadamente com os olhos azuis arregalados, o que a obrigou a conter o riso.

Wow. Certo, que bruxaria é essa? Você é alguma psychic ou o quê?

— Você também pode chamar isso de estudante de jornalismo extremamente observadora. – ela riu.

— Você é boa. – ele assentiu, torcendo o rosto impressionado.

— Sou boa em muitas coisas. – nem mesmo Natalie acreditara que aquilo houvesse saído de sua própria boca, mas não conseguiu negar que gostou de como havia soado.

Benjamin não conseguiu evitar que o sorriso sacana surgisse em seus lábios, e ele os molhou levemente antes de lhe lançar um olhar cheio de segundas intenções.

— É mesmo? Que tipo de coisas?

Natalie puxou-o com delicadeza pela camiseta de algodão para que ele se curvasse e ficasse na altura dela.

— Essa pode ser a sua chance de descobrir. – ela sussurrou provocadoramente.

Benjamin respirou fundo, extasiado, prendendo o ar em seus pulmões por alguns instantes enquanto olhava-a profundamente, empurrando-a de leve e fazendo-a caminhar de costas em direção da cama.

What are you?

Natalie não respondeu. Em vez disso, sorriu tímida e misteriosamente, o olhar um tanto oblíquo e inocente, ao mesmo tempo.

 

Trouble I’m In - Twinbed

 

Benjamin sentiu-se completamente atraído por aquela garota de pele branca como a neve e tão sensualmente manchada pelas sardas. Rendeu-se ao desejo quando afastou os cabelos da nuca de Natalie e a puxou carinhosamente por ali. Seus lábios tomaram os dela com um beijo quente e envolvente, onde as línguas provavam o gosto, uma da outra, enquanto as mãos percorriam cada centímetro de pele exposta. Inclusive, não demorou muito para que se incomodassem com as camadas de peças de roupas que os impediam de realizar seus maiores anseios. Por isso, foram dispensadas, uma a uma, em uma brincadeira que beirava o sensual e o desejo pelo novo, do que estava por vir.

Quando Benjamin tirou a camiseta, Natalie quase perdeu o ar, e devorá-lo com os olhos não foi o suficiente; precisou tocar aquele abdômen, sentir o calor daquela pele. (GIF)

Não havia pressa, não havia tempo. Os segundos passavam lentamente conforme um explorava o corpo do outro em uma dança lenta de mãos e lábios sob a pele que ardia com cada vez mais libido sob aquele colchão.

Natalie se sentia hipnotizada por aquele olhar tão violentamente penetrante sob seu rosto e corpo. As pontas dos dedos de Benjamin lhe acariciavam a barriga e iam descendo para o meio das pernas dela enquanto ele lhe beijava o colo. Ela embrenhou seus dedos no meio das ondas daquele cabelo loiro-escuro, puxando-o levemente quando o desejo parecia impossível de ser contido, ao sentir o toque da língua quente em sua pele e os dedos dele se movimentarem com experiência. Pensou que fosse perder o fôlego quando o flagrou observando-a com os olhos atentos e sedentos. (GIF)

Benjamin sentiu sua excitação crescer ainda mais com aquela visão de Natalie, totalmente entregue ao prazer que ele a estava proporcionando. Estava extasiado. Sentiu-a puxar-lhe mais forte pelo cabelo para que seus lábios voltassem a encontrar os dela em um beijo cheio de desejo.

Soltou um gemido mais alto quando a sentiu envolvê-lo com a mão e a movimentá-la lenta e repetidamente. Jogou o seu corpo ao lado do dela no mesmo instante.

Natalie ficou parcialmente sobre ele, beijando o abdômen do rapaz enquanto continuava com a ação anterior, sentindo-o intensamente rígido em sua mão. Ouvi-lo gemer a deixou ainda mais excitada, e quando deu por si, percebeu-se levando sua boca até ele com delicadeza. Foi a vez de Natalie observá-lo se entregar para ela. Sentia-se desejada, empoderada. E embora Benjamin não soubesse, ele era o responsável.

Viu-o se esticar para o lado direito e vagarosamente interrompeu o ato, apenas observando-o. Percebeu que ele retirava um pacote de camisinha de dentro da gavetinha do cômodo do abajur. Ela mordeu o lábio enquanto os dois se encaravam, ansiosos.

Assistiu Benjamin abrir a embalagem e colocar a proteção sem pressa. Natalie finalmente se posicionou sobre ele, os olhares sempre presos, um ao outro, cheios de expectativa e excitação.

Lentamente ela se sentou sobre Benjamin. Os dois soltaram gemidos fracos que pareciam vir sozinhos de seus pulmões até que seus corpos se tocassem por completo.

Benjamin puxou o corpo de Natalie para si, sentindo o toque dos seios da garota serem delicadamente pressionados ao seu tórax enquanto ela se movimentava sobre ele em um ritmo só deles.

Corpos retraídos, apertões, suspiros e gemidos que se misturavam em meio aos lençóis sob seus corpos. Frases soltas que só faziam sentido ao ouvido do outro. Beijos, súplicas e carícias que se perdiam no ar quente daquele quarto semi-iluminado pelas luzes da cidade que entravam furtivamente pelas frestas das persianas e banhavam os corpos unidos pelo prazer. A sintonia era tão forte que era como se eles fossem íntimos há muito tempo, e já conhecessem todos os gostos, um do outro.

Era quente e intenso, mas doce e suave ao mesmo tempo. Era desejo, mas sobretudo… Liberdade.

 

**

 

Quando Natalie despertou, viu alguns feixes de sol escaparem pela mesma persiana que as luzes da cidade se embrenharam na noite passada. Ficou olhando aqueles fios luminosos refletidos no chão do quarto por algum tempo, virada de costas para o outro corpo que ela sentia pesar sobre o colchão. Benjamin.

Respirou fundo, ainda extasiada com as lembranças tão recentes em sua mente. Arrepiou-se ao se lembrar do brilho nos olhos azul-claros do loiro enquanto um se entregava ao outro. Das feições que não escondiam o prazer por um segundo sequer. Das mãos dele, que pareciam saber exatamente para onde ir em seu corpo…

Sorriu para si mesma. Havia dormido com seu vizinho sem nem pestanejar. Sentiu-se louca. Viva.

Virou-se com delicadeza, a fim de não despertá-lo bruscamente. Odiava quando a acordavam daquela maneira, por isso prezou pelo sono de Benjamin.

Flagrou-o dormindo calma e angelicalmente. Prendeu a respiração com medo que apenas o ato fosse capaz de estragar aquela imagem. Benjamin era realmente lindo. Era uma beleza diferente, misteriosa, imponente.

Estudou os músculos das costas e dos braços dele, que se escondiam embaixo do travesseiro enquanto dormia de bruços. O corpo se movendo lentamente quando o ar entrava e saía dos pulmões dele. Pensou que pudesse passar o dia apenas o assistindo dormir e considerou estar maluca. Como podia pensar assim de alguém que mal conhecia? Mas no fundo, não se importava. Queria apenas que aquela sensação não fosse embora tão cedo.

Estava feliz, plena. Pela primeira vez em tempos sentiu seu peito leve, sem mágoas, sem medo ou desespero. Não se sentia . Pelo menos não no sentido ruim da palavra.

Estava tão absorta em seus pensamentos que nem se deu conta do momento em que Benjamin abriu seus lindos olhos azuis.

Ele ficou em silêncio, apenas a observando viajar em seu próprio “universo”. Sentia seu corpo relaxado como nunca antes. Fechou os olhos por alguns instantes, lembrando-se do gosto dela, e do quanto ansiava por tê-la para si, de novo e de novo.

Se sentiu um moleque tolo e sem experiência, como se nunca houvesse se deitado com nenhuma outra garota antes. Ou que nunca tivesse tido um caso de uma noite. E o que mais o assustava é que em nenhuma das vezes havia sentido o que sentia. Antes, durante ou mesmo depois. Pensou estar maluco e sorriu para si mesmo com a própria conclusão. Talvez estivesse.

— Tão séria… - ele comentou doce e divertidamente.

Natalie sorriu um tanto sem graça, saindo de seu mundo repleto de devaneios. Não havia percebido que também estava sendo observada.

— No que está pensando? - Benjamin mudou de posição, agora deitando-se de frente para Natalie.

Ela riu baixo. O rapaz sequer havia lhe dado bom dia e já a estava questionando, querendo entrar em seus pensamentos. Ele era espontâneo, natural, e ela gostava. Combinava com ele.

Natalie respirou fundo e estreitou os olhos divertidamente.

— Estava pensando: “Então é assim que funciona um sexo casual?”

Os dois riram com certa cumplicidade.

— Se quer saber, não é exatamente assim.

Natalie fez uma expressão séria, demonstrando surpresa e até curiosidade. Ela tentava conter o sorriso.

— O que fizemos de errado?

— Não sei. - Benjamin levantou os ombros. - Mas me pareceu bem diferente.

— Você fala com certo know-how. É adepto assim? - Natalie o provocou com um sorrisinho.

Benjamin esticou os braços como se estivesse se alongando, mas na verdade era uma estratégia para conseguir pensar na resposta para aquele questionamento.

— Não mais. - Natalie franziu o cenho em resposta, juntando as sobrancelhas. Benjamin continuou: - Achava que fosse maneiro sair por aí transando com desconhecidas. Mas percebi que no final eu não ficava legal. Pelo menos não quando não havia sequer um sentimento, uma admiração. Quer dizer… - ele fez uma pausa para organizar os pensamentos. - Eu gosto de sexo. Mas não se não houver um clique, uma conexão, por mínima que seja.

Natalie o assistiu por algum tempo, um tanto cativada pelas palavras de Benjamin. Nunca havia ouvido qualquer argumento do gênero. Se encantava com a maneira diferente com que cada pessoa tinha uma opinião tão distinta da outra em assuntos diversos.

Benjamin se levantou, nu, e foi até a escrivaninha, do outro lado do quarto. Natalie se sentou, enrolando parte do lençol abaixo das axilas para lhe cobrir os seios. Ajeitou os cabelos, afastando-os do rosto. Viu o rapaz pegar o estojo que ela havia notado mais cedo.

— E o que te fez pensar que tivemos uma conexão? - Natalie o questionou enquanto ele começava a enrolar um baseado rapidamente entre seus dedos, com maestria.

Benjamin deu um sorriso debochado, olhando-a rapidamente por baixo, antes de voltar a sua atenção para o cigarro.

— Quer dizer, além de tudo o que fizemos noite passada? - ele puxou um isqueiro para acender o baseado enquanto voltava para a cama. Viu um sorriso tímido nascer nos lábios da garota de sardas. Ele tragou o baseado antes de se sentar no colchão, cobrindo-se até a cintura com o outro lençol. Ofereceu o cigarro a Natalie, que o aceitou. - Talvez você não seja uma jornalista tão observadora assim…

— Hey?! - Natalie empurrou o braço de Benjamin levemente, fazendo-o rir. A garota deu um trago na erva e voltou a olhar para Benjamin fingindo estar ofendida. - Sou uma excelente observadora, ok?

Benjamin assistiu a garota tragar o baseado novamente. Estreitou os olhos quando ela soltou a fumaça em sua direção. Estava encantado com aquela visão. Ele molhou os lábios novamente.

— Você não se lembra mesmo, não é? - Benjamin parecia estar se divertindo com todo o mistério que estava criando ao redor daquilo. Típico de um estudante de cinema apaixonado por roteiros.

— Do quê? - ela entortou a cabeça frente ao questionamento dele.

— De quando nos conhecemos.

— No rooftop? Claro que lembro! - Natalie lhe devolveu o baseado, olhando-o como uma criança que é desafiada. Sentiu a maconha começar a fazer efeito em seu corpo.

— Pois é aí que você se engana! - Benjamin apontou o cigarro na direção dela antes de colocá-lo na boca. Natalie o olhou sem entender nada. - Aquele não foi o nosso primeiro encontro.

O sorriso de Natalie sumiu aos poucos. Vasculhou suas lembranças em busca de qualquer rastro do rosto de Benjamin, sem sucesso. Era verdade que tinha essa sensação estranha de o conhecer perturbando-a desde a noite no rooftop, mas ignorou qualquer que fosse a possibilidade. E ali estava Benjamin, lhe revelando que sim, eles já se conheciam.

Depois de a observar em crise consigo mesma por algum tempo, Benjamin se deitou no colchão por alguns instantes, esticando-se para alcançar o celular que estava jogado no chão. O rapaz destravou a tela de seu iPhone e acessou o aplicativo de bloco de notas para digitar alguma coisa com os polegares enquanto segurava o baseado entre os dedos indicador e médio. Natalie continuou a observá-lo intrigada, tentando entender a conexão da conversa deles com o que ele poderia estar escrevendo.

Benjamin depositou o aparelho sobre os lençóis do colo de Natalie, que arregalou os olhos instantaneamente após ler o que estava escrito.

 

Dia ruim?

 

Natalie voltou a olhar para Benjamin em completo horror enquanto um flash de alguns meses atrás lhe atingiu a memória:

 

*** INÍCIO DO FLASHBACK ***

Natalie finalizou a chamada e jogou o celular na mesa. Tampou o rosto com as duas mãos por alguns segundos. A fofoca já havia atravessado o oceano e chegado aos ouvidos de deus pais. Respirou fundo mais de uma vez. Não iria chorar.

Ao destampar o rosto, olhou instintivamente para fora da cafeteria, através da vitrine. Ficou surpresa quando o rapaz que ela havia notado antes agora a encarava. Os olhos eram de um azul misterioso que mais pareciam estudá-la. A mandíbula era assustadoramente marcada e o cabelo, loiro-escuro.

Ele voltou a sua atenção para o próprio celular para digitar algo, o que a intrigou e a fez continuar a observá-lo. Surpreendeu-se quando o viu levantar o aparelho na sua direção, com o aplicativo do bloco de notas aberto.

“Dia ruim?”

Natalie soltou um riso fraco e anasalado. Assentiu em resposta. Ele sorriu tão minimamente com os lábios que ela chegou a desconfiar que aquilo sequer fosse um sorriso. Ele voltou a digitar algo antes de mostrar o celular novamente.

“Te entendo. Você sempre pode dizer ‘foda-se’, seja pra quem for.”

Natalie riu de forma sincera, o que o fez sorrir de canto e escrever mais alguma coisa.

“Brincadeira. Vai ficar tudo bem. Mesmo parecendo que não.”

Natalie respirou fundo, agradecida. Não o conhecia, mas aquilo foi a melhor coisa que lhe disseram nos últimos dias, e era tudo o que ela realmente precisava. Mesmo que fosse de um estranho aleatório do lado de fora de uma cafeteria, via mensagens no bloco de notas.

Ela moveu os lábios pronunciando um “thanks”, e o rapaz assentiu em resposta.

O momento foi interrompido pela chegada dos amigos dele, que o cumprimentaram com tapas nas costas e o puxaram para sair dali. Em meio ao ato de ser arrastado, o rapaz se despediu com os dedos indicador e médio tocando a têmpora rapidamente. Ela acenou de volta antes de vê-lo sumir no cruzamento das ruas.

*** FIM DO FLASHBACK ***

 

Benjamin riu baixo, observando a garota se recordando daquele momento, em choque.

— Você...! - Natalie não sabia sequer o que dizer, tamanho era o seu espanto. Era como se as palavras lhe tivessem fugido todas. Ela estava tão atordoada na noite da cafeteria, com todas aquelas matérias mentirosas e sensacionalistas sobre ela estar grávida de Hunter que nem gravou as feições de Benjamin. E para Natalie, aquilo era inaceitável, já que ela sempre se vangloriava por ser boa fisionomista. Não acreditava que Benjamin havia lhe passado batido, principalmente diante da importância que as palavras dele tiveram naquele momento caótico. - Você sabia desde o começo? Por que não me disse no rooftop?!

Benjamin não conseguiu evitar a risada que escapou de sua garganta. Estava realmente se divertindo com a reação de Natalie diante daquela revelação.

— Ah… - Benjamin deu de ombros. - No dia eu não achei que fosse algo realmente relevante. Quer dizer… nós estávamos chapados, então… - ele fez uma pausa para dar uma tragada mais longa. Soltou o ar lentamente, libertando a fumaça. - Além disso, não achei que fôssemos nos reencontrar desse jeito. Mas o destino insistiu em nos trombar novamente… - Benjamin usou um tom cômico e debochado para aquela sentença, o que fez Natalie soltar uma risada inesperada.

Se havia sido o destino ou não, o fato era que Natalie estava estupefata com aqueles encontros e desencontros.

— Isso é insano. - Natalie passou a mão pelos cabelos, observando-o. Riu para si mesma.

— Eu achei que você tivesse me reconhecido. - Benjamin passou o baseado para Natalie novamente para poder apoiar o corpo para trás, sobre os braços. Natalie franziu o cenho enquanto tragava o cigarro. - Pensei que o lance da jaqueta na festa houvesse sido um flerte estratégico. Who knows... — Benjamin brincou, relembrando o momento em que Natalie atirou a jaqueta quando estava dançando sobre a mesa com uma líder de torcida na festa de Oliver.

Shut uuuup! — Natalie o empurrou com mais força, derrubando-o de costas no colchão. Benjamin soltou uma gargalhada alta que a fez querer acompanhá-lo.

Quando Natalie se inclinou, a tela do celular de Benjamin acendeu, revelando o horário: 10 horas da manhã. Endireitou-se no susto. Se não corresse, se atrasaria para uma reunião de grupo da faculdade para o desenvolvimento de um documentário investigativo.

— Holy shit, são dez horas! Tenho que ir! - ela procurou as roupas que estavam jogadas ao redor do colchão, sem se levantar completamente dele, quase engatinhando.

— Hey, você vai embora assim? - Benjamin brincou, observando-a reunir as roupas apressadamente.

— Não chora. Tenho um compromisso inadiável.

— Não vou deixar você ir. - Benjamin tentou usar um tom mais sério, o que fez Natalie parar para olhá-lo.

— Você e mais quem? - Natalie o desafiou, entrando na brincadeira.

— Foi tudo um truque meu. Agora você me pertence, é minha escrava sexual. - Natalie deixou sua mandíbula despencar, segurando o riso. - Serial killer maluco e assediador, lembra?

Natalie gargalhou quando Benjamin veio para cima dela, a fim de agarrá-la. No entanto, a garota de sardas foi mais rápida e se levantou do colchão avoada, enrolada no lençol e segurando as roupas desengonçadamente. Sentiu Benjamin lhe puxar o lençol e fez força para arrancá-lo das mãos do rapaz e correr para o banheiro. (GIF)

Ouviu os risos abafados de Benjamin do lado de fora, e começou a rir feito boba enquanto se vestia rapidamente. Quando saiu, encontrou-o ainda deitado.

Natalie se direcionou para a porta, pegando o celular que havia deixado na escrivaninha dele na noite anterior.

— Hey. - Natalie se virou ao ouvir Benjamin chamar. - Quando você tá livre?

— Livre pra quê? - Natalie segurou o riso.

— O que você acha? - Benjamin rolou os olhos azuis. O sorriso também não conseguia abandonar o rosto dele.

— Não sei… quem sabe o que o destino nos reserva? - Natalie deu de ombros antes de sair do quarto, vendo-o sorrir. (GIF)

Quando saiu do quarto, desceu as escadas correndo. Teria ido direto para a porta se não tivesse visto, pela sua visão periférica, a figura de uma pessoa na sala.

Deu um pulo quando reconheceu o rapaz que estava sentado no sofá, de cabelos escuros e levemente arrepiados. Ele a olhava surpreso, a boca em formato de “o”. Era Oliver Hansen. (FOTO)

— Essas roupas são suas? - Oliver apontou um cesto com roupas limpas perto da porta. - Uma vizinha entregou as do Benjamin também.

Natalie ficou estática, completamente sem graça, enquanto Oliver agia casualmente como se aquela situação fosse corriqueira. A garota de sardas finalmente recobrou os sentidos, dando um sorriso amarelo antes de agarrar o cesto e sair pela porta toda avoada.

Quando fechou a porta atrás de si, encostou-se na parede do corredor completamente estupefata. Não só por conta do encontro constrangedor com Oliver, que parecia ser mais próximo de Benjamin do que imaginava, mas pela noite absolutamente incomum que havia passado.

Sorria abobada para si mesma.

 

**

 

Natalie mal havia entrado no apartamento e levara um baita susto ao ser bombardeada por Anna, que parecia ter dormido no sofá e se levantava atordoada:

Goddamnit, Natalie! Você não vê seu celular? Onde diabos vocês estava?! - Anna passou a mão pelos cabelos amassados, arrumando-os. Ela fitou Natalie colocar o cesto de roupas no chão enquanto encarava a amiga com uma expressão um tanto traquinas. - Onde você lavou as suas roupas, afinal? Fui na lavanderia pelo menos TRÊS VEZES. Tem noção de que liguei para o Hans e até o Aaron atrás de você, guria? (GIF)

Natalie foi até Anna e a segurou firmemente pelos ombros, encarando-a com firmeza e um certo sorriso nos lábios.

— Respira, mommy— ela riu quando viu Anna rosnar.

— Não tem graça! Fiquei aqui morrendo de preocupação! Você diz que vai lavar roupa e passa a noite fora! Vai me dizer onde estava ou não?

Anna estava mesmo muito preocupada. E ficava naquele estado constantemente desde os novos hábitos noturnos e festeiros de Natalie. Cansava de acompanhá-la em festas, mais para se certificar de que a melhor amiga ficasse bem, do que por interesse em ir. Por vezes arrastava Luke, Hans e Thomas para se juntarem à missão.

Sabia que Natalie já era grandinha o suficiente, e de que no fundo não era responsabilidade dela ficar bancando a irmã mais velha e chata… mas sempre tiveram uma a outra, e sabia que o baque com Hunter havia sido demais. Havia passado bastante tempo juntando os caquinhos que Izaac havia deixado para trás e achava que nunca um estrago poderia ser maior do que aquele. Porém havia se enganado. Hunter Saxton arruinou sua melhor amiga como jamais imaginou ser possível, de todas as maneiras que alguém poderia ser arruinado. E ela o odiava mais do que tudo por aquilo.

Não conseguia culpar Natalie por nada do que estava se passando. Por mais que fosse durona, Anna não sabia o que seria dela se tivesse passado por coisas como as que Natalie passou tão seguidamente. Não conseguia imaginar como superaria aquelas derrotas. Por isso, tentava ser compreensiva até onde dava. Principalmente porque conhecia a melhor amiga e sabia que ela não estava em seu melhor momento, não importava as controvérsias.

Anna voltou a analisar Natalie, que poupou o ar por alguns segundos para fazer mistério. O sorriso simplesmente não abandonava seus lábios, e havia um brilho diferente nos olhos cor de mel da garota de sardas. Brilho esse que havia tempos Anna não encontrava. A morena já não sabia se surtava de preocupação ou curiosidade.

— Vou te fazer uma única pergunta. - Natalie mordeu o lábio inferior sem parar de sorrir. - Por que não falou que tínhamos um novo vizinho?

O queixo de Anna caiu instantaneamente, ao passo de que um sorriso surpreso invadiu seu rosto. Os grandes olhos castanhos pareciam quase sair das órbitas.

— Natalie! - Anna gritou, impressionada com a semi-revelação. - Você pegou aquele ser divino?

— Ele é bom de cama… - o comentário fez Anna soltar gritinhos e Natalie gargalhar. - Sério, por que não me contou sobre ele? (GIF)

— Ah, amiga… não é como se você quisesse saber do resto do mundo, né… quer dizer. Quando ele se mudou, você vivia no apartamento do…

— Tá, tá, tá! - Natalie interrompeu Anna, abanando a mão na direção dela. - Justo!

A garota de sardas já estava indo em direção do banheiro quando a amiga lhe chamou:

— Ei, onde pensa que vai? Precisa me contar!

Natalie gargalhou enquanto adentrava o banheiro.

— Contar o quê?

Don’t you dare, Natalie! - Anna correu para a porta que ia se fechando.

— Agora eu não posso, tenho reunião com o grupo da sala! Te conto quando voltar! - Natalie fechou a porta divertidamente.

— Odeio você! - Anna gritou com a voz abafada pela porta.

— Também te amo!

 

**

 

Depois que Natalie voltou, foi praticamente sequestrada por Anna, que a recebeu com macarons e um copo grande de Caramel Macchiato. Natalie odiava admitir, mas Anna sabia exatamente como agradar seu estômago quando queria saber algo. E a cada detalhe revelado, Anna só faltava jogar os macarons para o alto, tamanha era a sua empolgação. Sempre vibrou muito pela amiga, mas ver Natalie com aquele sorriso bobo de volta no rosto era uma felicidade simplesmente indescritível.

— Pera, pera! Você pode contar a parte que ele te mostrou a mensagem do celular de novo? - Anna pediu como se fosse uma criança recebendo um presente, pulando sentada na cadeira.

— Paraaaa! - Natalie escondeu o rosto, risonha. - Foi uma loucura, né? - ela riu, tampando a boca com a mão quando Anna fez que sim com a cabeça enquanto dava uma mordida no macaron. (GIF)

— As loucuras são as melhores coisas da vida, amiga. - Anna comentou após engolir. - Principalmente quando a loucura é um pedaço de mal caminho como…

Anna foi interrompida pelo som da campainha que ressoou pelo apartamento. As duas se entreolharam, antes de Natalie se levantar para atender a porta.

Ao abri-la, quase se engasgou com a própria saliva quando uma gargalhada subiu pela sua garganta. Ela deu de cara com Benjamin apoiado na soleira da porta, segurando uma xícara debochadamente.

— Oi, vizinha. Será que você poderia me ver um pouco de açúcar? - ele usou o seu tom mais sarcástico, e ao mesmo tempo, convincente.

Anna esticou seu pescoço de onde estava sentada, sorrindo sugestivamente e Benjamin deu um sorrisinho de canto, cumprimentando-a audaciosamente, o que a fez rir.

— Sério? - Natalie fez careta, tentando manter o controle para não começar a rir.

— Não. - ele abaixou a xícara. - Quer sair?

Natalie o olhou surpresa, sem deixar de sorrir. Depois olhou para Anna, que assistia a tudo àquilo divertidamente, como se estivesse presenciando uma cena de comédia romântica de camarote. A morena lhe deu um olhar encorajador, o que fez Natalie voltar a olhar para Benjamin.

— Hm, ok! Qual a ocasião?

— Jantar em um lugar maneiro e depois… um rolê diferenciado.

— Maneiro? Diferenciado? - Natalie se apoiou na porta. - Pode ser mais específico? A minha personal stylist precisa de mais detalhes para elaborar meu look.

Dessa vez foi Benjamin quem esticou o pescoço para observar Anna, que concordou sem pestanejar. O loiro apontou para Anna:

— Sei que vai conseguir me surpreender. Confio em você.

— Gostei de você. - Anna apontou de volta. - Me senti desafiada, pode deixar.

Benjamin deu um sorriso de canto e voltou seus olhos azuis para Natalie.

— Te espero no hall, às sete.

O rapaz sequer esperou Natalie responder, e logo se dirigiu ao elevador. Quando Natalie fechou a porta, viu Anna suspirar e apoiar os cotovelos delicadamente sobre o tampo da mesa de vidro para descansar o queixo.

— Estou apaixonada. Case com ele.

Natalie não conseguiu conter o riso com o comentário da melhor amiga.


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Notas finais do capítulo

OKAY, que monte de tiro foi esse, galere? Saiu todo mundo ileso?

O QUE É ESSE BENJAMIN, alguém pode me dizer? Vocês já estão sucumbindo de amor por ele como a nossa querida Anna? Porque eu tô. Será o começo de uma nova era?

E essa nova fase da Natalie mais jogada, abusada, vivida? Será que vem pra ficar? O que acham que isso vai render?

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