Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 74
Capítulo Setenta e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo natalino e cheio de revelações pesadíssimas. :x



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Natalie ainda tremia mesmo depois de ter saído do palco. Sentia que seu coração estava prestes a sair pela sua boca, que naquela altura estava mais seca do que nunca. As mãos de Hunter logo lhe envolveram a cintura por trás.

— Você disse aquilo só por causa do calor do momento ou falou sério? - Hunter brincou, falando em seu ouvido. Ele se referia ao “I love you too” que ela havia dito no palco, na frente de uma multidão.

Ela gargalhou em resposta, virando-se para olhá-lo.

— Idiota.

O rapaz de cabelos compridos encostou a sua testa na da garota. Estava tão ofegante quanto ela.

— Gostou?

— Eu amei. Amei, Hunter. Foi o melhor presente que já ganhei na vida - por mais que Natalie tentasse conter, o sorriso bobo continuava em seu rosto.

Ela acariciou as madeixas de Hunter, afastando-as dos lindos olhos verdes que a encaravam carinhosamente.

— Bom, Feliz Natal - ele sorriu de volta.

Eles se beijaram demoradamente até serem interrompidos pelo resto da banda, que vinha acompanhada de Anna e Grace.

— Maninhoooo! - Grace correu até o casal e o envolveu em um abraço triplo, arrancando risadas de todos. - Parabéns, vocês arrasaram! O casal mais lindo!

— Até que enfim a tortura psicológica acabou, isso sim. - Thomas riu. O comentário chamou a atenção do grupo. - Natalie, ele enlouqueceu com essa surpresa e quis nos enlouquecer de tabela. E você é assustadora as fuck quando está brava, for Christ’ sake. - todo mundo começou a rir. - Falo sério. Hunter, saia do negócio de fazer surpresas, você é um péssimo mentiroso.

— Vocês não ficam muito atrás, se querem saber. - Anna se pronunciou. - Acho que se eu pressionasse o Luke mais um pouquinho era capaz de ele infartar.

Shut up, Anna. - Luke respondeu entre risos.

— Agora você sabe que não estávamos sendo maldosos? - Hans se aproximou lançando um olhar superior, como se exigisse desculpas.

— Siiiim, Irish. - Natalie riu, bagunçando o cabelo loiro do amigo - Me desculpe por ter sido a total bitch.

— Só perdôo se prometer que nunca mais vai fazer isso. Tive até pesadelos. - ele fingiu sentir um arrepio nas espinhas, fazendo todos ao redor rirem junto dele logo em seguida.

— Prometo! - Natalie respondeu meio risonha, abraçando aquele que ela já considerava seu melhor amigo há algum tempo e só havia se dado conta naquele momento.

— Agora que temos um final feliz, será que podemos ir para o nosso compromisso chamado “Véspera de Natal”? - Grace levantou as sobrancelhas divertidamente enquanto puxava o irmão pelo ombro.

Damn right, Gracie. É por isso que eu gosto dessa menina — Thomas apontou para Grace antes de já se dirigir à saída.

 

 

**

 

Waves - Dean Lewis

— Vai logo, Natalie! Falta dez minutos para meia-noite! - Anna gritou ao pé da escada.

— Já estou indo, já estou indo!

 

Não demorou muito para que a imagem de uma Natalie esbaforida aparecesse descendo as escadas do quarto de Hunter carregando umas cinco sacolas de presente. Anna a observou com uma mão na cintura enquanto a outra segurava uma taça de champagne. O grupo já havia jantado a ceia e apenas aguardavam pelas felicitações e trocas de presente.

— Assaltou uma loja? - Anna pegou algumas sacolas para ajudar Natalie.

— Tive de me certificar para não esquecer ninguém, oras. - as duas se encaminharam para a sala, onde o resto do pessoal estava reunido, todos próximos da gigante árvore de Natal que havia sido montada por Hunter e Natalie há algumas semanas.

Quando Natalie se ajoelhou ao lado da árvore para organizar os presentes junto dos que já estavam acumulados, Anna observou os detalhes da decoração mais atentamente. Os enfeites eram prioritariamente vermelhos e dourados, mas alguns poucos globos prateados se sobressaíam dentre os lacinhos e pinhos. Os pisca-piscas eram amarelos e adornavam todo o redor da árvore consideravelmente grande. Imaginou Natalie em uma cena clichê de filme, sobre uma escadinha, decorando-a com um Hunter logo atrás dela, dando assistência.

— De 1 a 100, quão gay deve ter sido vocês dois montando essa árvore? - Anna indicou a árvore com a taça.

— Oh, shut up, Anna - Natalie riu. A garota de sardas terminava de organizar os novos presentes em volta da árvore.

— Teve o momento: “vamos decorar a árvore abraçadinhos”? - Anna perguntou num tom irritantemente ingênuo que Natalie já identificava como provocação.

— Idiota. - Natalie jogou a almofada que estava no chão em Anna, fazendo a amiga rir e engasgar com o champagne.

Girls! – Grace gritou da sacada, onde ela e os garotos estavam reunidos.Faltam cinco minutos!

 

Natalie se levantou rapidamente para correr com Anna até a varanda. Hunter lhe entregou uma taça e se reuniu ao meio-círculo que havia se formado por ele, Hans, Thomas, Luke e Grace.

— Onde você estava?

— Acha que é só você que sabe fazer surpresas por aqui? - Natalie  lançou um olhar sugestivo que fez Hunter lhe devolver uma careta.

— Ok, squad. - Thomas deu ênfase na palavra “squad” com um sotaque forçadamente americano, chamando a atenção de todos e rindo em seguida. Ele pegou a própria taça e observou todos os outros fazerem o mesmo. Depois checou a hora no relógio de pulso. - Estamos oficialmente a 2 minutos do Natal, e eu não poderia estar mais feliz de estar reunido com as pessoas que eu escolhi para serem a minha segunda família. E eu acredito que todos aqui partilham da mesma opinião que a minha, já que cada um veio de um lugar bem distante de New York. - Natalie o observava com certa admiração. Nunca imaginou que o brincalhão Tom escondia palavras e pensamentos como aqueles dentro de si. - E de alguma forma o destino nos juntou. Isso deve significar algo importante, afinal. Principalmente com a chegada de duas novas integrantes. - Thomas lançou um olhar cúmplice e acolhedor à Anna e Natalie, levantando a taça na direção delas. As duas sorriram e repetiram o gesto dele. - Somos os presentes, uns dos outros, certo? - ele consultou o relógio novamente, sorrindo. - Feliz Natal, Elite Four!

— Feliz Natal! - todos se aproximaram para brindarem as taças.

Enquanto aquele gesto acontecia, Natalie observou uns abraçarem os outros atentamente: Hans e Grace, Thomas e Anna e assim sucessivamente. Sentiu um calor tomar conta de seu interior, uma felicidade abraçar o seu coração em assistir àquela cena. Era mesmo muito triste estar longe da família no Brasil em datas como aquela, mas era reconfortante estar com pessoas, que como Thomas mesmo apontou, eles escolheram para serem a segunda família. E era assim mesmo que ela se sentia com cada um ali. Todos tinham uma importância singular em sua vida, de alguma forma.

— Hey, Feliz Natal, Freckles. - Hunter encostou o nariz na bochecha dela, dando-lhe um selinho em seguida.

— Feliz Natal, love. - ela respondeu tão naturalmente que só se dera conta do que o havia chamado segundos depois, ao notar o sorriso bobo nos lábios do rapaz de cabelos compridos à sua frente. Ela sorriu timidamente antes de ser abraçada por Anna.

— Feliz Natal, bestieeeee! - Anna a apertou forte, fazendo-a retribuir o gesto.

— Te amo, guria! - Natalie riu antes de soltá-la e ir ao encontro dos outros para felicitá-los.

— Happy Christmas, big brother!– Grace pulou nas costas de Hunter, fazendo-o se desequilibrar momentaneamente.

Fuck! – ele riu, puxando-a para um abraço. - Feliz Natal, maninha. - ele respirou fundo, apertando-a contra si. - Estou feliz que esteja aqui. Sabe o quanto sinto a sua falta, não sabe?

— Awww, eu também sinto a sua todos os dias - ela respondeu com a voz abafada. - Mas agora eu sei que tem alguém aqui cuidando de você. - Grace afastou-se minimamente para olhá-lo nos olhos sem sair do abraço. Indicou Natalie, que estava na sala aguardando ansiosamente para que Hans abrisse o presente que ela lhe dera. Hunter acompanhou o olhar da irmã, sorrindo em seguida.

— Que bom que gostou dela. Estava preocupado com isso, se quer saber.

— Não tem como não gostar, H. - os dois continuaram a observar Natalie. Naquele momento ela e Hans se abraçavam. - Não faça nenhuma merda com ela, ok?

— Hey?!

— Falo sério. Não deixe que nada estrague o que vocês dois têm. É mesmo muito especial. Esse é meu pedido de Natal pra você.

Hunter olhou carinhosamente para a irmã, afastando os cabelos do rosto dela. Os dois tinham um senso de cuidado muito grande entre eles desde muito pequenos. Tão cedo precisaram se apoiar, um ao outro, e embora o motivo houvesse sido a condição de saúde da mãe deles, aprenderam a ver o episódio como algo positivo. Afinal, foi o que os transformou no que eram hoje: melhores amigos.

Na realidade, a doença da mãe deles havia sido apenas o primeiro motivo para que Hunter tomasse tanto cuidado com Grace. Lembrar da imagem frágil da irmã dois anos antes ainda o dilacerava por dentro. Eram memórias que ele fazia de tudo para afugentar em sua mente, embora algumas vezes elas ainda o assolassem.

— Você continua bem, né? - ele a observou cautelosamente, procurando qualquer vacilada nos olhos verdes de Grace.

— Sim, Hunter Nenhuma recaída. Prometo - ela deu um doce sorriso em resposta. - Don’t worry, ok?

— Eu te amo - Hunter beijou a face dela.

— Eu também te amo - ela lhe beijou de volta.

— Gracie! - Natalie os chamou da sala. - Já entreguei o presente de todo mundo. Falta só vocês. - ela parecia uma criança ansiosa para dar uma novidade.

Os irmãos sorriram antes de se soltar e ir até a garota de sardas. Grace saiu correndo na frente.

— Qual é, Grace? - Hunter franziu o cenho, abrindo os braços ao alcançar as duas.

— Vou ser a primeira, não quero saber - Grace olhou com desdém por cima do próprio ombro para olhar o irmão se aproximar.

— Natalie? - Hunter chamou a garota no intuito de fazê-la mudar aquela situação.

— Ela chegou primeiro, sorry - Natalie levantou os ombros em sinal de defesa, o que fez Hunter rolar os olhos divertidamente e sair dali para se juntar à Luke e Anna perto da lareira digital.

Grace esticou as mãos quando viu Natalie pegar um pacote retangular de cor rosa pink cintilante.

— Espero que goste, porque sei o quanto você ficou de olho nisso desde que a viu - Natalie comentou enquanto observava ansiosamente Grace desembrulhar o presente.

Natalie viu um sorriso surpreso surgir nos lábios da loira à sua frente. Ela segurava a versão branca da Polaroid Snap, uma câmera inspirada na Polaroid convencional, com a diferença de que esta possuía uma tela traseira que lhe permitia decidir imprimir a fotografia tirada ou não. Aquela era câmera que Natalie havia usado em um dos passeios com ela por New York dias atrás e pela qual ela havia se apaixonado instantaneamente.

— Natalie…! - Grace olhava maravilhada para a câmera, depois para a garota de sardas repetidamente. - É a sua? - Natalie assentiu, sorrindo. - Eu não posso aceitar, eu…

— Não só pode como vai. É o meu presente pra você, está novinha. Esse modelo ainda não chegou no Reino Unido - ela se aproximou de Grace para mostrar algumas funções. - Eu queria ter lhe comprado uma, mas já estava muito em cima da hora, então decidi dar a minha. Posso comprar outra depois das festividades, não se preocupe.

Grace olhou para Hunter ao longe, que observava a cena com um sorriso de canto e as mãos nos bolsos da calça. Voltou a olhar para Natalie e abraçou forte, fazendo Natalie rir e retribuir o gesto.

— Obrigada, de verdade.

— Espero que a aproveite como se deve.

— Com certeza. E a minha primeira foto será com você!

A loira colocou a câmera no timer e apoiou-a sobre a uma pequena estante, puxando Natalie para uma pose rapidamente. Após o flash, Grace correu na direção da câmera para verificar a foto. Natalie a acompanhou. Viu as duas na tela da Polaroid abraçadas e fazendo careta, lado a lado. Grace apertou a função P&B com cópia dupla. Não demorou muito para que as fotos fossem impressas. Demorou uns 20 segundos até que o papel finalmente as revelasse:

Grace sorriu e estendeu uma das cópias para Natalie:

— Uma é pra você.

— Obrigada - Natalie pegou a fotografia.

— Não, eu quem agradeço. Não só por esse presente incrível, mas por ser a melhor coisa que aconteceu ao meu irmão nos últimos tempos.

Natalie deu um sorriso sem graça, abaixando o rosto minimamente.

— Que isso…

— Falo sério, Nats. Ele pode parecer um completo babaca quando se trata de mulheres, mas a verdade é que ele já passou por maus bocados.

Natalie torceu o rosto em resposta, a confusão expressa em toda a sua face.

— Do que tá falando?

Grace olhou para Hunter por cima do ombro de Natalie para se certificar que ele estava longe e distraído o suficiente para não escutá-las. Em seguida, puxou a garota de sardas para se sentar no sofá. Respirou fundo enquanto depositava o presente e a fotografia entre ela e Natalie.

— Acho que muita coisa que não fazia sentido sobre o Hunter passará a fazer agora - Natalie sentiu seu coração acelerar ao ouvir Grace falar. - Acho que você já percebeu o quanto ele é meio surtado quando o assunto sou eu.

— Sim, eu entendo. Ele me contou sobre a sua mãe e… - Natalie se apressou em justificar que compreendia toda aquela situação, mas Grace a interrompeu, apoiando a mão no joelho dela.

— Não é só isso. - Natalie a olhou atenciosamente, tensa. - Há uns dois anos atrás eu tive um problema com… Vícios - Grace deu uma pausa como se escolhesse as palavras cuidadosamente. - Foi um momento bem maluco… O Hunter estava em turnê e ficava indo e voltando para a Inglaterra por minha causa - ela deu um sorriso meio sem graça, olhando para a própria mão depositada no joelho de Natalie. - E enquanto ele e meus pais se descabelavam de preocupação, eu não dava a mínima. A única pessoa a quem eu dava ouvidos era Alina Stacey.

— Stacey… - Natalie repetiu baixo, mais para si mesma do que para Grace. Lembrava-se de ter ouvido esse sobrenome - que ela achava ser nome até então - em meio algumas conversas da Elite Four. Da discussão de Hans e Hunter no diner quando estavam em turnê. Também havia ouvido Grace pronunciá-lo algumas vezes, e Hunter sempre a repreendia de alguma forma por isso. Se sentia confusa.

— Sei que já me ouviu falar dela algumas vezes - Grace parecia ter lido seus pensamentos. - Bem… Alina Stacey foi uma das namoradas de Hunter. A última que ele realmente levou a sério.

Natalie prendeu a respiração por alguns instantes como se estivesse se preparando para o oceano de revelações que lhe afogaria a naquele momento. Sentia-se nervosa sem nem saber o por quê. As batidas violentas de seu coração pareciam estender-se até as pontas dos dedos, que começavam a formigar. Grace continuou:

— Alina era uma modelo escocesa em início de carreira quando Hunter a conheceu em uma de suas turnês pela Europa. E não demorou muito para que ele se apaixonasse completamente por ela. Não existia mais ninguém além dela pra ele. Todos os lugares onde ele ia, Alina estava junto. E é claro que ela logo foi apresentada à família. Era algo avassalador, sinceramente falando. E todos a amaram logo de cara, não tinha como não amá-la. Era como se ela houvesse nos enfeitiçado, assim como fez com o Hunter - ela deu uma risada fraca meio descrente. - E bom, nós viramos grandes amigas, saíamos com a Elite Four com frequência, e mesmo sem eles. Nos reuníamos para usar drogas e beber… - Natalie não conseguiu esconder a surpresa naquele instante, e Grace deu um sorriso fraco. - Hunter não se importava, afinal ele também usava. Mas era só maconha, nada demais - ela parecia tentar se explicar. - Eram noites e noites de festas e diversão pura. Fazíamos tudo juntos. Até que em uma noite a Elite Four estava em show… E eu e a Alina estávamos em uma festa que a maconha havia acabado… - Grace molhou os lábios nervosamente enquanto ela acessava memórias que há tempos estavam enterradas. - Ela me convenceu a fazer uma exceção. Uma exceção que já não era para ela há algum tempo e que eu só fui descobrir no momento em que ela me mostrou como aplicar a… heroína. Ela parecia bem íntima com aquilo, sabe? - Grace sentiu o joelho de Natalie tenso embaixo de sua mão quando ela mencionou a palavra “heroína” em sua história.

— Meu Deus, Gracie… - Natalie sentia seus lábios secos como o deserto.

— É, eu sei - a garota respirou fundo. - E a minha exceção, na mesma noite, virou quase única opção. Alina e eu nos encontrávamos diariamente, nos tornamos ainda mais grudadas, cúmplices de um mesmo segredo que nos tornou reféns, uma da outra. Tanto para sustentar o vício quanto para sustentar a imagem perante a minha família.

— E o Hunter?

— O Hunter nem sonhava com isso. Quando estávamos com ele e a banda, encenávamos e nos contentávamos com a maconha. Era o jeito.

Natalie passou as mãos pelos cabelos. Estava pasma com cada detalhe.

— Até que um dia não deu mais pra esconder. Eu tive a minha primeira overdose no quarto da Alina enquanto esperávamos pelo Hunter. Quando ele chegou, me viu no chão, e… - ela interrompeu a si mesma para conter a emoção que se juntava em sua garganta, deixando sua voz trêmula. - Foi o início de um pesadelo, porque a Alina me fez prometer que não contaria ao Hunter o envolvimento dela, pois ele a odiaria. A história era, que basicamente, eu era a viciada que a Alina vinha acobertando. Em troca, ela continuaria a me abastecer com o que eu quisesse usar. E eu… aceitei. Deu certo por algum tempo… Até que o Hunter interceptou o nosso fornecedor e descobriu que a mente por trás de tudo era a Alina. Foi uma merda, um escândalo… Acho que nada o destruiu tanto quanto aquela traição. A garota que ele amava não só era uma viciada que levou a irmãzinha dele para o fundo do poço como a chantageou para que continuassem com a farsa e o uso desenfreado da heroína. - ela viu Natalie jogar o corpo para trás, no encosto do sofá. - Eles terminaram, obviamente… E bom. Desde então, o Hunter nunca mais quis saber de mulher nenhuma que não fosse para diversão. Não quis mais ninguém para se aproximar da família ou fazer parte da rotina. Acho que também já dá pra entender o desespero dele de me ver em uma festa, né? - Grace sorriu para tentar encorajar Natalie a sorrir também, mas não deu certo. Ela observou a garota de sardas encarar o teto alto do apartamento como se algo lhe a tivesse atingido em cheio. - Me desculpe. Acho que eu não deveria ter te contado isso assim. Não queria estragar o seu Natal. Hunter fala que eu sou a pessoa mais sem noção do universo.

— Não, G. Eu só… Não sei o que falar. God, eu nem consigo imaginar o que vocês todos passaram… Seus pais, o Hunter… Você, principalmente. Eu nunca imaginei o que… - Natalie desencostou do sofá.

— O que estava por trás de toda essa bagunça que é o Hunter Saxton? - Grace deu um sorriso fraco. - Ela passou a observar Hunter conversando animadamente com Luke, e Natalie acompanhou o olhar dela. - É por isso que eu estou tão feliz por ele ter encontrado você, Natalie. É uma ruptura com tudo isso de ruim que eu o fiz passar - Grace finalmente tomou coragem para segurar a mão dela.

— Não foi culpa sua, não fala isso. - Natalie apertou a mãe de Grace levemente, tendo mostrar apoio. No entanto, sentia que falhava na missão, pois sentia o baque daquelas revelações totalmente expressas em seu rosto.

— Foi, de certa forma. E não há nada nessa vida que eu queira mais do que ver o meu irmão bem e confiando em alguém de novo para depositar a felicidade dele.

Natalie se desmanchou com as palavras da garota, e ela a olhou com toda a doçura que seus olhos cor de mel eram capazes de emanar.

— Grace - Natalie olhou fundo nos olhos verde-escuros da jovem. - Eu prometo… Que enquanto o Hunter me permitir, eu o amarei com todo o meu coração e farei de tudo para vê-lo feliz.

Natalie notou que os olhos de Grace ficaram levemente marejados, e a garota precisou passar a mão em seu rosto para impedir que qualquer lágrima lhe escapasse. A loira então deixou que um sorriso surgisse no seu lugar.

— Eu sei. Eu confio em você.

As duas trocavam sorrisos doces e fraternais quando Hunter finalmente voltou a se aproximar, ficando atrás do sofá.

— Será que as duas já acabaram de tricotar? - Hunter se inclinou sobre o encosto para que seu rosto ficasse na mesma altura das garotas.

— Ele é sempre intrometido assim? - Grace brincou, apontando para Hunter com o dedão.

— You tell ME. Foi praticamente assim que ele me abordou quando nos conhecemos - Natalie olhou para Hunter com um sorriso malandro que o fez rir.

— Caso vocês não se lembrem, eu sou o único que ainda não ganhou o presente - ele respondeu como uma criança irritada por ser o último.

Grace sorriu carinhosamente antes de se apoiar na perna de Natalie para levantar-se e sair dali com o presente que recebera em mãos. A castanha também se levantou, guardando a foto que tirou com Grace em seu bolso traseiro e se apressou em ir até a árvore para buscar o pacote prateado em formato de caixa cúbica que jazia logo abaixo dela. Percebeu que Hunter a seguira quando se virou e quase trombou com ele. Notou o encarando o pacote nas mãos dela com um expressão séria e carregada de ansiedade. Viu o pomo de Adão dele subir e descer em sua garganta nervosamente e conteve a vontade de rir. Adora vê-lo inundado de sentimentos que não costumavam lhe pertencer. Era fofo.

Ela ficou a encarar Hunter por algum tempo quando lembrou-se da história que Grace havia lhe contado minutos antes. Sua traqueia se fechou minimamente só de pensar no sofrimento pelo qual seu Hunter havia passado. O quanto aquilo o havia traumatizado de tal forma que a casca de mulherengo foi a forma que ele encontrou para se proteger e evitar que sua irmãzinha se machucasse também. Pensou na complexidade do ser humano e em como era incrível que cada um cria seus mecanismos de defesa à sua maneira. Ela era um outro exemplo prático quando o assunto era Izaac ou relacionamentos.

Respirou fundo. Decidiu que não comentaria nada com Hunter sobre a conversa com Grace. Pelo menos por enquanto. Já o conhecia bem o suficiente para saber que aquela conversa poderia retraí-lo. Além do mais, era Natal. Não precisavam daquela conversa. Não naquele momento.

— Desistiu de me dar o presente? - ele sorriu de canto, olhando-a com certo um nervosismo.

— Estava pensando se Hunter Saxton realmente foi um bom menino este ano para que o Papai Noel  se lembrasse dele - Natalie brincou, entortando a cabeça minimamente e dando uma piscadela. O comentário dela os fez rir. A garota estendeu o embrulho a Hunter, que o aceitou prontamente. - Espero que goste. Tentei inovar e te dar algo que você ainda não tivesse, se é que é possível.

Hunter rolou os olhos e riu fracamente ao passo de que começou a abrir o presente com cuidado para não estragar o embrulho. A impaciência de Natalie quase a fez arrancar o pacote das mãos dele e rasgar o papel de uma vez.

O rapaz de cabelos compridos abriu a caixa preta cúbica e virou-a sobre a palma da mão direita, revelando um globo de neve de tamanho médio. Os olhos verdes de Hunter buscaram o rosto de Natalie tentando encontrar uma resposta. Ela observou-o rapidamente antes de voltar a atenção para o globo. Ele a imitou.

Ao aproximar o souvenir dos olhos para observá-lo mais detalhadamente, não conseguiu evitar que seus lábios formassem um enorme sorriso. Hunter já não sabia se olhava para o globo ou para Natalie, que naquele ponto também já estava sorrindo feito boba.

Aquele não era um globo de neve comum. Em vez de trazer pontos turístico clichês, Natalie o havia mandado ser personalizado com a miniatura da Throgs Neck Bridge e seu longo caminho de pedras, o local favorito de Hunter em New York. O mesmo local ao qual ele a havia levado na noite em que Steve e ela haviam fechado o contrato. Onde Hunter e ela haviam trocado confidências e se beijaram sem arrependimentos.

Ao chacoalhar o objeto, os pontinhos que simulavam a neve caíam sobre a ponte lentamente devido à mistura com água que o globo trazia.

Hunter soltou um riso fraco e anasalado. Estava maravilhado com a sensibilidade e criatividade de Natalie. Com a capacidade dela conseguir surpreendê-lo de maneira tão simples e cheia de significado.

Ele acabou com o espaço que havia entre os dois, dando-lhe um selinho demorado, abraçando-a em seguida.

— Você é incrível. Obrigado, love - Hunter então se afastou com os olhos levemente arregalados, como se um lampejo o houvesse atingido e ele houvesse se lembrado de algo. - Eu também tenho um presente pra você.

Natalie o observou com certa surpresa.

— Achei que meu presente houvesse sido a música.

— E foi. Mas você não será a única a escutá-la, e isso não é justo. Então pensei em te dar uma coisa que terá um significado só nosso.

Natalie o observou colocar as mãos atrás do próprio pescoço. E então ela percebeu que ele estava tirando o colar de crucifixo. Seu coração começou a palpitar desesperadamente dentro de seu peito.

— Hunter…

— A ideia é que você não só se sinta protegida, mas tenha um pedaço de mim sempre junto de você - ele fez um gesto com uma das mãos, indicando para que ela se virasse de costas para ele. Natalie afastou o cabelo enquanto ele envolveu o pescoço dela com o colar. A garota sentiu o pingente prateado repousar em sua pele. Seus lábios lhe desobedeceram e ela sorriu, virando-se para ele, que completou a sua sentença olhando-a nos olhos e segurando-a levemente pelo queixo. - Perto do lugar onde eu sempre quero estar: no seu coração. Esse colar tem um significado muito importante pra mim. Foi a minha avó quem me deu. E eu gostaria que você cuidasse dele. Pode fazer isso pra mim?

Natalie conteve o soluço que se formou em sua garganta e pulou no pescoço de Hunter para um abraço apertado. Aquele era o seu “sim”.

— Eu te amo.

— Eu também te amo.


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Notas finais do capítulo

O coração de alguém parou em algum momento aí?



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