Natalie estava terminando de realizar uma publicação no blog da Elite Four quando Anna e Grace irromperam na sala privativa do estúdio de gravação na qual ela costumava se isolar quando precisava produzir. Dois dias já haviam se passado desde o baile de máscaras - ou o baile da reconciliação, como Natalie decidiu nomear, já que fora a data de reconciliação e início de namoro de Anna e Luke, além da reconciliação dela própria com Hunter.

As coisas não podiam estar melhores. Natalie e Anna estavam de férias da faculdade por conta do Winter Break que anunciava a chegada do Natal dali a dois dias. Além disso, Natalie já havia desenvolvido um grande laço de amizade com Grace nos últimos dias em que passou no apartamento de Hunter, e pareciam que se conheciam há uma eternidade. Descobriram que possuíam dois hobbies em comum: tirar fotos e irritar Hunter Saxton. Quando saíram para fazer as compras de Natal e da ceia, trocaram figurinhas valiosas sobre novas descobertas para provocá-lo com algo que a outra não sabia.

— Você acha uma afronta? Imagina eu, que sou irmã de um dos integrantes?! - Grace comentou enquanto se sentava sobre a mesa, perto do notebook de Natalie, chamando a atenção da garota de sardas no mesmo instante.

— Eu sou a namorada, a musa dos pensamentos do Luke. Isso está decididamente errado. Não é, Nats? - Anna bufou cruzou os braços e surgiu no ângulo de visão da amiga. Ela a olhava como se pedisse apoio moral.

— Bem-vinda. Hunter me expulsa o tempo todo. - Natalie sorriu conformada - Depois de um tempo você só aceita que dói menos, acredite.

Natalie atualizou a página e observou a mágica da tempestade de comentários aparecerem no novo post. Começou a passar os olhos pelos textos e fotos postados por fãs. As especulações sobre um possível relacionamento dela com algum integrante não esfriavam nunca. A cada nova postagem no diário de bordo da banda, era mais uma enxurrada de teorias malucas que a tornavam namorada de Hans, Thomas e Hunter - Luke já havia divulgado estar namorando uma outra pessoa, e isso o eliminou como possibilidade instantaneamente.

Uma postagem com uma foto em especial lhe chamou a atenção:

É você, não é? Por que não admitem logo que se amam?

Embaixo do texto havia uma foto amadora que mostrava Hunter conversando com uma garota que estava de costas para a lente e ainda se escondia embaixo de um grande chapéu. O grande chapéu que Anna havia lhe emprestado para as compras de Natal. (FOTO)

Olhou surpresa para a foto, pois não se lembrava de ver ninguém próximo deles naquela tarde. Lembrava-se exatamente daquele momento, pois ela e Hunter estavam esperando Grace sair de uma loja e conversavam animadamente do lado de fora. Não havia se escondido propositalmente com o chapéu, mas ficou grata por tê-lo feito.

— Essas fãs são ninjas ou o quê? - Natalie comentou mais para si mesma do que para as garotas, que se apressaram em alcançar o notebook para ver sobre o que ela falava.

— Por que vocês não assumem de uma vez? - Anna comentou enquanto lia o post da foto.

— Se isso tem a ver com o meu irmão…

— Não tem a ver com ele. - Natalie interrompeu Grace - Nós só decidimos que talvez não fosse o melhor momento, sei lá. É muito cedo.

— Se fosse assim tão cedo, ele não estaria… - Grace cortou a si mesma, olhando Natalie com uma expressão de choque, como se estivesse prestes a revelar algo que não devia - Não estaria todo idiota por você. - ela completou convincentemente.

— Temos aí uma baita de uma reciprocidade, então, porque a Natalie também tá toda idiota por ele. - Anna riu quando sentiu Natalie lhe dar um empurrão. A garota de sardas também riu.

— Sinceramente? Não estou preparada para uma mudança tão drástica na minha vida em que serei seguida pelas ruas de New York apenas por namorar um cara da Elite Four. - a castanha confessou.

Natalie voltou a olhar a foto na tela do notebook. Precisava admitir mentalmente a si mesma que havia gostado da foto, mesmo tremida. Era como se um segredo houvesse sido gravado para sempre naquela imagem. E de fato, era mesmo um segredo eternizado. Anna a tirou de seu devaneio:

— Ah, qual é! Eu mal posso esperar para estampar as capas das revistas com meus modelitos maravilhosos e minhas maquiagens lacradoras. - a morena comentou em tom de brincadeira. Depois seu semblante foi ficando mais sério - Na verdade, não estava pensando sob essa ótica, mas agora que você falou e eu me lembrei que o Luke e eu estamos juntos… Pode ser meio… Complicado.

— É, isso é mesmo um pé no saco. Passo por isso constantemente por ser a “irmã de Hunter Saxton”. Nem nome tenho nas chamadas dos tabloides, acredita? - Grace riu, fazendo Anna e Natalie a acompanharem - Mas acho que é ainda pior quando se é “‘namorada”. Quer dizer… Você tem que passar por toda uma aprovação pública. Stacey...

— Heeeey! - Hunter adentrou na sala interrompendo a irmã e lançando-lhe um olhar que só ela conseguiu entender o significado, pois ela arregalou os grandes olhos verdes em resposta, como se houvesse sido pega no flagra fazendo algo de errado. - Já descobriram o esconderijo da Natalie, então?

— Precisávamos encontrar um lugar para ficar depois que vocês fizeram o favor de nos expulsar da sala de gravação, não é mesmo? - Anna levantou as sobrancelhas divertidamente.

Hunter riu baixo e levantou os ombros e as mãos em sinal de rendimento.

— Em minha defesa, vim dar uma notícia. - as garotas o olharam confusas - Vamos ter de adiantar alguns pratos do jantar para não atrasar a ceia na véspera.

— Como assim, Hunter Saxton? - Grace apoiou as duas mãos na cintura e olhando-o ameaçadoramente.

— Calma. - ele pediu, vendo a expressão da irmã - Acabamos de ser convidados para a apresentação especial de Natal ao vivo do programa do Jimmy Fallon, na véspera.

— Shut up!— Anna deu pulinhos de excitação.

— Não acredito! Eu AMO o Jimmy Fallon. - Natalie se levantou da cadeira, acompanhando Anna.

— E tem mais. - a voz de Hunter fez com que as duas parassem de pular e se juntassem à Grace para ouvi-lo com atenção - Como surpresa, apresentaremos o primeiro single do novo CD.

Grace arqueou as sobrancelhas sugestivamente. Um sorriso de canto que soava como pura traquinagem surgiu nos lábios dela de maneira cúmplice enquanto ela encarava o irmão, que parecia fazer um esforço tremendo para disfarçar e conter a reação.

— Não acredito que você vai me fazer ouvir a música inédita junto com os fãs. - Natalie cruzou os braços um tanto chateada - Isso é super injusto, faço parte da equipe.

— São ordens do Steve, Freckles. I’m sorry. - Hunter se apressou em tomá-la em seus braços, beijando-lhe a têmpora delicadamente.

Quando o rapaz afastou os lábios da pele dela, Natalie capturou um semblante um tanto desanimado em Hunter. Uma fina linha de expressão surgia entre as sobrancelhas enquanto ele pressionava a mandíbula levemente.

— Tá tudo bem?

— Claro… Por que não estaria? - Hunter deu um leve sorriso com os lábios, tentando soar o mais convincente possível.

Hunter odiava admitir, mas Natalie estava certa. Nem tudo estava tão bem assim. Antes de entrar na sala, ele escutou um pouco da conversa das garotas, e não pôde deixar de ouvir Natalie falando que não estava preparada para ser a namorada de um integrante da Elite Four. Pelo menos não publicamente.

Não que ele não a compreendesse. Pelo contrário. Ele até havia concordado no primeiro instante em que ela sugeriu um relacionamento “secreto” no início. Mas o jogo estava mudando. A vontade que ele tinha de escancarar a relação dos dois se intensificava. O fato de não poder segurar a sua mão ou demonstrar qualquer afeto em público já o estava consumindo. Nunca havia se importado com qualquer coisa do gênero,  mas já não aguentava ter de conter seus impulsos em todos os lugares em que estavam juntos.

Ele já tinha quase tudo planejado para divulgar o relacionamento, e de repente todo o esquema parecia ter caído por terra, pois Natalie confessou - mesmo sem saber - que não compartilhava do mesmo sentimento de revelar a união dos dois.

— Tem certeza? - Natalie sustentou o olhar firmemente, observando a imensidão do oceano verde que inundava os olhos dele. Procurava respostas.

— Vamo parar de deixar os amiguinhos de vela? Thanks. - Grace cantarolou, interrompendo aquele momento. Hunter prometeu  mentalmente que a agradeceria mais tarde.

— Certo, tenho que voltar para a gravação… - Hunter deu um sorriso fraco para Natalie antes de sair dali.

Natalie ficou encarando a porta por alguns instantes sem entender aquela situação. Depois girou os calcanhares na direção de Grace.

— O que deu nele?

— Sei lá. Ele é o Hunter, você sabe. - Grace deu de ombros e voltou a olhar para o notebook, como se estivesse mais interessada nos comentários da postagem do que em Natalie, de fato. Aquele foi o único jeito de evitar dar com a língua nos dentes.

A garota de sardas finalmente olhou para a melhor amiga, como se ela pudesse ter a resposta para aquilo. Mas tudo o que Anna fez foi balançar os ombros também.

**

— Hunter, nem parece que você era o galã da porra toda por aqui. Qual foi? - Grace gesticulou com os braços abertos impacientemente enquanto andava de um lado para o outro no meio da sala do apartamento de Hunter.

— Eu ouvi vocês. Ouvi o que ela disse. - ele comentou, sentado no sofá. Os antebraços apoiados sobre os joelhos.

Grace esvaziou os pulmões, soltando o ar de uma vez e rolando os olhos.

— Você acha mesmo que ela vai se lembrar disso quando você concretizar seu plano no programa do Jimmy Fallon? Qualquer garota morreria por isso, e você sabe.

— Grace. Parou. - Hunter se levantou para encarar a irmã nos olhos. Ele estava inquieto e aflito - Eu estou nervoso as fuck. Nunca fiz nada parecido, então você pode, por favor…

Grace não conseguiu evitar um sorriso que rasgou os seus lábios quando um clique parecia tê-la atingido.

— Dear Lord, você está com medo! - ela tampou a boca com as duas mãos, como se estivesse comovida com aquela constatação. Foi a vez de Hunter rolar os olhos.

— Ok, chega. - ele já estava se preparando para sair quando a caçula o segurou pelo pulso.

— Não estou tirando com a sua cara, maninho. - ela tentou conter o sorriso mas seu olhar continuava a entregá-la - Eu estou realmente feliz por vê-lo assim, tão envolvido, de verdade. - Hunter soltou o ar lentamente, olhando a irmã carinhosamente - E eu entendo todo o seu nervosismo, porque ela é incrível, um verdadeiro achado. - ela sorriu para o castanho - É ótimo te ver assim depois de tanto tempo. Sei que a Stacey…

— Grace. Quer parar de falar nesse nome? Principalmente na presença dos ouvidos da Natalie.

Os braços da loira pareciam ter se desprendido dos ombros dela enquanto os lábios finos formavam um “O”.

— Ela não sabe? - foi tudo o que ela foi capaz de perguntar.

— Algum motivo para ela saber? - Hunter levantou as sobrancelhas.

— Algum motivo para ela NÃO saber? - Grace o imitou - Todo relacionamento chega na fase de falar sobre ex’s, você sabe.

— Bom, ainda não chegamos lá. - Hunter deu de ombros e se soltou da irmã - Se não percebeu, estamos na fase de tentar assumir um relacionamento publicamente. De qualquer forma, cut the crap, ouviu? Você está me saindo uma bela de uma fofoqueira, Grace Anne Saxton - o rapaz tatuado se jogou sobre o sofá, deitando-se e apoiando os pés no braço do móvel.

Grace lhe jogou uma almofada no rosto, fazendo-o arfar com irritação.

— What a fuck? Não fofoquei nada!

— Mas quase fofocou. Eu ouvi a conversa, você quase falou sobre a música. O que aconteceu com o nosso código de sangue?

— QUASE, mas não falei. FOI SEM QUERER, é difícil esconder as coisas quando você gosta da pessoa. - Hunter sorriu de canto ao ouvir a última parte. Gostava de saber que sua irmã aprovava Natalie - Fazer isso com a Natalie me deixa nervosa.

— Fazer o que comigo te deixa nervosa?

Hunter e Grace pularam de susto no mesmo instante em que ouviram a voz de Natalie preencher o ambiente. O rapaz se sentou desajeitado quando viu a garota entrar na sala, seguida por Hans, que vinha carregando algumas sacolas de compras. Ele e o amigo trocaram olhares atordoados com Grace.

Natalie parou no meio da sala, observando as feições do trio sem entender nada. Alguma coisa estava acontecendo, e se sentir por fora já a estava irritando. Havia passado a tarde com Hans e toda vez que ela mencionava o nome de Hunter ou tentava arrancar algo sobre a maneira estranha com que o rapaz a vinha tratando desde o dia anterior, o loiro estalava os olhos azuis que mais pareciam bolas de gude e se aprontava em mudar o rumo da conversa. Até sobre panelas de antiaderência Hans conversou para driblar as perguntas dela naquela tarde de compras dos ingredientes que faltavam para as receitas da ceia de Natal.

Quando percebeu o olhar que denunciava a cumplicidade entre os três, concentrou sua atenção em Hans com certo desgosto.

— Hans, você falou que não sabia de nada.

— Mas eu não sei! - o irlandês soltou as sacolas no chão em sinal de defesa quando Natalie o acusou. Odiava mentir para ela.

— Ok, cansei de ficar de fora do trio parada dura. Vou pra casa. Volto quando vocês pararem de segredinhos. - Natalie ajeitou a bolsa no ombro e se encaminhou para a porta de entrada que ainda estava aberta.

— Nats…! - Hans correu até a amiga, mas não conseguiu segui-la, pois ela fechou a porta em sua cara.

Hans suspirou pesadamente antes de se virar para Grace e Hunter. Sentou-se no sofá de frente para o amigo.

— Ok, Hunter. Você precisa resolver isso logo porque a Natalie está me infernizando. Ficou a tarde inteira tentando arrancar uma explicação do seu modo “distante”. E eu só fingindo demência.

— Então não foi tão difícil assim. - Hunter provocou, risonho. Hans lhe devolveu uma careta. (GIF)

— Fuck you. Agora ela tá puta comigo porque você não sabe nem fazer uma surpresa. - Hans franziu o cenho.

— Ela é intimidadora, você sabe! - Hunter gesticulou com os braços esticados na direção do melhor amigo - Ela sempre fica por um fio de descobrir, não consigo.

— Eu também não! - Grace escondeu o rosto com as mãos. - Acho que vamos ter de dar um tempo com a Natalie até essa apresentação da véspera, sinceramente. Ô menininha difícil.

— Bem-vindos ao meu mundo. - Hunter abriu os braços.

**

Natalie chegou em casa batendo a porta, assustando Anna e Luke, que pareciam estar em uma situação um tanto constrangedora no sofá da sala. A garota de sardas se deu conta assim que a cabeça descabelada de Anna surgiu no seu ângulo de visão enquanto ela se levantava desajeitadamente e  arrumava a alça da blusinha que estava vestindo. Viu um Luke ofegante se sentar corretamente no sofá. Se Natalie não estivesse tão irritada, teria ficado sem-graça. Mas sua raiva era maior do que qualquer coisa no momento.

— O-oi, Nats! Não estava esperando que você voltasse pra casa hoje. - Anna falou um pouco risonha.

— Mudança de planos.

Anna e Luke a acompanharam com o olhar quando ela foi até a cozinha pegar um copo d’água. Em seguida, se entreolharam sem entender o porquê da irritabilidade da garota da pele de neve.

— Que bicho te mordeu? - a respiração de Luke já voltava a ficar compassada.

— Não sei, você quem me diz. - Luke torceu o rosto, expressando confusão - Ah, esquece. Perguntar é perda de tempo. - ela rolou os olhos antes de dar um grande gole de sua água.

— Do que você tá falando, afinal? - Anna arqueou as sobrancelhas e se ajoelhou no assento do sofá, apoiando seus braços e cabeça no encosto do móvel.

— Ao que parece, a Elite Four resolveu se juntar à Grace e conspirar contra mim.

Luke engasgou com a própria saliva, contendo o riso que se formou em sua garganta. O ato fez Natalie olhá-lo com insatisfação.

— What a what?— Anna estreitou os olhos escuros, entortando a cabeça.

— O Hunter tá todo estranho, mal conversa comigo e parece que arranja todo tipo de oportunidade pra me manter longe. E parece que todo mundo sabe do que se trata, menos eu. - Natalie falou tudo em um único fôlego - E toda vez que pergunto, as pessoas fazem demência e me tratam como demente. - ela bateu o copo de vidro no balcão que dividia a cozinha e a sala, fazendo Anna e Luke piscarem no mesmo instante em que o objeto encostou na superfície com certa violência. Finalmente voltou seus olhos cor de mel à amiga - Você por acaso sabe e também está me escondendo, Anna?

A morena arregalou os olhos no mesmo instante.

— God, no, Natalie. Você sabe que não. Não faço a menor ideia do que tá rolando.

Anna olhou para Luke com desconfiança, depois voltou a atenção à amiga, que também observava a reação de Luke. Natalie conhecia a melhor amiga o suficiente para saber quando ela estava mentindo - e aquele decididamente não era o caso. Mas algo dizia que Luke sabia perfeitamente do que se tratava. Ela continuou a sustentar o olhar sobre o rapaz, que pareceu engolir em seco. O gesto o entregou por completo, fazendo-a soltar o ar impacientemente.

— Não quero saber de vocês até o programa do Jimmy Fallon. - Natalie apontou o dedo acusadoramente na direção de Luke - E avise ao Hunter que isso vale para ele também, ok? Eu só vou porque tenho que cobrir aquela merda.

Ela nem deixou Luke responder. Encaminhou-se para seu quarto a passos rápidos e pesados.

— Espero sinceramente que não estejam encobrindo alguma merda do Hunter. Se for isso, Luke, I swear to God I will…— Anna falou entredentes, repreendendo-o.

— Sim! Quer dizer, não…! - Luke chacoalhou a cabeça em um misto de confusão e nervosismo. - Anna, não me pergunte nada, ok? Vou ao banheiro.

O rapaz se levantou rapidamente em direção do banheiro. Anna o acompanhou com o olhar.

— Estou de olho, Luke Parish. ESTOU DE OLHO.

**

Hunter estava agradecendo aos céus quando Luke trouxe a mensagem de Natalie sobre ela não querer contato até a véspera de Natal - também conhecido como o fatídico dia de gravação do programa ao vivo do Jimmy Fallon. Mas isso não o impediu de infestar o celular da garota de sardas com mensagens e ligações que foram totalmente ignoradas ao longo dos dois dias que se sucederam. E aquilo decididamente o enlouquecera. Só então se deu conta do quão viciado estava em Natalie Kalkmann e o quanto precisava dela em seu sistema.

Estava apreensivo enquanto se preparava no camarim do programa. A ansiedade para encontrá-la naquele dia o consumia mais a cada segundo.

Vestiu a camisa rosa de bolinhas brancas imaginando a garota caçoando dele. Natalie costumava dizer que ele tinha gosto por roupas de rockstar bêbado e falido. Lembrar daquela afirmação o fez rir baixo. (FOTO)

Nunca havia trabalhado tanto na composição e gravação de uma música como trabalhou na canção escrita para ela. Escreveu e reescreveu a letra milhares de vezes durante dias até que a poesia beirasse o que considerava a perfeição. Depois foram mais dias que levaram seus amigos e toda a equipe do estúdio à exaustão.

Hunter raramente fazia algo sob as expectativas de alguém porque não gostava que depositassem qualquer tipo sentimento que ele não pudesse corresponder. Por isso não estava acostumado com a preocupação que o assolava.

— Você sabe a contagem para começar, certo? - Hunter olhou para Thomas, que estava afundado em um pufe. O rapaz tinha a sua atenção voltada a um joguinho em seu celular.

— Relaxa, Haz. Nunca errei contagem, não vou errar agora. - Thomas respondeu sem olhar o amigo.

— Não esquece que trocamos o tom da segunda voz do refrão. - Hunter jogou o cabelo para trás enquanto se aproximava.

Thomas suspirou impacientemente.

— Hunter. - ele pausou o jogo para olhar para Hunter - RELAXA. Você já tá deixando todo mundo louco com essa neurose e eu não vou deixar que faça o mesmo comigo. Todo mundo vai gostar. A Natalie vai gostar. Agora respira ou eu não respondo por mim e conto tudo pra ela.

— Será que você vai ser o único que vai me contar? - era Natalie quem chegava a passos firmes enquanto colocava seu equipamento sobre a mesa para desempacotá-lo. Ela nem se deu o trabalho de direcionar o olhar para eles, que naquele momento estavam petrificados, se entreolhando. Ela finalmente se aproximou dos garotos já com a câmera pendurada no pescoço. Os lábios estavam franzidos em um bico que entregava a raiva dela. Viu Hunter abrir a boca como se fizesse menção de dizer algo, mas nada saiu. Ela deu um riso baixo e anasalado antes de ir em direção da saída - Foi o que pensei.

Sentiram o corpo relaxar ao ouvir a porta se fechar nas costas dela.

— Holly hell! Ela é realmente assustadora. - os olhos verde-piscina de Thomas estavam tão arregalados que parecia que sairiam da órbita a qualquer instante - Sorte a minha não estar na sua pele.

— Oh. Obrigado, mate. Você é realmente ótimo quando se trata de apoiar os amigos. - Hunter lhe olhou com uma carranca no lugar do rosto, respirando fundo em seguida.

**

O momento havia chegado. Os garotos da Elite Four estavam atrás das coxias, apenas esperando para serem anunciados. Hunter manteve a cabeça apontada para baixo, os olhos fechados em busca de calma e concentração. Era como se nunca houvesse feito aquilo na vida.

E de fato: escrever uma canção e assumi-la como uma declaração para a garota por quem estava apaixonado não era algo que ele fizesse todos os dias.

Ele sentiu uma pontada na espinha dorsal quando ouviu a conhecida voz de Jimmy preencher o ambiente através das caixas de som do palco.

— Recebam agora os nossos convidados especiais que vieram para celebrar essa noite ainda mais especial! Com vocês… A banda britânica mais amada por New York City…! Venham pra cá, Luke, Hans, Thomas, Hunter! ELITE FOURRRRR!

Os garotos correram em direção do palco enquanto eram ovacionados por uma multidão a céu aberto. Jimmy Fallon costumava fazer as edições especiais do programa no meio de Manhattan, e por esse motivo as ruas estavam totalmente abarrotada de fãs, pois servia de pista para o palco construído bem na esquina da 6ª avenida com a  50th Street, próximo do Radio City Music Hall. Haviam três mini-palanques (à direita, à esquerda e ao fundo), onde as equipes de gravação do programa e membros autorizados da equipe podiam ficar. O show seria transmitido nacionalmente. (FOTO 1 | FOTO 2 | FOTO 3)

Os garotos foram, um a um, cumprimentar Jimmy com um abraço e um aperto de mão enquanto a multidão gritava ensandecida. Os olhos de HUNTER estavam atentos, em busca de Natalie, e quando não a encontrou de prontidão sentiu seu corpo tensionar. As mãos dele estavam tão suadas que o microfone acabou por escorregar por entre seus dedos, provocando um barulho ensurdecedor de interferência nas caixas de som e fazendo com que todos tampassem seus ouvidos. Hunter ficou estático, olhando para os lados, ainda em busca de Natalie.

— Hunter! HUNTER! - ele olhou para baixo rapidamente quanto ouviu a voz de Natalie vir da frente do palco. - What a fuck? Pega o microfone!

A voz e a própria imagem da garota de sardas amansaram a sua alma no mesmo instante, e ele correu na direção do microfone, que parou de soar como um grito na hora. Quando voltou a olhar para frente, viu o público encarando-o sem entender nada. Viu Natalie correr para o palanque da esquerda para tirar fotos aéreas.

— Tá dormindo, Hunter? - Jimmy brincou, fazendo os meninos e a multidão rirem em conjunto.

Hunter jogou os cabelos para trás, acompanhando o coro de risadas. Levou uma de suas mãos até a orelha para ajeitar o ponto de retorno.

— Peço desculpas se pareço um pouco distraído. Minha irmã está em um encontro. Eles estão ali no alto em algum lugar, e eu estou tentando ficar de olho. Juízo, viu? Isso é nojento! - ele brincou, fazendo o público rir novamente. Grace, que estava no mini-palanque com Anna ao fundo ao fundo, lhe mostrou a língua, rindo em seguida. (GIF)

— Quer dizer que você faz o estilo “irmão protetor”? - Jimmy não conseguiu evitar, caçoando.

— Você não faz ideia, J…! - Hans entrou na brincadeira.

— Hey! - Hunter empurrou o loiro, e a plateia riu novamente.

— Conta a verdade, vai, Haz. - Começou Thomas.

— Uuuh! - Jimmy era tão divertindo quanto se mostrava em seus programas. Qualquer coisa que saía de sua boca soava engraçado - Que verdade?

— Hunter não está nervoso pela irmã. - Luke mexeu as sobrancelhas repetida e divertidamente.

Natalie ria enquanto fazia alguns cliques ainda no palanque.

— Sabe, Jimmy… Hunter é um péssimo mentiroso. Acho melhor ele desembuchar antes que alguém seja ameaçado de morte por uma certa pessoa da equipe. - Natalie engasgou com as palavras de Tom.

Hunter respirou fundo com um sorriso um tanto tímido nos lábios. O gesto fez as garotas gritarem em resposta enquanto ele coçava a parte de trás da cabeça, se fingindo desconsertado. Ele se apressou em pegar um pedestal para encaixar o microfone e ficar mais à frente do palco.

— Ok, ok. Vocês venceram! - ele começou, levantando as mãos para o alto - Nós temos uma surpresa pra vocês esta noite. Mas é uma surpresa mais do que especial, porque além de ser véspera de Natal, essa surpresa é um presente que vocês me ajudarão a entregar. - ele parou por uns instante para recuperar o ar que lhe faltava - Hoje nós lançaremos a primeira música do nosso novo álbum, Defenceless.

Hunter teve de parar de falar, pois a multidão gritava tanto que ele conseguia sentir o palco estremecer. Sorriu em resposta aos fãs que observavam Hans, Thomas e Luke repetirem o gesto de prender os microfones nos pedestais para ficarem lado a lado. Quando a plateia se acalmou ele voltou a falar.

— Essa música representa uma revolução e uma grande transição no nosso trabalho como artistas… Mas é muito mais do que isso. Ela é muito importante pra mim, porque fala sobre uma pessoa especial que agora faz parte da minha vida. - ele molhou os lábios enquanto ouvia mais gritos.

Natalie, que estava totalmente concentrada em seu trabalho, sentiu sua coluna enrijecer enquanto saía de trás de sua câmera. Focou Hunter estupefata e percebeu que ele a olhava com um certo brilho nos olhos. Seu coração começou a se debater violentamente e ela precisou se segurar na grade do palanque, pois sentiu seus joelhos vacilarem.

— Sei que vocês já têm uma boa ideia de quem seja, mas nós estávamos nos preparando para tornar tudo isso público. E na verdade eu nem sei o que vai acontecer agora porque ela não tava sabendo disso. Então se eu sumir nas próximas horas, vocês são testemunhas. - o público gargalhou e ela soltou uma risada trêmula de onde estava. A risada tímida de Hunter também preencheu o ambiente através das caixas de som. - Hey Freckles… Natalie Kalkmann, como vocês a conhecem… - ele parou de novo porque os gritos eram ainda mais insanos, e aquilo fez Natalie esconder o rosto por alguns segundos, totalmente envergonhada. - Agora você sabe porque todos estavam se escondendo e mentindo. Essa música é sobre você… e eu.

A música se iniciou com Thomas no comando:

Perfect - One Direction

Thomas: I might never be your knight in shining armor

I might never be the one you take home to mother

And I might never be the one who brings you flowers

But I can be the one, be the one tonight

Natalie não conseguiu evitar que seus olhos marejassem quando ela começou a ouvir cada estrofe que parecia contar a história deles. Hunter não era um príncipe encantado. Nunca havia sido. Mas ele o estava sendo naquele momento.

Luke: When I first saw you

From across the room

I could tell that you were curious (Oh, yeah)

Girl, I hope you're sure

What you're looking for

'Cause I'm not good at making promises

Ela lembrou do primeiro momento em que seu olhar cruzou com o dele dentro do camarim do Madison Square Garden. De como aquela havia sido apenas a fagulha do incêndio que um provocaria na vida do outro.

Hunter: But if you like causing trouble up in hotel rooms

And if you like having secret little rendezvous

If you like to do the things

You know that we shouldn't do

Baby, I'm perfect

Baby, I'm perfect for you

Lembrou-se da discussão dos dois no corredor do hotel quando Hunter se declarou apaixonado por ela aos berros. Dos passeios às escondidas para que não fossem perseguidos por fãs em bares, restaurantes… Na Grand Central Terminal e na Throgs Neck Bridge. Era como se tudo passasse diante de seus olhos como um filme. As lágrimas corriam livres pelo seu rosto.

Todos: And if you like midnight driving with the windows down

And if you like going places

We can't even pronounce

If you like to do whatever you've been dreaming about

Baby, you're perfect

Baby, you're perfect

Hunter: So let's start right now

Hans: I might never be the hand you put your heart in

Or the arms that hold you anytime you want them

But that don't mean that we can't live here in the moment

'Cause I can be the one

You love from time to time

Hunter simplesmente não tirava os olhos dela enquanto cantava - e na altura do campeonato, uma das filmadoras também a focavam.

Olhavam-se com cumplicidade, como se estivessem tendo uma conversa que só eles fossem capazes de entender. Ele lhe mandou vários beijos e gritou algo impossível de ouvir. Mas não era necessário, pois os movimentos de seus lábios deixaram bem claros, e não só ela, mas o público entendeu:

— “I love you!”

Natalie sentiu seu coração aquecer todo o seu corpo ao passo que batia acelerado e enviava sangue para todo o seu sistema como se fosse uma urgência. Ela deixou que mais lágrimas caíssem em meio ao enorme sorriso que brotava em seus lábios enquanto ela batia palmas e o olhava com toda a ternura que seus olhos eram capazes de emitir para ele. Hunter sorriu de volta.

Luke: When I first saw you

From across the room

I could tell that you were curious (Oh, yeah)

Girl, I hope you're sure

What you're looking for

Cause I'm not good at making promises

Hunter: But if you like causing trouble up in hotel rooms

And if you like having secret little rendezvous

If you like to do the things

You know that we shouldn't do

Baby, I'm perfect

Baby, I'm perfect for you

Todos: And if you like midnight driving with the windows down

And if you like going places

We can't even pronounce

If you like to do whatever you've been dreaming about

Baby, you're perfect

Baby, you're perfect

Hunter: So let's start right now

Hunter: And if you like cameras flashing everytime we go out

(Oh, yeah)

And if you're looking for someone

To write your breakup songs about

Baby, I'm perfect

Baby, we're perfect

Hunter sabia. Natalie sabia. O público sabia: eles eram perfeitos, um para o outro. E nada nem ninguém poderia jamais contestar aquele fato que agora estava eternizado naquela música.

Hunter: But if you like causing trouble up in hotel rooms

And if you like having secret little rendezvous

If you like to do the things

You know that we shouldn't do

Baby, I'm perfect

Baby, I'm perfect for you

Todos: And if you like midnight driving with the windows down

And if you like going places

We can't even pronounce

If you like to do whatever you've been dreaming about

Baby, you're perfect

Baby, you're perfect

So let's start right now

A melodia da música mal havia acabado e Natalie desceu correndo do palanque para ir na direção do palco. Joe, o segurança da banda, a levantou no alto enquanto Hans e Thomas a puxaram para cima.

— Você me ouviu? - Hunter falou no microfone quando ela pulou em seus braços - I love you, Freckles.

— Ouvi, Hunter Saxton. I love you too. - ela respondeu alto o suficiente para que a mensagem ressoasse no microfone por toda New York City.

O coração de Hunter se inflou do que ele achava ser o melhor sentimento do mundo, mas não teve tempo de dizer mais nada, pois Natalie o beijou na frente de todos, que ovacionaram em aprovação.