Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 35
Capítulo Trinta e Cinco




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O final de semana passou sem mais nenhum outro acontecimento. Natalie e Anna acabaram fazendo uma reunião de amigos em casa e nada fora do normal aconteceu. Desde a última sexta-feira em que Natalie havia dito a Hunter que deveriam ser apenas amigos, o rapaz não tentou mais nenhum tipo de contato com ela.

Natalie sabia que aquela havia sido a melhor decisão. Conseguiu prever seu sofrimento a ponto de impedir que seu coração fosse machucado novamente. Procurou juntar todos os acontecimentos entre ela e Hunter e os guardou em um baú bem escondido dentro de sua mente. O escondeu tão bem, que no meio da semana já quase não pensava mais no castanho dos olhos insanamente brilhantes.

Já Anna estava sempre em contato com Luke via mensagens de textos e até mesmo algumas ligações. Haviam saído juntos na segunda-feira e tudo estava indo de vento em polpa, sem nenhuma preocupação.

 

**

 

Natalie estava na biblioteca da faculdade terminando um artigo, quando Anna se apoiou no encosto da cadeira da amiga, assustando-a.

— Oiiii. – ela cumprimentou beijando o topo da cabeça de Natalie.

— Shh... – Natalie lhe lançou um olhar repreensivo enquanto a morena finalmente se sentava ao seu lado. Falou em um tom mais baixo que Anna. – Isso aqui é uma biblioteca, Terezinha.

Anna deu de ombros e jogou a bolsa sobre a mesa que Natalie usava.

— E aí... O que vai fazer hoje à tarde?

— Bom... De tarde nada... Mas de noite tenho que cuidar da Georgia. – ela respondeu enquanto terminava uma frase no notebook. – Por quê?

— O Luke me convidou para assistir a um ensaio no apartamento do Thomas, e...

Natalie sequer deixou a melhor amiga terminar de falar, fechando o notebook.

— Agradeço o convite, mas passo. – ela deu um sorrisinho forçado enquanto começava a juntar seu material espalhado pela mesa.

— Qual é, miga!

— “Qual é” nada. Eu tô bem e feliz assim, não quero ter que cruzar meu caminho com o Hunter de novo.

— Ué, mas você não disse que agora eram “amigos”? – Anna levantou as sobrancelhas do jeito irritante que só ela sabia como fazer, e Natalie preferiu focar sua atenção no ato de guardar as suas coisas dentro da mochila.

— Isso não significa que somos best friends agora.

— Eu também não disse isso. – Anna movimentou a cabeça, provocando-a.

— Não. – ela respondeu de uma vez, jogando uma das alças da mochila nas costas e se levantando da cadeira. Anna a acompanhou, puxando a própria bolsa da mesa para sair.

 

**

 

— Anna, para de insistir, por favor? Eu estou realmente começando a me irritar com você. – Natalie jogou a mochila na mesa de vidro do apartamento, e o zíper provocou um barulho alto, mas por sorte nada quebrou. – Você veio a porra do caminho todo me enchendo o saco. Eu já disse que não vou.

— Natalie, para de ser criança?! Que que tem demais aparecer na porra do ensaio? Vai ser divertido, os meninos adoram você. – Anna depositou as mãos na cintura.

— E eu também os adoro, você sabe disso. Mas não vai rolar! Quem sabe eu não os chamo pra um jantar aqui em casa qualquer dia desses... – ela se dirigiu à geladeira, abrindo a porta.

— Cara... Você vai ficar evitando o Hunter? – a morena sentou-se em uma das banquetas altas da cozinha, apoiando-se na bancada.

— Não estou evitando. Eu nem faço parte do ciclo de amigos dele, então não tenho que evitar nada. – ela gesticulou com a mão que segurava a porta enquanto a outra se esticava dentro da geladeira, puxando um pote de vidro com uma salada pronta.

— É só um rolê, amiga. Vamo, por favooooor! – Anna juntou as duas mãos como se implorasse.

Natalie a observou naquela posição quando fechou a geladeira e se virou. Rolou os olhos enquanto pegava um garfo na gaveta.

— Não começa com o drama, que você não vai me convencer, sério.

— Eu nunca te peço nada, Nats! – ela continuou com uma voz mais pidona.

— Pede sim. – Natalie lhe lançou um olhar sugestivo enquanto dava uma garfada na salada e se sentava do outro lado da bancada.

— Mas faz muito tempo que não peço. – agora ela fazia bico. – Você fica uma hora e meia lá! Se não gostar, pode ir embora.

Natalie apenas levantou os olhos para encará-la, mas seu rosto ainda estava abaixado. Viu a amiga continuar com a expressão pidona e as mãos ainda juntas, chacoalhando em sua direção. Respirou fundo enquanto já se arrependia do que ia responder.

UMA hora. – ela disse com a boca cheia.

Anna soltou um gritinho fino, avançando na amiga por cima da bancada para abraçá-la.

 

**

 

Por algum motivo, Natalie sentia que não deveria ter saído de casa. Não deveria ter cedido às chantagens emocionais de Anna. Não deveria ter aceitado ir até o ensaio que aconteceria no estúdio particular de Thomas.

Sentiu um frio na barriga enquanto ela e Anna aguardavam o elevador chegar ao andar em que o rapaz morava. Aquela seria a primeira vez que veria Hunter depois do beijo no carro. Aliás, depois de ela tê-lo rejeitado e pedido que fossem apenas amigos.

Por um lado, queria acreditar que Anna estava certa. Se ela mesma havia sugerido que fossem apenas amigos, ela não deveria ficar fugindo de Hunter como o diabo foge da cruz. Deveria ser madura e encarar a situação de frente. Além do mais, já fazia algum tempo que pensar no acontecido não a estava incomodando de verdade, então vai ver as coisas dentro dela já estivessem no seu devido lugar.

Porém, esses pensamentos voaram todos para longe quando ela viu o sorriso de Thomas se desfazer ao vê-la em sua porta ao lado de Anna. “Foi uma péssima ideia.”

— Oi, Tom! – cumprimentou Anna.

— Oi, Anna! – ele tentou forçar um sorriso, mas parecia um pouco desesperado com a presença de Natalie.

— Hm... Hey... – Natalie encolheu os ombros. Ficou com os pés estancados enquanto Anna já adentrava a porta que Thomas havia aberto para elas passarem. Sentiu vontade de sair correndo de volta para o elevador, mas achou que a cena seria ridícula. Estava na cara que ela não era esperada, muito menos bem-vinda. – Espero que não tenha sido problema eu ter vindo... Anna disse que...

— Oh, não, Nats. – ele tentou amenizar a expressão de surpresa e agonia em seu rosto. – Por favor, não me entenda errado! Só estou surpreso porque Luke havia me mandado uma mensagem dizendo que era provável que você não fosse aparecer, só isso.

— Foi um saco pra convencê-la, acredite. – Anna se intrometeu quando Natalie finalmente entrou no apartamento.

As duas seguiram Thomas, que parecia ligeiramente tenso enquanto descia os quatro degraus que davam para uma espécie de basement no apartamento. Era como se fosse um hall espaçoso e com o teto um pouco mais baixo. Havia um corredor um tanto quanto comprido logo à direita, e eles passaram por ali, onde já começavam a surgir paredes acústicas até uma porta com uma janela de vidro. O moreno espiou por ali antes de abri-la.

Natalie foi a última a entrar no estúdio. Avistou primeiro Luke. Ele estava abaixado perto do amplificador, conectando alguns cabos. Seus olhos cor de mel continuaram a correr pelo ambiente que tinha iluminação um pouco mais fraca, com um tapete que parecia tampar a maioria dos fios bagunçados que ligavam instrumentos e microfones. O rapaz se levantou quando ouviu a voz de Anna e se virou para cumprimentá-la. Os olhos castanhos escuros dele se arregalaram quando avistaram Natalie.

— Hey, Natalie... – ele cumprimentou mais alto do que o normal, como se quisesse chamar a atenção. – Achei que não viesse.

— Eu não tinha nenhum compromisso, e a Anna insistiu loucamente, então... – ela se explicou enquanto viu Hans tenso, tentando rosquear a bateria do microfone, os olhos azuis estancados nela. Parou de falar quando viu Hunter.

Ele estava encostado na parede, com a guitarra colocada contra o corpo, e na frente dele havia uma garota loira enroscada em seu pescoço. A mesma garota loira da capa da revista. E seus dedos estavam entre as ondas dos cabelos de Hunter.

— Oh, Hunter. – a menina soltou algumas risadinhas.

Natalie forçou-se a olhar para outro lugar. A boca dela estava explicitamente aberta, o choque claro e óbvio em seu rosto para todos os presentes notarem. Mas a castanha simplesmente não se importou porque o cérebro dela estava mais preocupado em tentar registrar o que os seus olhos cor de mel estavam vendo.

Hunter não a estava beijando, mas eles pareciam bem íntimos e à vontade com a presença um do outro. O suficiente para fazê-la imaginar o que eles já não haviam feito juntos. Era como se a foto daquela revista estivesse sendo esfregada bem em seu nariz. Hunter Saxton era mesmo um jogador.

Natalie sabia que não tinha direito algum de se sentir machucada, porque ela mesma o havia dispensado dias antes, mas lá estava a sua dor no estômago lhe desobedecendo. Hunter era livre para beijar e transar com quem ele quisesse, especialmente por ela tê-lo dito que a única coisa que poderia oferecer a ele era a sua amizade. Mas por alguma razão, a sensação de traição abarcava em todo o seu ser, principalmente em seu coração.

O que ela deveria sentir era alívio. Se houvesse permitido que as coisas entre eles continuassem, terminaria com o coração arruinado. Mas tudo o que tinha vontade era de dar um soco na própria cara por ainda se sentir atraída por aquelas covas que insistiam em aparecer nas bochechas de Hunter. Era uma ótima arma de sedução, ela sabia disso. Um único sorriso cínico e ele podia ter qualquer uma que quisesse aos seus pés.

Luke claramente captou a expressão no rosto dela, pois ele colocou dois dedos na boca, assobiando alto na direção de Hunter.

— Ô viado!

— Que foi, porra?! – ele reagiu, olhando para Hans e tampando os ouvidos enquanto a guitarra pendia presa em seu corpo com a correia ao redor dele.

Hans limpou a garganta e levantou as sobrancelhas para Hunter. Uma expressão de surpresa e confusão invadiu o rosto dele ao ver Natalie parada próxima da porta. Era impossível para ela dizer se a reação dele era por ter sido interrompido ou se por causa de sua presença. Desejou que fosse a segunda teoria.

O silêncio invadiu o estúdio e Anna parecia ter perdido todo o oxigênio do cérebro. Era como se todos os presentes estivessem de olho na reação de Hunter e Natalie e esperassem pelo movimento deles antes de continuarem, cada um com a sua atividade. Hunter finalmente afastou a garota com o braço de forma calma e deu um passo a frente. Abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas Natalie decidiu que não queria ouvi-lo e queria fazer com que aquela situação fosse menos desconfortável.

— Hey, Hunter... – tentou colocar um pouco de animação na voz e torceu para que tivesse dado certo. Sentiu o estômago se revirar quando disse o nome dele. Tudo o que queria era sair correndo dali.

Como ela poderia, mesmo que por alguns segundos, ter acreditado em alguma lorota que havia saído da boca de Hunter na última sexta-feira? Ela soube, do momento em que o conheceu no camarim daquele show, que Hunter Saxton era nada mais do que um problema. O que diabos mais deveria esperar dele senão já estar com uma mulher qualquer mais uma vez?!

— Natalie... Hm, hey. – ele respondeu tentando não transparecer a excitação de vê-la depois de toda aquela semana conturbada. Havia prometido a si mesmo que colocaria um fim em qualquer sentimento que tivesse por ela.

Natalie sentiu o bolso vibrar. Deu graças a Deus quando puxou o celular e viu que recebia uma ligação. Ela indicou o aparelho com a mão e saiu pela mesma porta para atender. Viu que era Aaron.

Hey Nats!— ela ouviu a voz animada de Aaron do outro lado enquanto a porta fechava contra suas costas. – E aí, tudo bem?

— Deus. – ela começou aliviada. – É tão bom ouvir a sua voz! – ela disse sem pensar. Depois se arrependeu, mas já era tarde demais.

Você parece chateada.— ele respondeu antes de fazer uma pausa diante do que ela havia dito anteriormente. – Tá tudo bem?

Ela respirou fundo enquanto encarava o próprio pé. Passou a mão pelos cabelos desconfortavelmente. Não estava tudo bem.

— Tá sim. – mentiu. Mordeu o próprio lábio. Ali era o último lugar no qual queria estar naquele momento. – Então... Por que me ligou? – mudou o foco da conversa.

Estava pensando se não estava a fim de ver aquele filme que você comentou algumas semanas atrás que queria assistir. Você tá ocupada?

Não precisou nem pensar na resposta:

— Não, eu tô livre! – a castanha olhou pela janela da porta do estúdio, vendo Hunter se posicionando na frente de um microfone enquanto a loira lhe dava um beijo na bochecha. Desvencilhou seu olhar dali no mesmo instante, sentindo um incômodo no estômago. – Só que de noite tenho que cuidar da Georgia.

— Tudo bem, sem problemas! Podemos levá-la pra tomar sorvete se quiser, depois.

— Ótima ideia. – deu um sorriso doce. Aaron era sempre carinhoso e atencioso com ela e com os afazeres dela. – Pode me buscar na 35 com a nona daqui uns 20 minutos?

Claro. Já estou saindo. Até!

— Até. – ela respondeu antes de desligar.

Voltou a entrar no estúdio e viu Hans afinar a guitarra.

— Hey, Anna... – ela chamou a amiga, que atravessou a sala para ir ao seu encontro. Falou mais baixo para que só ela escutasse. – Acho que é melhor eu ir. Acabei marcando um compromisso de última hora...

Anna assentiu em resposta. Era completamente compreensível que a castanha quisesse ir embora depois do que viu. Lançou um olhar maternal à melhor amiga. Porém, o sorriso sincero que havia brotado nos lábios de Natalie se desfez ao perceber que Luke havia escutado o que ela tinha acabado de dizer.

— Já vai, Nats? – ele acabou perguntando perto do microfone que já estava ligado, chamando a atenção de todos para eles.

Natalie prendeu a respiração. Ficou sem graça na hora.

— É... Esqueci que eu havia... É... – olhou para Hunter e viu que ele parecia interessado no que ela ia dizer. Não conseguiu evitar a possibilidade de atingi-lo. – Vou ao cinema com meu amigo, havia me esquecido.

Hunter fechou a mão com força em volta do pedestal e pressionou a mandíbula com força, sentindo o sangue começar a ferver em suas veias. Conteve a respiração e procurou disfarçar, dando um sorrisinho para a garota loira.

Anna, que havia captado a intenção de Natalie no mesmo instante, não perdeu a chance de ajudá-la.

— O Aaron? – deu uma cotovelada proposital na costela da amiga enquanto cantarolava o nome de Aaron.

— Cala a boca, Anna. – Natalie a empurrou de leve, agradecendo-a mentalmente por tê-lo feito. – Enfim... Foi mal, meninos. Venho apreciar vocês uma próxima vez em que não estiver tão... Lotado. – ela alfinetou, lançando um olhar discreto à loira e se despedindo de todos.


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Notas finais do capítulo

Quem acha que a Natalie saiu com classe levanta a mão! ♥ O Hunter bem que mereceu essa depois de aparecer com a tal da loira aguada, nénom? HUNF



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