Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 34
Capítulo Trinta e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Aiaiai, que o Hunter não gostou nada nada dessa história de "serem só amigos"...



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Quando Anna chegou em casa, encontrou Natalie assistindo a um filme na televisão da sala com a luz apagada. Estava encolhida no sofá enquanto a luz do aparelho acendia e apagava contra o rosto dela conforme as imagens mudavam.

A morena se aproximou e percebeu que apesar de Natalie estar olhando fixamente para a televisão, não parecia estar sequer prestando a mínima atenção.

— Hey... – arrancou as botas dos pés antes de sentar-se no outro sofá, de frente para Natalie.

— Hey... – Natalie deu um sorrisinho sem encarar Anna, fingindo estar concentrada no filme.

— Parece um filme bom. – ela comentou indicando a televisão com a cabeça. – Qual o nome mesmo?

— É. – o rosto de Natalie parecia ter congelado por alguns segundos. – Esqueci o nome. Peguei começado. – a garota amarrou o cabelo em um coque bagunçado, se sentindo ligeiramente desconfortável.

— Hm... – Anna assentiu em resposta. – Por que não respondeu minhas mensagens? – encarou a melhor amiga com uma expressão desconfiada no ambiente minimamente iluminado pela televisão.

— Acho que meu celular acabou a bateria. – a castanha mordeu os lábios enquanto ainda olhava para a televisão.

— Certo. – Anna levantou-se de uma vez e foi até o interruptor perto da porta, acendendo a luz. Depois voltou para perto de Natalie, pegou o controle ao lado da garota e apertou o botão que desligava a TV.

— Anna!? – Natalie a repreendeu, finalmente olhando para a amiga.

Anna a olhou com uma expressão blasé, piscando várias vezes seguidas enquanto se sentava ao lado da garota dessa vez.

— “Anna” nada. Que que tá acontecendo? – a morena buscou o olhar de Natalie, que tentava não encará-la.

— Não tá acontecendo nada. Não posso ver um filme em paz? – ela indicou a TV com a mão.

— Natalie, de otária eu tenho só a cara. – ela respondeu de um jeito mais duro. – Muita coisa aconteceu e você sabe muito bem disso.

Natalie soltou o ar impacientemente. Sabia que não conseguiria esconder nada de Anna nem que se mudasse para a China.

— O que você quer saber?

— Tudo. Começando pelo chilique do Hunter na frente de todo mundo. O que aconteceu afinal?

Ela encostou todo o tronco no sofá desejando que o estofado a engolisse para sempre. Soltou o ar desapontada sabendo que aquilo não aconteceria. Passou a mão pelo rosto, tirando algumas mechas de cabelo que haviam caído do coque bagunçado.

— O Hunter havia aparecido aqui do nada, como você bem sabia. – ela começou já lançando um olhar reprovador a Anna, que tratou de ignorar. – Veio com a intenção de “resolver as coisas”. – juntou os dedos indicadores e médios de ambas as mãos, sinalizando aspas. – E eu fiquei tipo... Putassa e chocada por ele aparecer na minha porta já que eu tinha falado pra ele não me procurar mais, enfim... Aí o Aaron apareceu.

— MENTIRA. – os olhos de Anna se arregalaram selvagemente.

— Verdade. – Natalie assentiu meio risonha. – Veio trazer a touca que eu havia deixado cair no carro na noite anterior. – Anna levou as mãos à boca, estupefata. Gargalhou. – Na hora eu nem me toquei dessa situação. Tava tão chocada com os dois ali... – ela fez uma pausa para molhar os lábios. – Aí ele foi embora e o Hunter surtou, deu um ataque de ciúmes que eu desacreditei. Queria saber quem era o Aaron, o que minha touca fazia com ele, como foi parar no carro dele, ai. – ela respirou fundo, passando as mãos no rosto como se só falar daquilo a fizesse perder a paciência novamente.

— Gente, tô no chão. – Anna balançava a cabeça desacreditada.

— Pois é. Imagina a minha reação. Eu só queria que ele fosse embora, sabe... A gente brigou e eu surtei, comecei a falar várias merdas pra ele, o chamei de idiota, canalha, cafajeste... – Anna segurava o riso bestificada com tudo o que Natalie ia falando. – E aí...

— E aí o quê? – Anna viu Natalie olhar para o chão em silêncio. Empurrou a amiga pelo braço. – AÍ O QUÊ?! Fala, pelo o amor de Deus!

— Aí ele me deu um puta beijo, Anna. – a castanha contou enquanto tampava o rosto com as mãos. – Um beijo maravilhoso de tirar o fôlego! – ela quase gritou enquanto contava, afastando as mãos. Olhou para Anna e viu a expressão completamente congelada dela, com a boca em formato de “o”. – Sim, sim! Aí eu o empurrei e... E aí eu não aguentei, e o beijei de novo. – Anna soltou um gritinho, jogando o corpo para trás, deitando-se parcialmente no sofá.

— Tô passada, guriaaaaa!

— É. Nem me fale.

— Tô sem ar aqui. – Anna se abanou. Não conseguia conter a felicidade pela amiga. Tentou se recompor. – E depois, e depois?

— Depois a gente começou a brigar de novo. – Natalie viu a cara de desapontamento de Anna e deu de ombros. – Aí você ligou e me deu a notícia da tempestade. Fiquei ainda mais brava e fui tomar banho.

— Meu Deus... – Anna se surpreendia a cada palavra que saía da boca da melhor amiga.

— E o Hunter dormiu aqui, como você sabe. – ela recomeçou com a voz cautelosa, encarando a própria calça de moletom. Viu pela visão periférica que Anna assentiu, como se a encorajasse a continuar a falar. – E... Ao contrário do inferno que eu esperava que esse apartamento fosse se tornar com a presença dele... Foi muito bom. – finalmente olhou para a melhor amiga e viu que ela estava surpresa com a confissão. – Quer dizer... Nós conversamos... Acabamos dando uma trégua já que teríamos que passar por aquilo trancafiados. – viu Anna mordeu o lábio superior. – E foi bem legal... Acabamos conversando sobre várias coisas. Eu até fiz brigadeiro pra ele, e ele se apaixonou. – ela mesma riu, como se o momento reaparecesse em sua cabeça como uma memória bem fresca. Viu Anna também rir fracamente, acompanhando a história. – E ele cantou pra mim. – apontou o violão que continuava perto da estante e Anna deu um sorrisinho sincero.

— Que música?

— Ele perguntou se eu tinha alguma favorita da Elite Four. E você sabe que eu tenho, né.

Little Things, mas “só porque é do Ellijah.” – Anna imitou a entonação da amiga, e ela lhe acertou a almofada no estômago, arrancando-lhe risadas.

— É. E ele cantou. E eu jazi morta nesse sofá. – as duas acabaram rindo. Contar o que aconteceu para Anna sempre fazia com que as coisas se tornassem menos piores. Além de lhe deixar leve, a morena sempre fazia os melhores comentários, o que a animava.

— E...?

— E rolou um climinha, mas eu cortei tudo.

— CLARO. Você tem que estragar. – Anna rolou os olhos e viu a amiga lhe mostrar o dedo do meio. Devolveu o gesto. Natalie ficou em silêncio e Anna lhe lançou um olhar repreensivo. – Vai continuar a contar ou não?

Natalie bufou antes de continuar:

— Aí... Ele foi dormir no seu quarto, e eu no meu. Essa era a ideia inicial, mas... Mas começou a trovejar, e você sabe. – a expressão de Anna ficou séria no mesmo instante, pois sabia do medo de trovões que a melhor amiga tinha e não havia nada de engraçado naquilo. – Você sempre dorme comigo, só que você não estava aqui e... E eu tava com tanto medo que acabei pedindo pra ele dormir comigo. – Anna tampou a boca, escondendo o sorriso. - E ele foi.

— E AÍ? – Anna havia gritado naquele momento, fazendo Natalie tampar os ouvidos por alguns instantes, rolando os olhos em seguida.

— Aí a gente dormiu. – ela balançou os ombros e o sorriso de Anna foi se desfazendo.

— Você só pode estar de brincadeira com a minha CARA. – Anna puxou os próprios cabelos. – Você dorme com o HUNTER SAXTON na MESMA CAMA... E só DORME? – ela balançou a cabeça negativamente e viu o olhar sugestivo e irritado de Natalie. Tentou se recompor. Respirou fundo. – Tudo bem, foi mal.

— Enfim... Acordamos. Mas acordamos... Abraçados. – Anna mordeu o lábio. Não queria criar expectativas novamente, então ficou em silêncio. – E ele havia dormido sem camiseta. – Anna assentiu prestando toda a atenção, os olhos demonstrando excitação. – E... Eu não sei que merda deu em mim, Anna, juro por Deus. Comecei a... A acariciar as tatuagens dele, estudar cada uma do corpo dele... – Natalie tampou o rosto, sentindo a pele queimar só de lembrar. – Eu estava fora de mim, não sei.

— AH QUERIDA, eu também estaria fora de mim se fosse você, com... COM... COM CERTEZA. – ela fez questão de frisar com “com” várias vezes.

Natalie ignorou o comentário da amiga.

— Sei que quando dei por mim, vazei e fui fazer o café da manhã. – Anna bateu a mão na testa, fazendo um barulho estalado. – Fizemos a pêssega e não comentamos nada a respeito. – viu a amiga voltar a olhá-la. – E então ele me convidou pro show. – Anna sorriu abobada. – Sim, tava tudo bem, tudo legal. Aí... Aí o Aaron apareceu de novo me lembrando que tínhamos combinado de estudarmos e fazermos trabalhos juntos. E o Hunter... Deu outro show, claro. Sem motivo.

— SEM MOTIVO, , NATALIE? – Anna não se conteve, assustando a amiga. – Você sabe muito bem que o Aaron é a fim de você, e não precisa ser nenhum gênio pra ver isso. Deve ter ficado na cara, por isso o Hunter “deu outro show”. Não vem me falar que é “sem motivo”, que eu dou na sua cara.

Natalie fez careta para a amiga.

— TÁ, e daí? Eu não tenho absolutamente nada com o Hunter. Ele é quem tem que se fechar, querida. – Anna a olhou como se quisesse estrangulá-la. – Enfim... Antes de ele ir embora, brigamos no corredor do andar. E ele foi um cretino.  Falou pra eu também dormir com o Aaron porque tava na cara que eu queria.

Anna arregalou os olhos e sua boca quase despencou.

— Ah, não, ele não falou isso. – Natalie viu uma carranca se formar no rosto de Anna.

— Falou, miga.

— Ahhh, mas se eu estivesse aqui. – Anna fechou um punho e bateu na outra mão.

— Foi o maior barraco, acredite. Enfim... Aí você meio que sabe o resto...

— Sei o cacete. Pode parar, porque eu quero saber o que aconteceu depois que o Hunter foi atrás de você. Aliás, eu que dei uns berros pra ele acordar pra vida e ir falar contigo. Obrigada, de nada. – ela levantou as sobrancelhas, gabando-se.

— Eu deveria era te encher de porrada, então. – Natalie balançou a cabeça em negativa.

— O que houve?

— O de sempre... Brigamos. – Anna rolou os olhos. – Aí...

Natalie hesitou e Anna a olhou curiosa.

— Aí...?

— Aí, Anna... Ele fez uma mega declaração. Disse que estava confuso, que não sabia o que tava rolando com ele... Que a noite que passamos juntos tinha sido uma das melhores da vida dele... Que... Que nada mais parecia importar além da gente aqui. – a mandíbula de Anna estava quase no chão. – Disse que mentiu quando disse que se arrependeu de ter me chamado e que a melhor coisa que aconteceu com ele hoje foi ter me visto na coxia. E... E que não queria me perder.

OI?! Mas o qu... Gente... Tô sem ar. – Anna abanou a si própria novamente. – Aí você tascou um beijão nele, claro.

— Não... – Anna a olhou revoltada. – Porra, eu tava super chateada. Eu tava quase chorando, ele me humilhou na frente de todo mundo, Anna! – a amiga finalmente assentiu compreensiva. Sabia que Natalie tinha razão. – Toda vez que estamos juntos tudo é muito intenso. Ou é o paraíso... Ou é o inferno. Eu não consigo lidar com trezentas emoções a todo momento, com uma hora ele sendo um cretino e na outra dizendo que não quer me perder. – ela molhou os lábios. – Falei que ia pra casa e ele se ofereceu pra me trazer.

— Ai meu Deus. – Anna sentia a tensão tomar conta do corpo dela como se ela estivesse revivendo cada momento da história que Natalie contava.

— É, “ai meu Deus” digo eu. Fui a Troxiane more.

— Que que você fez, Natalie?

— Na hora de descer... EU acabei beijando o Hunter. – ela tampou o rosto, mas sentia Anna lhe encarar com a expressão tão conhecida de surpresa. Quando destampou o rosto, viu que havia acertado.

— TÔ CHOCADA.

— Eu também. Foi um beijo... Uau. Aí as coisas começaram a ficar mais... Mais. E eu percebi a merda toda e me afastei.

— Nossa, mas assim eu não consigo lidar, Nats, na BOA.

— Eu sei, eu sei! Eu já estou me odiando, ok? Eu me arrependi na hora, pedi desculpas... E ele disse pra eu não me desculpar, porque ele queria e queria mais... – Anna tampou a boca para conter o gritinho de animação. – Aí eu falei que deveríamos parar com aquilo e sermos apenas amigos.

— Você só pode estar brincando comigo. – a morena a olhou inconformada.

— Ele disse a mesma coisa. – Natalie queria rir, mas não conseguiu.

— AMIGOS É O CARALHO, Natalie! Meu Deus, guriaaaaaa!

— Não dá, Anna.

— Por que não dá, Natalie?!

— PORQUE... Porque eu me descontrolo quando tô com ele. Ele me faz ser tudo o que eu não sou. Me faz dar barraco, me faz querer chorar, me faz querer socar a cara dele, me faz agir por impulsos. E eu me odeio muito por ser assim quando estou com ele.

— Perder o controle faz parte quando nos envolvemos.

— Eu não quero me envolver, será que não dá pra entender?

— Nem sempre a gente pode controlar isso. – Anna a olhou seriamente. – Não me diz que você falou isso pra ele.

— Falei. – Anna fechou os olhos. – E falei que me torno o pior de mim quando tô com ele. – viu a amiga respirar fundo. – E ele disse que se torna o melhor dele quando está comigo.

— Como é que você não se amolece com essas coisas, fala pra mim?! – Anna depositou a mão no próprio peito, abobada.

— Você que pensa que eu não fico mexida... – Natalie abaixou o rosto, encarando o estofado do assento do sofá cinza. – Você sabe que pra mim nada disso é simples, A.

— Mas amiga... – Anna tenta confortá-la, mas Natalie a interrompeu para finalizar a história.

— Antes de sair, eu disse que ou seríamos amigos ou nada. E ele ficou puto... Mas disse que aceitava.

— Você ainda vai se foder muito por desperdiçar esses momentos, escuta o que eu tô te falando. – Anna a avisou.

— Eu já estou me fodendo, não vê? – Natalie deitou a cabeça no encosto. – Eu não estou preparada pra me envolver. Ainda mais com um cara como ele. Você sabe que ele não vale o que come.

— Você não percebe que é a primeira vez que sente algo de verdade por outra pessoa além do imbecil do Izaac?

— E é claro que tem que ser alguém anos-luz mais imbecil, né. Acho que ser cretino é mal de britânico, porque não é POSSÍVEL.

— Ah, não generalize, meu amô. – Anna deu uma risadinha sacana, fazendo Natalie a olhar curiosa.

— Estou perdendo alguma coisa? – a castanha voltou a se sentar para olhar a amiga.

— Bom... Diferente de você, eu sei aproveitar o que há de bom nesse mundo. – Anna viu uma carranca se formar no rosto de Natalie e deu uma piscadela para ela.

— HA-HA-HA. Engraçadíssima você.

Viu a garota de sardas cruzar os braços.

— Tá bom, não quer saber, também não conto. – Anna já ia se levantar quando Natalie a segurou pela blusa, fazendo-a cair no sofá novamente.

— Não se atreva a sair daqui sem me contar.

Anna deu uma risadinha animada como uma adolescente que havia dado o primeiro beijo.

— Pensa em uma noite MARAVILHOSA. Pensou? – Natalie assentiu, já rindo da amiga. – Pega um jantar super fancy no apartamento com vista para o Empire State Building... E multiplica por uma noite de sexo inesquecível. – Anna viu a boca de Natalie abrir em um sorriso e ao mesmo tempo em formato de “o”, e não conseguiu evitar rir da cara da amiga.

— Nossa. PARA TUDO. Vocês transaram?!?!?! – Natalie ficou de joelhos no sofá, dando pulinhos.

— Lou-ca-men-te, com a chuva ao fundo! O que é aquele homeeeeem! – Anna deu um gritinho escondendo o rosto com a almofada. – Juro, guria! Só de lembrar já me dá um treco aqui!

As duas gargalharam.

— Nossa, mas deve ter sido muito bom mesmo pro Luke te beijar na frente da banda toda como se fosse a coisa mais normal do universo.

— Minha transa tem poderes mágicos. – Anna piscou para Natalie, que gargalhou e a empurrou.

— Quer dizer que a Anna Castillo finalmente foi fisgada?

— Hm? – a morena a fitou, estupefata.

— Vocês estão juntos ou o quê?

Anna finalmente parou para estudar o rosto da melhor amiga de maneira surpresa como se não tivesse realmente pensado naquela possibilidade. A morena nunca namorava, e não era por falta de oportunidade... Mas para ela, estar com alguém não passava de um bom momento. Nunca havia gostado de alguém de verdade que a fizesse querer realmente estar em um relacionamento.

É claro que já havia se envolvido e ficado com alguns caras por mais tempo do que o comum, mas relacionamento sério era algo que realmente não fazia parte das ambições de Anna. Ela era do tipo que gostava de viver sem amarras e sem ninguém para controlar suas vontades. Gostava de fazer o que queria de forma simples e prática. Não julgava e também não gostava de ser julgada. E pensar no que Natalie havia acabado de lhe perguntar a fez ficar com a pulga atrás da orelha. Depois fingiu segurar o riso.

— Tsc tsc... Não viaja, Nats... Ele é um fofo, é sensacional na cama – devo frisar –, mas né... Nada a ver. O cara pode comer quantas ele quiser, nem deve estar procurando nada sério, ainda mais com alguém “não famosa” como eu.

Natalie arqueou as sobrancelhas.

— Ah, eu tenho até que CASAR com o Hunter... Agora você...

— É completamente diferente, miga. – Anna levantou-se do sofá naturalmente.

— É, é bem diferente, mesmo...

 

**

 

Medicine - Daughter

 

No caminho de volta, Hunter acabou ligando para os amigos para que os encontrasse em seu apartamento, algo que era ligeiramente incomum. O ato do castanho os espantou e os fez ir direto para lá.

Quando Hunter chegou jogando as chaves do carro no chão, Thomas, que estava sentado na poltrona da sala, se ajeitou. Ao adentrar o ambiente, viu Luke de pé com os braços cruzados e Hans sentado no chão. Eles encararam o amigo com expressões ansiosas, e ao mesmo tempo preocupadas.

Hunter arrastou os pés até se aproximar deles e se jogou no sofá de forma desleixada. Jogou a cabeça para trás, no encosto. Cruzou os braços e os levou até o rosto, cobrindo-o.

Os outros três se entreolharam apreensivos. O que quer que tivesse acontecido haveria de ser sério, pois Hunter nunca havia usado o “Red Code” dentre os tantos códigos que os amigos tinham.

Quando Thomas percebeu que o castanho não se pronunciaria, acabou quebrando o silêncio.

— Cara... Tá tudo bem? – ele perguntou receoso. – Viemos assim que ligou.

Hunter finalmente afastou os braços que cobriam o rosto e encarou os três pares de olhos que o fitavam. Sua feição era de derrota, cansaço e raiva.

— Talvez vocês me achem um otário... – ele começou sério, com a voz baixa. – E talvez eu seja.

— Que que tá acontecendo? – Luke agora voltou a andar e foi em direção ao sofá em que Hunter estava sentado.

— Tudo tá acontecendo. – ele abriu os braços, respondendo. Depois deixou que caíssem nos assentos do sofá, provocando um barulho carregado. Parecia estar inquieto. As mãos do rapaz correram pelos cabelos, jogando-os para trás enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos e fixava seus olhos no tapete. – Eu nunca me senti assim.

— Isso... Por acaso tem a ver com... – Hans usava um tom receoso. – Com a Natalie?

Hunter fez que sim sem olhá-los, ainda com a cabeça apoiada nas mãos sobre os joelhos.

Os rapazes se entreolharam rapidamente.

— Vocês conversaram? – o loiro perguntou novamente.

Hunter deixou uma fraca risada nasal escapar. Tinha um tom derrotado.

— Conversamos, conversamos sim. E ela disse que eu trago a pior parte dela. – ele coçou o rosto com as duas mãos. – Enquanto eu disse que ela trazia a melhor parte de mim. – eles pareciam ter prendido a respiração diante da confissão do rapaz. – Isso sem contar a parte em que ela disse que deveríamos ser “só amigos”. E quando eu discordei, ela disse que era aquilo ou nada.

— E o que você respondeu? – Thomas mal fez uma pausa esperando Hunter.

— O que mais eu poderia ter respondido? Disse OK. – Hunter estudou o olhar dos três. – Isso tudo é uma merda.

— Ela tá assustada, brother. É completamente compreens... – Luke nem conseguiu terminar, pois o castanho o interrompeu.

— E como você acha que eu tô, caralho? – os olhos verdes de Hunter estavam estalados e passeavam pelas expressões sérias dos amigos. – Eu não sei o que tá acontecendo, o que eu tô sentindo. Eu nunca disse nem um terço do que eu disse pra ela pra nenhuma outra. E aí ela me rejeitou!

— Hunter... – Thomas respirou pesadamente enquanto encostava-se completamente na poltrona. Parecia escolher as palavras que sairiam da sua boca. – Eu vou falar numa boa, e eu espero que você não me leve a mal. Eu sou seu irmão. – os olhos verde-mar se estreitaram minimamente. – O que você esperava dela? Quero dizer... – ele se ajeitou na poltrona novamente. – Seu histórico não é dos melhores... E ela... Ela não é como as que você costuma comer, na boa.

Hunter engoliu em seco, sentindo seu pomo de Adão se movimentar em sua garganta. Ficou em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre o que Thomas havia acabado de dizer. Thomas ficou mais confiante e continuou:

— Não é porque você disse um punhado de coisas bonitas pra Natalie que ela vai simplesmente correr pros seus braços, cara. O que você fez até agora pra provar qualquer dessas coisas que você disse a ela?

Hunter voltou à posição inicial e abriu as mãos.

— Isso é o que eu tenho pra ela. – ele franziu a testa, indicando a si mesmo. – Se não é o suficiente, então eu sinto muito.

— Isso o quê, H? O que você ofereceu pra ela? – Luke finalmente voltou a se pronunciar. – Ofensas e humilhações na nossa frente? – ele usou um tom repreensivo e Hunter torceu o rosto como se sentisse dor. – Aliás... Que merda foi aquela? Você a arruinou, cara. A Anna me contou que ela correu feito uma louca pra ir até o show ver você. E eu não sei se você notou a cara de boba que ela tava na coxia quando te viu... – ele molhou os lábios, balançando a cabeça em negativa. – Você não devia...

— Porra, vocês vão ficar me crucificando aqui? – Hunter se levantou irritado, passando por trás do sofá. O ato fez Hans se levantar do chão no mesmo instante. – De que lado vocês estão, afinal, caralho? – sentiu suas mãos trêmulas, então as fechou em punhos para se controlar. Sentia-se injustiçado pelos amigos.

— Estamos do seu lado, H, qual é. – Hans o segurou pelo ombro, oferecendo-lhe um olhar acolhedor. – Só estamos tentando dizer que... Que não vai rolar você tratando-a como as outras. Você só a está afastando mais.

— Vocês não sabem de merda nenhuma. – ele balançou a cabeça em negativa. – Não sabem o quanto fui sincero com ela... O quanto me abri com ela. Disse coisas que eu nunca havia dito nem a mim mesmo...! – ele sentia suas entranhas se abrirem. – Eu não consigo.

Os rapazes se entreolharam mais uma vez antes e voltarem a assistir Hunter.

— Não consegue o quê? – Luke o olhou de canto.

— Esse joguinho não é pra mim. Eu não vou ficar me sacrificando pra que ela acredite no que eu sinto! – Hunter respondeu abrindo os braços enquanto um sorriso forçado e irritado surgia em seus lábios. – Não quando milhares de outras garotas acreditam em meia dúzia de baboseiras que eu falo no ouvido delas. Não quando outras milhares não precisam nem escutar nada pra se sentarem no meu colo e fazerem o que eu quiser.

— Hunter... – Dessa vez foi Luke quem balançou a cabeça em negativa. 

— Não. – o castanho levantou a mão na direção de Luke para que ele parasse de falar. – Eu me recuso a passar por isso novamente. Eu não preciso disso. Ninguém me controla. Sou eu quem controla.

Depois de seu último relacionamento, Hunter nunca mais havia se exposto emocionalmente da maneira que havia feito com Natalie, e ser rejeitado por ela o consumiu. Não acreditou que durante aquele meio tempo se deixou levar pelo o que estava sentindo de forma tão irracional, exatamente como no passado. Não admitia mais ser refém de um sentimento como aquele, mesmo desconhecendo que diabos de sentimento era aquele, afinal.

Algumas vezes ele havia se questionado o porquê de ter agido como um canalha durante todo o tempo, mas depois que parou para reanalisar a situação, percebeu que era exatamente por aquilo que estava acontecendo. Porque as pessoas pisam umas nas outras quando sentem algo de verdade. E aquilo, na opinião de Hunter Saxton, era o câncer da sociedade.

— Você tá sendo idiota, cara. – Hans franziu o cenho.

— Esse sou eu. – ele colocou as mãos sobre o próprio peito enquanto sorria cinicamente. – E eu já estava sentindo falta de mim.


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