Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 19
Capítulo Dezenove


Notas iniciais do capítulo

Espero que ninguém esteja me odiando por ter criado grandes expectativas e... Nada HAHAHAHAHAHA Entendam a Natalie, coitada! O Hunter não é lá flor que se cheire (apesar de ser um GATO :x)



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Natalie fugiu de Hunter como o diabo foge da cruz. Correu pelo hall do andar e só ficou tranquila quando suas costas finalmente se apoiaram no espelho do elevador. Olhou para o teto enquanto os números do visor começavam a diminuir.

"[...]- Você me magoou. Me magoou o suficiente pra me fazer lembrar que não quero passar por aquilo de novo.

— Aquilo o quê, Natalie? - Hunter fechou o cenho, deixando que a linha de expressão em sua testa ficasse em evidência.

Natalie notou que havia dito algo que não deveria e logo se arrependeu.

— Nada. - ela respondeu de prontidão enquanto Hunter continuou a encará-la firmemente.

A castanha passou por ele a fim de voltar para a sala do apartamento de Hans, mas Hunter a segurou pelo pulso rapidamente, fazendo-a girar o corpo para olhá-lo a força.

— Do que tá falando? - os olhos de Hunter buscaram os dela, passeando pelo rosto da castanha rapidamente.

— De nada. - tentou se soltar da mão dele sem sucesso. - Você tá desculpado. Só me deixa em paz, por favor. - dessa vez ela puxou o pulso com mais força, conseguindo se soltar."

Passou a mão no rosto enquanto aquela cena se repetia em sua cabeça milhares de vezes. Odiava-se por ter falado aquilo, por mencionar sua história com Izaac indiretamente. A última coisa que queria era que Hunter soubesse o quanto ela havia sofrido com o fim de um relacionamento frustrado do passado.

Alcançou a rua rapidamente. Quando percebeu o vento forte, cruzou os braços em frente do corpo, como se aquilo fosse ajudá-la a se aquecer no casaco leve que estava usando.

 

Wasted Time - Vance Joy

 

Olhou para suas botas enquanto seus pés ganhavam as calçadas de Manhattan e milhares de outros pés cruzavam os seus. Sentia o vento invadir seus cabelos e fazê-los voar para trás. Sua bolsa batia algumas vezes contra sua coxa quando movia suas pernas rapidamente.

Levantou o rosto e encarou os vultos que passavam por ela. Assim que encontrou uma estação de metrô, desceu correndo as escadas. Usou o MetroCard e passou pela catraca. Felizmente o metrô C já estava lá, então ela só precisou correr para alcançá-lo.

Sentou-se no primeiro banco que viu, escorando-se no canto do vagão. Fechou os olhos e viu as esmeraldas de Hunter na sua frente, lhe encarando como momentos antes de ela sair avoada do apartamento de Hans. Abriu os olhos subitamente para expulsá-los de sua mente. Bateu com a cabeça de leve na parede, irritada.

A voz grossa e um tanto rouca de Hunter lhe invadiu a mente de novo:

"- E eu sinceramente consigo suportar os seus foras e as suas patadas. Até acho engraçado e entro no seu jogo. Acabo me divertindo. Mas não suportei a ideia de você rejeitar o que eu sinto."

Droga, o que estava acontecendo com ela afinal? Hunter Saxton estava mesmo conseguindo brincar com a mente dela? Respirou fundo, tentando conter as borboletas que insistiam em lhe fazer cócegas no estômago só de lembrar da voz do vocalista. O trajeto do metrô nunca pareceu tão longo.

Depois que desceu na estação e subiu as escadas, pegou o caminho para casa, mas estancou os pés quando se lembrou de que Anna estaria lá, e a última coisa que ela precisava era ter que rememorar cada detalhe daquele dia que ela só queria que nunca tivesse acontecido.

Estava perto do Washington Square Park, então deu meia-volta e seguiu para lá.

O local estava bem movimentado, cheio de estudantes em volta da fonte, conversando animadamente em grandes grupos. Até havia uma pequena roda de pessoas tocando violão. Irritou-se quando passou por eles e ouviu o garoto cantar "Story Of My Life", da Elite Four. "Que diabos. Virou perseguição ou o quê?", ela perguntou a si mesma. Foi direto para a Starbucks da esquina.

Ordenou o chocolate quente, já que não havia bebido o que Hans havia preparado. Riu baixo, lamentando a memória da feição frustrada do loiro quando ela disse que não poderia ficar. Depois se amaldiçoou, porque em seguida se lembrou do motivo que a fez fugir. E de todo o resto.

Jogou-se em uma poltrona e colocou a bolsa ao lado de seus pés. Segurou o copo de chocolate quente com ambas as mãos e as apoiou sobre os joelhos. Fechou os olhos por alguns instantes e deu um pequeno gole no copo.

Sentiu o celular vibrar no bolso. Pela vibração, distinguiu que era uma mensagem, mas apenas decidiu ignorá-la.

— Ei, sumida. - Natalie abriu os olhos no mesmo momento, assustada com a voz que interrompia seus pensamentos. Aaron. Ele segurava um copo como o seu.

— Oi, Aaron. - deu um sorriso aliviado. Ela não queria ver ninguém, mas de todas as pessoas da sua lista, se tivesse que obrigatoriamente escolher alguém naquele momento, poderia ser Aaron, sem dúvida.

O cumprimento de Natalie assegurou o rapaz de que ele era bem-vindo, então logo sentou-se na poltrona ao lado dela.

— Nem te trombei esses dias.

— Ah, os trabalhos estavam me deixando maluca. Sabe como é... Pautas, produção, artigos, projetos integrados... Aquela loucura, você sabe. - o rapaz riu fracamente depois de tomar um gole do que Natalie imaginou ser cappuccino.

— Tá precisando de ajuda com alguma coisa?

— Acho que estou conseguindo me virar bem, obrigada. - os dois riram. - Com você sempre me oferecendo ajuda assim, vou ficar mal-acostumada.

— Ora, por quê? - ele levantou as sobrancelhas grossas de maneira divertida.

— Porque assim eu vou sempre saber que tenho você pra me salvar. Isso é ter vantagem sobre os outros alunos, acha justo?

— Bom, eu não tenho culpa se você é uma das únicas segundanistas que procura manter uma relação com os terceiranistas. O curso é de jornalismo, então eles deveriam saber manter as boas relações e as boas fontes. - ele deu uma piscadela que arrancou risadas de Natalie.

— Olha... Esse é um bom ponto a ser mencionado. - ela balançou o dedo indicador, dando um gole maior de seu chocolate quente.

— Viu, só? - Aaron deu o sorriso que Anna sempre dizia fazer "qualquer mulher se derreter." - Hm, você nem acabou me contando como foi o show da semana passada. Se divertiu?

Natalie respirou fundo, tentando não demonstrar a decepção de ter que se lembrar daquele dia.

— Hm, foi legal sim... Georgia até conseguiu fotos e autógrafos com os caras, então... Valeu, te devo uma!

— Legal! E esquece isso, você não me deve nada.

— Você já fez tantos favores pra mim que fico até sem graça! - ela cruzou as pernas enquanto ele franzia o cenho. - Qual é! Qual foi o favor que eu já te fiz?

— Você já emprestou a sua câmera pra eu cobrir um furo pra emissora que eu trabalho justo na hora em que estávamos passando pelo local. - o rapaz exclamou apontando para ela. - Lembra disso?

— Mas aquela vez não conta! Eu por acaso estava com a minha câmera. - a castanha respondeu, risonha. Ficou realmente satisfeita de ter encontrado Aaron, pois a conversa a estava fazendo esquecer tudo o que havia acontecido, pelo menos por um instante.

— Você me emprestou o livro "A Sangue Frio", do Truman Capote.

— Isso também não é um favor, Aaron! - ela o empurrou levemente, arrancando risadas do rapaz.

— Como não? O que é um favor pra você, Nats?

— Não sei, ajudar a estudar, conseguir uma fonte relevante pra matéria, conseguir uma credencial pra um show, dar carona...! Tá bom pra você ou quer uma lista maior? - Natalie arqueou as sobrancelhas. - Sinto-me em uma eterna dívida com você. E o pior: ela só cresce!

Aaron sorriu torto antes de inclinar o corpo, apoiando os cotovelos nos próprios joelhos e encarando Natalie mais de perto.

— Tudo bem... Então o que acha disso? Você pode sair comigo, isso seria um enorme favor.

Natalie o encarou completamente sem graça, deixando que um sorriso tímido escapasse de seus lábios.

— Isso decididamente também não seria um favor, Aaron. Eu digo... Não seria algo que estou fazendo por você, entende?

— Seria sim. - ele sorriu de volta. - Já sei... Podemos sair e pode ser que eu precise de um favor seu por acaso. - pressionou os lábios por alguns segundos enquanto a fitava divertidamente.

Natalie não conseguiu evitar um sorriso.

— Ok, ok! - ela riu. - Quando?

— Hm... Que tal na quarta-feira à noite, você tá livre? Podemos ir a um restaurante japonês. Quem sabe em alguma exposição de fotografias depois.

Natalie parou por alguns instantes, certificando-se mentalmente se tinha algum compromisso na quarta-feira da próxima semana.

— Uuu, golpe baixo! Amo comida japonesa. Fechadíssimo!

— Por isso sugeri. Acho que você cancelaria qualquer compromisso por uma barca de sushis. - Natalie gargalhou com o comentário dele.

— Olha... Preciso concordar!

**

Hunter estava sentado em um dos bancos altos que ficavam na frente da bancada que dividia a cozinha e a sala do apartamento de Hans. Segurava a caneca de chocolate quente com as duas mãos enquanto parecia fitar o mármore.

Hans estava sentado ao seu lado. O loiro tomou um longo gole de sua caneca enquanto o encarava ferrenhamente. Quando Hunter virou-se para o amigo e o viu observá-lo, ficou ainda mais sério.

— Não adianta ficar me encarando, já falei que não quero falar sobre o assunto.

— Qual é, Hunter! - Hans apoiou uma mão sobre o joelho, flexionando o cotovelo levemente. - Faço a sua pra garota, armo o gol pra você, você chuta pra fora e eu nem posso saber qual foi o lance que eu perdi?

— Se você continuar com as suas analogias estúpidas eu vou embora. - ameaçou o castanho, finalmente bebendo o chocolate quente.

Os dois acabaram soltando um riso fraco.

— Vai, fala aí.

O vocalista respirou fundo impacientemente.

— Em resumo, eu pedi desculpas pela garota... E pelas coisas que disse hoje mais cedo.

— O que você disse mais cedo? - Por algum motivo, Hans ficou com medo de saber a resposta.

— Quando ela jogou a revista na minha cara, eu fiquei tão puto por ela ter descoberto aquilo... Aliás, por eu também ter descoberto que todo mundo já sabia... Que falei várias merdas. Falei que se ela não tivesse se recusado a ir pro meu apartamento uma semana atrás, eu provavelmente não estaria saindo com a garota aleatória para o hotel. - Hans bateu com a mão na testa inconformado. - Aí você imagina o que aconteceu.

— Um café voou na tua cara, obviamente.

— Graças a Deus ela estava tão mais puta que eu que não pediu nada pra tomar. - o loiro assentiu.

— H, você precisa parar de fazer uma merda atrás da outra, sério. Assim fica difícil te defender. Eu ainda disse pra ela que você era um cara legal! Devo ter feito papel de trouxa. Céus.

— Eu sei. Quando eu vi, já tinha falado. Você sabe. - Hunter coçou a sobrancelha.

— Hm, sei... Tá, mas o que ela disse quando você pediu desculpas?

— Então... - o rapaz de cabelos compridos bebeu mais um gole do líquido. - Eu acabei explicando o por quê de tudo aquilo ter acontecido. Não vou entrar em detalhes porque já foi humilhante demais ter que admitir pra ela. - Hans engasgou com o chocolate que estava bebendo, se contendo para não rir, e Hunter lhe lançou um olhar reprovador. - Se continuar, paro por aqui.

— Eu tô ouvindo, tô quieto. - Hans limpou a boca com um guardanapo, contendo o sorriso. - É que eu nunca te vi assim, cara, só isso. Mas enfim, continua...

Hunter assentiu, compreendendo o amigo.

— Aí ela falou algo como "você não sabe lidar com as suas frustrações. Devia fazer algo diferente em vez de sair transando com alguém.”

— Ela falou isso? - Hans arregalou os olhos.

— Não com essas palavras, mas falou. - o castanho suspirou, sério.

— Essa menina é um gênio... É a única que tem coragem de te mandar a real sem medo de apanhar. - Hunter levantou a sobrancelha. - Ok, foi mal, continua.

— Eu perguntei o que eu poderia fazer. - ele continuou a contar. - E ela falou que não sabia, mas seria qualquer outra coisa que não me fizesse magoar as pessoas.

— Uh, então ela ficou incomodada com o fato de você ter ficado com a outra. - Hunter assentiu. - Então vai ver ela não te odeia tanto.

— É... O problema é que eu tinha ganho um voto de confiança quando ela foi me encontrar. E eu fodi com tudo, apenas. - o castanho abriu os braços, irritado.

— Ela não te desculpou?

— Desculpou "naquelas". Falou algo sobre eu tê-la magoado a ponto de se lembrar que não queria ter que "passar por aquilo de novo". E ainda teve o combo de pedir pra eu me afastar dela, "por favor".

— E você vai se afastar, "por favor"?

— Nem fodendo. - ele deu de ombros, arrancando um sorriso do amigo.

— E o que vai fazer?

— Bom. - Hunter levantou o dedo como se fosse dizer algo no qual já havia pensado. - Essa é uma boa pergunta.

Os dois se entreolharam antes de começarem a rir.

**

Natalie acabou chegando bem mais tarde do que esperava. A conversa com Aaron acabou se estendendo até depois da Starbucks fechar e os expulsar do recinto. Os dois ainda ficaram conversando por mais uma hora no Washington Square Park antes de Aaron acompanhá-la até a frente de seu prédio, pois já estava tarde para ela andar sozinha. Na verdade, aquele era o pensamento de Aaron, pois Natalie tinha mania de sair para caminhar na calada da noite. Fora as vezes em que ela e Anna chegavam tarde das baladas. Mas já que o rapaz insistiu, ela acabou concordando.

Decididamente havia sido muito bom encontrá-lo, mesmo que por acaso. Aaron conseguia prendê-la em uma conversa muito facilmente, e ela ficava mais grata do que nunca naquele momento, pois a fez esquecer Hunter Saxton pelo menos por um instante.

Ainda no corredor do prédio, pegou o celular para ver as mensagens que tinha recebido enquanto estava com Aaron. Tampou a boca para não gargalhar e acordar os vizinhos:

Anna

E aí? Não se mataram? Foi baphônico?

Anna

Amiga, deve estar bem divertido aí, né? Custa responder a porcaria do celular um pouquinho? Tô morrendo de curiosidadeeee

Anna

Sério, guria, me responde. Isso por algum acaso é vingança porque eu não te respondia muito quando viajei pra Nashville?

Anna

Ok, acho que você já se vingou, já pode me responder agora.

Anna

Eu espero sinceramente que você não esteja me respondendo porque está numa noite louca de muito sexo com o Hunter Saxton. Caso contrário, me aguarde amanhã.

Natalie agradeceu aos céus quando chegou em casa e encontrou tudo apagado. Anna provavelmente já havia cansado de mandar milhares de mensagens e decidiu dormir. Aliás, já era madrugada entre domingo e segunda-feira, o que indicava que Natalie haveria aula no dia seguinte. Felizmente, conseguiria escapar da melhor amiga ainda de manhã, pois ela não teria a primeira aula, o que lhe dava a chance de dormir mais e não ter que lembrar da história com Hunter por mais um tempo até Anna lhe enquadrar de uma vez.

Foi silenciosamente para o quarto na ponta dos pés.


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Notas finais do capítulo

Eita, ó o Aaron na jogada de novo, gente......................................... :x



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