Já era quarta-feira quando Anna invadiu o quarto de Natalie sem nem bater. A castanha, que estava jogada na cama assistindo à uma série no notebook, encarou a amiga com um olhar reprovador.

— "Toc-toc!" — Natalie fez com a boca. - "Pode entrar, Anna!". Aí você entra. É assim que funciona. - ela respondeu enquanto pausava a série.

— Pra que toda essa cordialidade? Nos conhecemos há dez anos, Natalie. - Anna se sentou na cama de casal de Natalie, de frente para ela.

— Bom, você por acaso pensou que talvez eu estivesse, sei lá, com um cara aqui? - Natalie franziu a testa.

— Onde? Aqui? - a morena se abaixou, puxando as colchas da cama para olhar embaixo dela. Natalie rolou os olhos. Anna se levantou e foi até o guarda-roupas e o abriu fazendo mistério. - Talvez aqui! Hmm, não. Não tem, não, miga... Talvez porque você DISPENSOU O HUNTER SAXTON. - Anna falou a última parte em um tom bem mais alto, fazendo Natalie tampar os ouvidos.

— Dá pra parar de ser besta? - Natalie segurou o riso.

— Só queria te lembrar como você é uma tonta por ter feito isso, mesmo. - Anna também riu, sentando-se na cama novamente. - Pode me contar como é que você mandou ele ir pastar, mesmo?

— Eu já te contei umas seis vezes desde o nosso almoço na segunda-feira. - ela respondeu com a voz cansada.

— Mas ainda não aceito isso. Não consigo lidar.

Natalie respirou pesadamente, sem paciência.

— Ok, Anna... Você realmente invadiu o meu quarto - sem bater na porta, importante ressaltar -, interrompeu a minha sessão "Grey's Anatomy" por quê...? Se disser que foi por esse assunto cansado, eu juro que te chuto daqui. - ela jogou seu corpo para trás, apoiando as duas mãos sobre a cama.

— Ok. - Anna riu ainda mais. - Adivinha. Quem. Vai. Jantar. Com. Luke. Parish. AMANHÃ. - a morena falou cada palavra pausadamente, quase tendo um surto e se chacoalhando enquanto encarava a melhor amiga.

— MENTIRA! - Natalie exclamou, segurando Anna pelas mãos, exatamente no mesmo tom que ela usara para dar a notícia. Os olhos brilhando e a boca formando um "o".

— Juro pra você que tô dizendo a verdade! - Anna sempre a irritava e lhe respondia essa mesma frase toda vez que Natalie usava a expressão "mentira!". A castanha lhe deu um empurrão, fazendo-a rir.

— ME CONTA! - as duas pareciam pular sentadas sobre a cama.

— Ele ACABOU de me ligar! Foi um FOFO, falando que não aguentou e precisou ser o primeiro a entrar em contato. Mas entre nós aqui, o lazarento demorou horrores, QUE ISSO. - Anna comentou.

— Vai ver eles estavam fazendo muitos shows, sei lá. - Natalie adivinhou.

— É? Então me explica como você saiu com o Hunter e passou a tarde com ele e o Hans no domingo? Ele podia MUITO BEM ter marcado algo comigo.

— OOOOK, voltemos ao seu assunto, que é MUITO mais interessante e satisfatório. - Natalie respondeu rapidamente.

— Enfim! E aí disse que estava pensando em algo mais... Como ele falou mesmo? Ah! - ela forçou uma tossida antes de começar a falar com o sotaque britânico de Luke. - Algo mais íntimo.— As duas começaram a rir e Anna voltou a falar normalmente. - Sem a presença de paparazzi e blablabla. Aí estava pensando em fazer algo especial, um jantar NO APARTAMENTO DELE.

— SOCORROOOOOO! - Natalie soltou um gritinho.

No mesmo instante Anna desfez o sorriso.

— Mas acho melhor eu não ir.

— O quê?! Por quê?! Tá maluca?! Cheirou orégano, Anna?! - a castanha a olhou estupefata. - Te mato, juro.

— Ué... Você achou um absurdo o Hunter te chamar pra ir ao apartamento dele, super julgou, falou que não era dessas... Aí vai eu lá no apartamento do Luke? - Natalie suspirou sem paciência quando viu o tom provocativo e cheio de indiretas de Anna.

— Vai à merda, Anna. Você sabe que não se compara. - Natalie cruzou as pernas. - É completamente diferente. O Luke tá fazendo uma coisa super especial pra vocês, não tá sendo um imbecil, deixando as intenções dele completamente na cara.

— E você acha que ele não tem intenções sexuais, querida? - Anna gargalhou.

— Bom, pelo menos ele tá te fazendo um jantar. - dessa vez foi Natalie quem gargalhou. - Enfim... AI, estou animada por você, migaaa!

— Estou mortaaaa! - as duas se agarraram, caindo deitadas na cama. - Ele vai vir aqui em casa me buscar de carro e tudo, meu amô!

— Nossaaaa, ele gamou, então! - as duas se entreolharam, cúmplices. Riram logo em seguida.

— Tenho que arrasar! Você vai me ajudar a escolher A roupa.

— Ah, mas não tenha DÚVIDA. - Natalie deu uma piscadela para a melhor amiga, e esta mandou um beijo para ela.

— Mas hein... Por que eu sou a única animada por ser convidada para um encontro? - Natalie a olhou com uma expressão confusa, o que a fez rolar os olhos. - Você não vai sair com o Aaron hoje, cabeção?

— Ah, sim. Vou, ué! - Natalie respondeu encarando o teto. Notou o silêncio e voltou a olhar Ana, que estreitava os olhos de maneira suspeita. - Que é?

— Você vai sair com o Aaron e não tá animada?

— Anna, eu já saí com o Aaron trezentas vezes, essa não é a primeira vez.

— Mas você sabe que dessa vez é mais um encontro, não um rolê!

Natalie se sentou novamente na cama, e Anna a copiou.

— Sei, mas e daí?

— Alguém aqui me explica como é que eu ainda sou amiga de uma garota que dá um fora no Hunter Saxton e fica esnobando o Aaron Nesbitt? Você tá se achando demais, amiga.

— Anna, sério mesmo?! Você tá impossível hoje. - Anna conteve o riso. - Vai ficar jogando isso na minha cara até quando?

— Vou contar isso pros seus netos, Natalie. Vou SEMPRE te lembrar do quão otária você foi, aceite. - a morena fechou os olhos, franzindo a testa. Depois os reabriu para encarar Natalie, que lhe lançava um olhar assassino.

— Vou fazer você engolir essa almofada se continuar. - Natalie indicou a almofada.

— Ah vá. Mas sério... - Anna juntou os cabelos e os ergueu em um coque alto. - Por que você não dá uma chance pro Aaron, guria? Pô, o cara é super legal, eu não te entendo, sério.

— Porque ele é meu amigo, só isso. Não sinto nada por ele além disso.

— Você poderia ao menos tentar.

— Não. - ela respondeu de uma vez, balançando a cabeça negativamente.

— E vai me dizer que o Hunter também era só amigo? - Anna levantou as sobrancelhas, lhe lançando um olhar sugestivo.

— Isso não vem ao caso. Nada aconteceu.

— Vem sim. Não aconteceu porque você ficou de cuzice antes, durante E depois.

— Não, não vem. - Natalie respirou fundo, se levantando da cama. - E já que você tocou no assunto sobre meu encontro com Aaron, acho melhor eu começar a me arrumar. - ela puxou a toalha que estava pendurada atrás da porta e saiu em direção ao banheiro, deixando Anna sozinha.

— Ai, Natalie... Eu nunca vou te entender, guria... - ela comentou mais para si mesma, rindo baixo da melhor amiga.

**

Assim que Natalie saiu do prédio, viu Aaron encostado em seu Honda Fit vermelho.

— Ei! - ele a beijou no rosto.

— Ei! Desculpa a demora. - Natalie sorriu. Aaron parou por alguns segundos, olhando-a de cima abaixo lentamente. - Que foi?

— Você tá linda.

— Obrigada. - ela sorriu, sem graça.

Natalie usava uma blusa cinza em um tom mais claro, com mangas compridas. A gola era frouxa, como se fosse um capuz. por cima, um casaco cinza-escuro que parecia um pulôver. A legging era preta enquanto suas botas pareciam ter o mesmo tom que casaco, com detalhes em preto. A bolsa também tinha um tom acinzentado. A única cor vibrante em seu look era a touca vermelha que ela usara pela última vez no dia do show da Elite Four.  (FOTO)

— Bom. - ele finalmente se desencostou do carro. - Vamos?

— Por favor! Estou sonhando com essa comida japonesa desde domingo!

Aaron deu risada enquanto abria a porta para que ela entrasse. A garota agradeceu quase em um sussurro, e ele assentiu em resposta. Depois deu a volta no carro e logo entrou.

— Não sabia que era tão apaixonada por comida japonesa assim.

— Você vai ver quando chegarmos lá. - ela piscou para ele. Assim que Aaron deu a partida, o som do carro ligou automaticamente na rádio em que ele estava ouvindo anteriormente. - Já temos uma galeria em especial para visitar?

—Hm, então! Ouvi falar que há uma exposição muito legal no International Center of Photography sobre a época do Blues, são mais de 50 fotografias.

— Já gostei do tema, adoro esse tipo de coisa dos anos 50 e 60. Acho que é coisa de estudante de jornalismo.

— Definitivamente. Nem estranharia se encontrássemos alguém da minha sala, ou da sua.

— Acho que as galerias de arte são uma das coisas que mais me encantam em Nova York. Sei lá, parece...

Natalie parou de falar quando percebeu que o nome "Elite Four" foi citado no rádio:

— Sim, hoje é uma noite especial! Faz quanto tempo que vocês não vêm aqui no estúdio mesmo, pessoal? - o radialista perguntou.

— Uns 2 anos, né, H? — nunca havia conversado com Thomas, mas sabia que aquela era a voz dele.

— Que vergonhaa! — agora era a voz da radialista feminina. - Agora que vocês moram em New York têm OBRIGAÇÃO de vir mais vezes, hein.

Pôde-se ouvir a risada de toda a banda.

— Pode deixar, Jane. Vocês vão até cansar da gente. - aquela definitivamente era a voz de Hunter. Ouvi-lo lhe provocou um estado de excitação e desconforto. Natalie se mexeu no banco, incomodada.

— Hm, Aaron?

— Hm? - ele a olhou rapidamente enquanto dirigia.

— Se importa se eu trocar a estação?

— Claro que não, vá em frente. - ele sorriu.

O dedo de Natalie rapidamente trocou a estação para uma rádio que estava tocando um rock atual, e ela passou a encarar as ruas através da janela.