Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 18
Capítulo Dezoito




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Assim que Natalie se despediu de Anna, ouviu a porta de vidro da sacada se abrir. Quando olhou em direção dali viu Hans se aproximar.

— Ei.

— Ei. – ela deu um breve e pequeno sorriso.

— Tudo bem por aí?

— Tudo... – Natalie passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. – Minha amiga estava preocupada, só isso.

— É, digamos que seu dia foi cheio de aventura. – a garota riu do comentário do loiro, que se aproximava da proteção da sacada onde ela estava.

— É, tenho que concordar. Não sei como vocês aguentam isso sempre.

— É o preço da fama. – o rapaz meneou a cabeça de forma analítica.

— Feliz em ser uma ninguém. – Natalie levantou as mãos como se agradecesse, fazendo-o rir.

— Todos sentimos falta disso às vezes... – Hans colocou as mãos para trás, observando-a discretamente. – Acho que o que mais sofre com isso é o Hunter. Mas não fala pra ele que eu falei.

A castanha riu fracamente enquanto observava Hans, que mantinha seu olhar na vista dos prédios que formavam Manhattan.

— Ele parece lidar com isso muito bem, na verdade. – Natalie tossiu, se apoiando na proteção de metal. – E nem parece se importar muito. O nome dele sempre está entre as pessoas, os jornais, os sites de fofoca...

— Hm. – ele soltou um muxoxo em resposta. – Acho que é mais para se sentir no controle da própria vida, sabe? Todas as nossas ações são vigiadas pela mídia. Escrevem sobre mim até quando vou comprar café no Starbucks. – os dois riram juntos.

— Pode até ser, mas não justifica o qu... – Natalie parou quando percebeu que estava prestes a confessar seu incômodo sobre o incidente da noite anterior. Olhou para Hans arrependida. – Esquece.

Aquilo fez Hans dar um meio sorriso.

— Sei que não parece, mas o H é um cara legal.

— Ele é... – Natalie concordou. – Mas ele parece só ter respeito pelos fãs. Porque quando o assunto é se relacionar... – ela levantou a sobrancelha sem encará-lo. Tinha um sorriso triste nos lábios, como se lamentasse aquilo.

— Ele gosta de você. – Natalie o encarou com deboche. – Sério!

— Bom, ele tem uma maneira estranha de demonstrar. Porque ele provavelmente gosta de você e não tenta te levar pra cama em toda e qualquer oportunidade. – Hans gargalhou, jogando a cabeça para trás. Natalie começou a se a sentir incomodada por falar sobre Hunter com o amigo dele. Sabia que tudo o que falasse seria reportado a ele, então decidiu mudar o rumo da conversa. – Por falar nisso, onde ele tá?

— Foi no escritório dar uma olhada no estrago que a curtição dele causou na internet. Pode ir lá, se quiser. – ela franziu a testa em resposta.

— Hm, eu tô bem aqui, na verdade. – Natalie sorriu fracamente. Faria de tudo para evitar contato com Hunter. Investiu na mudança de assunto novamente. – Mas e aí... O que tem achado de New York?

— Estamos aqui há alguns meses e eu realmente me sinto muito bem aqui. É como se fosse minha casa. – ele acabou comprando a conversa.

— Sei exatamente o que quer dizer. Me senti assim desde o primeiro momento em que pisei aqui.

— Verdade... Luke comentou que você e sua amiga são brasileiras.

— Isso. – Natalie limpou a garganta. – Não me imagino morando em qualquer outro lugar desde que vim pra cá. – ela deu um meio sorriso. – Hm! Já fiquei um tempo em Dublin, sabia, irish?

Os olhos azuis de Hans brilharam no mesmo instante quando ele ouviu aquilo.

— Sério? – ele parecia ter se enchido de orgulho. – O que achou da Irlanda?

— Adorei! É um lugar incrível! Eu viajei para alguns lugares no interior, mas morei mesmo em Dublin. Foi pouco tempo... 40 dias, para ser mais exata. – o loiro parecia bem interessado no assunto, para felicidade dela.

**

Hunter não conseguia parar de encarar a tela do computador com uma feição desapontada. As fotos que estampavam a capa daquela revista que Natalie lhe mostrou estavam em muitos outros sites e ele tampou o rosto com as mãos, o sangue lhe subindo a cabeça.

Ficou se perguntando o que havia de errado com ele. Toda vez que se irritava, agia por impulso e depois acabava não sabendo lidar com as consequências de seus atos. Aquele era só mais um exemplo. Hunter sempre tirava conclusões precipitadas e agia de acordo com o que a própria mente lhe pregava.

Ele já havia se dado mal diversas vezes por causa desse comportamento, mas aquela era a primeira vez que realmente se arrependia do que havia feito. Mesmo assim, era tão incapaz de lidar com aquilo que preferiu jogar a culpa em Natalie de uma forma absurda. Desacreditava que havia falado aquela porção de barbaridades à garota só para não admitir a si mesmo que havia errado. Só para evitar a possibilidade de ter que pedir desculpas a ela. Tudo o que conseguiu fazer foi piorar ainda mais a situação.

Fechou todas as abas que havia aberto do navegador e se levantou da cadeira. Saiu do escritório e foi em direção da sala. Olhou ao redor e percebeu que estava vazia. Franziu a testa e deu alguns passos a mais, adentrando a sala e ficando no meio dela. Acabou escutando risadas vindas do lado de fora, na sacada.

Caminhou até lá e encontrou Hans e Natalie engatados em uma conversa que parecia bem animada. Os dois estavam de costas e riam apoiados sobre a grade da sacada, observando os prédios que pintavam a paisagem à frente deles.

O castanho encostou seu ombro no batente da porta, apoiando o seu corpo ali para observá-los. Sorriu quando ela soltou mais algumas gargalhadas ao lado de seu amigo. Natalie parecia muito mais à vontade com Hans do que com ele. O loiro era capaz de provocar esse tipo de sensação de conforto nas pessoas por ser sempre doce e ameno.

“Então é assim que ela é quando não estou por perto?”, Hunter se perguntou. Desejou ser um pouco como Hans, pelo menos para fazê-la rir daquela forma. Sentiu-se ainda mais idiota por saber que ele era o motivo da carranca dela, e que poderia ser ele no lugar de Hans se não tivesse estragado tudo na noite anterior.

Hans se desencostou da grade para se espreguiçar, e pela visão periférica viu Hunter encostado no batente da porta. Ele deu um pequeno sorriso para o amigo disfarçadamente, e este retribuiu o ato.

— Oh, você deve estar com fome, né? Geeez, que péssimo anfitrião eu sou. - Natalie o observou, rindo fracamente. - Gosta de chocolate quente?

— Meu favorito. - ela voltou a olhar para a paisagem, mas dessa vez se arriscou a olhar para baixo. Inicialmente teve uma vertigem, afinal eram 32 andares. Muito rapidamente se acostumou.

— Certo. Vou ver o que tenho para acompanhar o chocolate. - Hans apressou-se na direção da porta de vidro.

— Espera, Hans. Não precisa se incom... - Natalie acompanhou o loiro com os olhos cor de mel. Parou de falar quando o viu passar por Hunter, que continuava encostado no batente da porta. Ela se perguntou quanto tempo ele já não estaria lá, observando-os.

Prendeu a respiração quando percebeu que ele finalmente se desencostara do batente para começar a dar passos lentos em sua direção.

— Ei... - os pés dele estavam inquietos. Movia-os algumas vezes, como se estivesse incomodado com o apoio do próprio corpo. Natalie continuou a lhe encarar, esperando pelo o que quer que ele estava prestes a dizer. - Será que poderíamos conversar?

— Claro... - ela respondeu simplesmente, com uma voz calma.

— Queria te pedir desculpas pelas coisas que te disse mais cedo. - Natalie o observou surpresa. - Às vezes eu consigo ser um completo idiota.

— Às vezes? - a castanha brincou, de maneira risonha e provocativa.

— Em boa parte do meu dia, eu diria. - ele respondeu no mesmo tom ligeiramente divertido. Depois molhou os lábios rapidamente, ficando sério logo em seguida. - Se eu pudesse resumir o dia de hoje... Diria que foi o fracasso e a tentativa falha em fazer a coisa certa.

— Que era...? - os olhos de Natalie transbordavam ansiedade e uma certa insegurança.

— Dizer que você não escutou errado ontem à noite quando eu disse que não conseguia te tirar da cabeça. - Hunter reafirmou o que tinha dito mais cedo naquela tarde olhando-a profundamente.

Natalie soltou o ar, desviando o olhar do dele para focar o céu que começava a ganhar uma cor dourada.

— Fica difícil de acreditar quando eu lembro da capa daquela revista... - ela respondeu calmamente.

 

No Angel - Birdy

 

Hunter fechou os olhos como se lamentasse aquilo mentalmente. Não demorou muito para que os reabrisse.

— Eu sei. E sei que talvez você também não acredite no que eu vou te falar agora. - Natalie voltou a encará-lo. O vento forte fez com que os cabelos caíssem sobre os olhos verdes de Hunter, e ele os jogou para o lado com a mão, como de costume. - Eu não costumo expor o que eu sinto. Pelo menos não quando é uma coisa tão... Íntima. E justo quando invento de fazê-lo você começa a passar mal. Irônico, não? - ele engoliu em seco, como se algo o estivesse incomodando na garganta. - Eu achei que você tivesse me ignorado. - deu uma risada fraca como se para diminuir a tensão daquela frase. - E eu sinceramente consigo suportar os seus foras e as suas patadas. Até acho engraçado e entro no seu jogo. Acabo me divertindo. - os lábios de Natalie se curvaram minimamente, como um sorriso contido e breve. - Mas não suportei a ideia de você rejeitar o que eu sinto. Aí...

— Aí você decidiu dormir com a primeira que apareceu pra lidar com a frustração. - a castanha o interrompeu para completar a frase por si só. Seu tom não havia sido nem um pouco irônico. Saiu mais como uma afirmação. - Porque é claro que o grande Hunter Saxton não poderia aceitar ser rejeitado. - o sol começou a banhar o rosto dos dois enquanto se punha. - Sabe, existem mil outras maneiras de lidar com uma frustração... E decididamente essa não é a melhor.

— E qual seria a melhor? - Hunter abaixou a cabeça minimamente para olhá-la por baixo.

Natalie deu de ombros.

— Eu não sei. Qualquer outra maneira que não magoe as pessoas, talvez.

— Quer dizer que eu te magoei? - os olhos verde-claros pareceram se iluminar com aquela confissão de que ela se importou.

"Droga." Foi tudo o que a castanha foi capaz de pensar. Suspirou frustrada.

Os olhos se conectaram como da primeira vez em que se viram no show. Hunter sentiu-se perder no mel que derretia dos olhos atentos que lhe encaravam de forma ansiosa, e ao mesmo tempo, curiosa.

Os olhos dela, de fato, passeavam por Hunter minuciosamente, estudando primeiro a sua estatura. Ele parecia ser pelo menos uns 20 centímetros mais alto que ela; depois se atentou aos lábios levemente avermelhados; suas covinhas estavam escondidas no semblante sério - mas ameno - que seu rosto transparecia.

Depois pensou que fosse perder o ar quando ele pressionou a mandíbula enquanto a encarava de volta, deixando-a ainda mais em evidência. Definitivamente era o ponto que mais a atraia nele, Natalie pensou. Respirou fundo e pressionou os lábios por alguns instantes.

Hunter engoliu em seco enquanto sustentava o olhar da garota sem qualquer receio. Prometeu a si mesmo que ele não seria o primeiro a desviar o olhar. Molhou os lábios, sentindo a mesma liberdade de analisá-la.

Natalie estava tão absorta naquele momento que ficou surpresa ao ver a mão dele levantar-se em sua direção, na altura de seu rosto. Instintivamente fechou os olhos ao sentir as costas e os dedos da mão esquerda de Hunter lhe acariciar a bochecha direita. A pele dele estava bem quente em relação ao seu rosto, que estava em contato com o vento gelado há mais tempo.

A castanha mexeu a cabeça minimamente, como se acompanhasse a carícia de Hunter pelo seu rosto. O gesto lhe permitiu sentir o cheiro do perfume dele, que logo lhe invadiu as narinas. Sentiu-se desnorteada no mesmo instante.

De repente, lhe veio à cabeça a ilusão de imaginar Hunter tocando a garota loira da revista da mesma forma, e ela rapidamente se desvencilhou da mão dele. Era como se a sua própria mente houvesse lhe pregado aquela peça para que ela se lembrasse de que aquele era Hunter Saxton. E ele só queria jogar. Como Izaac um dia jogou.

— Sim. - Natalie finalmente respondeu. Hunter estava tão envolvido naquele momento que demorou a se dar conta do que ela dizia. Natalie pareceu perceber a dúvida no rosto dele e retomou a conversa. - Você me magoou. Me magoou o suficiente pra me fazer lembrar que não quero passar por aquilo de novo.

— Aquilo o quê, Natalie? - Hunter fechou o cenho, deixando que a linha de expressão em sua testa ficasse em evidência.

Natalie notou que havia dito algo que não deveria e logo se arrependeu.

— Nada. - ela respondeu de prontidão enquanto Hunter continuou a encará-la firmemente.

A castanha passou por ele a fim de voltar para a sala do apartamento de Hans, mas Hunter a segurou pelo pulso rapidamente, fazendo-a girar o corpo para olhá-lo a força.

— Do que tá falando? - os olhos de Hunter buscaram os dela, passeando pelo rosto da castanha rapidamente.

— De nada. - tentou se soltar da mão dele sem sucesso. - Você tá desculpado. Só me deixa em paz, por favor. - dessa vez ela puxou o pulso com mais força, conseguindo se soltar.

Antes que Hunter pudesse dizer qualquer coisa, Natalie se apressou em adentrar a sala, deixando-o atônito.

Hans estava terminando de servir o chocolate quente na terceira caneca de porcelana na bancada que dividia a área da cozinha e o início da sala quando Natalie passou quase como um foguete.

— Já ia chamar vocês. O chocolate quente tá pron... Onde você vai? - o loiro depositou a jarra na bancada e a encarou enquanto ela puxava a comprida alça da bolsa que estava no sofá para si.

— Desculpa, preciso ir. - ela respondeu sem olhá-lo. - Acho que agora já tá tudo tranquilo, né? - Natalie já estava perto da porta.

— Tem certeza que não quer ficar apenas pra tomar o chocolate quente? - Hans a olhou, apoiando as duas mãos sobre a bancada quando Hunter apareceu no ambiente.

— Podemos deixar pra um outro dia? Me desculpa, Hans, de verdade. - Natalie finalmente olhou para o loiro fazendo uma expressão de lamentação, já com a mão na maçaneta da porta. Sequer o esperou responder. Abriu a porta e saiu, fechando-a rapidamente.

— Devo perguntar o que aconteceu? - Hans fitou Hunter do outro lado da bancada.

— Não.


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Notas finais do capítulo

Aiai, que quando a gente pensa que VAI... Não vai nada, néam? :x