The Grey escrita por Milla Lyra


Capítulo 8
Capítulo 7.


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura! ^^



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No dia seguinte, Draco me levou ao trabalho, como prometeu. Despediu-se com um beijo e saiu com um sorriso estranho. Eu ainda lembrava da conversa sobre trabalho que tivemos, estava na lista de ‘coisas a esclarecer’,  junto com a afirmação dele sobre já ter namorado antes. Pansy e Luna tinham falado que ele não namorava, então eu presumi que eu era a primeira a conseguir aquilo. Mas não, alguém tinha conseguido antes, e eu estava curiosa sobre quem seria.

Também tinha a conversa sobre os pesadelos. Eu já sabia que ele os tinha, mas vê-lo daquele modo, apavorado e gritando, tinha me deixado preocupada. Várias vezes naquela manhã eu tinha tentado puxar aquele assunto, mas Draco desconversava. E com aquilo, eu já tinha três itens na ‘lista da conversa’.

A manhã passou em um sopro. Logo eu já estava a caminho das aulas. Enquanto elas se passavam, eu procurava uma maneira de explicar tudo a Luna. ‘Deixei seu carro no apartamento do Draco porquê ele me deu uma carona até o trabalho. Ah, e falando nisso, estamos namorando!’ Eu não podia fazer isso com ela. Luna era minha melhor amiga, eu a amava e sabia que ela ficaria magoada por ter escondido isso dela. Mas, já não podia mais esconder, e nem queria. No fim da tarde eu caminhei até o gramado, e fiquei aliviada de Theo e Luna estarem sozinhos. Queria ter a chance de falar antes que Draco chegasse.

   - Oi, Cachinhos. - Theo cumprimentou, bagunçando meu cabelo enquanto eu sentava ao lado deles.

   - Oi, chato.

   - Você não parece muito feliz. - Luna disse, franzindo o cenho. - Aconteceu algo?

   - Sim, eu tenho que dizer algo para vocês. - Travei, eu não conseguia mais falar. Luna ergueu uma sobrancelha, esperando que eu dissesse. Enfim, tomei coragem. - Eu e Draco estamos namorando.

   Como o esperado, Luna estava petrificada. Tão surpresa que eu deveria considerar um insulto.   

   - Você o quê? - Perguntou ela, os olhos fixos em mim. Theo se remexeu, desconfortável. Não parecia tão surpreso quanto Luna, mas também não parecia feliz.

   - Eu vou deixar vocês conversarem em paz. - Disse ele. Theo beijou a namorada e saiu, nos deixando à sós.

   - Porque você não me contou? - Luna estava claramente magoada, o que me cortava o coração.

   - Eu sinto muito. Eu sabia que você não apoiaria, e hesitei para te contar. - Contei tudo a ela, desde a nossa ida ao Café até o dia anterior. Luna ouviu tudo em silêncio, a expressão de preocupação nunca deixando seu rosto. Quando terminei, ela segurou minhas mãos.

   - Você sabe que eu te amo como se fosse minha irmã, não sabe? E é exatamente por isso que eu tenho medo dessa relação de vocês. Draco não é igual ao Theo, ele tem… alguns problemas de temperamento e as vezes bebida também. Tenha cuidado, por favor. Não o deixe te magoar, fique sempre atenta. - Balancei a cabeça, concordando. Ela não relaxou, mas pelo menos deu um pequeno sorriso. - Mas eu desejo toda sorte do mundo para vocês dois. E que ele se prepare, porque se Draco te magoar, o próximo adversário dele no Ciclo vou ser eu.

   Eu ri, mas Luna não parecia estar brincando. Nos abraçamos, eu me sentia bem melhor depois de ter colocado tudo para fora. Alguns minutos depois, Draco e Theo apareceram, e parecia que eles também tiveram uma conversa séria. Quando sentaram ao nosso lado, Draco segurou meu rosto entre as mãos e me beijou. Pude sentir meu rosto esquentar, Luna e Theo nos olhavam, surpresos.

   - Oi, irritante. - Draco falou, sorrindo. Não pude evitar sorrir de volta.

   - Oi, troglodita.

   - Esses são os apelidos mais estranhos que eu já vi. - Luna resmungou.

   - Sim, mas eles são realistas. - Theo falou, nos fazendo rir. Me apoiei no corpo de Draco, sentindo aquele cheiro bom da sua pele.

   - Loirinha. - Disse Draco, lançando aquele sorriso de lado para Luna. Ela não retribuiu. - Não vai me dizer que se eu a magoar, vai me matar?

   - Eu prefiro te pegar de surpresa. Assim tenho mais chances de acabar com você. - Um silêncio constrangedor se instaurou, até Luna sorrir de modo ingênuo, mas que não me enganava. - Brincadeira.

   - Eu tenho uma novidade para você. - Olhei para Draco, curiosa. Os olhos dele brilhavam de expectativa. - Você tem uma entrevista de emprego amanhã de manhã.

   - Como assim? - Perguntei.

   - Bom, essa é nossa deixa para ir embora. Até logo, casal. - Theo levantou e teve que puxar Luna junto, ela olhava para Draco com uma expressão perigosa. Eles se foram rapidamente.

   - Hoje de manhã eu tive uma reunião com Lucius, ele falou que estava precisando de uma assistente pessoal, já que a outra não está dando conta. Eu falei sobre você, ele aceitou fazer uma entrevista. - O sorriso estampado no rosto dele era tão genuíno que me desarmou. Mas eu não podia fazer aquilo.

   - Eu não acho isso certo, Draco.

   - Porque não? - Seu rosto alegre ia se desmanchando, e minha convicção desmanchava-se junto.

   - Não posso usar nosso namoro para conseguir um emprego, Draco. Isso é muito errado. Não estou com você por causa da sua família, estou porque sou apaixonada por você. E quero conseguir as coisas por mérito próprio. - Me surpreendi quando o sorriso de Draco voltou a crescer. Os olhos cinzas brilhando para mim.

   - Você é incrível, já falei isso? É exatamente por esse seu jeito teimoso que eu fiquei louco por você. - Meus ossos pareciam gelatina ao ouvir aquilo. - Mas é só uma entrevista, se você não for boa, Lucius não vai contratá-la. Ainda vai ser por mérito próprio. - Pensei sobre aquilo. Ele tinha razão, por um lado, era apenas uma entrevista, eu poderia me dar muito mal. Suspirei, falando a mim mesma que eu não seria vista como interesseira por aquilo, afinal, era um trabalho.

   - Tudo bem, Draco. - Falei. O sorriso largo que tive em troca fez tudo valer a pena. - Mas não quero que você tenha nada a ver com uma possível admissão.

  - Vai ser tudo por merecimento seu, prometo. - Ele me beijou outra vez, fazendo todos os músculos do meu corpo se retesarem em apreciação. Seus cabelos nos meus dedos eram tão macios, seus lábios tinham gosto de cereja. - Vamos para minha casa?

   - Claro, mas primeiro, vamos comprar comida no mercado. Quero fazer um jantar para nós.

   - Quê? - Ele perguntou, indignado. - Eu odeio mercado! Não podemos pedir para entregar?

   - Não, não podemos. E também tenho que ir para casa cedo, tenho uma entrevista de emprego importante amanhã.

   - Nada disso, você dormirá comigo e eu te levo lá. - Quis protestar, mas o olhar de Draco deixava claro que ele brigaria até ganhar.

   - Tudo bem. - Suspirei. - Então temos que passar na minha casa também, tenho que pegar algumas coisas.

   - Ótimo, vamos lá. - Ele levantou e me puxou junto com ele, me abraçando em seguida. - Eu poderia passar o dia inteiro sentindo você assim. - Falou, meu corpo arrepiou em resposta.

A ida até minha casa foi rápida e agradável. Eu estava adorando aquela versão descontraída de Draco, fazendo brincadeiras e rindo ele parecia tão mais jovem que me fascinava. No supermercado ele estava deslocado, era óbvio que ele nunca tivera que ir a algum, e eu estava me divertindo com sua expressão cautelosa.

   -Como você sobreviveu até hoje sem precisar ir ao mercado? - Perguntei, rindo.  Draco estava levando o carrinho, e era uma visão tão doméstica que eu não conseguia parar de rir.

   - Theo faz a feira. Eu só cuido do resto das contas.  - Uma senhora passou por nós com duas crianças, os meninos brigavam para escolher os melhores cereais enquanto a mãe seguia em silêncio. Draco olhou para a cena com um pavor evidente. - Esse lugar é um hospício.

   - Ah, para de reclamar. Aposto que você fazia o mesmo com a sua mãe quando era criança. - Percebi que tinha falado demais quando a expressão de Draco ficou sombria. Ele não respondeu. Doía ver que Draco ainda não confiava em mim para contar seus segredos, mas aquele não era o lugar para conversar sobre esse assunto. - Me conta sobre a entrevista de amanhã. - Pedi. O sorriso dele foi instantâneo, fazendo seu rosto quase brilhar.

   - É simples, Lucius vai fazer algumas perguntas, você só tem que saber coisas básicas. Eu aposto que você consegue esse trabalho. - Eu não podia dizer que estava tão confiante quanto ele.

   - Tomara que sim. Seria um grande passo para mim conseguir um trabalho em uma empresa importante como a Malfoy’s Company. - Apesar do sorriso dele vacilar, Draco parecia feliz em me ajudar com o trabalho. Eu não podia negar que gostava da sensação de ser cuidada, e ainda mais por ele.

A noite passou tranquila e agradável, Draco elogiou tanto o jantar que eu estava ridiculamente sem graça. Estávamos deitados na cama, os beijos estavam esquentando de modo perigoso. Eu não sabia se já estava pronta para avançarmos, ainda não me sentia cem por cento confiante que podia me entregar da maneira mais íntima a alguém. Mas era Draco, eu tentava me convencer, eu era louca por ele, totalmente apaixonada.

   Devagar Draco passou a mão sob minha blusa, tocando minha pele de maneira suave, apenas seguindo o caminho até a cintura, resvalando os dedos no meu sutian. Minha pele arrepiava inteira onde seus dedos tocavam. Senti Draco levantando minha langerie, eu não queria pedir para que ele parasse, mas desconfiava que, se não queria ir em frente, aquela era a hora de dar um tempo. Todos esses pensamentos saíram da minha cabeça quando senti seus dedos nas pontas dos meus seios. Perdi todo o rumo, a fala, o ar, me perdi completamente. Era incrível como aquele ponto parecia ser ligado com aquele outro entre minhas pernas, que eu já sentia quente e úmido. Eu deveria ficar constrangida, mas as sensações não me davam chance de ter vergonha.

    - Eu poderia beijar você o dia inteiro, e duvido que me cansaria. - Draco sussurrou no meu ouvido. Minha resposta, se é que aquilo era uma resposta, foi um gemido baixo. Deus… ele era tão bom que eu não conseguia nem pensar. Draco me puxou para cima do seu corpo, encaixando minhas pernas ao lado de seu quadril, em seguida se afastou, me olhando com um sorriso muito mal intencionado. - Me deixa olhar seu rosto enquanto te toco. - Pediu ele. Eu quis negar, mas como eu negaria algo para Draco quando eu faria qualquer coisa que ele me pedisse?

   Suas mãos foram subindo pelas minhas pernas, eram quentes, agradáveis. Draco continuava olhando para o meu rosto, com aquele sorriso que me desmontava. Seus dedos acompanharam o cós do jeans, desabotoando-o. Meus olhos arregalaram.

   - Não se preocupe, só quero te ver, só isso. - Disse ele, e continuou. As pontas dos dedos passando pelo elástico da calcinha, nessa hora eu já arfava ruidosamente. E então, ele seguiu para cima, levantou minha blusa, tirando-a, e a jogou no chão. Eu me sentia exposta, mas também me sentia poderosa ali em cima dele, vendo seus olhos acompanharem meu corpo. Draco tirou meu sutian devagar, e o jogou também. Eu estava nua da cintura para cima, e os olhos dele estavam em mim. - Ainda não consigo acreditar que ninguém nunca a viu assim. Mas, ao mesmo tempo, me sinto o filho da puta mais sortudo do universo por ser o primeiro a ver.

   Seu linguajar costumava me irritar, ninguém nunca tinha falado comigo daquela forma. Mas naquela hora, só fizeram o calor aumentar até que minhas pernas tencionaram. As mãos dele já cobriam meus seios de modo suave mas firme. Os olhos de Draco brilhavam de malícia pura, me olhando desmanchar sobre ele. Mas eu também queria tocá-lo, queria muito. Engolindo a seco a vergonha, reuni toda a coragem que eu possuía.

   - E-eu… eu também quero tocar você. - Gaguejei, sentindo meu rosto esquentar. O sorriso dele aumentou, e Draco inclinou de leve a cabeça.

   - Você quer? - Sussurrou. Concordei com a cabeça, muito tímida para conseguir falar outra vez. - Tem certeza? - Perguntou outra vez, e eu balancei a cabeça. Então Draco segurou minhas duas mãos, deixando-as espalmadas contra seu peito nu. - Me olhe nos olhos. - Ele pediu, e eu o fiz. Aqueles olhos cinzas brilhavam de um jeito impossível. Minhas mãos desceram, seguindo o comando das dele, alisando sua barriga firme, e por um segundo me permiti tocar aquela frase tatuada nas suas costelas.  faire le nécessaire, faça o necessário, ele disse que significava. - Se quiser continuar, pode ir em frente. - Falou ele.

   Nervosa, continuei o passeio das minhas mãos sobre o corpo de Draco. Ao chegar no jeans eu hesitei. Eu queria continuar, mas a coragem só me fez chegar até o cós da calça. Posso fazer isso. Repeti para mim mesma até quase me convencer, e então fui em frente. Desabotoei o jeans de Draco, e desci o zíper. Eu sentia meu rosto em chamas, mas não olhei para o rosto dele, eu desconfiava que ele estivesse sorrindo daquele jeito. Vi sua boxer branca por baixo do jeans e tive que engolir seco. Eu não conseguia continuar, minhas mãos travaram. Finalmente olhei para Draco, e ele me observava com curiosidade.

    - Quer ajuda? - Ele perguntou, eu acenei que sim. Então ele segurou minha mão e, devagar, a colocou diretamente em cima da boxer branca e fina. Meu santo Cristo… Era rijo e macio ao mesmo tempo. Ouvi Draco ronronar, um rosnado baixinho que me eriçou totalmente. Ele gosta. Pensei, maravilhada ao perceber que eu podia dar prazer a ele. Experimentei segurar sua ereção sobre o tecido, apenas moldando meus dedos em torno dele. Draco fechou os olhos e arquejou. Eu estava fascinada com aquilo, suas expressões, seus ruídos, tudo. Tomando coragem, deslizei a mão sob a boxer, e morder o lábio para não arquejar. Era quente também, e a textura era como algum tecido macio enrolado em algo duro como ferro.

   - Puta merda, Hermione… - Draco murmurou. Fiquei paralisada.

   - Machuquei? - Perguntei, nervosa. Draco deu uma risada suave.

   - Só… continue, por tudo que é mais sagrado. - Ele pediu. Ele realmente está gostando. Pensei, animada. Devagar, o acariciei, de cima para baixo, ritmicamente. Draco arfava, murmurando coisas que me deixavam dividida entre espanto e excitação. E então ele segurou minha mão, impedindo o movimento.  - Melhor parar, antes que eu exceda o limite e você corra assustada. - Ele murmurou.

   Mas eu quero! Eu queria contestar. Eu queria vê-lo perder perder a linha.

   - Mas…

   - Quer continuar? - Perguntou ele, franzindo o cenho. Parecia confuso. Eu acenei, eufórica, e Draco sorriu. - Então tudo bem.

   Voltei a movimentar minha mão, de cima para baixo. E dessa vez observei o rosto de Draco. As maçãs do rosto estavam coradas, e ele mordia o lábio inferior. Sem parar o movimento, me inclinei e beijei aquele mesmo lábio, tocando-o de leve com a ponta da língua. Draco rosnou, enroscou a mão nos meus cabelos, segurando minha cabeça enquanto me beijava forte, rude. Senti algo quente cobrindo minha mão e barriga, e me afastei subitamente. Jesus Cristo…

   - Droga. - Draco murmurou sob a respiração acelerada. - Eu não queria fazer essa sujeira toda.

   Ele pegou uma camisa do chão, e rapidamente limpou sua ‘sujeira’ de mim.

   - Não faz essa cara de assustada, já estou começando a me sentir mal. - Ele brincou, rindo da minha expressão. Eu relaxei ao ver que ele continuava com aquele humor que eu gostava. - Acho que eu tenho o direito de fazer algo também, agora. - Falou, malicioso. Depressa, Draco mudou a posição, ficando por cima. Meus olhos estavam presos nos dele.

    - O que você vai fazer? - Perguntei, a voz falhando na última palavra. Ao invés de responder, Draco riu, e começou beijando meu umbigo. Aos poucos seus lábios foram descendo, beijando todo o caminho da minha barriga até o cós aberto do jeans e a calcinha. Ele me olhou, como se pedisse minha permissão. Naquele ponto eu já permitiria o que ele pedisse, sem nem parar para pensar. Draco deslizou a calça pelas minhas pernas e a jogou para o chão, e em seguida deitou-se de barriga para baixo, a cabeça diretamente em cima do meu quadril. Ele não vai fazer isso… Pensei, os olhos arregalando quando vi seu rosto aproximando do meu ponto mais quente e sensível. E foi quando senti sua língua que o mundo inteiro deixou de existir. Meu santo anjo da guarda! Quis exclamar, mas as palavras não vinham aos meus lábios, só o que vieram foram arquejos e gemidos. Eu não podia acreditar na sensação que seus lábios me causavam. Todos os meus ossos pareciam gelatina, derretendo gradualmente. Quando notei os olhos de Draco me observando, não consegui mais voltar a fechá-los. Meu corpo tremia, maravilhado. Minhas pernas tencionaram, e eu enrolei os dedos nos cabelos de Draco, como se precisasse de algo que me segurasse nesse mundo. Eu estava me perdendo. E era maravilhoso. E então acabou.

   - Meu… - Ofeguei, não consegui nem completar a frase. Draco deitou ao meu lado, o sorriso satisfeito estampado no rosto.

  - Deus? - Brincou, arqueando a sobrancelha.

   - Eu não acredito no que você acabou de fazer. - Murmurei. Draco riu, passando o braço ao redor da minha cintura e deitando a cabeça no meu peito nu.

   - Eu adorei. Poderia até fazer de novo.

   - Sério?! - Eu já podia implorar para que ele fizesse tudo outra vez. Com uma risada, Draco apontou para o relógio.

   - Claro, se você não se importar em ir à entrevista com olheiras enormes, eu topo um segundo round… um terceiro… um quarto…

    - Olha as horas!  - Exclamei, horrorizada com minha súbita falta de disciplina. Eu já deveria estar dormindo à muito tempo!

   - Foi o que eu pensei. - Draco suspirou, de modo dramático. - Podemos continuar amanhã, então.

   Puxei as cobertas sobre nós dois, abraçando Draco como podia. O sorriso nos meus lábios era quase fixo, eu acreditava que nem no sono ele desapareceria. A respiração de Draco ficou pesada, o corpo dele descansando, a expressão no rosto se abrandando.

   - Deus… eu acho que eu o amo. - Sussurrei, chocada com a constatação tão abrupta e verdadeira. Eu o amava. Isso era tão assustador que meu coração apertou. Não sabia se ele ao menos era apaixonado por mim, e já o amava.

   Demorei a dormir naquela noite, meus pensamentos apavorados pelo novo sentimento que eu nutria. Os sonhos foram cheios de olhos cinzas e sorrisos sedutores.

— Huuummm… - Ouvi o ronronar ao meu lado. Uma mão quente acariciava meu peito, descendo na minha barriga e entrando na minha calcinha. Que tipo de sonho é esse? Pensei, aturdida. Adorei!

   Meus olhos se abriram devagar, e vi que não era sonho algum. Draco, ainda dormindo, estava com uma mão dentro da minha calcinha. Não consegui conter a risada, e os olhos dele se abriram, primeiro pareciam confusos, e em seguida, ao notar sua mão indiscreta, ele sorriu.

   - Seu corpo atrai o meu até quando estou dormindo, como pode? - Ele murmurou, subindo em mim e me pressionando contra a cama. - Quero acordar assim todas as manhãs.

   - Só que isso não vai acontecer. - Falei, levantando uma sobrancelha. - Pelo menos não tão cedo. - E então Draco fez algo que eu nunca, nem em meus sonhos mais ridículos, imaginei. Draco fez beicinho. O lábio inferior se projetando. Santa Maria das Manhãs Maravilhosas… Eu só queria agarrá-lo e beijar seu corpo inteiro. Mas meus planos foram interrompidos pelo meu celular despertando. Estiquei o braço e o peguei.

   - Santo Cristo! - Empurrei Draco para o lado, pulando da cama e correndo até minha roupa na poltrona. Eu estava muito atrasada. - Eu perdi a hora, meu Deus, eu não acredito que perdi a hora. - Repeti, desnorteada. Draco ria, sentado na cama.

   - Ainda faltam trinta minutos até a entrevista, Hermione.

  - Trinta minutos para arrumar o cabelo, vestir a roupa, comer algo no caminho e voar até lá. Jesus, não vai dar tempo!

   - Claro que vai. Vamos lá, dá tempo até de brincarmos um pouco antes de sair.

  - O quê?!

  - Ta, tudo bem, sem brincadeira. - Reclamou ele, levantando da cama totalmente nu. Hesitei enquanto abotoava o jeans, me permitindo alguns segundos para apreciar o corpo de Draco, mas logo voltei a me arrumar.

   Alguns minutos depois, estávamos finalmente a caminho da Malfoy’s Company. Minhas pernas já tremiam de nervosismo, eu não parava de repassar todo meu currículo na minha cabeça. Eu consigo. Eu repetia, tentando me convencer. Draco, ao contrário de mim, estava tranquilo. Sorria para mim, apertava minha mão, tentava me fazer rir. Caramba, eu realmente o amo. Pensei, atordoada, mas logo expulsei esses pensamentos da minha cabeça, já tinha muita coisa para pensar naquela manhã.

   Ao chegarmos na M.C. foi que eu me dei conta do poder que o sobrenome Malfoy representava. O prédio de cor escura era imenso, o nome ‘Malfoy’s Company’, todo de bronze, ficava em cima das grandes portas duplas de vidro escuro. Quando entramos no saguão eu quase fraquejei e implorei para voltarmos para a cama. O chão era de mármore branco, tudo naquele lugar tinha aspecto caro. Respirei fundo, reunindo toda a coragem que ainda houvesse em mim. Draco caminhava ao meu lado, mas não me tocava. Parecia tenso, as mãos nos bolsos, os olhos atentos. Uma mulher, que estava na recepção, acenou.

   - Sr. Malfoy, não sabia que viria. - Falou ela, procurando algo na tela do computador à sua frente.

   - Vim trazer Hermione para uma entrevista. Não vou falar com Lucius, Allana, não precisa me procurar na agenda dele. - Draco respondeu. Era obvio que ele estava tentando ser educado, mesmo que não estivesse muito à vontade. A mulher, Allana, sorriu como se estivesse se desculpando. Fomos direto para o elevador, e Draco pressionou o botão do último andar.

   - Você está bem? - Perguntei. Ele deu um sorriso forçado.

   - Eu que deveria estar perguntando isso.

   - Não tem problema. Meu nervosismo vai passar quando isso acabar. E o seu?

   - Estou bem. Só esse lugar que me deixa tenso.

   - Ok. - Antes que eu falasse algo mais, as portas se abriram, e eu estava olhando para uma loira estonteante. Quem. É. Essa? Pensei, uma sensação incômoda crescendo. Principalmente quando notei o sorriso tímido dela para Draco.

   - Isabelle. - Ele cumprimentou, com um sorriso que me deixou alerta na mesma hora.

  - Sr. Mal… Hã, Draco. - Ela o chamou de Draco?! Senti meus olhos arregalando, era ridículo, mas eu estava com ciumes da loira incrivelmente linda na minha frente.

   - Trouxe Hermione para a entrevista com meu pai. - Draco falou, enquanto acompanhávamos a loira até sua mesa.

   - Ah, sua amiga, não é isso? - Perguntou ela, sorrindo para mim.

   - Sim. - Arqueei a sobrancelha para Draco. Eu não acreditava que ele tinha me apresentado como ‘amiga’.

   - Sou Hermione Granger, prazer. - Abri o melhor sorriso que consegui e apertei a mão da loira.

   - Sinto muito, Srta. Granger, mas o Sr. Malfoy não poderá entrevistá-la. Ele teve que sair para uma reunião urgente, mas me deixou responsável por mostrar seu local de trabalho e horários. - Eu estava tão surpresa que pensei se não tinha entendido errado.

   - Local de trabalho e horários?

   - Sim, Srta. - Ela respondeu. - O Sr. Malfoy tem algumas regras que tenho que passá-las também. Mas, fora isso, seja bem vinda à Malfoy’s. - Minha voz tinha evaporado.

  - Ele já a contratou? - Draco perguntou, parecia tão surpreso quanto eu. - Sem nem ao menos conhecê-la?

   - Ele disse que confia na sua escolha. - A loira sorriu, satisfeita. Draco ficou em um silêncio aturdido, e em seguida virou para mim.

   - Eu te espero lá fora. - Sem esperar uma resposta, ele saiu, me deixando sozinha com a loira simpática.

   Isabelle, que eu finalmente tinha parado de pensar como ‘a loira’, me mostrou todo o meu novo local de trabalho. Desde minha sala, que ficava perto da sala do Sr. Malfoy, até os corredores e colegas de trabalho. Enquanto caminhávamos, ela me passava as regras. E eram tantas que eu rezava para que tivesse um manual escrito e encadernado para me ajudar a memorizá-las.

   - O Sr. Malfoy não tolera atrasos. - Ela falava. - Nem com desculpas muito boas. Mesmo que esteja com um parente no hospital, nunca se atrase. As roupas devem estar de acordo com sua função. - Isabelle me olhou de lado, reprovando meus jeans. - Melhor comprar algumas saias e calças mais sociais. Você será a assistente do Sr. Malfoy, então terá contato direto com ele. Nunca o chame pelo nome. Pergunte apenas o necessário. E o mais importante, seja invisível. Só apareça quando for chamada, nunca antes disso.

  - Tudo bem. Acho que estou entendendo.

   - Ótimo. Começará amanhã pela manhã. Como eu já falei, não se atrase.

   Nos despedimos e desci até o saguão de entrada. Draco estava conversando com Allana. Quando me viu, ele se despediu e veio até mim.

   - Tudo certo?

   - Sim, tudo certo. - Falei. - Você ainda está bem?

   - Sim, só… surpreso. - Ele novamente fechou o assunto. Segurou minha mão e me levou até a caminhonete.

   - Você está surpreso por seu pai confiar em você? - Eu sabia que aquele era um assunto complicado, mas queria tanto que Draco confiasse em mim. Não custava tentar, ao menos. Ele me olhou de esguelha, apertando a direção do carro com força.

   - Não sei porquê estou tão surpreso. Só estou. - Mais uma vez ele fugiu do assunto. Suspirei, resignada com sua facilidade em fugir dos assuntos que tinham a ver com sua família. Draco abriu um pequeno sorriso e acariciou minha bochecha com os nós dos dedos. - Quer ir à aula ou passar a tarde na cama?

   - Acho que não vou conseguir dormir com minha empolgação com o trabalho. - Sorri pela primeira vez no dia ao perceber que eu tinha um trabalho, e não apenas isso, mas um trabalho importante e muito bem remunerado.

   - Eu não estava pensando em dormir. Eu poderia passar a tarde entre suas pernas.

   - Meu Deus, Draco! - Corei até a raiz dos cabelos enquanto Draco caía na risada. Um ruído de vibração veio do bolso dele. Draco pegou o celular e bufou, atendendo logo depois. - Sim? - Com aquela expressão, eu já suspeitava quem seria na linha. - Sim, obrigado. - Ele disse, de mau gosto. Olhou para mim, indeciso. - Está aqui. Não sei se isso seria uma boa ideia… Está bem. - Draco me encarou, como se decidisse algo. - Lucius quer falar com você. - Falou, me entregando o aparelho. Arregalei os olhos, sem ter ideia do que falar.

   - Hã… Sr. Malfoy? - Falei, a voz trêmula. Eu esperava que ele não percebesse isso.

  - Srta. Granger. Nossa nova aquisição na Malfoy’s. - A voz do pai de Draco era sedosa, mas ainda assim séria e imperativa. - Espero que tenham a tratado com a devida cordialidade.

  - Claro, foram todos muito receptivos. Obrigada.

   - Que bom. Amanhã nos conheceremos pessoalmente, torço para que possamos trabalhar bem em conjunto.

   - Estou ansiosa por isso, Sr. Malfoy.

   - Ótimo ouvir isso. Até amanhã, Srta. Granger.

   - Até amanhã. E obrigada mais uma vez. - Draco estendeu a mão e eu devolvi o celular.

   - Oi. - Falou ele, soando ainda mais rude. - Sim, sim, estou sabendo desse jantar. Preferia não ir, mas foi a mamãe quem pediu, então… - Comecei a me sentir mal pelo pai de Draco. Ele o tratava de um modo tão ríspido que me impressionava, e não de um jeito bom. - Amanhã eu a levarei. Ok. - E desligou, devolvendo o aparelho ao bolso.

   - Seu pai foi muito simpático. - Falei, tentando não parecer uma mãe dando uma bronca no filho.

   - No começo ele sempre é.

   - Você poderia ser um pouco menos agressivo com ele.

   - Não quero que se meta nisso, Hermione. Sério, é um assunto que eu não vou discutir nem quero desabafar ou me abrir com ninguém. - Sua voz estava séria mas não parecia rude.

   - Tudo bem. - Expirei, me encostando no banco.

— Você o quê?! - Luna perguntou, me abraçando com força. Eu tinha acabado de contar sobre meu novo emprego. - Quer dizer, eu sabia que você conseguiria!

    - Eu não estava tão confiante assim. - Falei.

   - Temos que comemorar numa noite de meninas.

   - Em casa, dessa vez. - Luna concordou, mesmo contrariada. Draco e Theo nos observavam, cochichando sobre o quanto garotas eram emotivas. Quando ouviu nossos planos, Draco contestou, indignado.

   - Nada disso! Hermione vai dormir comigo.

   - Não ouviu que vamos ter uma noite de MENINAS? - Luna rebateu.

   - Mas eu a levarei amanhã, assim, é bem mais fácil se ela estiver comigo, não acha? - Os dois se encaravam com uma hostilidade clara. Eu estava começando a me preocupar com aquilo.

   - Eu posso levá-la amanhã. Ou então você pode fingir que é prestativo que se oferecer para buscá-la em casa.

   - Ok, vocês dois, acho que já é o suficiente. - Theo murmurou, abraçando a namorada.

  - Ela já dormiu duas noites com você. - Luna apontou.

  - Acho que ela tem razão, Draco. Amanhã podemos nos encontrar depois do trabalho. - Ele não pareceu feliz com minha ideia, mas acabou concordando com a condição de que eu ligaria para ele quando chegasse à empresa, antes mesmo de falar com o Sr. Malfoy.

   Quando enfim chegou a hora de ir para a cama, eu já não me sentia tão feliz quanto antes. A noite tinha sido divertida, claro. Luna e eu aproveitamos para colocar os assuntos em dia, e esclarecer as novidades. Mas, pela noite inteira, Draco não ligou. Me encostei nos travesseiros e liguei para ele. Nada. Quando a ligação caiu eu já sentia o velho pavor me consumindo. Tentei outra vez, meu alívio ao ouvir a voz dele foi quase intoleravelmente ridículo. Até eu escutar o barulho.

   - Hermione? - Ouvi ele chamar, o barulho de música e gritos no fundo. Ouvi uma voz de mulher falar algo.

   - Está tudo bem? - Perguntei, incerta.

   - Hã, claro. Tudo bem. - Draco estava claramente esquivando da conversa.

   - Está em casa?

   - Não,  estou no Blue. - Imediatamente lembrei de Pansy no seu colo e beijando seu pescoço. Meu coração apertou, todos os meus sentidos ficaram em alerta.

   - Quer que eu vá ficar com você? - Perguntei, esperançosa.

  - Não precisa, já estou encerrando a noite. Divirta-se com a loirinha. Até amanhã.

   - Até amanhã. - Me despedi, encerrando a ligação. Minha auto-estima baixa me dizia que havia algo errado, e eu tentava me convencer de que não era nada demais. Draco só tinha saído com alguns amigos, não era grande coisa. Ele me respeitaria, eu tinha que confiar nele.

   Já eram duas da madrugada e eu ainda estava acordada. Em poucas horas seria meu primeiro dia de trabalho, e tudo que eu pensava era em Draco. Eu me sentia ridícula, idiota e fraca por me sentir daquela forma. Meu último pensamento antes de cair em um sono exausto foi uma promessa: eu confiaria que era o suficiente para Draco, e confiaria no nosso namoro.


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Notas finais do capítulo

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